20²
[...]
• 2 dias depois •
António Torres
Eu não estava sabendo lidar com o fato de não ter mais a Natasha comigo...Não sabia como lidar com o fato de ter perdido a mulher com quem tive a maior conexão em anos. Eu era um inútil, mas parece que aprender com os meus erros e amar a mulher errada estava no meu ADN. Talvez nenhuma mulher no mundo realmente me merecesse.
Essa seria a primeira vez que sairia do quarto em dois dias. Minha mãe bateu na porta, dizendo que a S/n e Ferran haviam chegado de viagem. Doeu demais, doeu demais não ir lá embaixo recebê-los. Eu realmente estava acabado.
Na verdade, ainda estou.
Eu deveria ter sido uma pessoa melhor.
Sim, com toda certeza, eu deveria.
Ajeitei minha camiseta pela milésima vez e abri a porta. Esperei por alguns segundos e, quando não ouvi nenhum som, desci as escadas da casa...Eu não queria encontrar ninguém. Estava me sentindo um perdedor com tudo isso. Thor foi o primeiro a vir até mim. Ele foi o único que se importou em me receber no fundo das escadas.
Suspirei fundo e me sentei à mesa de jantar, sem falar com ninguém. Meus filhos estavam lá. Eu ainda estava tentando encontrar as palavras para dizer a eles que nunca mais teriam a Natasha ao seu lado. A pior parte de ser pai é, sem dúvida, contar a verdade. E, por mais dolorosa que ela fosse, por vezes, ela tinha que ser dita. Nunca poderia esconder algo deles. Era desastroso para mim e sobretudo para eles.
— Papai! O senhor está bem? Está meio tristinho hoje.
O silêncio pesado tomou conta do ar. Senti um aperto na garganta e o nó familiar que se formava, me prendendo as palavras. Olhei para os rostos curiosos dos meus filhos, tão inocentes, tão alheios ao peso que me esmagava o peito.
— Papai? — a voz pequena e preocupada ecoou de novo, despertando-me do meu corpo.
— Comam, crianças, vá. — a voz de minha mãe saiu mais calma do que eu gostaria. — O vosso pai hoje dormiu mal, foi só isso, vá.
Por um instante, pensei que isso bastaria, mas a esperança ainda brilhava nos olhares deles.
— A mamãe Natasha vai vir nos ver hoje? — a questão da pequena ecoou, abrindo uma ferida que ainda não tinha cicatrizado.
— Ela vai? — Ferran sorriu, radiante. — Queremos dar um presente que compramos para ela.
Inclinei-me na cadeira, a frustração me golpeando como uma onda. Eu não estava lidando bem com o simples fato de ouvir o nome dela sair de suas bocas. Aquilo me deixava despedaçado, vulnerável, como se pudesse desabar em lágrimas a qualquer momento, mesmo ali, diante deles. A verdade que precisava ser dita parecia um monstro à espreita, devorando-me aos poucos.
— Vimos várias coisas na loja, mas com toda a certeza ela vai amar o colar que compramos. Tem as nossas iniciais.
Engoli em seco.
A pressão que se acumulava em mim estava começando a ferver, ameaçando transbordar. Estavam testando a minha paciência sem sequer saber.
— Com toda a certeza é lindo, sim, crianças. Mais tarde mostram, está bem?
Eles trocaram olhares e S/n inclinou-se na cadeira, me lançando um sorriso cúmplice.
— Papai vem connosco vê-la? Assim também falamos todos juntos. — S/n piscou, sem perceber a tensão em meu rosto. — Papai ama ela.
— Papai está apaixonado — Ferran completou com a voz cheia de inocência e entusiasmo.
A raiva, acumulada como uma tempestade, explodiu antes que eu pudesse contê-la. — CALEM A BOCA! — bati com os punhos na mesa, a madeira tremendo sob o impacto. — Parem de falar nela, porra! Chega disso!
O choque nos rostos deles foi imediato. O sorriso de Ferran se desfez e S/n recuou até que as costas dela tocassem o encosto da cadeira, os olhos marejados. O peso da culpa caiu sobre mim, sobre uma forma esmagadora. Eu sabia que tinha ultrapassado todos os limites. Não era essa a reação que queria ter, mas minha paciência estava em frangalhos.
— Papai! — S/n choramingou, as lágrimas escorrendo silenciosas.
— António! — a voz firme da minha mãe soou atrás de mim, mas o som pareceu distante, abafado pela confusão em minha mente.
— Deixem-me em paz. Que merda!
