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13.02.1997

António Torres
03:56h - no hospital

Minha mãe me abraça todos os minutos. Eu estava tendo ataques de ansiedade a todas as horas por não saber de notícias nenhumas e de instantaneamente me culpar por tal situação. Isto não devia ter acontecido e se talvez, apenas um talvez tivéssemos ido embora mais cedo nada disto estava agora a acontecer.

Uma porta foi aberta. Era minha irmã correndo até nós e Jonnas andando devagar com meu bisavô. Merda! Como é que eu iria dizer que fui eu o culpado. Sempre me diziam que não fui eu que o causei, mas se ele tivesse ido no meu carro isto não teria acontecer.

Eu sei que sim! Meu corpo acreditava numa redenção, porém para a minha mente isso estava muito longe de acontecer.

Eu morreria pelo meu avô voltar á vida, mas ele não viveria sabendo que eu morri....eu no meu íntimo sabia disso, mas era doloroso demais para mim processar tudo isto.

Jonnas e meu bisavô se aproximaram de nós e mais lágrimas desceram pelo meu rosto. Era eu que tinha que dizer eu já tinha dito isso a meus pais, era eu que devia dizer-lhe que seu filho já não mais se encontrava connosco. Agora eram apenas as fotografias e as memórias que não nos fariam esquecer dele.

— O que aconteceu? — meu bisavô se pronunciou.

— António tem algo a dizer-lhe avô.

Engoli em seco, me coloquei em pé na frente dele, sequei minhas lágrimas existentes na minha cara e logo suspirei. Controlei meu coração e a tremedeira e minha mãe estava me segurando a mão a acariciando em todos os minutos.

— Eu.....eu.....eu sinto muito. Fui eu! Me culpe, faça o que quiser comigo, mas não diga que eu não o tentei ajudar. Eu, eu queria ter ido para casa mais cedo, mas ele estava tão contente no evento.

— O que estás a querer com isso? Ele está vivo não está? Vovô está vivo não é maninho?! — minha irmã me questionou.

— Bisavô! Me perdoe. Ele, seu filho. Ele! Á droga! Ele morreu. Eu não queria, era para eu estar naquele carro com ele era a mim que a morte devia ter levado não a ele.

— Seu maldito! Seu covarde! Tiraste a vida do nosso avô só para estares vivo. Eu odeio-te tanto, eu odeio-te tanto António. — Jonnas a trava enquanto meu pai amparava seu avô. —Ele o matou Jonnas, me solta.

— Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo.

Eu tinha uma raiva tremenda dentro de mim. Eu me culpava bastante por isto. Larguei a mão de minha mãe e comecei a andar até á porta que dava para a recepção das urgências do hospital até que uma voz é liberada, meu bisavô me chamou.

— António! — mais uma vez. —Vem cá.

Virei para eles e logo fui a correr o abraçar. Eu estava me culpando por algo que não fui eu a fazer, mas era simplesmente inevitável, a dor era irreversível e se eu mudasse tudo isto talvez, apenas um talvez todo este dia fosse diferente.

— Tudo bem meu amorzinho! Tudo bem, tudo ficará bem.

— O senhor não me culpa?! — falei soluçando.

— Não! Eu não culpo, acidentes acontecendo, estou triste, acabado, magoado com tudo, sim, estou, mas o destino sempre nos prega partidas. Tua irmã agora precisava processar tudo.

Olhei para ele e o vi enxaguando minhas lágrimas, um instante olhei para o lado e minha irmã estava sentada no chão abraçada a Jonnas. Droga! Eu havia magoado imensas pessoas hoje.

Minha mãe e meu pai estavam tentando se reconfortar um ao outro sentados na cadeira e eu aqui me culpando. Meu avô podia não estar magoado comigo, mas eu estava, eu estava e ficaria assim por um bom período de tempo.

— Familiares de Patrícia Vasques?! — o médico veio ter connosco.

— Somos nós doutor! O que ela tem?!

