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I'm tired of lovin' from afar
And never being where you are
Close the windows, lock the doors
Don't wanna leave you anymore
Oh, darling, all of the city lights
• Carsoutside - James Arthur •
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Frase do Capítulo:
-Eu sinto-me culpado por não te ter protegido.
António Torres, 2012
💄💋⚽️
Natasha Costa
23:10h - em casa
O que dizer sobre estes últimos dias?
Caos! Caos! E mais caos!
Estava em casa, e António tinha dito que não ia sair do meu apartamento tão cedo, até que eu fica-se segura, palavras dele que valem mais que mil gestos, ele era um homem completo eu tinha sorte em tê-lo na minha vida.
Estava na casa de banho e todos os dias a esta hora eu fazia os cuidados com os machucados ainda persistentes na minha barriga, doía bastante quando eu tocava era como se tivesse a receber novamente murro, mas tinha que aguentar a dor pois eu não queria aparentar ser fraca ainda mais quando António estava lá na sala a escolher um filme para vermos.
Sentia o meu coração apertado cada vez que mexia para limpar, um nó na garganta enorme e uma vontade de chorar imensa. Eu sentia raiva de mim nestes momentos, tudo o que eu passei em casa dele foram apenas três semanas, todavia parecia que tinha passado três anos.
Não consegui respirar direito, era como se tudo á minha volta tivesse sumido, o mundo entrou no mudo e também já não ouvia mais António na sala. Eu sentia o ar levemente saindo dos meus pulmões, parecia sinceramente que eu ia morrer. Fazia tanto tempo que eu não sentia uma dor tão parecida como a de á dois anos atrás, todavia comparado com a cicatriz em minhas costas, nem se comparava á dor que estava a sentir.
Escorreguei contra a parede até o meu corpo chocar com o chão gélido do banheiro, a dor era insuportável e eu não o podia chamar para fazer este serviço, eu sentia nojo de mim. Encolhi as pernas e parei por um momento para tentar controlar as sensações que estava sentindo no momento, contava mentalmente até dez diversas vezes na tentativa de mandar a dor e o sentimento para bem longe dali.
Mas eu não consegui.
Eu só pensava no quão eu tinha errado, fui a culpada disto tudo e eu agora estava a pagar pelos meus erros. Foi minha culpa de agora António estar aqui para me proteger pois parece que nem isso eu sei fazer mais.
Eu ficaria em negação por um tempo. Porra, se eu tivesse fugido! Isso seria uma ideia estúpida pois iria afetar as pessoas que mais amava, como, o meu pai e o meu irmão.
Talvez eu seja o problema!
— Natasha! O que estás a fazer aqui? - escuto a voz dele na porta e logo me afasto com medo que ele visse.
— António, por favor, não te aproximes. — falo me levantando e tapando logo com a camisola a barriga. —Está tudo bem, vamos para a sala.
— O que se passa? Podes contar comigo, prometo não ficar chateado!
— Eu não posso, não ias entender.
— Eu não imagino a dor que sentias dentro daquela casa, mas eu prometo-te que agora eu farei de tudo para te proteger de tudo e todos. Agora conta o que se passa!
— Não te sintas culpado, pois, no meu disto tudo eu sou a mais culpada!
Eu não queria mostrar de jeito nenhum a minha barriga, mas eu não podia fazer nada e eu tinha a certeza de que eu não ia sair do banheiro até eu mostrar.
Era doloroso! Era cruel! Era real!
— Bem! Não fiques chateado comigo, eu sinto nojo de mim.
— Nojo porquê? — confuso, eu mostro-lhe todos os machucados que existiam ainda em minha barriga, ele não se conformou e deitou várias coisas ao chão.
— Eu sinto muito António!
— Oh amorzinho, vem cá.
Me abraçou e começou a chorar junto comigo. Ele sentia-se culpado por não me ter protegido quando eu mais precisei, afinal de contas ninguém se importava mais comigo do que ele neste momento. Sai do abraço e olho o meu reflexo no espelho, respirei fundo e logo ele pega em gases e pomada para passar sobre as minhas feridas, eu não queria de forma alguma que ele fizesse uma coisa daquelas.
