05
And if somebody hurts you, I wanna fight
But my hand's been broken
one too many times
So I'll use my voice, I'll be so fucking rude
Words, they always win, but I know I'll lose
• Another Love - Tom Odell •
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Frase do capítulo:
-Eu mataria qualquer pessoa que se quer ousasse pensar em magoar ela!
António Torres, 2012
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Natasha Costa
05/03/2012 - 11:10H
Era um novo dia e uma nova semana. Apesar disso, eu ainda não tinha aceitado completamente a realidade de estar desempregada. Já fazia semanas que eu procurava uma nova oportunidade, mas todas as tentativas falhavam. As empresas diziam que não podiam contratar uma pessoa associada às acusações de violência que circulavam nos jornais, principalmente envolvendo duas figuras tão importantes como António e James.
Levantei-me decidida naquela manhã. Não podia mais esperar que as coisas se resolvessem sozinhas. Precisava de um emprego, e para isso, precisava que António desmentisse publicamente as falas dos jornalistas. Ele tinha que esclarecer os fatos. Antes de sair, notei uma encomenda que Francesca havia deixado para Antônio. Peguei-a, pensando que seria a desculpa perfeita para abordá-lo. Liguei para o meu tio, que trabalhava com ele, e perguntei se Antônio estava na empresa. Ao confirmar que ele estava, desliguei rapidamente e saí rumo à empresa.
Quando cheguei, percebi que o prédio estava diferente. Havia obras acontecendo na parte externa. Informei ao segurança que precisava falar com António para entregar uma encomenda, e ele permitiu minha entrada. Avancei pelo corredor e, logo à frente, avistei algumas pessoas e, entre elas, António. Sem pensar duas vezes, caminhei na direção dele.
— Preciso falar contigo, urgente! — afirmei, parando bem à sua frente, meu olhar carregado de raiva e frustração. —E pega isto, é para ti. — acrescentei, entregando a caixa.
— Olá para ti também, Natasha. Vamos para a minha sala, conversamos melhor lá. — ele disse, segurando minha mão, mas eu imediatamente a puxei de volta. — Patrícia, poderias trazer-nos dois cafés, por favor? — pediu ele para a morena antes de me conduzir para dentro.
Ao entrar em sua sala, coloquei o pacote sobre sua mesa e o encarei com um olhar misto de reprovação e angústia. Ele se sentou em sua cadeira, cruzou os braços e sorriu ironicamente.
— Então? Vai começar a falar ou só veste aqui para me ver? — ele provocou, com uma ponta de sarcasmo.
Respirei fundo antes de responder, minha voz carregada de frustração. — Eu quero minha vida de volta! Tu e o James a destruíram com essas histórias todas. Ninguém mais quer me contratar.
Antônio estreitou os olhos e balbuciou com frieza.
— James não é mais meu amigo. E agora, fala logo o que quer. Tenho muito trabalho para fazer.
— Eu quero meu emprego de volta, António. Apenas isso. Resolva esse problema e limpe meu nome. Era só isso que eu tinha para dizer. Agora, com licença, vou embora. — girei nos calcanhares, pronta para sair.
Mas antes que eu pudesse dar um passo, ele se levantou rapidamente e segurou meu braço.
— Volta aqui agora, garota! Quem tu pensas que é para falar assim comigo? — ele parecia irritado, mas também havia algo de curioso em seu tom.
Soltei meu braço com força, encarando-o novamente.
— Eu sou a mulher que teve a vida arruinada por ti e pelo teu amiguinho. Agora, ninguém me quer em lugar nenhum. — minha voz ecoou pelo corredor, e pude ver alguns olhares curiosos através das portas de acesso aos outros escritórios.
António suspirou profundamente, pegando meu braço com menos agressividade desta vez e me puxando de volta para dentro da sala.
— Do jeito que estás a falar, parece que eu sou o diretor de todas as lojas de marca do Algarve. Senta-te e vamos resolver isso direito.
Cruzei os braços e permaneci de pé, mas no fundo sabia que precisava ouvi-lo. Mesmo com toda a raiva que sentia, talvez essa fosse minha única chance de colocar minha vida nos eixos novamente.