— O acidente que ela teve fraturou duas costelas dela, tivemos que operar a perna e tirar todo o sangue acomunado no abdómen dela. Tem escoriações nos braços, na região do tórax e pescoço, mas ela ficará bem. Podem ir vê-la!

— E meu pai?! Como ele está doutor?! — meu pai o questionou. —A cirurgia da retirada dos órgãos ainda não acabou?!

— Não senhor! Demorará mais algumas horas para isso acontecer, mas quando tivermos notícias iremos avisar.

— Obrigada.

Meu bisavô nem pestanejou um só segundo. Ele era forte, mas todas as pessoas fortes tinham os seus momentos de fraqueza e com toda a certeza quando ele chegasse em casa choraria mais do que tudo.

Ele sempre foi aquele tipo de pessoa forte em frente das pessoas, mas eu o via ás vezes chorando quando algo corria mal. Era horrível isso.

Entramos no quarto da morena e minha irmã ainda tinha ficado com Jonnas no corredor. Eu entendo a parte dela, ela me culpava e eu merecia, mas eu queria ter remendado as coisas.

— Não! Não!! Não fui eu.

— Não. Claro que não querida.

— Meu carro escorregou e acabou caindo, me perdoem.

— Perdoar?! Não temos que perdoar Patrícia. Acidentes acontecem. — meu bisavô fala. —Não se culpe! 

— Eu me lembro de estar na estrada indo para casa quando as mudanças de um momento para o outro avariaram eu não consegui controlar o carro e acabei caindo e segundos depois ouvi um enorme estrondo acima de mim. Eram vocês não eram?!

— Patrícia! Querida. — minha mãe se sentou perto dela. —António tem que te falar uma coisa.

— O que se passou?!

— Bom....sabes o quanto meu avô te ajudou não foi? Ele era como um pai para ti, ele te ajudou quando mais precisaste a ti e á tua mãe.

— Porque falas assim? Porque falas como se ele tivesse morto?!

— Ele está. Eu sinto muito.

Lágrimas desceram pelo seu rosto e instantaneamente pelo meu também.

Segurei sua mão com força e a via totalmente acabada com a notícia, meu avô foi uma pessoa importante na vida dela, foi ele que lhe deu um emprego, uma casa, uma nova vida e agora ele já não mais estaria aqui para a proteger, mas eu garanto que pela minha vida eu a protegeria para sempre.

Eu em sentia impotente. Eu me sentia culpado por ver alguém que ela amava e como tratava a ela como filha tinha falecido. Eu estava de rastos, fiquei mais um tempo até ela adormecer e logo fui ter com a minha família no corredor, nesse mesmo momento os médicos vieram novamente ter connosco.

— Familiares de Matheus Vale Torres?!

— Aqui doutor! Então os órgãos do meu filho estão todos viáveis?!

— Todos exceto o fígado, como ele bebeu álcool esta noite mesmo que tenha sido mínimo não podemos transplantar em outra pessoa.

— Então o restante tudo está bem!! Podemos assinar os papéis necessários agora correto?! — perguntei.

— Claro! Ele já foi levado para a morgue se quiserem ir lá o observar pelo vidro o meu assistente os acompanhará.

— Obrigada doutor.

Não sei qual estava a ser a pior dor neste momento, se era a de meu bisavô, se era a de meu pai, ou se era a minha e de minha irmã. Eu estava de rastos, eu precisava descansar, sim, mas com tanta coisa acontecendo tão repentinamente isso não seria possível, pelo menos tão cedo.

Fomos até á morgue e o ambiente era triste, pesado, doloroso. Minha mãe me segurava para não cair no chão, eu estava um caco, eu faria uma loucura se a minha sanidade mental fosse danificada.

Meu coração começou a dor, meu corpo esfriou e minhas mãos tremeram. Meu bisavô se colocou na minha frente, segurou as minhas mãos e acariciou-as levemente encontrando algo em mim que me acalmasse. MISSÃO 100% cumprida! Ele conseguiu.