Levantei-me de súbito, a cadeira arrastando com um ruído áspero. O impulso de fugir me dominou. Peguei as chaves do carro e saí sem olhar para trás, o coração disparado e o arrependimento fervendo em minhas veias. Dirigi sem rumo, as ruas passando como vultos pela janela. Eu estava negando tudo, Meu coração, minhas emoções e os sentimentos que um dia tive por Natasha.
Aquilo era uma dor incessante, que parecia
não ter fim.
— Aqui, senhor?
— Sim! — disse, saindo do carro com passos pesados. — Apetece-me destruir algo... queria bater em alguém, mas ele está simplesmente com a mulher que eu amo.
— Senhor! — Lopez, bloqueou minha passagem, a preocupação evidente em seu rosto.
Fiquei em silêncio por um instante, a raiva pulsando em mim como um tambor frenético.
— Pare com isso, não faça isso. Descontar em outras coisas só vai piorar a situação e afetar ainda mais sua saúde mental — a voz de Lopez estava firme, mas havia um traço de súplica em seu tom.
— Pior do que já está? — gritei, com os olhos ardendo e o peito em chamas. — Minha sanidade mental está um caco! Eu gritei com meus filhos... gritei com quem nunca, nunca na minha vida havia levantado a voz. Eu gritei por Natasha!
O som de meu desabafo ecoou, uma confissão que eu não planejava fazer, mas que saiu com uma intensidade brutal. As palavras pairavam no ar, cruas e dolorosas.
— Senhor. — Lopez deu um passo à frente, sua mão pairando no ar, como se quisesse me segurar sem tocar. — Não faça isso, por mais dolorosa que a situação seja... o senhor sabe que eu já passei por algo assim. Por favor, ouça-me.
Fechei os olhos, lutando contra a raiva e o desespero que me corroíam por dentro.
— Lopez, não! — minha voz tremeu, oscilando entre súplica e rejeição. — Me deixa.
Virei-me, caminhando para longe, sem saber se estava me afastando de Lopez, da dor, ou apenas me afundando ainda mais nela. Entrei no espaço e, por mais de duas horas, destruí todos os objetos que podia alcançar. Eu queria silêncio, um momento de paz arrancado à força do caos. Minha mente buscava algo em que descontar a raiva, algo que pudesse suportar o peso da minha frustração e da minha dor.
Eu precisava ser libertado.
Parei por um instante diante da primeira sala. Respirei fundo, fechando os olhos. O ar pesado enchia meus pulmões, e quando os abri, vi tudo ao redor como um alvo pronto para a minha ira. Eu tinha que sair daqui melhor do que entrei; era essa a minha única esperança.
— AHHHHHHHHHH! — O grito ecoou, visceral, enquanto os móveis cediam um a um ao impacto dos meus punhos e do martelo em minha mão. As tábuas estalavam, os estilhaços voavam, e a dor de perder a mulher que significava tanto para mim se transformava em pedaços de madeira e vidro espalhados pelo chão.
Meu coração, em negação completa, pulsava um ritmo desordenado. A realidade ao meu redor se distorcia, tornando-se secundária enquanto eu me entregava àquela fúria catártica.Peguei o martelo de novo e, sem hesitar, arremessei-o contra o sofá, que se partiu num estalo surdo. A sensação era intensa, quase libertadora, uma descarga que eu desejava há muito tempo. Senti o olhar de Lopez sobre mim, observando-me com uma mistura de preocupação e impotência, talvez até se perguntando se eu estava perdendo a sanidade.
Se pudesse voltar no tempo, se o arrependimento matasse, nunca teria deixado meu coração se expor dessa forma. Preferia mil vezes estar morto a ter que viver com essa dor rasgando meu peito, esse vazio imenso que Natasha havia deixado.
Quando minhas forças se esgotaram, deixei o martelo cair. O som dele batendo no chão ecoou na sala destruída. Ajoelhei-me, o corpo tremendo, lágrimas escorrendo sem controle. Estava acabado. Meu olhar doía, meus olhos inchados e vermelhos refletiam um homem em pedaços. Minha alma havia partido no momento em que eu disse a Natasha que a amava, mas as palavras não foram suficientes.
Ela não voltou...
Revivi, naquele instante, cada discussão, cada palavra dita e não dita. A desilusão queimava como ácido em minhas veias, a pior de todas as feridas que já carreguei. Nunca antes havia sido rejeitado, e essa dor, a dor de não tê-la, superava qualquer coisa que eu conhecesse.
A dor de não tê-la era insuportável.