— Depois daquele episódio na boate, os vídeos acabaram nas mãos da gerente da loja. Ela não perdeu tempo e os enviou aos superiores, o que resultou na minha demissão. Agora, parece que ninguém quer me contratar.
— Eu não fiz por mal! — murmuro. —Vou resolver isso. Se não der certo de forma pacífica, vai ser do meu jeito. Nem que eu tenha que comprar a Gucci inteira.
Inclino-me para sussurrar no ouvido dele, com um tom provocador. — Aliás... — faço uma pausa e sorrio de leve antes de continuar. — Acho que vou aceitar a proposta de emprego do James. Bem, tenho que ir. Até mais!
Ao dizer isso, percebo que ele fica estranho, dando um passo para trás. Sua expressão muda, mas não faço ideia do que disse para causar tal reação.
— Não vais, não! — responde, incisivo. —Aquele canalha não te merece nem como funcionária.
— Mas eu só estava brincando... — tento me justificar, mas antes que pudesse continuar, somos interrompidos pela chegada do pai dele. Aproveito a oportunidade para me despedir.
— Bem, eu realmente preciso ir. Até mais! Ah, ali está a encomenda!
— Até — ele responde com firmeza, mas antes de eu sair, acrescenta. —Não se preocupe. Eu vou cuidar disso.
António Torres
Eu estava indignado por duas razões: primeiro, porque meu pai interrompeu um momento que estava a ficar cada vez mais interessante; segundo, porque a gerente da Gucci teve a audácia de despedir alguém que se dedicou tantos anos àquela loja.
Mas algo estava errado. Meu pai tinha uma expressão pesada, como se tivesse perdido tudo. Isso começou a me assustar, confesso. — Pai, o que foi? O senhor está a assustar-me! Fala logo! — digo, impaciente. Odeio quando as pessoas enrolam para dar más notícias.
Ele respirou fundo e pediu com calma.
— Filho, preciso que mantenhas a calma. Promete-me isso.
— Pai, fala logo, caramba!
Ele hesitou, mas finalmente disse.
— Lembras-te de ter levado a S/n à escola esta manhã, certo?
— Meu Deus, pai, o que aconteceu com ela? Teve um acidente? — perguntei, desesperado, meu coração acelerado pela tensão.
Meu pai abaixou-se e colocou as mãos sobre meus joelhos antes de continuar. — S/n foi sequestrada, filho. Aconteceu antes de ela ir para a aula de Educação Física. A direção da escola acabou de ligar, e a polícia já está no local.
Aquelas palavras me atingiram como uma avalanche.
— E o que estamos a fazer aqui? Vamos para a escola agora! Eu quero a minha filha de volta, pai! Ela é tudo para mim! Se alguém a machucar...Se foi o James...
Meu pai tentou manter a calma enquanto falava. — Filho, já organizei tudo. A segurança em casa foi reforçada. Tua mãe e teu filho estão protegidos, os seguranças estão vigilantes. Quanto à S/n, ninguém a viu sair da escola.
Ele insistiu em dirigir, já que eu estava sem cabeça para conduzir. Concordei, e fomos no carro dele, seguidos pelos seguranças, um deles no meu carro. Durante o trajeto, eu não larguei o telemóvel, na expectativa de que alguém ligasse pedindo resgate. A única coisa que eu queria era minha princesa de volta, nem que custasse tudo o que tenho. Ela é a coisa mais importante da minha vida.
Quando chegamos à escola, havia viaturas de polícia por todo o lado. Sem pensar duas vezes, saltei do carro e corri até um dos agentes.
— Por favor, eu sou o pai dela! Deixem-me entrar!
O policial levantou a fita sem hesitar, e eu entrei a passos rápidos, com o coração na garganta. Segui direto para o pavilhão de ginástica, onde parecia estar concentrada a maior parte das pessoas.
O chefe da polícia estava lá, cercado por outros oficiais. Depois de uma breve conversa, avistei o segurança que deveria estar tomando conta da minha filha, Ryan. Meu sangue ferveu.