Ver meu avô deitado nesta maca, era algo sobrenatural. Ele estava branco, seus lábios haviam perdido a cor e sua cabeça estava cheia de costuras, o impacto devia ter sido demais para ele.

— Posso ir ter com ele?

— Senhor?!

— Por favor, uma última vez.

— Claro! Abriremos uma exceção. Mais alguém?!

Assentiram com a cabeça que não. Todos ja estavam conformados que ele não mais ACORDARIA, ele não mais VIVERIA.

— Vovô! — o moreno acariciou a sua mão. —Me perdoe, não era para ter sido o senhor, eu sinto muito eu sinto imenso pelo que lhe fiz. Eu juro, eu juro que viverei todos os dias cumprindo a promessa que fizemos. As tuas palavras sempre foram as mais motivadoras para mim, eu darei tudo de mim para provar para a sociedade que poderei ser como o senhor. — limpou suas lágrimas. —Eu já sinto sua falta, droga, eu prometi não chorar quando entrasse mais foi exatamente o que eu fiz. Eu o amo vovô.

Se ajoelhou no chão e mais e mais lágrimas desciam pelo seu rosto, Jonnas e seu pai o vieram buscar. António estava totalmente QUEBRADO.

...

9 dias depois

Funerais não eram para mim. Já tinha assistido ao da minha avó e foi simplesmente triste na época, meu avô ficou abalado durante um ano inteiro e eu ficaria assim até mais anos se fosse preciso.

Estava acabando de me arrumar quando minha mãe bate na porta de meu quarto. Depois que meu avô partiu eu espalhei fotos dele por todo o meu cantinho, eu precisava disso. Cada pessoa vive um luto diferente e eu estava vivendo o meu do meu jeitinho.

Patrícia estava cá connosco se recuperando e sem ela eu estava de certa forma destruído. Nós fazíamos companhia um ao outro, nós por vezes ficávamos horas conversando sobre meu avô. Nós o amávamos de um jeito avassalador.

— Vão estar lá várias pessoas! Queres mesmo ir?!

— Eu preciso disso. Por mais que seja doloroso e acabe comigo de alguma forma eu preciso dizer o último adeus a ele. Ele merece isso pela minha parte, eu sei disso.

— Ele está feliz onde está agora, ele está a rezar e a tomar conta de nós eu sei que sim.

— Eu o amo tanto mãe. — a abracei.

— Eu sei meu querido! Eu sei. Agora vem, vamos para o carro, comes algo pelo caminho já deixei na carrinha que nos levará até á igreja.

— Obrigada.

— De nada!

Segurou a minha mão e me ajudou a lutar contra tudo. Entramos na carrinha e já lá estavam todos. Patrícia estava perto da janela e digamos que minha irmã também já estava falando comigo, sei que por vezes posso ser impulsivo, mas jamais faria isto a alguém. Ela se desculpou comigo pela sua atitude, não necessitava nada disso, eu sinceramente entendi a sua parte.

— António! — Patrícia capta a minha atenção.

— Sim!

— Será que eu devo ir? As pessoas vão me culpar elas sabem que eu estive no local do acidente com o meu carro.

— Fica tranquila. Eu não deixarei isso acontecer confia em mim. Estás connosco, não deixaremos chegarem perto de ti!

— Obrigada. — sorriu ligeiramente.

O caminho até a igreja era curto e em menos de vinte minutos chegamos. Saímos e em frente da igreja já estava várias pessoas, empresários, funcionários, amigos e várias pessoas.

Pelo que pude reparar meu bisavô colocou uma equipa de segurança para cá. Nós merecíamos alguma paz neste momento e não malucos que entrassem e estragassem a cerimónia.

As pessoas vinham ter connosco falando o quanto sentiam muito por ele falecer, muitas delas só fazia isto pro respeito, pois pelo que eu sei meu avô tinha bastantes problemas com vários empresários.