Me puxou para a beira da banheira, me sentou e logo começou a limpar. Lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Como é que alguém podia ser carinhoso, ao ponto de limpar as tuas próprias feridas?!
Tirando os meus olhos vermelhos de tanto chorar de dor eu sentia uma paz interior inexplicável, ele sempre limpava com bastante cuidado, porém isso nem sempre dava certo e acabava por me magoar ainda mais. Eu tinha medo que tivesse afetado algo dentro de mim, eu não tinha sido visto por um médico quando James socou inúmeras vezes a minha barriga. Eu podia estar muito bem comprometendo a minha saúde.
— Auch! — me estremeço de dor e logo o moreno me segura para não cair.
— Desculpa, eu não fiz por mal. — lágrimas se formaram em seu rosto. —Eu não queria.
— Eu sei. — acaricio a sua cara até que ele se senta perto de mim novamente. —Tudo bem António?
— Conta-me! Conta-me tudo, eu sei que deve doer contar isso tudo mas eu tenho que entender.
— Eu não quero que tu sofras como eu sofri, eu...
— Se tu desabares eu desabarei junto. Agora conta-me por favor! Prometemos não ter mais segredos.
— Tudo bem, mas prepara-te e não te irrites.
— Prometo.
Contar aquilo ia ser a coisa mais complicada que fiz em toda a minha vida.
— Qual queres primeiro a da cicatriz ou dos machucados da barriga?
— Como tu achares melhor, porém eu acho que o que doeu mais seria o principal contar primeiro.
— Ok tudo bem.
Muitos de vocês devem estar a pensar que eu iria contar o da cicatriz primeiro, mas aquilo comparado com a dor que estou a sentir agora era mil vezes melhor do que a das marcas e dos hematomas em minha barriga.
— Bom...estava em casa com James e era a minha primeira noite lá, eu ainda não tinha vontade de dormir por isso desci á cozinha para ir beber uma água. Eu nunca pensei que ele ainda estaria acordado e me assustou quando ele apareceu atrás de mim, começamos a discutir e eu o enervei bastante que ele serrou o punho e começou a bater inúmeras vezes na barriga, eu tive que me encolher e sair de lá. Eu tinha a total certeza de que ele não ia parar até eu cair desmaiada no chão.
— Aquele canalha não aprende nunca, aí se eu o vir! — diz ele furioso se levantando tentando se controlar. —Desculpa, desculpa eu disse que ia me controlar. Bem e a da cicatriz?
— Essa! Sim, bem...era o dia em que eu e Rafael fazíamos quatro anos de namoro, era por volta da 23h e ele ainda não tinha voltado para casa do trabalho. Mandei-lhe um monte de mensagem mas ele não me respondia de forma alguma, fui na cozinha organizar a louça até que de repente ouço a porta a abrir, era ele. Rafael estava completamente bêbado, ele nunca ficou assim. Ele queria fazer aquilo sem o meu consentimento, eu não aceitei e ele ficou furioso, pegou numa faca que ainda ia ser limpa e começou a correr atrás de mim, me agarrou e eu caí no chão de barriga para baixo, quando eu tentei me libertar foi aí que eu mesma fiz o corte em minhas costas, mas não foi de propósito. Dei um ponta pé nele, abri a porta de casa e logo chamei o vizinho da porta ao lado que era polícia e ele me ajudou, pois eu sabia que ele chegava mais ou menos a esta hora do trabalho e ainda estava acordado.
— Estes homens não sabem como tratar uma mulher caramba. QUE RAIVAAAAAAAAA! — irritado não se conformou e estava prestes a sair de casa, mas eu o agarro e o abraço com todas as minhas forças.
— Não faças o que eu acho que irás fazer, vais te prejudicar a ti e a imagem da tua família.
— Nossa família! Nossa.
— Eu não posso ser da tua família António eu só trago coisas más e tu estás a educar a tua filha o melhor que podes!
— Não digas isso, um dia serás minha mulher e eu não irei te largar nunca mais.
— António. Para, vem vamos assistir ao filme.
— Só se me prometeres que amanhã te poderei levar ao médico?
— Tudo bem.
