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Este capítulo é recomendável para +18 pois contém cenas explícitas de sexo, linguagem forte e atropelamento.
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So we'll piss off the neighbours
In the place that feels the tears
The place to lose your fears
Yeah, reckless behavior
A place that is so pure, so dirty and raw
Be in the bed all day, bed all day, bed all day
Fucking in and fighting on
It's our paradise and it's our war zone
• Pillowtalk - Zayn Malik •
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Frase do Capítulo:
-Meu mundo! Minha preciosidade!
António Torres, 2016
💄💋⚽️
António Torres
06:50h - em casa
— Selvagens!!
Ela me mudou, e eu mudei por ela. Não havia como evitar. Tudo ao seu redor era simplesmente angelical. Natasha era perfeita. Seus cabelos castanhos caíam em ondas suaves, sua pele macia parecia uma seda que convidava ao toque, e sua boca...ah, sua boca era um universo de ilusões e sentimentos que só eu sabia decifrar. Eu a amava com uma intensidade que me consumia.
— Eu te amo, amorzinho. — sussurrei, me virando para ela, posicionando-me por cima do seu corpo.
Um beijo intenso começou. Suas pernas envolveram meu quadril, e senti seus dedos quentes enlaçarem meu pescoço. Aquele momento era a própria perdição, um abismo que eu me jogava sem pensar.
Natasha estava exausta. Os dias na faculdade tinham sido intensos, era o último ano, e a pressão era imensa. Ela precisava disto: relaxar, se libertar, esquecer o mundo por algumas horas. E eu estava determinado a ser o refúgio dela, especialmente depois de uma semana em que não pude estar ao seu lado.
Rindo entre um suspiro e outro, ela me fazia ainda mais excitado. O calor que começara lá embaixo subia num crescendo que ambos conhecíamos bem. Já tínhamos vivido esses momentos antes, mas cada vez era como se fosse a primeira: mágico, nosso. Comecei a trilhar um caminho com minha língua pelo seu corpo, devagar, saboreando cada centímetro. Num gesto decidido, retirei sua calcinha e a lancei para longe.
— Estás pronta? — perguntei, olhando fixamente em seus olhos.
— Sim.
Era o nosso momento. Natasha gemia, não de dor, mas de puro prazer. Fazê-la se sentir assim era tudo para mim. Eu sabia que ela precisava se libertar do peso que carregava, e aquilo fazia bem para os dois. Em determinado momento, agarrei suas costas e a trouxe para cima de mim, retomando o beijo intenso. Com movimentos sincronizados, ela deslizava para cima e para baixo, e eu sentia meu corpo em completa sintonia com o dela.
Nunca usamos proteção. Em todos os anos do nosso relacionamento, Natasha nunca engravidou. Eu queria filhos com ela, mas sabia que essa decisão cabia a ela. Não a forçaria a algo que ela não quisesse.
A cada orgasmo, eu me sentia derreter por completo. Natasha jogava a cabeça para trás, e eu aproveitava para mudar o ritmo, explorando novas formas de fazê-la relaxar. Levei minha boca até seus seios e os beijei, sentindo sua respiração acelerar.
— Teu coração está disparado, amorzinho.
— És tu que me deixas assim.
Paramos por um instante, mergulhados em um misto de emoções. Quando estávamos juntos, o mundo desaparecia, e eu me sentia o homem mais realizado da Terra.
— Teus pais e tua filha voltam quando? — ela sussurrou no meu ouvido.
— Amanhã. Ainda temos tempo para mais, se quiseres.
— Hoje não. Preciso ir para a faculdade. Estou atrasada!
Atrasada...Sei.
— Podias faltar, dizer que estás doente ou algo assim.
— Engraçado, não posso faltar no meu último ano. — ela sorriu, levantando-se.
— Vais para ver o Nick. — fiz cara de emburrado, sentando-me na cama. —Não gosto do jeito que ele olha para ti. Para a minha mulher...
— Nós somos só amigos, António. Por favor, tu és o homem que eu amo. — ela me beijou, mas eu a puxei novamente para a cama, iniciando outro beijo intenso.
— Então fica comigo aqui.
— Não posso! Preciso estar lá em 20 minutos.