Entramos na igreja e a cerimónia de despedida começou. Patrícia estava entre mim e a minha irmã, em certa forma eu tentava protegê-la de pessoas sem noção na qual não conseguiram manter a boca delas caladas fora da igreja, algo DESAGRADÁVEL e muito DESRESPEITOSO.

— A família quer dizer umas últimas palavras?! — o Padre se dirigiu a nós.

Eu queria!

— Eu quero senhor Padre.

Com autorização me dirigi para a frente do palanque, ajeitei o microfone e ver meu avô dentro daquele caixão foi o colapso para mim. Lágrimas desceram sobre meu rosto, a ficha do agora estava a cair.

— Bom dia a todos e a todas! Bem...muitos de vocês nunca imaginariam que eu me pronunciaria ainda mais pelo jovem que sou que apenas vive a vida, porém todos sabem também da importante que meu avô tinha em mim. Meu avô foi sempre aquele tipo de pessoa, amorosa, cuidadora, amorosa e prestativa. Nunca deixou faltar nada nem a mim e nem a ninguém. Ele tirava sempre algum do seu tempo para contar histórias das suas viagens. Eu amava esses momentos.

Meu coração começou a se aliviar. Minha mente começou a acalmar.

— Ele agora não respira mais e foi tirado deste mundo precocemente, mas ele está feliz e orgulho do homem que eu me tornei. Ele me disse isso horas antes de morrer, seus últimos momentos de vida foram cheios de alegria. Seu último carinho, suas últimas palavras e seu último sorriso foi a mim. Eu me sinto culpado por um aspecto, não devia ter sido apenas eu a fazer isso. Minhas família também.

— Tudo bem senhor?! — o padre fala.

— Sim! Bem.....o último dia dele foi repleto de alegria, o último levantar da cama, o último banho, o último pequeno almoço em família, a última dirigida em seu carro, o último fôlego foi dia 12 de fevereiro de 1997. Devia ter sido mais tarde, sim devia, devia ter sido eu, talvez, mas eu tenho a absoluta certeza que agora ele deve estar impressionado os anjos com a sua risada! Eu te amo tanto vovô!

Sai e fui novamente me sentar. Um peso foi tirado de mim, mas a mágoa aqui ainda ficava, a cerimónia foi continuando e logo nos dirigimos para o cemitério. A última vez que via a cara dele e o acarinhava estava a chegar.

A família se aproximou e pôde dar um último carinho nele, meu querido e amado avô, eu cumprirei a nossa promessa.

Eu seria tudo o que tu foste e cuidarei da família por ti. Eu farei isso, mesmo que isso me doa agora é isso que eu irei fazer até o meu último suspiro de vida.

Deitamos rosas brancas pelo caixão e logo ele foi tapado. Agora ele estava junto da mulher que ele mais amou, agora ele estava junto da sua amada, da mãe do seu filho e da mulher que viveu com ele durante 50 anos da sua vida.

Com profundo pesar, nós o enterramos e foi a partir daqui que a minha ficha caiu totalmente, foi aí que meu mundo desabou.

Patrícia veio ter comigo mesmo com canadianas e me abraçou, seu abraço era perfeito, tudo nela estava de alguma forma me curando pro dentro, ela podia estar acabada com tudo isto, todavia ela tirava peças de si para me reconstruir novamente. Eu de alguma forma merecia a amizade dela. Ela sempre foi uma enorme mulher!

— Estás a ficar mais calmo?

— Obrigada! — acariciou o cabelo dela. —Obrigada por seres uma ótima amiga.

— Estarei sempre aqui para o que precisares António.

— Es especial para mim não sabes?

— Um passarinho me contou.

— Minha irmã aposto.

— É! Foi! Foi ela mesmo, ela ama falar já tu.

— Eu gosto....bom, com as pessoas que convivo não com outras.

— Fico feliz em ouvir isso.

Ás vezes era bom dar um passo em frente para que as coisas começassem novamente a proporcionar algo melhor todos os instantes. Eu e Patrícia fomos os últimos a sair do cemitério, nós precisávamos de um momento a sós com ele.