— RYAN...Preciso de falar contigo. AGORA! — exclamei, irritado, enquanto me aproximava da zona verde ao lado do pavilhão de ginástica. Meu pai estava logo atrás de mim, observando em silêncio. —Conta o que aconteceu. Agora.
O segurança, um moreno de expressão visivelmente nervosa, começou a gaguejar.
— Eu...Eu estava aqui, à espera que ela viesse do balneário. A turma dela ia ter aula aqui fora, mas ela não apareceu. A S/n...Ela desapareceu!
As palavras dele caíram como uma bomba na minha cabeça.
— COMO ASSIM DESAPARECEU ALI DE DENTRO? EU PEDI PARA TU TOMARES CONTA DELA! — gritei, minha voz ecoando pela área.
— Desculpe, senhor...Eu não... — ele abaixou a cabeça, a culpa estampada no rosto.
— Pedes desculpa? — ri sarcasticamente, completamente fora de mim. —FILHO DA P*TA!
As pessoas ao redor pararam o que estavam a fazer e olharam na nossa direção. Eu não ligava. A única coisa que importava era a minha filha, e o desespero de perdê-la estava a tomar conta de mim.
— Todo esse tempo pedi para tomares conta dela, e isso foi o que conseguiste fazer? Foi uma perda de tempo confiar em ti! Desaparece da minha frente!
Meu pai, percebendo que eu estava prestes a perder o controle, colocou a mão no meu ombro e tentou me acalmar.
— Filho, tem calma. Ele não teve culpa. Ele ficou à espera da S/n cá fora, porque ela é sempre uma das primeiras a sair para Educação Física. Mas, como ela demorou mais do que o normal, ele foi ver e encontrou todas as mochilas no chão.
— Isso não muda nada! — exclamei, passando as mãos pelo cabelo, tentando segurar as lágrimas de frustração.
Os polícias já tinham deixado o local para investigar outras áreas. Sem mais o que fazer ali, decidi voltar para casa e ver como estavam a minha mãe e o Ferran. Ao chegar, deparo-me com um carro azul estacionado na entrada. Reconheci imediatamente, era de Núria. Suspirei, sabendo que o drama estava longe de acabar.
Mal entrei em casa, Ferran correu até mim e me abraçou apertado.
— Papai, a mana vai voltar? — perguntou ele, a voz embargada. —Eu quero ela de volta, papai!
Ajoelhei-me para ficar na altura dele e acariciei seu rosto.
— Ela vai ficar bem, filho. Nós estamos a fazer tudo o que podemos. Prometo que vamos trazê-la de volta. — tentei soar convincente, mas nem eu acreditava totalmente nas minhas palavras.
Antes que pudesse me levantar, Núria apareceu na sala, com sua habitual expressão de reprovação.
— António, como foste capaz de perder a minha filha? É isso que eu sempre digo, tu nunca foste um bom pai para eles!
Levantei-me, já sem paciência.
— Tua filha? Ela é minha filha também! Olha, Núria, se vieste aqui para me chatear mais ainda, a porta é ali. Agora, por favor, poupa-me do teu drama.
— Eu quero encontrar a nossa filha tanto quanto tu, mas parece que não queres colaborar comigo!
Revirei os olhos e virei-me para o meu pai.
— Pai, resolve isto por mim. Eu preciso sair. Até mais.
Sem esperar resposta, peguei as chaves do carro e saí. Eu precisava de espaço para pensar...E, acima de tudo, encontrar uma solução para trazer a S/n de volta.
Saí de casa e deixei Núria a falar sozinha.
Já não bastava terem sequestrado a S/n, ainda tinha que lidar com ela a encher-me a cabeça?
O que foi que eu fiz para merecer tudo isso?
Peguei o carro e dirigi sem rumo, deixando o destino me guiar. Rodei a cidade inteira, vasculhei cada esquina, mas nada. Nem um sinal da minha filha. A preocupação estava a consumir-me por dentro. Depois de horas a conduzir sem rumo, estacionei o carro e permaneci lá dentro, perdido em pensamentos. O tempo passou, mas eu nem percebi. Até que ouvi uma batida no vidro do carro. Olhei rapidamente e vi um homem que deixou cair um bilhete pela janela entreaberta. Antes que pudesse reagir, ele correu. Saí do carro em desespero, mas já era tarde demais. Ele desapareceu na noite.