— Hum...Vou ficar triste.
— Ah, amorzinho, vem. Vamos tomar banho juntos. Anda.
— Assim eu gosto. Posso pelo menos te levar?
— Vou pensar no teu caso. — ela me beijou de novo, e eu a encostei contra a parede, aprofundando o beijo.
— Que foi? Não gostas mais? — provoquei, com aquele sorriso que me enlouquecia.
Era isso que me tirava do sério. Natasha parecia não perceber o quanto aquilo mexia comigo. Ultimamente, ela parecia mais preocupada com a faculdade, ou com Nikolas, o maldito Nick para os mais íntimos. Ele não me enganava. Havia algo naquele olhar que sempre me incomodou. Não era ciúmes. Era proteção. Eu amava Natasha com todo o meu ser, mas aquele cara...ele não.
E o pior era ela dar atenção para ele. Isso me matava por dentro.
Eu nunca conseguia colocar em palavras o quão irritado eu ficava nesses momentos. A vontade de partir para cima dele e deixar bem claro que ela era só minha era avassaladora. Porém, se eu descobrisse que ele fez algo que ela não aceitou, eu perderia completamente a cabeça.
Saímos de casa e dirigi direto para a faculdade onde a Natasha estudava. Ela parecia radiante demais para o meu gosto, o que só alimentava minha inquietação. Cada vez que ela me olhava, ria descaradamente do meu ciúme. Eu sabia que estava sendo exagerado, mas era mais forte do que eu. Antes deste ano, eu nunca tinha agido assim.
— António, não podemos ficar aqui o dia todo neste carro! — murmurou ela, já pronta com suas coisas, me encarando com aquele olhar divertido.
Emburrado, cruzei os braços e fiz bico, como uma criança contrariada. Eu simplesmente não queria que ela fosse, mas ela insistia. Aquilo me incomodava demais.
— Não quero! — resmunguei, firme.
— Não queres o quê? Que eu saia do carro?
— Olha, se for o caso, eu te tranco aqui e peço um Uber! — desafiou ela, arqueando a sobrancelha.
— O quê? Torres, não comeces. Por favor, me deixa ir. A Lara e a Yara estão me chamando! — respondeu, tentando manter a paciência.
— Elas que esperem. Aliás, posso ir contigo? — rebati, meio provocador.
— Meu Deus. — ela começou a rir, o que só me deixou ainda mais confuso.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, vi Nikolas estacionando sua mota ao longe. Foi o pretexto perfeito. Aproximei-me de Natasha e a beijei com intensidade, querendo deixar claro para quem quisesse ver que ela era minha. Ainda sorrindo, acariciei sua pele macia e joguei um dos seus fios de cabelo para trás da orelha. Eu adorava esses momentos com ela, era impossível não me perder na sua presença.
— Já posso ir, senhor Torres? — perguntou, com um sorriso travesso.
— Hm...Vou pensar. Tá bom, podes ir. Mas...
— Mas? António, eu fico bem. Enrique e Franco sempre cuidaram de mim, e eu prometo que não farei nenhuma besteira. — garantiu, segurando minha mão por um instante.
— Tá, tá. Vai lá. Fica bem, amorzinho. — cedi, destravando o carro. —E não esqueças o casaco! Tá quente em casa, mas aqui fora está frio.
Ela riu da minha preocupação, mas voltou até a janela do motorista antes de sair.
— Me diz uma coisa: vais parar com esses ciúmes? — perguntou, divertida.
— Ahã, mas só se prometeres que eu te levo para jantar depois da faculdade.
— Olha só, a segunda vez que me convidas. Tá bem, combinado! Até mais, amorzinho.
Num abrir e fechar de olhos, só ouvi uma voz gritar: — Cuidado! — Antes que pudesse reagir, vi Natasha ser atropelada por um carro desgovernado bem na minha frente. Meu corpo agiu antes da mente, saí às pressas do veículo e corri até ela. Natasha estava imóvel. Eu a chamava desesperadamente, mas não obtinha resposta.
Meu coração parecia congelar.
Ela não podia fazer isso comigo.
Não podia ser verdade.