Matheus Vale Torres
( 09.09.1931 a 12.02.1997 )

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Autora Narrando
13:55h - no Algarve

António e tava destruído! Todos estavam destruídos, era como se uma montanha passa-se por cima de todos e uma imensidão apertada e fria de mágoa e tristeza se abatesse na família.

António e Patrícia estavam neste momento no local dos acidente. Depois da grande tragédia que tirou a vida ao enorme empresário Português a cidade fechou a estrada para sempre, apenas veículos de emergência passavam.

Com tanto na cabeça António apenas se limitava a ficar estático em ver quantas pessoas tinham deixado rosas e cartas no muro em que o acidente foi gerado.

Patrícia por sua vez o avariava pelas costas. A morena estava com uma tala imobilizadora na sua perna esquerda, ela sentia dor, mas a maior dor para ela foi ver o homem que a acolheu como filha morreu precocemente.

Jamais o esqueceria.
Ninguém jamais o esqueceria.

— António! — a morena coloca sua mão sobre as suas costas. —Podemos ir ali atrás?

— Claro! Claro que sim.

António estava tentando ser forte mesmo tudo isto estando a matá-lo por dentro. Ele sabia que a partir deste momento toda a sua mudaria drasticamente.

— Ainda está ali o carro.

— O que te lembras do acidente?!

— Estava indo para a casa até que recebi um telefonema do meu pai, fiquei a pensar um milhão de coisas no mesmo momento, mas isso não me abalou ainda mais quando estava dirigindo, mas passado poucos segundos a marcha do carro partiu, tentei travar, porém já era tarde demais. Acabei por cair!!

— Não te culpes. Ninguém te culpa e mesmo que isso te tenha abalado no funeral ninguém pode comprovar nada.

— Era eu que devia ter batido contra o muro. Era eu que devia estar....

— Não! Ei, tu não tens culpa, não te sintas assim, a vida acontece assim, nós não queremos eu entendo....mas por favor não faças isso contigo mesma.

— Meu mundo caiu quando falaste que ele morreu. — olhou para o horizonte.

—Não te sintas impotente por algo que ninguém previa.

António tentava-se justificar, todavia ele sabia que o acidente de carro foi de facto real, o pesadelo tornou-se realidade, porém nunca pensou que fosse com algum próximo dele. Era trágico tudo isto!!!

— Tua mãe está a telefonar-te. Deve estar preocupada, nós saímos do funeral sem dizer nada.

— Não tem que temer! Estás comigo estás com Deus.

E de repente a chuva se fez sentir! Nada ficaria melhor que uma simples chuva, o moreno pegou em Patrícia e correu com ela até ao carro mais á frente. Estes momentos eram essenciais para que de algum modo eles se distraíssem e não estivessem sempre a relembrar tudo.

A colocou dentro do carro e logo o moreno entrou, todos encharcados Patrícia por certa fez o obrigou a atender o telemóvel. Sua mãe não descansaria até ter notícias deles e com tudo ela se preocupava caso outro acidente acontecesse.

Partiram para a quinta e logo chegaram lá viram carros diferentes, não era carros dos familiares de António e nem da morena. Entrou na garagem com o carro e logo ajudou morena a sair, sua irmã veio ter com eles.

— Vocês são malucos é?! — Glória bateu no peito do irmão.

— Passou-se alguma coisa? — falou curioso.

— Temos visitas, visita essa que te aguarda na sala. — Patrícia bufa no final após ouvir a fala da morena.

Visitas? António não estava á espera de ninguém e muito menos neste momento ele queria se encontrar com algum. O que ele apenas queria era PAZ e um pouco de SILÊNCIO para controlar todas as emoções em seu corpo. 

Entraram na sala e logo viram a família Fonseca, Núria e William era os gémeos. Filhos do enorme empresário e amigo do pai do moreno. Ele não deu bola alguma e logo foi para a cozinha.