Ele era um amor de pessoa, o moreno fazia de tudo para que eu me senti-se bem, era como se me tivesse transformado novamente. Hoje pela tarde quando António foi a casa, pelo menos foi o que ele me disse, minha mãe me mandou mensagem. Fiquei surpresa pois ela nunca me ligou nenhuma em todos estes seis anos e eu não estava preparada para a ver tão cedo e muito menos nestes circunstâncias.
Eu não sabia a circunstâncias de ela me ter ligado, ela sempre me odiou nestes últimos 8 anos e agora resolveu telefonar-me. Eu desconfia o que ela queria mas eu não iria dizer nada a ninguém até provar a mim mesma o que teria eu de tão interessante agora.
Sentei-me no sofá e me ajeito deixando-me confortável, até que vejo os olhos do moreno a caírem sobre mim e feito um tornado ele veio em minha direção.
— Queres pipocas? — sua pergunta me surpreendeu bastante pois eu não a esperava nunca na vida. —Natasha. Oi!
— Ah! Sim. Bem...pode ser sim, mas eu faria isso não precisas.
— Não precisas eu faço, senta-te confortável e relaxa eu faço.
Você consegue Natasha, você consegue.
Saiu do sofá e vou ter com ele. O moreno não era obrigado a fazer aquilo ainda mais no meu cantinho, ele já tinha sido bastante gentil comigo este tempo e eu queria que ele não se sentisse na obrigação de o fazer ainda mais por mim.
Me mirava de longe enquanto eu estava na porta da cozinha, seu brilho nos olhos já dizia tudo a seu respeito. Olhei para o microondas e logo o noto vindo em minha direção, coloca as suas fortes mãos sobre a minha cara e logo fecho o olhar. O sentimento de paz era aquele momento.
— Eu sou praticamente seu. Tu me fazes voltar sempre!
— Eu te a...
Dizer o quanto o amo era uma coisa absolutamente nova para mim, até que somos interrompidos pelo som da campainha. Não esperava ninguém ainda mais a esta hora da noite, fiquei com receio que fosse James ou até mesmo Rafael...António a abriu e era S/n com a sua avó na porta.
A minha reação foi apenas travar e as mirar entrando, olhei para o relógio e eram cerca de 01:00h da madrugada.
— Natasha. Tive saudades tuas, eu sei que nos vimos á poucas horas mas eu não conseguia dormir e depois eu fui ao quarto da vovó e do vovô lá em casa e disse que queria vir para cá ficar com vocês e aí depois de muito insistir ela trouxe-me. Vou cuidar de ti mamãe!!! — em palavras apressadas a pequena se dirige a mim com um enorme abraço.
— Calma pequena. Fala devagar a titia Natasha não percebeu nada!
— Titia não! Mamãe sim.
Toda a vez que a pequena falava a palavra mãe me emocionava bastante, era como se eu fosse mesmo a mãe dela. Tínhamos um laço tão grande que quase era inquebrável, a nossa união em pouco tempo transformou-se em anos. Era como se já a conhecesse desde que ela nasceu.
A mesma repetiu o que havia falado á pouco e Aurora, sua avó se despediu de nós e foi para casa. Nos sentamos no sofá a ver um filme enquanto a pequena estava deitada no colo de seu pai a dormir, aquele momento era único.
Praticamente uma família eu diria!
Era já outro dia e eu me encontrava no quarto e ao meu lado estava a filha de António, eu quase não me lembrava de como vim parar á cama. Estava tão cansada que nem notei que tinha vindo aqui pelos meus próprios pés enquanto António carregava a sua filha para cá também.
De jeito nenhum eu sabia onde António tinha dormido. Espero que não fosse no sofá, ele era bastante desconfortável para tal coisa...eu disse-lhe que ficasse no quarto de hóspedes e prezava para que lá ele tivesse dormido esta noite.
— Bom dia meninas. Dormiram bem? — murmura ele sentando-se na beira da cama.
— Bom dia papai, não dormiste aqui? — pergunta S/n ainda esfregando os olhos. —Cabíamos aqui os três! — acrescenta em piscando para seu pai.
— Pequena não, eu dormi no quarto ao lado, mas agora temos que comer e logo logo terás que voltar para a casa da vovó pois eu e a Natasha vamos a um sítio muito importante resolver um pequeno problema.
— Posso ir com vocês? Prometo não fazer muito barulho!