— Deus, por favor, não ela. Não ela! — murmurei, quase sem forças.
Nickolas se aproximou rapidamente.
— António, tudo bem! Me deixa ajudar, eu estudo medicina.
— Tu? Não, não quero que toques nela! — retruquei, entre a raiva e o desespero.
— Senhor, ele é o melhor aluno da turma. Deixe-o ajudar enquanto a ambulância não chega!
Relutante, cedi, sufocando o pranto para não desabar ali. Encostei-me ao carro, incapaz de afastar os olhos dela.
— Ela não pode me deixar. Por favor, Deus.
— Ela é forte, senhor! — disse Lopez, tentando me tranquilizar. —Além disso, Miguel já está avisando os seguranças.
— Ela vai ficar bem, António! Natasha está respirando. — insistiu ele.
— Obrigado... — murmurei, com a voz embargada.
Meu coração estava em pedaços. Eu repetia sem parar para ela acordar antes da emergência chegar. A cada segundo parecia que uma lâmina atravessava meu peito. Tudo aconteceu tão rápido, e agora eu estava diante do meu maior medo. Nosso destino não podia ser esse, nossa história não podia terminar assim.
— An...António... — uma voz fraca interrompeu meus pensamentos.
Abaixei-me rapidamente, segurando seu rosto com cuidado.
— Amorzinho, estou aqui! Fala comigo!
— O...o que está... — antes que pudesse terminar, ela desmaiou novamente.
Meu coração despencou junto com ela. Era um pesadelo.
— Volta para mim, meu amorzinho. Não posso te perder! — sussurrei, acariciando sua pele gelada.
A ambulância chegou, e a colocaram na maca enquanto eu a seguia. Não sabia como me manter firme, mas entrei na ambulância ao lado dela. A visão da sua pressão baixíssima era um tormento. Segurei sua mão fria e beijei-a levemente, suplicando a Deus que a protegesse.
— Sabe qual é o tipo sanguíneo da paciente? — perguntou o médico.
— Não! Ela nunca me contou... — respondi, sentindo-me ainda mais impotente.
— Ok! Peçam ao hospital para prepararem duas bolsas de sangue O positivo.
Sangue? Bolsas de sangue? Isso era real?
Eu me sentia incapaz de protegê-la. Minha mente estava mergulhada em pensamentos caóticos e dores que pareciam consumir o que restava de mim.
Chegamos ao hospital, e Natasha foi levada imediatamente para o bloco operatório. Eu estava perdido. Prometi a mim mesmo que descobriria quem havia deixado aquele carro destravado. Isso não poderia ser um acidente. No caminho, ela despertou brevemente, mas desmaiou logo em seguida. Era como se seu corpo não suportasse mais.
No hospital, Lopez tentou me confortar.
— António, Arthur e Vitor chegaram.
— Oh, António! — disse Arthur, me abraçando. —Ela vai ficar bem. Minha filha é uma guerreira, eu sei disso.
— Eu não sei o que fazer. Não posso perdê-la. Natasha é tudo para mim!
— Minha irmã é forte, cunhado. Para ela, isso é só mais uma batalha. Confie nela! Ela sairá desta.
Essas palavras foram um alento em meio ao caos. Me sentei na sala de espera, agarrado à esperança de que logo haveria boas notícias. Mas o tempo parecia uma eternidade.
Minha mente não conseguia se desligar dela. A dor de imaginar um adeus era insuportável. Como aceitar perder alguém com quem compartilhei tantas alegrias, segredos, sonhos e conquistas? Mesmo que ela ainda estivesse ali, meu coração já se preparava para o pior. Eu estava à beira de um colapso, mas me recusei a desistir dela. Natasha não podia me deixar. Ela era minha luz, minha razão, meu amor.
Eu precisava vê-la. Precisava tocá-la. Natasha tinha um poder irracional sobre mim, um controle que ela exercia sem o menor esforço, mesmo estando naquela situação dolorosa. Lopez avisou que meus pais e meus filhos estavam a caminho, chegando assim que o voo deles aterrizasse.
Por um instante, senti alívio.