— António é sempre assim com as visitas?

— Ele está triste, dê um desconto ao meu filho! Ele iria entender a vossa boa vontade.

— Quisemos ficar cá no Algarve alguns dias para vos dar apoio, seria muito bom para todos nós.

— Para nós e vocês ou apenas para a vossa filha e eu?! Não estou afim de mulheres e muito menos neste momento. Gosto em ver mais uma vez. — o moreno carregava duas garrafas de água para ele e para Patrícia.

— Parece que já não temos mais acordo Duarte! — a mãe da loira fala.

— Acordo? Que acordo?!

— Maninho relaxa aí um pouco vai.

— Tu e a nossa filha iram se casar.

— Em sonhos e só por cima do meu cadáver. Já falei que não estou afim de ninguém neste momento e muito menos quero saber de namorar até o ano 2000.

Se levantou furioso e logo foi para a cozinha novamente, levou sua irmã, Jonnas e Patrícia junto dele. Ele merecia um pouco de paz neste meio tempo e com tudo isto, era até de certa forma impossível tão feito se concretizar.

Se sentou na bancada e pegou na laranja ao seu lado. Ele não tinha comido nada o dia todo e nem mesmo o lanche que a sua mãe havia preparado para ele comer o moreno deu-o a Patrícia. Ele era bastante prestativo com quem merecia.

— Era preciso falares assim com ela? — Glória se colocou na frente dele. —Papais não gostaram e muito menos o nosso bisavô.

— Eu quero lá saber! Não vou casar por contrato e muito menos casar sem haver amor por ambas as partes. Eu jamais farei isso.

— Antonio tem razão Gloria! Se eu estivesse na pele dele eu faria a mesma coisa, ninguém aqui é obrigado a casar com quem não quer.

— Excelente observação Jonnas, muito obrigada.

— Vocês os dois viu.

— Me ajuda aí Patricia fala algo. — a morena tentou se defender.

— Não tenho nada a declarar, além do mais António tem razão e Jonnas pro sua vez também. Quem ama, ama por amor e com o tempo, não quando se casam. Isso é injusto com as pessoas e só por negócios isso não levará a nada e pode até terminar em se divorciar meses ou anos após o casamento.

— Merda! Não tenho mesmo credibilidade aqui.

Glória  queria m ajudar, mas falando assim não mudaria a mente de António e na realidade só fazia com que ele tivesse mais raiva cada vez que pensava e ouvia isso.

— Podemos? — o moreno se pronunciou e logo sua irmã veio atrás. —Queremos pedir desculpas em nome dos nossos pais, eles precipitaram-se e era só para ser dito no jantar de logo á noite.

— Hum! 

António tentava de certa forma interagir com Patrícia o tempo todo, ela neste momento precisava dele e do seu carinho e a pessoa ideal era o moreno para a relaxar.

— Nossos pais foram para o escritório com o vosso bisavô conversar e tentar remediar as coisas. — a loira fala. —Não querem fazer algo?!

Patrícia se levantou e saiu da cozinha disposta de certa forma a ir para o quarto. António saiu da bancada e logo deitou as cascas da laranja ao lixo, limpou suas mãos.

— Sei que estão a sofrer, mas continuam assim não levará a nada!

— E o que é que tu sabes sobre sofrência? Já perdeste alguém na tua vida por acaso?  — António foi ríspido com a loira.

— Acalma aí os ânimos maninho! Para.

Um estrondo se fez ouvir da sala, António correu e viu Patrícia caída no meio das escadas. Correu até ela e logo a amparou, todos voltaram para a sala e o viram levando-a para o quarto.

Neste momento eles precisavam de sossego.
Eles necessitavam isso.

António levou a morena para o seu quarto e a aconchegou em seus lençóis. Ela podia ser forte neste momento e dizer que não tinha dor alguma, mas o ele sabia que era uma mentira que ela estava dizendo. Patrícia estava destruída por dentro, todos estavam destruídos.