Senti as pernas falharem e ajoelhei-me no chão. As lágrimas começaram a escorrer, incontroláveis. Abri o bilhete com as mãos a tremer, e as palavras escritas lá fizeram o meu coração parar por um momento: "A tua filha ou tu. Agora escolhe. Ass: J."
James. Só podia ser ele. Ele já me ameaçava há algum tempo, mas eu nunca acreditei que teria coragem de fazer algo assim, muito menos a uma criança. Ele tem uma filha, sabe o que significa amar um filho. Como ele pôde?
As lágrimas vieram com mais força. Sentei-me na beira do passeio, sentindo o peso do desespero, e comecei a lembrar-me dos momentos felizes com a minha princesa. Cada riso, cada abraço, cada palavra dela ecoava na minha mente.
— António? O que faz aqui? — a voz de Natasha me trouxe de volta à realidade. Ela aproximou-se e colocou uma mão gentil sobre as minhas costas. —Porque está a chorar? O que aconteceu?
Levantei a cabeça para olhar para ela, as lágrimas ainda escorriam.
— A minha filha, Natasha. — disse, abraçando-a com força. —Eu não a quero perder, não agora. Ela foi sequestrada. A minha princesa foi levada!
Natasha ficou em silêncio por um momento, chocada, e depois tentou me consolar.
— Como assim? Meu Deus...Calma, António. Vem, vamos beber um copo com água. Isso vai se resolver. Vocês iram encontrar a S/n.
— Eu tenho que voltar para casa. — murmurei, limpando as lágrimas com pressa. —Só saí para tentar arejar a cabeça, mas preciso estar com o Ferran e os meus pais. Queres vir comigo?
Ela hesitou.
— Tens a certeza? Não quero incomodar ninguém.
— De jeito nenhum. Vem comigo. — disse, fazendo um sinal para Lopez. —Lopez, podes dirigir, por favor?
— Claro, chefe.
Natasha entrou no carro comigo, o olhar preocupado mas decidido a apoiar-me. Enquanto o carro arrancava, senti um pequeno alívio por não estar completamente sozinho nessa luta.
Duarte Torres
14:00h da tarde
Já tinham se passado várias horas, mas ainda não havia qualquer chamada do sequestrador ou sequestradores. A tensão na casa era palpável, cada minuto parecia uma eternidade, e todos estavam cada vez mais aflitos. Lopez, que dirigia o carro de António, avisou-me de que ele estava a caminho com uma companhia. Núria, ao ouvir isso, ficou intrigada.
Ela tentava ficar perto de Ferran, mas o pequeno parecia distante, preferindo estar com a avó. Enquanto isso, eu, que estava no escritório, tentava, mais uma vez, contactar agentes do FBI para acelerar a investigação.
Pouco tempo depois, ouvimos o portão da casa a abrir. Saí do escritório e fui até à porta. Era António, que entrou acompanhado por Natasha. Notei como ele segurou a mão dela ao ver Núria dentro de casa.
A reação de Núria foi imediata, embora contida. Não parecia nada contente com o que acabava de presenciar.
António entrou decidido e veio direto falar comigo.
— Pai, preciso falar contigo a sós no escritório. — disse ele, a voz carregada de determinação.
Assenti e o segui até lá. Assim que entramos, ele colocou um bilhete sobre a mesa, o olhar sério.
— Pai, foi o James. Ele sequestrou a S/n. Tenho certeza disso! — disse, apontando para o papel. —Ele já me ameaçou antes para que eu protegesse a minha família, mas eu não dei ouvidos.
Peguei o bilhete e li as palavras curtas, mas ameaçadoras: "A tua filha ou tu. Agora escolhe. Ass: J."
— Filho, sei que tens certeza, mas há muitas pessoas com essa inicial. Não podemos acusar sem provas concretas. — falei, tentando manter a calma. — Mas, se estás tão convicto, vamos agir rápido. Já telefonei ao FBI e à polícia. Eles vão montar uma central aqui em casa. É só uma questão de tempo até chegarem.