— Não pequena, o local que eu e o teu pai vamos hoje não é um local apropriado para crianças da tua idade, mesmo muitas indo lá parar.
— No hospital? Passa-se alguma coisa?
— Não pequena, Natasha tem que fazer exames de rotina apenas isso e eu dar-lhe-ei boleia até lá antes de ir para a empresa!
— Hum. Tudo bem então! Vamos comer estou com fome.
— Até agora estavas mais interessada em saber de nós não é princesa. — fala António a pegando no colo. —Papai te ama amor.
— Eu sei disso! Mas também amas a Natasha né?! — murmura ela o deixando vermelho.
— O que querem? Não tenho muito variedade de comidas aqui.
— Qualquer coisa, vem papai vamos ajudar a Nat!
— Ótima ideia filha.
António mudava completamente quando estava perto da filha. Era como se o mundo desaparecesse, mesmo fingindo que está tudo bem perto dela eu noto o seu semblante de tristeza quando me mirava todas as vezes.
Sempre que ouço alguém dizer que temos livre arbítrio, sei que muitas das vezes pode ser mentira ou apenas António não se importava, ele sempre deixava passar os dias e os vivendo como se fosse o último, todavia muitas das vezes isso já tendo acontecido e quase indo parar ao hospital.
Tempo depois já eram 10:30h e finalmente resolvemos sair de casa, levamos S/n a casa dos avós e logo fomos diretos para o hospital. António não deu uma só palavra no caminho todo até lá, era como se estivesse a culpar por uma coisa que não teve a culpa. Saímos do carro, enfio as mãos nos bolsos dos jeans tentando me permanecer intocável.
António colocou o seu braço sobre o meu ombro e não se importou se todos estavam olhando, o que ele queria neste momento era que eu me sentisse confortável com toda esta situação, entramos nas grandes portas, fiz o check-in e logo nos sentamos á espera de ser atendidos.
Estava tão nervosa que não consegui não mexer as minhas pernas, o moreno se apercebeu depois de ter mandado mensagem e logo colocou a sua perna contra a minha, me acalmando. António não descansou enquanto eu não estivesse 100% calma e relaxada, todavia com todas aquelas circunstâncias era um pouco difícil de o fazer.
— Natasha Costa, sala 3C! — fala uma voz masculina chamando no som do local. —Natasha Costa, sala 3C!
— Tenho medo!
— Não tenhas eu estarei aqui contigo.
Entramos e mais uma vez ele não largava a minha mão me protegendo de tudo e todos, sua energia era tão forte para me aguentar no meio de tudo isto. Falei com o doutor o que tinha acontecido e logo me disse para eu fazer um ultrassom noutro setor e também um raio-x caso tivesse deslocado alguma costela.
Naquele momento vi a minha vida passando pela frente, eu não queria que António precisasse tudo isto muito menos quando podia ser algo grave. Eu tinha que lhe dizer para ir para a empresa, porém aquilo era impossível pois a minha seguridade estava na sua responsabilidade. Fiz tudo o que o médico disse e logo esperamos pelo atendimento novamente até que nem 2 minutos nos chama novamente.
Espero que não tenha nada errado comigo!
— Como irei dizer isto. Bom...a senhora sofreu hematomas considerados graves o que me admira é que ainda não tenha sofrido uma paragem cardíaca com o batimento cardíaco acelerado.
— O que está a querer dizer doutor? Tenho algum problema?
— Bem...sim! Tem uma pequena hemorragia em volta do seu rim direito e neste caso teremos que fazer uma cirurgia de emergência para resolver este tipo de situações.
— Eu quero fazer isso. — murmuro cabisbaixa e logo percebo o moreno a meu lado olhando para mim.
Eu sabia que naquela hora tudo o que eu queria fazer era tratar disto e nunca mais ter que pensar sobre este assunto. António indignado deixou-me fazer a intervenção e logo chamaram as enfermeiras para me levarem até ao quarto, como eu havia comido á pouco tempo a minha cirurgia ficou marcada para perto das 21horas da noite.
Dirigimos-nos para o quarto e António tinha avisado a família que hoje iria ficar no hospital comigo até eu sair daqui e muito provavelmente cuidando de mim em casa. O moreno era a melhor pessoa do mundo, ele hoje tinha uma reunião importante e a desmarcou na última da hora para ficar comigo. Sua paz de espírito era a melhor coisa da vida.