Mas logo a culpa voltou a me consumir. Eu me odiava por não ter feito mais, por não ter impedido que isso acontecesse. Se pudesse, daria meu coração para salvá-la. Eu precisava ouvir sua voz, precisava que ela dissesse que me amava, como tantas vezes fizera antes. Mas já se passavam mais de sete horas na sala de espera sem nenhuma notícia. O desespero começava a me sufocar.
— Filho! — a voz da minha mãe me despertou, e antes que pudesse reagir, ela me envolveu em um abraço apertado. As lágrimas que eu estava segurando caíram sem controle. — Oh, amor, vai ficar tudo bem. — murmurou, tentando me consolar.
— Eu a vi, mãe! Eu vi a mulher que amo ser atropelada bem na minha frente. E não pude salvá-la!
— Natasha é forte, António. Ela é uma lutadora. — disse meu pai, se aproximando para me apoiar.
— E os meus filhos? Onde eles estão?
— Ferran achou melhor ficar em casa com a S/n para que eles não precisassem passar por isso. Quando tudo estiver normalizado, eles virão.
— E se não normalizar? — minha voz tremeu, e meu pai, percebendo o pavor em minhas palavras, me abraçou.
— Vai ficar tudo bem, filho. Confia.
Eu chorava, impotente. De repente, o ambiente ficou tenso, como se algo pior tivesse acontecido. O silêncio que se instalou era angustiante. Minha mãe, sempre tão forte, parecia abalada como nunca. Natasha era como uma filha para ela, e vê-la naquele estado era insuportável.
— Família de Natasha Costa? — a voz de um médico interrompeu nossos pensamentos. Ele surgiu acompanhado de uma equipe de enfermeiros.
Levantei-me de imediato, o coração disparado.
— Natasha sofreu complicações durante a cirurgia. — informou ele, de forma calma, mas grave.
— O que quer dizer com isso? Minha mulher vai ficar bem? — perguntei, incapaz de conter a ansiedade.
— Como estava dizendo, ela teve complicações. Conseguimos estancar as hemorragias internas. No entanto, ela teve três costelas fraturadas e precisará passar por uma nova cirurgia na perna amanhã.
— Mas...ela vai ficar bem, não vai? Minha filha? — perguntou Arthur, com a voz trêmula.
— Natasha tem um anjo da guarda muito forte. Se não fosse pelo estudante de medicina que prestou os primeiros socorros, infelizmente... — ele fez uma pausa, como se não quisesse concluir.
— Ela não estaria aqui. É isso? — completei, com um nó na garganta.
— Sim. — confirmou o médico, com um olhar compreensivo. —Mas agora ela está estável. Dentro de uma hora, poderão vê-la na UTI.
— Nikolas? — Minha mãe exclamou de repente, reconhecendo o estudante que eu estava pensando. Acenei com a cabeça em confirmação.
— Meu filho está crescendo mesmo. — disse ela, tentando aliviar a tensão.
— Mãe... — murmurei, ainda abalado, enquanto me sentava. Meu pai me entregou uma garrafa de água, e tomei um gole para tentar me recompor.
Encostei a cabeça na parede, suspirando fundo. O peso de saber que Natasha ainda estava viva era imenso, mas a felicidade por tê-la comigo aliviava parte da dor. Meu corpo finalmente reagiu depois de horas de tensão, e senti uma nova onda de determinação.
Ela estava aqui. Natasha estava viva. E eu faria de tudo para que continuasse assim.
💄💋⚽️
Natasha Costa
17:20h - no hospital
Acordei com dores espalhadas por todo o corpo e uma equipe de médicos em volta de mim. A visão era embaçada, e tudo parecia fora de lugar. Minha mente tentava entender o que estava acontecendo, mas a última coisa de que me lembrava era estar no carro com António, discutindo com ele sobre ciúmes. Depois disso, nada. Um vazio.
Olhei ao redor, confusa. Havia ferros segurando minha perna direita, e bandagens cobriam meu abdômen e costelas. Tudo em mim parecia estar preso ou machucado. O pânico começou a tomar conta. Meu peito apertava, e minha respiração ficou acelerada. Eu não entendia o porquê de estar ali, naquela condição, e a sensação de impotência me sufocava.