— Pai, eu faço o que for preciso para ter a S/n de volta. Nem que tenha que me trocar por ela. Eu não posso perdê-la! — declarou ele, firme, parando no corredor enquanto saíamos do escritório.
A dor e a determinação em sua voz eram palpáveis. Coloquei a mão em seu ombro, tentando transmitir força.
— Filho, eu entendo. Nós vamos resolver isso. Prometo que vamos trazê-la de volta. Agora, vamos para a sala.
Na sala, António sentou-se no sofá ao lado de Natasha, que estava visivelmente preocupada. Ferran, sentindo o cansaço do dia, aconchegou-se no colo do pai. Núria, do outro lado da sala, observava a cena com evidente incômodo.
A presença de Natasha parecia incomodá-la mais do que ela estava disposta a admitir, e os ciúmes eram óbvios. António, no entanto, parecia alheio à sua irritação. O foco dele estava onde deveria estar: nos seus filhos. Eles eram tudo para ele. E naquele momento, estava claro que ele daria o mundo, ou a própria vida para trazê-los de volta ao sorriso e à segurança.
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António Torres
Estávamos todos na sala quando os agentes chegaram. Cada minuto que passava era insuportável, parecia que o sequestrador estava sempre um passo à frente. O meu pai entregou-lhes o bilhete, e eles começaram a investigar possíveis suspeitos, analisando quem poderia ter algo contra mim.
Mas, no fundo, todos sabíamos quem era o responsável, não era?
Levantei-me do sofá, sem dizer nada, e fui para o quintal dos fundos. Sentei-me no sofá perto da piscina, tentando organizar os pensamentos, mas a minha mente era um caos. Era como se as ideias viessem todas ao mesmo tempo, sufocando-me.
Precisava chorar. Precisava liberar toda a dor que estava a carregar por tanto tempo. Era um choro diferente dos outros: um choro de mágoa, de impotência. Cada lágrima parecia carregar consigo todas as frustrações que se acumularam ao longo dos anos. Mas, de alguma forma, sabia que este choro me tornaria mais forte, mais humano.
Fechei os olhos por um momento e deitei a cabeça para trás, sentindo o vento frio da noite. Não me importava se alguém me visse nesse estado. Era preciso deixar isso sair.
— António, filho, a Natasha disse que precisa ir embora. Queres despedir-te? — a voz suave da minha mãe interrompeu os meus pensamentos. Ela colocou um copo de água com açúcar ao meu lado. —Ela já tem o meu número, vai perguntar como estão as coisas.
Levantei-me de imediato, com urgência na voz.
— Ela vai embora? Não, mãe, por favor, diz-lhe para ficar. Eu preciso da companhia dela, por favor.
Sem esperar pela resposta, entrei apressado em casa à procura de Natasha. Encontrei-a perto da lareira, o rosto tranquilo, mas com um ar de quem já se preparava para partir.
— Tu não vais embora. — disse, aproximando-me e abaixando o tom de voz. —Fica aqui comigo, por favor. Eu preciso de ti.
Natasha hesitou, claramente desconfortável. — António, eu não estou a fazer nada aqui. Além disso, eu nem sou da família. A mãe deles está aqui, e ela não gosta que eu esteja perto do Ferran.
— Lar não é uma pessoa, não um lugar.
Ela ficou confusa por um momento, como se estivesse a processar as palavras.
— O quê?
— O lar é onde nos sentimos seguros, onde temos apoio. E, agora, o meu lar precisa de ti aqui. — insisti, olhando nos seus olhos.
Natasha respirou fundo, os olhos suavizando.
— Ok...se insistes tanto, eu fico.
James Rodriguês
22:53h - numa fábrica abandonada
Eu fiz tudo isso para António aprender a nunca mais meter-se comigo. Ele precisava entender o que é sofrer, o que é sentir-se impotente. Sequestrei sim a filha dele, S/n, e coloquei-a num anexo subterrâneo isolado do mundo. Lá, nenhum som externo entrava ou saía. Ela estava há horas presa, gritando sem parar. Eu não me importava. Até agora, só tinha lhe dado um pouco de água, e mais nada.