— Tens mesmo a certeza disso? Vais ficar mais de um mês parada! — ouço sua voz enquanto me sentava na cama. —Eu sei que queres cuidar da tua saúde e isso é bom, mas eu não te poderei deixar sozinha durante o dia.
— Eu tenho sim, além do mais eu tenho o Enrique ele pode-me ajudar no dia á dia sem problema nenhum.
— E que tal se fosses para a minha casa?
— O quê?
— Sim, lá estás segura e tens todo o apoio do mundo e assim não ficas tristes e tens a companhia da minha filha!
— Hum, posso pensar no assunto?
— Claro que sim!
Ouvir aquela proposta foi como um alarme de felicidade para os meus ouvidos, ele era a pessoa mais generosa do mundo e sem dúvida eu tinha um orgulho enorme em tê-lo na minha vida. A minha gratidão não se comparava ao que ele me proponha todos os dias da minha vida, eu queria gritar aos quatro ventos o quão apaixonada estou por ele mesmo isso sendo impossível em alguns momentos.
💄💋⚽️
Ferran Torres
17horas - no dia seguinte, em Barcelona
Hoje durante o dia tinha estado bem disposto. A razão? Não sei bem, mas algo me dizia que hoje ia ser especial. Joana me levou ao shopping pela simples razão de hoje ser domingo, minha mãe tinha ido para Madrid fazer uma campanha e disse que vinha na próxima semana, o que eu duvido que isso acontecesse.
Caminho a passos moderados até a vitrine da loja de roupas, ficando encantado com um casaco que eu já andava a namorar á algum tempo.
Volto para perto da morena e logo que podia na volta passássemos na loja e o comprasse-mos, era a nova coleção e o casaco era de peças limitadas era um sonho ter aquele casaco para o inverno e eu estava tão entusiasmado para o ter que Joana se apercebeu e o comprou sem eu dar conta enquanto eu tinha ido apertar os meus atacadores no banco.
— Sabes que tu és um perigo para o estudante de moda Ferran! — Jo suspira me mostrando a enorme saca em sua frente, era o que eu queria. —Agora sê feliz e não o estragues ele foi um rim com o dinheiro da tua mesada!
— Pode deixar Joana, eu mesmo o levo comigo e não o amassarei! — rio ironicamente e logo saiu de lá a saltitar a poucos metros dela. — Jô tem ali uma loja de doces.
— Loja de doces? Ferran vais gastar todo o dinheiro da mesada desta semana!
— Não faz mal, eu na próxima digo ao meu pai para me dar mais algum. Ele sabe que sou um menino bem comportado.
— Mas isso não se faz, tens um limite para todas as semanas e metade desse dinheiro foi no casaco.
— Eu sei, mas eu não vou gastar tudo em doces depois vamos comprar algo para ti também!
— Oh anjinho isso é tão bom da tua parte.
— Eu quero ver as pessoas que são chegadas a mim felizes apenas isso. — falo enquanto recebia um beijo na testa. —Eu também te amo Jô!!!
— Vem vamos lá á lojinha dos doces, mas tem que ser em 3 minutos. Pegas no que quiseres e depois pagamos!
— Ok! Vamos então. — com a minha pequena mão entrelaço na dela e nos dirigimos felizes pelo shopping fora.
O que eu mais queria era fazer as pessoas em meu redor felizes e eu sabia muito bem que Joana estava a passar por alguns problemas, ainda mais quando a ouvi falando no telemóvel com uma voz terrível para a sua mãe que precisa de cuidados médicos redobrados. Ela fazia de tudo e muitas vezes fazia horas extra para conseguir ter mais dinheiro para comprar os medicamentos de sua mãe.
Várias vezes na semana á tarde eu e ela íamos a sua casa e eu reparava que a morena não tinha muitas das coisas principais para cuidar a sua mãe e vir ao shopping foi um pretexto para comprar essas coisas. Fomos á loja dos doces, mas pouca coisa comprei lá dentro, o resto do meu dinheiro era para a fazer feliz.