Pressenti alguém se aproximando. Pelo som dos passos firmes, era Lopez. Ele sempre teve um andar distinto, uma presença marcante que trazia um certo conforto. Foi ele quem me ajudou a enxergar a luz em tantos momentos de escuridão. Se houvesse alguém capaz de entregar sua vida para me ver sorrir novamente, seria ele. Lopez era mais que um segurança; ele era o amigo que me fez acreditar que o mundo ainda podia ter beleza.
— Senhor! — Ele se agachou na minha frente e levantou meu rosto com as mãos firmes. — Ei! Ah, Deus...
Sem aviso, Lopez me envolveu em um abraço apertado. Era a primeira vez que ele fazia isso, e naquele gesto, senti a sinceridade crua de alguém que compreendia a dor, que queria impedir que eu me afundasse mais. Ele sabia, talvez melhor do que ninguém, a luta que eu travava para me manter de pé enquanto meus próprios filhos, os que eu amava mais do que tudo, poderiam nunca me perdoar.
— Ela me deixou... — a confissão saiu como um sussurro entrecortado de soluços. — Ele fez de tudo para que eu me apaixonasse por ela, e ela me abandonou.
— Não! — A voz de Lopez era firme, mas carregava uma ternura que raramente mostrava. — Senhor, não faça isso consigo mesmo. Tem sempre uma explicação. Ela nunca gostou dele. Até quando ele sequestrou sua filha, ela o desprezou ainda mais. Por favor!
— Me deixa... — implorei, a voz falhando, mas sem força.
— Não! Eu não vou fazer isso. Sou seu segurança, sim, mas acima de tudo, sou seu amigo. O senhor me ajudou a sair do abismo quando nos conhecemos, e agora é a minha vez de retribuir. Eu devo-lhe isso.
Fechei os olhos, sentindo a tormenta rodopiar dentro de mim. As palavras dele soavam como uma âncora, mas a dor em meu peito não cedia.
— Esta dor é insuportável. Tenho medo do que me tornei... medo da pessoa que sou agora.
— Não! — Lopez sacudiu a cabeça. — O senhor está chateado, sim, está dilacerado pela perda. Mas há outras mulheres no mundo, outras chances. Ela foi especial, é verdade, mas isso não apaga a esperança de que possa encontrar a paz de novo.
Num impulso, dei um soco no rosto dele. O choque da minha pele contra a dele reverberou pela sala, um ato movido por desespero e arrependimento. Ele cambaleou, mas não me olhou com raiva. Antes que eu pudesse reagir, ele se ergueu e me puxou para outro abraço, mais forte, me segurando como se minha sanidade dependesse disso.
Eu lutei, tentei me soltar, mas meus músculos cederam. O suor escorria pela minha testa, a respiração ofegante se misturava com a mágoa que me corroía, com o terror de estar tão perdido. E ali, naquele instante, cercado pela ruína que eu mesmo criei, entendi que estava sendo contido não pela força de Lopez, mas pelo desejo dele de me manter inteiro, mesmo quando eu estava quebrado em mil pedaços.
— E se o erro for meu? — murmurei, a voz embargada e os olhos inchados. — E se eu for realmente... o problema?
O silêncio de Lopez foi pesado, uma resposta em si.
Ele sabia que palavras não resolveriam a tempestade que rugia dentro de mim.
— Eu sempre... — continuei, batendo o punho no chão com força. — Eu sempre serei a pessoa errada. Sempre! Sempre! Sempre! — O eco do meu desabafo encheu a sala. — Nunca deveria ter me apaixonado. Por que ele colocou ela na minha vida? Por quê, Lopez?
— Vai tudo ficar bem, senhor. Vai ficar tudo bem, acredite — disse ele, a convicção em sua voz quase soando desesperada.
Minhas lágrimas distorciam a visão, mas algo chamou minha atenção na entrada da sala. Uma figura feminina surgiu, seu cabelo loiro brilhando sob a luz suave. Minha audição estava turva, o corpo exausto tentando processar tudo o que acabara de acontecer.
Ela se aproximou devagar, e Lopez, percebendo sua presença, recuou em silêncio, respeitoso. Me ajeitei no chão, tentando compor-me, enxugando as lágrimas de forma desajeitada. O olhar firme e terno de minha mãe encontrou o meu, e por um instante temi que ela estivesse ali para me repreender, para lançar as palavras duras que eu sentia merecer.