Abri a porta do anexo, com dois dos meus homens logo atrás de mim. A luz fraca iluminava o rosto de S/n, cheio de lágrimas e raiva.
— Olá, S/n. Que bom te ver depois de todos estes anos! — disse, com um sorriso cínico nos lábios.
— Eu não quero saber o que tu queres de mim! Só quero o meu pai! Solta-me, seu covarde! — gritou, cuspindo no meu rosto.
Limpei o rosto calmamente, mas o sorriso desapareceu.
— Olha só...mostrando as garras. És mesmo igualzinha ao teu pai.
Ela estreitou os olhos, aproximando o rosto do meu.
— Até posso ser pior. — disse, e antes que eu pudesse reagir, ela mordeu com força a minha orelha, arrancando um grunhido de dor.
Dei-lhe um tapa forte, que ecoou pelo espaço estreito.
— Não mereces nem viver depois do que fizeste! — gritou ela, ainda cheia de fúria, mesmo com a marca vermelha na bochecha.
Respirei fundo, tentando recuperar a compostura, e fiz um sinal para os meus homens.
— Não lhe deem mais água. Nem uma gota. Vais aprender o que é sofrer, garota mimada.
Ela ainda tentou reagir, mas um dos meus homens a segurou firmemente enquanto eu me virava para sair. Fechei a porta com força, abafando os gritos que ecoavam atrás de mim. Ela iria perceber, mais cedo ou mais tarde, que comigo ninguém brinca.
António Torres
07/03/2012 - 16horas da tarde
Já haviam se passado três dias desde que S/n desapareceu, e a angústia tomava conta de mim a cada segundo. Eu mal conseguia dormir, as noites eram intermináveis, e tudo o que eu conseguia fazer era procurar, sem parar, por qualquer pista. Tentei contatar todos os meus contatos, vasculhei cada canto da cidade, mas nada. Não havia nenhum sinal dela.
No meio dessa agonia, decidi ir até a empresa. Ali, tinha alguns recursos que poderiam me ajudar a encontrar alguma pista. Mas a cada momento que passava, minha esperança diminuía. Meu escritório parecia um reflexo do meu estado mental: bagunçado, vazio, sem respostas.
Foi quando ouvi a porta se abrir. Olhei para trás e vi Felipe, o ex-funcionário que eu havia demitido há um ano. Ele entrou na sala com um semblante sério, e algo em seu olhar me fez parar por um momento.
— Eu quero te ajudar a recuperar a tua filha — disse Felipe, com um tom sincero, quase suplicante. —Quero deixar as diferenças de lado e mostrar que posso mudar.
Eu o olhei com desconfiança, ainda abalado pela perda e pela pressão. Não sabia se poderia confiar nele, mas a dor que eu sentia por S/n me fez ouvir.
— Eu já tentei de tudo. Eles não querem dinheiro, querem a mim — falei, com a voz falhando, a cabeça entre as mãos. —Estou disposto a sacrificar minha vida por ela!
Felipe ficou em silêncio por um momento, observando a minha dor. Quando falou de novo, sua voz era mais calma, mas carregada de urgência.
— António, eu entendo que o senhor não queira a minha ajuda, depois de tudo que aconteceu. Mas eu também sou pai e sei o quão importantes são os filhos. Eu quero realmente ajudar-te, e, além disso, talvez eu tenha uma pista sobre onde ela possa estar.
As palavras dele me atingiram como um raio, mas antes que eu pudesse processá-las, a dúvida me tomou.
— Então, tu sabes onde ela está? — perguntei, incrédulo. —Não foste tu quem a sequestrou, foi?
Felipe levantou as mãos, um gesto de defesa.
— Não, de jeito nenhum. Mas eu acho que sei onde James a escondeu. Tem uma fábrica abandonada perto da zona industrial, uma que tem uma sub-cave... esse seria o tipo de lugar onde ele a esconderia.
Eu o encarei, uma mistura de incredulidade e esperança começando a crescer em mim.