Perguntei-lhe o que fazia mais falta em sua casa para a sua mãe doente e a morena abriu a sua lista no telemóvel e as 5 coisas mais essenciais eram as mais caras e ela não tinha dinheiro nem ao fim do mês para a comprar. Eu não tinha esse limite de dinheiro e como eu sabia que a minha mãe tinha um cartão ilimitado pela casa eu havia pegado nele logo que acordei.
O brilho no olhar de Joana fazia o meu dia, era como se ela fizesse parte da minha família. Ela convivia tantos dias comigo e várias horas que era como se fosse uma mãe para mim, a morena tinha uma irmã a Sarah que já tinha desistido da escola para cuidar da mãe enquanto ela cuidava de mim.
Eu me sentia culpado por ser um peso na vida dela ainda mais quando a sua irmã de 15 anos tinha desistido da escola, era como se estivessem mil facas perfurando o meu coração.
Mais tarde voltamos para casa e lá encontro a minha mãe no sofá da sala, não a esperava hoje eu fiquei surpreso. Minha mãe com uma voz rude mandou Joana terminar o seu dia comigo, eu sei que tinha feito asneiras em ter pegado o cartão dela, porém na minha mente eu estava a fazer uma excelente ação ajudando quem tanto me ajudava.
— Senta-te aqui e larga as sacas. AGORA FERRAN! — as palavras morriam em meu ouvido. —Não aviso novamente Ferran.
— Passou-se alguma coisa?
— Passou algo gravíssimo. Quem te deu a autorização para pegar no meu cartão?
— Eu...eu só quis ajudar a Joana.
— Ajudar? — diz ela sarcásticamenre. —Ferran ela tem os seus problemas e nós temos os nossos não é para andares a gastar o dinheiro dos outros ainda mais com coisas caríssimas!
— Coisas caríssimas? Já olhaste para o teu guarda roupa? Uma peça de roupa do teu guarda-vestidos dá para comprar duas cadeiras de rodas elétricas para a mãe da Joana e agora ainda vens falar assim comigo?
— Ferran Fonseca Torres não comeces com essas tuas insinuações. São coisas completamente distintas!
— NÃO ME CHAMES PELO SEGUNDO NOME. — grito mas logo abaixo o tom, após minha mãe me bater. —Eu fiz o que foi correto e o papai ensinou-me a ser bom com as pessoas e eu estou a fazer o que ele me disse!
— Amanhã terás uma nova babá. Joana já não irá mais trabalhar aqui, as coisas que arranjaste prejudicaram-na. Agora arcarás com as consequências!
— Não podes despedir a Joana por uma coisa que eu fiz, se me quiseres punir estás á vontade mas não a prejudiques por minha causa.
A raiva era maior que tudo, a minha vontade era sair de casa e telefonar ao meu pai para ele me vir buscar, era terrível imaginar no que a minha mãe se havia tornado. Uma pessoa fria e com um coração gélido era o que eu sentia quando olhava em sua cara.
Telefonar a meu pai para me ajudar era a minha maior prioridade mas eu eu não queria colocá-lo com mais problemas ainda mais do que ele já tem em Portugal. Fui para o meu quarto e tranquei a porta do mesmo e só sairia de lá quando a minha mãe se desculpasse não só comigo, mas com Joana que não tinha culpa de eu ter feito aquilo.
— Ferran abre imediatamente essa porta ainda não terminamos aqui! — insiste a mesma batendo na porta com a mão. —Filho vamos conversar.
— Não tenho nada o que conversar mãe, se Joana não for a minha babá eu irei sair de casa!
— Não faças chantagem comigo Ferran, isso não irá resolver nada entre nós.
— Entre nós não temos nada o que resolver. Se amanhã a Joana não aparecer para trabalhar eu não irei obedecer á nova babá e farei a vida negra a ela!
— Ferran Fonseca Torres, não fales assim. Aprendeste isso com as pessoas...
— Com as pessoas? Não termines mãe, eu sei muito bem a quem te referias e digo-te mais Natasha é mais uma mãe para mim e para a S/n do que tu alguma vez foste! — abri a porta mas logo a fecho depois de terminar de falar. —Sai daqui! Eu não te quero mais ver.
Eu sei que falar assim com a minha mãe não iria resolver os nossos problemas, mas ela também não facilitava nem um pouco a questão de se resolver e tentar ter pelo menos um tempo bom comigo.