Mas em vez disso, ela se abaixou ao meu lado e me abraçou. O calor do seu abraço fez algo em mim ceder. As defesas que eu havia construído desmoronaram, e um alívio suave tomou conta do meu peito, como se um peso invisível fosse retirado de cima de mim. As mãos dela acariciaram meu rosto com uma delicadeza que só ela conhecia, e seus lábios pousaram suavemente na minha testa, deixando um beijo que parecia carregar toda a compreensão que eu buscava.
Ela sorriu, aquele sorriso pequeno, mas cheio de significado. Não precisou dizer nada. Ela sabia. Ela sempre soube. E só ela entendia o que se passava dentro de mim, a dor que eu tentava esconder, a luta para manter-me inteiro em meio ao caos. Ali, nos braços dela, senti que talvez, só talvez, eu pudesse encontrar um caminho de volta para mim mesmo.
— O que aconteceu aqui? Quando Enzo me informou, eu não quis acreditar nisso... — A voz da minha mãe soava tanto perplexa quanto preocupada. Seus olhos varreram a destruição à nossa volta, e eu quase podia sentir a tristeza dela ao ver o estado em que eu estava.
— Eu só quero paz! Quero ficar sozinho — falei, quase em súplica, a voz trêmula.
— Não! Eu não vou deixar isso acontecer. És meu filho, e a dor que estás a sentir, eu também a sinto. Carreguei-te por nove meses e sei o que vai no teu coração. Eu sinto isso.
— Todos me odeiam — sussurrei, com as mãos apertando meu rosto enquanto dobrava os joelhos contra o peito. Essa era a única maneira que eu conhecia para conter o turbilhão interno, uma posição desconfortável que se tornava um refúgio improvisado para meu coração despedaçado.
— Não! Ninguém te odeia, ninguém aqui te odeia, muito menos o teu pai e os teus filhos. Eles estão preocupados, sim, mas odiar-te? Nunca.
A lembrança do momento em que gritei com eles retornou como uma lâmina afiada. As palavras ecoavam como uma maldição que, eu sabia, carregaria para sempre: "— CALEM A BOCA!!!! — (...) — Parem de falar nela porra! Chega disso." A cena se repetia na minha mente, corroendo qualquer vestígio de paz.
— Eles... a que merda — sussurrei, deitando-me no chão, derrotado.
Tive a chance de manter algo de bom entre nós depois das férias em Barcelona, mas destruí tudo em um único momento de fraqueza. Não deveria ter saído do quarto.
A voz da minha mãe veio mais suave, como um sussurro confortante. — Eu falei com eles. Não, não contei o motivo real de estares assim, mas eles entendem. Eles sentem falta dela, sim, porque a amam. Nós todos a amamos.
— É! Todos... — a ironia doeu como uma farpa cravada fundo.
— Ela está sendo ameaçada, ela não quer estar com ele.
— Mais mentiras que ela te contou? Não basta isso? — perguntei com uma mistura de incredulidade e exaustão.
As justificativas já não me traziam consolo só soavam vazias, como ecos de promessas quebradas.
Ela se aproximou ainda mais, e sua voz endureceu, mas sem perder a doçura de quem ama sem medidas. — Mete uma coisa na cabeça, meu menino! Eu sou tua mãe. Sou mulher, sim, mas estou aqui porque te amo, porque não vou desistir de ti. Eu procurei-te por toda parte, preocupada. Agora, vem embora para casa. Não vamos causar mais problemas hoje.
O toque dela em meu braço, gentil mas firme, foi o primeiro passo para me ajudar a levantar, não apenas do chão, mas do abismo em que me encontrava. Mesmo que minha alma estivesse partida, algo no olhar dela me fez querer tentar juntar os pedaços.
A cena prosseguiu com uma intensidade que apenas o amor e a compreensão materna poderiam suavizar. Senti o calor da mão dela, aquele toque reconfortante que parecia curar todas as feridas invisíveis que eu carregava no coração. Por mais que eu tentasse esconder, ela sempre via através da fachada, lendo a minha alma como se fosse um livro aberto.
O carro estacionou diante da quinta, a casa que guardava tantas memórias, algumas doces e outras agora amargas. Eu suspirei fundo, ainda com a cabeça pesada, mas a carícia de minha mãe me fez reunir forças que nem sabia que possuía.
— António — sua voz ecoou, firme e ao mesmo tempo terna —Sei que dói, sei que achas que tudo está perdido, mas a dor que sentes não pode te definir. Teus filhos precisam do pai que os ama, não o homem atormentado pela culpa. E eu estou aqui, hoje e sempre.
Assenti lentamente. O peso das palavras dela se fixou em mim como âncoras, e por mais que a angústia me dominasse, um fio de esperança começou a se entrelaçar na escuridão.