— Então, do que estamos esperando? Vamos lá agora mesmo! Eu preciso da minha filha de volta.
Felipe hesitou por um momento, percebendo a tensão em minhas palavras, mas logo se recompondo.
— Não podemos fazer isso sozinhos, António. Temos que avisar as autoridades. Não podemos nos arriscar a fazer tudo sem o apoio deles, senão acabamos presos.
A raiva me tomou, mas eu sabia que ele estava certo. Não poderíamos agir por conta própria sem prejudicar ainda mais a situação. Respirei fundo e peguei o celular.
— Ok, vou ligar para o meu pai. Ele vai avisar os agentes que estão comigo em casa. Mas temos que agir rápido.
O tempo passou lentamente, e a angústia aumentava. Finalmente, as 19h chegaram, e a operação estava em andamento. A polícia e o FBI já haviam cercado a fábrica, mas ainda havia uma parte dela que estava fora de alcance, sem vigilância. Era nossa chance de entrar.
Dentro do carro, Felipe e eu formávamos um plano. Sabíamos que essa era a nossa única oportunidade. Eu estava pronto para correr qualquer risco. Se fosse necessário, faria o impossível para trazer minha filha de volta.
— Felipe, agora é a nossa chance. Não há mais agentes naquela parte da fábrica. É a hora de agir — disse, a voz tensa, mas determinada.
Felipe me olhou com firmeza e, sem dizer uma palavra, me entregou uma arma de fogo.
— Então, vamos lá! — disse ele, pronto para enfrentar o que fosse necessário.
O peso da arma em minhas mãos me fez sentir a gravidade da situação. Mas eu não tinha escolha. A única coisa que importava era trazer minha filha de volta, custe o que custar.
Saímos do carro disfarçadamente, fazendo de conta que íamos apenas buscar água, para passar despercebidos. Mas, como em qualquer plano arriscado, as coisas nem sempre saem como o esperado. Entramos na fábrica sorrateiramente, mas logo avistamos dois homens conversando. A tensão era palpável. No momento em que dei um passo em falso e fiz um barulho, tudo se descontrolou. Os dois homens perceberam nossa presença, e dispararam suas armas contra o local onde eu e Felipe estávamos escondidos. Foi o suficiente para sabermos que não havia mais tempo para agir com cautela.
— Onde está o vosso chefe, seus canalhas? — gritei, apontando a arma para o loiro à minha frente, minha voz carregada de raiva e desespero. —Fala, porra! ONDE ESTÁ A MINHA FILHA?!
O homem não hesitou e, com um sorriso sádico, respondeu.
— Estás a falar da garotinha insuportável lá embaixo? Ela já não fala há um dia e meio.
Nesse momento, a raiva tomou conta de mim e, sem pensar, disparei. O tiro acertou a perna dele, fazendo-o cair no chão com um grito de dor. Felipe, ao meu lado, não perdeu tempo e disparou contra o outro homem, atingindo-o no ombro. A arma caiu de sua mão, e ele se arrastou pelo chão, claramente incapacitado.
— Senhor António, largue a arma imediatamente ou vou ter que prendê-lo! — ouvi uma voz firme atrás de mim. Quando me virei, vi um agente do FBI com a arma apontada na minha direção. —Senhor, coloque a arma no chão, AGORA!
A tensão aumentava a cada segundo, mas a única coisa que eu conseguia pensar era em S/n, e em como tudo o que importava agora era trazê-la de volta. Olhei para Felipe, que parecia perceber meus pensamentos.
— Eles vão para a prisão, mas falta o chefe, o responsável por tudo isso! — disse o agente, tentando tomar controle da situação. — Ele fugiu para fora do país. — o agente continuou, visivelmente frustrado. —Não sabemos quem ele é, mas acabamos de receber a informação e entramos assim que ouvimos os disparos.
Felipe, que estava ao meu lado, sussurrou.
— António, a S/n, ela deve estar lá!
Sem pensar duas vezes, atirei a arma ao chão, sem me importar com o que os agentes pudessem pensar. A única coisa que me importava era encontrá-la. Corri pelas escadas, com os agentes tentando me acompanhar, mas eu não ia parar até vê-la. Quando cheguei ao anexo subterrâneo, arrombei a porta com a força do desespero.