A minha mãe não facilitava nem um pouco a nossa convivência e eu só vivia com ela aqui em Espanha por causa do futebol e da escola. Tudo o que eu menos gostava nela era a sua atitude perante várias situações e desde que se divorciou do meu pai ficou cada vez pior.
Eu me sentia culpado de estar a ser assim com ela, todavia ela não ajudava nada. Já se havia passando algumas horas e eu estava completamente cheio de sono por isso fui me deitar, mas antes deixei a porta entreaberta caso acontecesse algo a meio da noite.
Amanheceu o dia e ouço uma voz familiar vindo ter comigo, era Joana. Ainda bem que a minha mãe não a tinha despedido depois da nossa conversa nada amigável ontem, a morena me deu um beijo e foi logo preparar o meu banho até que encontro um caderno na minha mesa de cabeceira. Eu nunca o tinha visto por isso foi mais uma questão de eu o pegar e o ler.
Lágrimas se formaram em meu rosto como pétalas de rosas murchando. Minha mãe me amava e eu tinha sido um idiota com ela ontem, eu espero que ela não tenha ido embora sem me despedir dela, eu sei muito bem o quanto o trabalho dela é puxado vários filmes, fotografias e entrevistas não lhe fazem bem e eu também não ajudava em nada.
— Joana! — grito com a minha voz forçada de sono. —A minha mãe ainda está em casa?
— A última vez que a vi ela estava a colocar a última mala no carro se a quiseres ir ver ela ainda deve estar lá.
— Ob obrigada!!!
Desci correndo as escadas, passei por quase toda a casa, entre pela cozinha dentro e logo abri a porta da garagem que por ali tinha. A vejo dentro do carro pronta a sair até que ela me nota, eu paralisei, eu não sabia o que fazer naquela momento. A mesma saiu do carro e se colocou encostada na porta do mesmo.
— Ferran? O que fazes a estas horas acordado?
— Me perdoa mãe. Me perdoa por tudo! Eu sei que errei e peço desculpa eu não queria dizer aquilo. Me perdoa, me perdoa, meu perdoa.
A abracei e logo comecei a chorar de tanta culpa que tinha dentro de mim.
— Oh pequeno, não tens culpa de nada eu é que devia ter entendido o teu lado, todavia da próxima vez tens que me avisar pode ser?
— Pode sim! Vais para Madrid novamente?
— Sim, tenho um comercial para acabar e depois ficarei dois meses aqui contigo!
— Ebaaaaa. Até mais mamãe!
Fui novamente para o meu quarto, me lavar. Eu estava todo suado pois de noite fez bastante calor mesmo tendo o ar condicionado eu suava bastante e era desde bebê que isso acontecia. Apareci na casa de banho, mas lá não estava Joana, fui procurá-la e lá a encontrei em meu closet por isso decidi escolher a roupa com ela.
Era tinha 19 anos mas era praticamente uma irmã para mim, ela fazia o meu comer e cuidava de mim. Nós fazíamos tudo praticamente juntos e quando a minha irmã estava aqui ela chegou a conhecê-la também.
Quando quiseres olhar para um anjo, imagine a Joana.
— Joana a minha mãe falou algo sobre ontem?
— Não porquê? Deveria?! — confusa me mira após tirar os meus calções. —Nos fizemos errado em ter gastado o cartão dela e se eu soubesse que era o cartão da tua mãe jamais te deixaria comprar aquilo.
— Ela zangou-se só mais nada, além do mais a sua mãe estava a precisar bastante disso. Está tudo bem agora!
— Aham! Espero mesmo que esteja pequeno, não me quero meter em mais problemas.
— Não vais. Estás comigo, estás com Deus e se a minha mãe se zangar contigo eu resolvo com ela!
— Menino decidido estou a ver. Sais mesmo ao teu pai Ferran!
— Conheces o meu pai?
— Tive oportunidade de quando ele estava aqui na Espanha para te visitar falar com ele. Ele é uma excelente pessoa!
— Hum hum! E eu também, por isso sou seu filho.
— Convencido hem. Agora vem já escolhemos a roupa agora vamos tomar um banho bem refrescante.
Eu a amo.
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