— Não quis dizer no momento, mas a tua irmã tem razão. Não devias ter falado assim com eles.

— ...

— Este momento é difícil para todos nós e tudo mais, mas pensa pelo lado positivo.......os teus pais só querem que te cases bem apenas isso.

— Eu não gosto dela!!

— Teu olhar disse outra coisa. — abaixou a a cabeça. —Está na cara que ela te ama.

— Não me interessa minimamente isso, como eu disse, da minha vida amorosa cuido eu.

A morena queria fazer ver a António que nem tudo na vida é ruim e mau como ele pensava ainda mais na questão amorosa, o moreno já tinha tido uma desilusão na adolescência e não queria voltar a passar pelo mesmo.

Levantou-se e logo foi buscar a água de Patrícia que havia ficado na sala e lá encontrou toda a sua família. Virou costas novamente e subiu as escadas até ao quarto da morena, ele estava chateado com a vida, ele estava chateado com as pessoas, ele estava chateado com o seu próprio coração.

— Voltaste rápido! Porque não ficaste lá, além do mais eu quero descansar.

— A tua companhia é muito melhor neste momento do que ela. Fico ali no sofá lendo a bíblia. 

— Tem bíblia em todos os cômodos?  — a morena por fim deitou-se.

— Meu bisavô gosta que as pessoas sejam no mínimo respeitosas e aprendam algo com a bíblia, algo que eu não fui.

— Vou ter que concordar contigo. Fica bem! — deu suas últimas palavras.

— Dorme bem Patrícia.

António fechou as cortina e logo desligou as luzes deixando apenas a do abajur a seu lado acessa. O moreno colocou-se confortado para ler até que é interrompido pela porta do quarto a abrir-se, era seu bisavô.

O moreno sempre foi obediente aos mais velhos por isso quando o viu, colocou o livro no sofá e saiu do quarto.

— Quer falar comigo?

— Sei que estás triste pela morte do teu avô, magoado com o que ouviste na sala, mas aquela não foi a forma que te ensinamos a tratar as pessoas. Não mesmo!!

— Peço desculpa! Não voltará a acontecer. Poderei voltar para perto dela com a sua licença?

— Vamos pedir desculpas lá embaixo e quem sabe daqui a pouco não te autorize a voltar para cá.

— Mas....

—  Tudo bem.

António de forma alguma queria ir, António não queria ter que enfrentar novamente a família Fonseca, António não queria voltar a discutir. Desceu as escadas e viu que na sala estava os pais dos gémeos, os gémeos, a sua irmã e Jonnas.............seu corpo estremeceu quando olhou para ela, de alguma forma seu corpo estava a indicar algum tipo de sinal de que talvez ele começasse a sentir atração por Núria, mas ele de todas as formas rejeitava essa tal aceitação pelo seu corpo.

— Até que enfim maninho! Tiveste tantas saudades minhas assim?

—  Glória agora não por favor!

— Sim bisavô, como o senhor desejar.

—  Eu vim aqui pedir desculpas pela minha atitude á pouco quando cheguei em casa, mas também á de bem há pouco.

— Não tem mal, de certa forma entendemos o que estás a passar. —  o pai deles responde. — Tudo bem, está tudo bem entre nós.

—  Que bom que tudo se resolveu! Querem tomar algo na cozinha? Vamos deixá-los sozinhos.

—  Claro.

—  Se comportem.

— Bisavô!!!!! O senhor prometeu. —  António queria voltar.

— Só dez minutos não matará ninguém António.

— Tudo bem!

O moreno se sentou e logo sua irmã, Jonnas e William saíram da beira, António com o olhar reprovou a atitude da irmã em todos os aspetos. Pegou no comando da televisão, se inclinou para trás no sofá e logo colocou em seu canal favorito......ele amava animais selvagens. Logo cruzou os braços.

— Amo esse programa.

António mudou de canal.

— Caraca esse filme é um máximo.