— António! — chamei, desesperada, enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Os médicos tentaram me acalmar, mas o desespero era maior. Uma das enfermeiras se aproximou com um sedativo, mas o médico a impediu. Ele explicou que, após a longa cirurgia, não seria seguro administrar qualquer medicamento forte naquele momento.
Minha mente se debatia entre o medo e a dor. Meu corpo queimava, e o desconforto na perna era insuportável. Fechei os olhos, tentando controlar o desespero. Não sabia por quanto tempo poderia suportar aquilo. Eu só queria sair daquela cama e acabar com aquela dor.
Aos poucos, o ambiente ficou mais calmo. A equipe começou a sair do quarto, até que restou apenas o médico, que falou algo sobre minha condição. Mas eu não conseguia ouvir direito. Tudo parecia distante, como se estivesse acontecendo em outro lugar.
Foi então que o som de várias vozes invadiu o quarto.
— Natasha!
Abri os olhos rapidamente e vi António entrando às pressas. Meu coração, que antes batia desordenado pelo medo, agora acelerava por vê-lo ali.
— António, me tira daqui! Eu não quero ficar aqui. Por favor, me tira! — Implorava enquanto o abraçava com toda a força que tinha, buscando nele algum conforto.
— Calma, hermanita. Não podes sair agora. É perigoso. — a voz de meu irmão era suave, mas eu percebia o quanto ele também estava abalado.
— Não podemos deixar-te sair, filha. Tens que ficar aqui até fazerem a cirurgia na perna. — disse meu pai, aproximando-se e beijando minha testa com carinho.
— Quando a cirurgia está marcada, doutor? — perguntou Aurora, tentando trazer alguma clareza à situação.
— Será às 14h de amanhã. Até lá, ela precisa descansar. — respondeu o médico, com firmeza.
— Obrigada, doutor.
O médico assentiu e saiu, deixando-nos a sós.
António se sentou ao meu lado, segurando minha mão com cuidado, como se temesse me machucar ainda mais. Seus olhos, que normalmente transbordavam segurança, estavam vermelhos e cansados, marcados pelo sofrimento. Eu apenas o olhava, sem forças para dizer nada. O amor e o desespero dele eram visíveis, mas, naquele momento, só o que eu queria era acreditar que tudo realmente ficaria bem.
E pela primeira vez, vi António sem palavras.
O moreno parecia perdido em seus próprios pensamentos, incapaz de dizer uma única frase às pessoas ao nosso redor. Ele apenas segurava minha mão, acariciando-a com delicadeza, enquanto vez ou outra a levava aos lábios, como se isso pudesse me manter segura. Era evidente que ele estava profundamente abalado, e o medo de me perder parecia tê-lo transformado. Eu sabia que ele não sairia do meu lado tão cedo, e isso me trazia conforto. Eu precisava dele ali, mais do que nunca.
Mas dentro de mim, um medo maior tomava forma, um medo que não tinha nada a ver com o acidente. Era algo que carregava em segredo, algo que me fazia sentir como a pior pessoa do mundo.
No início deste ano, eu descobri que estava grávida. Naquele momento, senti uma felicidade que mal cabia em mim, mas ela foi rapidamente esmagada por uma tragédia. Durante uma discussão acalorada com Clara, perdi o bebê. A dor foi devastadora, mas ainda pior foi minha decisão de esconder isso de António.
A única pessoa que soube foi Aurora, a mãe dele. Ela me acompanhou no teste e prometeu guardar o segredo. Eu estava aterrorizada com a ideia de António descobrir de outra maneira, e a culpa pesava mais do que qualquer dor física. Agora, com toda essa situação, temia que os médicos tivessem descoberto e comentado algo.
— António! Como estás? — perguntei, quebrando o silêncio após algum tempo.
— Bem, porque você está aqui comigo, viva. Pensei que iria me deixar, amorzinho. Foi o Nick quem te salvou.
— Nick...Nikolas? — perguntei, surpresa, e ele confirmou com um aceno de cabeça. —Tens que agradecê-lo.
— Já fiz isso.
— Pela tua cara, não muito!
— Só disse "obrigado", o que mais querias que eu dissesse?
— Não sei... — suspirei, cansada. —Só quero descansar agora.