Aquele momento, em meio à fragilidade e amor incondicional, fez com que todo o peso da culpa e do sofrimento se tornasse mais leve, ainda que por alguns instantes. Agachado diante deles, senti o calor de seus pequenos braços ao redor do meu pescoço, como uma âncora emocional que me mantinha firme, conectando-me ao mundo e à realidade que eu havia quase abandonado.
O som das risadas e o toque suave de suas mãos limpando minhas lágrimas derretiam a dureza que eu construíra em torno do coração.
Suas palavras, tão inocentes e cheias de esperança, cortaram minha alma e ao mesmo tempo a costuraram com um carinho que só eles poderiam oferecer. — Seu príncipe e sua princesa estão aqui para curar suas feridas.
Essa frase ecoou em minha mente, lembrando-me de que a cura para minhas dores não vinha apenas do tempo, mas do amor genuíno e desinteressado de quem via além dos meus erros.
— Vocês são a minha luz! — sussurrei, abraçando-os mais forte, sentindo seus coraçõezinhos baterem contra o meu peito. Era um lembrete vivo de que ainda havia algo puro e bonito na minha vida, algo pelo qual valia a pena lutar.
Minha mãe observava a cena com um olhar emocionado, seus olhos refletindo tanto alívio quanto orgulho. Ali, naquele instante, soube que, embora ainda existisse um caminho longo e difícil pela frente, eu não precisaria percorrê-lo sozinho. E isso, por si só, já era um início.
— Vamos fazê-lo feliz! Sempre fizemos isso, e, mesmo sem poder ver a mamãe agora, que está com seu pai e seu irmão, vamos garantir que seu dia seja especial.
— Vamos fazer tantas coisas! Vamos assar os seus bolinhos favoritos, desenhar juntos, andar a cavalo e assistir ao filme que você tanto esperou. Vamos fazer deste dia o melhor possível... nós prometemos!
Eles eram, sem dúvida, os anjos que eu sempre pedi a Deus, talvez até mais do que eu poderia imaginar. Mesmo enfrentando seus próprios desafios, eram meus filhos que deixavam tudo de lado para me apoiar quando eu estava abatido. E eu faria o mesmo por eles sem pestanejar.
— Obrigado! — murmurei com a voz embargada.
— Nós amamos-te muito, papai!! — disseram em uníssono. — Agora venha, entre! Daqui a pouco, quando o sol estiver mais ameno, vamos cavalgar.
Liberei um pequeno sorriso, sentindo
meu coração aquecer.
— Tu és o nosso lar, é onde podemos descansar, e é onde tu também podes encontrar descanso. Podes sempre contar conosco, porque lar não é apenas onde deitamos a cabeça, mas onde o coração encontra paz — disse S/n, segurando minha mão com firmeza e ternura.
— Lar é onde estamos juntos, e não importa o que tenha causado essa tristeza em você, pai, O senhor sabe que sempre estaremos aqui. Foi o senhor quem nos apoiou e cuidou de nós quando a mamãe estava longe. Foi você quem curou nossas feridas e nos ensinou as primeiras lições da vida.
— Nos ensinou a andar de bicicleta, a cavalgar... fez tudo por nós. Agora é nossa vez de cuidar de você, assim como sempre fizemos, não importa o que aconteça. Seja sob a chuva, sob o sol, neve ou tempestade, estaremos ao seu lado. Porque somos parte de ti, somos seu sangue. E agora, pai, deixe-nos ajudar a curar essa ferida que você carrega.
Droga!
E lá ia eu, mais uma vez, com os olhos marejados. Peguei ambos nos braços, e eles, com a mesma ternura, me abraçaram forte enquanto entrávamos em casa. Sem dúvida, eles eram as pessoas mais importantes da minha vida neste momento. Mesmo nos dias em que me chateio ou brigo com eles, sei que ambos estão sempre prontos para consertar as coisas, para dar o próximo passo, para me lembrar do que realmente importa.
Eu só queria que, às vezes, fosse assim comigo também. Que as coisas pudessem ser mais simples, que as mágoas se dissipassem com um abraço, como se o tempo e os erros pudessem ser apagados num instante de carinho.Mas, mesmo assim, são eles. Eles são, e sempre serão, as melhores pessoas da minha vida. Não importa o que aconteça ou o que o futuro reserve, eles estarão comigo, assim como sempre estive com eles. Porque, no fim das contas, o que importa é o amor que compartilhamos.
Eles são a minha força, meu alicerce, meu tudo.
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