Mudança de canal de novo.

Núria fazia de tudo para criar um bom ambiente entre ela e ele, todavia em nenhum momento António queria isso. Todos faziam de propósito para os deixar sozinhos, para tentar no mínimo se conhecer.

— Essa atriz é fenomenal. Um dia meu sonho é ser uma atriz conhecida mundialmente!

Mais uma vez e mais uma vez António mudou de programa.

— Vais parar de ser assim comigo?

—  Assim como? —  ele estava chateado.

— Assim, me tratando como uma desconhecida.

— Então é porque és.

— António!

Se levantou e disposto a subir as escadas a loira o agarra pela mão. Seu coração saltitou mais que tudo neste momento. Sua mão esquerda começou a tremer enquanto a Núria segurava por sua vez sua mão direita. Os sentimentos eram inegáveis.

Viu Patrícia no cimo das escadas e com força a largou e subiu para ver como a morena estava, a levou para o quarto e fechou a porta. Ele havia ficado tenso, ele tinha ficado diferente desde que sua pele sentiu a mão macia da loira.

— Porque fechaste a porta? Eu ia pedir um telemóvel emprestado para telefonar a uma pessoa.

— Usa o meu enquanto não te compro um!

— Estás maluco, não vou aceitar isso.

— Até comprares o teu, eu mesmo dou-te de presente, além do mais o teu dia de aniversário já passou.

14 de fevereiro! A morena nunca mais esqueceria essa data.

— Bom....abre a porta pelo menos.

— Tudo bem minha chata favorita! — deu de caras com sua irmã. —Glória.

— Pensei que eu era a tua chata favorita.

— És....bem tu és mas sabes como é. Tenho que agradar as duas.

— Não precisas de me mentir maninho! — riu dele e logo entrou no quarto.

— Não pretendo ser a tua chata favorita.

— Vocês são insuportáveis sabiam sempre a encher-me a cabeça.

Elas amavam o incomodar a todo o custo, mas no fundo do coração ele gostava que elas sorrissem mesmo tudo ainda estando recente.

— Vovô ficaria orgulhoso.

Sorriram ligeiramente.

— Jonnas e William viraram amigos agora, tive que sair de lá.

— Podias ficar na sala com a loira. Ela ama atenção!

— Ela lá não estava.

— Não? Que ótimo.

Sua irmã o olhou estranho. Por fim se sentaram na cama, pegaram no álbum de fotos e folhearam todas as fotos que ali continha....há vários anos que ninguém pegava nele e agora mais do que nunca ele seria a peça chave para que eles não se esquecessem do avô.

— Aceitam uma água? — Aurora apareceu. —Eles tiveram que sair. Núria e sua mãe estão a ver o jardim de inverno, Jonnas e William estão assistindo uma série.

— Obrigada mãe. — ambos agradeceram. —Obrigada Aurora! — agradeceu por fim Patrícia.

— Um dia levar-te-ei a ir conhecer o jardim de inverno!

— Ah que fofinho maninho, a impressionar já amo.

— Obrigada António. — ambos sorriram.

— Mãe a senhora e eu podíamos fazer o comer favorito do mano o que acha?

Glória tentou de tudo para quebrar o clima existente.

— Uma boa ideia, agora venham! Vamos todos para o andar de baixo....Patrícia podes deitar-te no sofá sem problema.

— Obrigada.

— Nada querida. Agora venham.

— Ela vai lá estar eu não quero.

— Vais parar de ser criança e sair deste quarto ou terei que te puxar as orelhas António Oliveira Torres!!!

Droga! António ficou estático, ouvir novamente o seu sobrenome suava ainda bastante pesado, ele ainda não estava preparado para tal vida que viveria daqui para a frente. Tudo mudaria, sua visão do mundo mudaria, suas palavras e seus pose em sociedade mudariam.

Ele tinha que fazer isso! Ele havia prometido a seu avô que iria seguir os seus passos. Ele cumprirá essa PROMESSA

[...]

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