A resposta dele me surpreendeu. António nunca gostou de Nikolas, e saber que foi ele quem me salvou parecia deixá-lo desconfortável. Ainda assim, ele foi civilizado.
Estaria realmente mudando por mim? Ou apenas sendo educado por obrigação?
Essas dúvidas desapareceram rapidamente da minha mente. Para mim, o António que eu amava estava ali, segurando minha mão, e isso bastava. Ele era o homem com quem eu queria construir minha vida, o homem que eu imaginava ao meu lado para sempre.
António Oliveira Torres era o amor da minha vida!!!
— Senhores! Temos as imagens do carro e da matrícula dele. — disse Lopez, surgindo na porta do quarto.
Imediatamente, todos os homens se levantaram, deixando o ambiente mais silencioso. Aurora, que permanecera ao meu lado, se aproximou ainda mais.
— Aurora! — chamei, baixinho. —Ele sabe?
— Não, querida. Falei com o médico e pedi para não mencionarem nada.
— Eles descobriram que eu fiquei...? — perguntei, sentindo as lágrimas brotarem nos olhos. —E se ele souber?
— Não precisa saber, Natasha. Aquilo foi um acidente, algo que não pode ser desfeito. Não adianta remoer.
— Ele ficaria arrasado comigo. Todos sabemos o quanto ele quer uma família, filhos...
— Eu sei, amor. Todos nós sabemos. Mas se não dissermos nada, isso ficará no passado.
Assenti, mesmo com o coração pesado. Coloquei a mão sobre o local onde um dia abriguei aquela pequena vida e, com a voz embargada, murmurei:
— Ele seria um bom pai...para ele ou para ela.
— Seria sim, querida. Seria sim.
Aurora segurou minha mão, tentando me acalmar, mas o peso da culpa parecia insuportável.
— Eu tirei isso dele, Aurora. Por minha estupidez, por não te ouvir e ir discutir com Clara...Me desculpa!
— Não precisas te desculpar, Natasha. As coisas acontecem, mesmo quando não queremos. Não foi culpa sua.
Aquelas palavras eram ditas com carinho, mas nada aliviava o aperto no meu peito. Eu sabia que precisaria enfrentar esse segredo mais cedo ou mais tarde, mas, por enquanto, tudo o que eu queria era sobreviver a mais um dia e ter António ao meu lado.
— Claro que não tens, amorzinho. — murmurou António ao entrar no quarto. —Meu pai foi até a empresa resolver um problema.
— Tudo bem... — respondi, mas meu coração estava inquieto.
O medo tomou conta de mim.
E se António tivesse escutado a conversa entre mim e Aurora?
E se mais tarde ele me confrontasse sobre isso?
A ideia de que ele pudesse deixar de me amar era insuportável. Eu entendia se ele ficasse magoado, mas a possibilidade de ele não querer mais ficar comigo me destruía por dentro.
Aurora, com sua calma habitual, disse que ia até nossa casa ver como estavam Ferran e S/n e logo voltaria. Ela era como uma segunda mãe para mim, assim como para S/n. Apesar de seu jeito direto e às vezes austero, havia um carinho imenso em cada gesto dela. Era impossível não amar Aurora, e eu confiava nela como nunca confiei em ninguém.
Mesmo assim, o peso do segredo que ela ajudava a carregar era sufocante. Esconder algo tão importante de António, algo que ele tinha o direito de saber, parecia errado em todos os níveis. Eu me odiava por isso, mas ao mesmo tempo não conseguia encontrar coragem para contar a verdade.
Meu corpo estava cansado, pedindo por descanso, mas os medicamentos não me deixavam dormir. Cada dor, cada desconforto parecia mais intenso do que o último. E então, tomada por um impulso, me ouvi dizer:
— António, eu preciso te contar uma coisa...
— Está tudo bem? — perguntou ele, se aproximando e percebendo meu tom vacilante. — Amorzinho?
— Eu...eu...
Antes que pudesse completar, fui interrompida por vozes familiares.
— Mamãe! Chegamos para ti! Eu e o maninho passamos em casa para deixar as coisas e compramos flores para ti!
— A vossa avó sabe?
— Sim! — respondeu Ferran, animado. —Ela foi encontrar o avô na empresa depois de nos ver aqui fora. Que caras são essas?
— Nada, querido. Vocês deviam estar em casa, não aqui, meninos.
— Queremos ficar com a mamãe.
Mesmo acostumada com a insistência e o carinho deles, hoje eu simplesmente não tinha forças para lidar com perguntas ou conversas. Tudo o que queria era descansar, mas o sono continuava a me escapar, e as dores não davam trégua.
Eles perceberam meu estado e chamaram o médico. Eu implorava silenciosamente para que me ajudassem a dormir, nem que fosse por uma hora. Meu corpo e minha mente estavam exaustos.
Algum tempo depois, acordei. Ambos estavam sentados no sofá, distraídos com os telemóveis. António não estava por perto. Meu coração acelerou ao lembrar do que havia ouvido antes de adormecer: os seguranças, conversando com António e seu pai, tinham mencionado que meu acidente não fora realmente um acidente. Era uma tentativa de homicídio.
O desespero me tomou.
— Ferran, S/n! — chamei, tentando esconder minha ansiedade. Eles rapidamente vieram até mim.
— Vão dormir aqui?
— Vamos passar os dias aqui, até voltares para casa, mamãe. Queremos-te de volta.
— Sabem que têm escola, não podem simplesmente deixar as aulas para ficar comigo!
— Nosso pai e nossos avós resolvem isso.
E lá estava eu, mais uma vez, sentindo que minha existência só trazia prejuízo para todos. António estava deixando a empresa de lado para cuidar de mim. Minha família e a dele estavam trabalhando para descobrir quem havia tentado me matar. E agora, meus filhos queriam abandonar suas responsabilidades para me acompanhar no hospital.
A culpa me sufocava, mas, ao mesmo tempo, havia uma ponta de alívio por tê-los tão perto de mim.
Eu me sentia IMPUTENTE!
— Acho que ficaremos por aqui mesmo, pelo menos até alguém vir! — Ferran disse, beijando minha mão com ternura. —Nós te amamos muito, mamãe. Fica bem por nós!
— Eu ficarei, meus amorzinhos. — respondi, sorrindo. —Vocês não estão com fome?
— Um pouco, mas conseguimos esperar.
— Nada disso! Não vão passar fome na minha frente. Vão ao McDonald's. Fica a poucos quarteirões daqui. Podem trazer a comida para cá, e ficamos conversando.
— Eu vou! — apressou-se a morena, mas seu irmão a interrompeu.
— Nada disso, irmã! — ele protestou, franzindo o cenho. —Eu sou o mais velho, então eu vou. Vou com o Nuno no carro. Minha responsabilidade é proteger-te.
— Tá bom, tá bom! Cuidado, querido.
— Sempre, mamãe.
Ferran e S/n eram os adolescentes mais incríveis que eu poderia imaginar. Eles tinham uma delicadeza com o mundo que me fascinava. Eu os tratava como filhos, embora nunca tivesse tido os meus. Eles eram doces, carinhosos e possuíam uma ligação única.
Ferran defendia S/n com unhas e dentes, como um irmão faria por sua irmã mais nova, mas o carinho entre eles ia além do comum. Embora os segredos deles fossem guardados a sete chaves, não era difícil perceber o amor e a cumplicidade entre os dois.
Enquanto Ferran saía com Nuno, Patrícia apareceu na porta, carregando um ramo de tulipas e balões.
— Posso entrar? — perguntou timidamente.
— Claro! — respondi, gesticulando para que se aproximasse. —Bem, eu preciso fazer uma ligação. Volto logo. Fique em ótima companhia, mamãe.
Assim que Patrícia entrou, percebi algo estranho em sua expressão.
— Patrícia, por que estás com essa cara?
Ela hesitou antes de responder.
— É meu carro.
— O que tem o carro?
— Foi ele que te atropelou na faculdade.
— Foste tu? — perguntei, surpresa.
— Não! Claro que não! — ela exclamou, aflita. —Mas...
— Então o que aconteceu?
— Clara. Ela pediu o meu carro emprestado. Disse que precisava falar com um funcionário porque o dela estava na oficina. Eu não queria emprestar, mas cedi. Me perdoa, por favor! Foi culpa minha.
— Culpa? — puxei-a para um abraço reconfortante. —Não tens culpa alguma, amiga.
— Mas eu não devia ter dado o carro a Clara.
— Clara?! — a voz de António ecoou pela porta. Ele estava de volta e claramente ouvira parte da conversa. —O que tem a Clara?
— Patrícia, conta para ele. Ele tem o direito de saber.
— Saber o quê? Por favor, me digam o que está acontecendo!
Patrícia respirou fundo e explicou-
— Clara pegou meu carro. Foi com ele que aconteceu o acidente.
A expressão dele escureceu, e ele saiu do quarto como um furacão. Lopez e Miguel correram atrás dele, tentando segurá-lo.
— António! Não faças isso! — gritei, mas ele não parou.
— E agora? — Patrícia perguntou, preocupada, colocando o ramo e os balões sobre a mesa. —Ele vai perder a cabeça quando encontrar Clara!
— Ele sabe o que está fazendo... — respondi, mais para convencer a mim mesma do que a ela.
António estava absolutamente certo em discutir com ela; na verdade, ela merecia mais do que isso. Ela realmente merecia, e muito, por tudo o que fez. Ambas não nos dávamos bem. Ela gostava do meu homem, e eu namorava o homem que ela queria. Muitas vezes, eu ia até à empresa mais por obrigação, só para passar um tempo com Patrícia na pausa para o lanche. Mas, em várias dessas vezes, ela me provocava com palavras, e isso me irritava profundamente.
Como pode uma pessoa não se tocar de que deve deixar um casal ser feliz?
A loira sempre tentou me prejudicar, sempre tentou me fazer passar por mentirosa na frente de Duarte e António, mas nunca acreditaram nela. Eles sabiam bem que eu jamais mentiria sobre algo tão sério quanto os casos que ela me acusava.
Desde o primeiro dia que vi a morena, soube que ela me daria muitos problemas, e, de fato, eles estavam acontecendo como eu imaginava. Não o acidente, mas outras coisas. Eu sentia uma raiva tão grande que, se não estivesse neste estado, eu mesma iria até ela para ter uma boa conversa e deixar claro que ela não deveria se meter no relacionamento de outra mulher.
— Vou indo para a empresa, tenho que estar lá quando tudo acontecer. S/n também está ali fora, falando com o segurança. Ficas bem?
— Claro que sim, amiga. Além do mais, se o António já não estiver lá, partindo tudo. — falei rindo, colocando a mão na barriga. —Depois me conta tudo!
— Claro, até mais amiga.
— Vai em segurança!
— Sempre!
Eu não sabia como António reagiria se visse a Clara. O meu maior medo era que ele perdesse a cabeça e fizesse algo impulsivo, o que poderia acabar com ele preso. Ele era tranquilo em muitas situações, mas quando se tratava da família, especialmente da minha, o moreno se tornava outra pessoa.
António era capaz de ir até o fim para descobrir a verdade e colocar tudo no seu devido lugar. Minha preocupação estava em Patrícia, que tinha ido atrás dele. Eu temia que ele dissesse coisas para ela que ela não deveria ouvir. Ela não tinha culpa alguma e nunca imaginaria que algo assim aconteceria.
— Cheguei! Vem, maninha! — anunciou Ferran na porta, arrastando a irmã para dentro do quarto. —Encontrei uma pessoa!
— Quem?
— James, ele estava com um homem.
— Um homem? Qual é o nome dele?
— Bem...Rafael, eu acho.
Esses nomes me assustaram. Eu, que nunca os tinha ouvido antes, agora tinha que escutar Ferran mencionar esses nomes dolorosos.
— O que aconteceu?
— Acho que falaste mais do que devia, maninho!
— Me desculpe, mãe. Nem percebi que esses nomes...
— Não tens culpa. Vão comer, eu vou descansar um pouco!
— Dorme bem.
— Vou tentar, pelo menos. — respondi, rindo, enquanto eles se sentavam.
Como é possível que uma pessoa seja tão má a ponto de querer me destruir? Eu não entendia.
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