Lá, deitada no chão, estava ela. S/n, a minha filha, com a respiração fraca e quase sem pulso. O mundo parecia ter desacelerado enquanto eu a via naquela condição. Não podia perdê-la. Eu a agarrei com toda a força que ainda restava em mim e corri o mais rápido que consegui para fora da fábrica. Os agentes seguiram atrás de mim, mas nada me impediria.
Chegando lá fora, coloquei S/n na maca que os bombeiros trouxeram. Olhei para Lopez e, com a voz falha, disse. — Avisa os meus pais. Pega o meu carro. Eu vou com a S/n na ambulância.
Os minutos seguintes foram um turbilhão, mas eu sabia que estava fazendo tudo o que podia para salvar a minha filha. Ela ainda estava viva, e eu não ia parar até tê-la de volta em segurança, onde ela pertencia.
Duas horas haviam se passado e, até aquele momento, não recebíamos nenhuma atualização médica sobre o estado de saúde de S/n. A ansiedade tomava conta de mim, e eu sentia cada minuto como se fosse uma eternidade. Todos haviam chegado ao hospital, mas ainda não tinha visto Natasha. Fui até minha mãe e pedi para ela ligar para saber notícias, mas ela me disse que Natasha tinha saído para comprar um presente para S/n, o que, de certa forma, me deixou mais tranquilo.
Algum tempo depois, o médico finalmente apareceu para nos dar notícias. — Família de S/n Fonseca Torres? — perguntou ele, sua expressão séria, mas gentil.
— Aqui, doutor. Como ela está? — perguntei, agarrando a mão de Ferran, que estava ao meu lado.
— S/n sofreu uma desidratação severa. O corpo dela ainda está em processo de recuperação, e precisamos ter muita cautela neste momento, pois qualquer alteração no seu estado pode ser crucial. Ela já acordou e pediu para ver a mãe, o pai e o irmão. Depois, os avós podem entrar.
— Muito obrigado, doutor! — respondi, tentando conter a emoção. — Podem ir, nós ficamos aqui esperando.
— Obrigada, vovô. — sussurrou Ferran, apertando a minha mão.
Entramos no quarto, e lá estava S/n, deitada na cama, com os olhos fixos na porta. Assim que me aproximei dela, as lágrimas começaram a cair. Só de saber que ela estava ali, viva e próxima, meu coração se acalmou um pouco, mas o que ela disse a seguir me pegou de surpresa.
— Papai, onde está a mamãe? — perguntou, olhando ao redor da sala. —Eu quero a mamãe, por favor, vai buscá-la.
Eu me senti perdido, sem saber o que dizer. Olhei para todos os lados, mas o que mais me doía era ouvir minha filha pedir por outra pessoa.
— Filha, a tua mãe está aqui, olha... — disse, apontando para Núria, que começou a lacrimejar. —Não, papai, eu quero a mamãe Natasha! Ela é boa e simpática, maninho, viste a Natasha?
Núria, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para S/n e tentou acalmá-la.
— Meu amor, a tua mãe sou eu, não a Natasha.
— Eu quero a minha mamãe! PAPAI, VAI BUSCAR ELA!
As palavras de S/n partiram meu coração, e eu sabia que não poderia forçar algo que não era natural para ela. Eu estava ali, mas o que ela realmente desejava era a presença de Natasha. Núria saiu do quarto, visivelmente arrasada, com as palavras da nossa filha ecoando na mente dela. Até eu fiquei surpreso, e, de certa forma, frustrado. Embora Núria fosse a mãe biológica de S/n, ela nem sempre esteve presente da maneira que eu esperava. Às vezes parecia que ela só se importava com os filhos quando algo acontecia de errado.
No entanto, logo a porta do quarto se abriu novamente, e Natasha entrou, segurando uma sacola da Toys'R'Us.
— Olá, pequena! Então, como estás? Olhem quem eu trouxe para ti, para te fazer uma companhia extra! — disse Natasha com um sorriso, e S/n, ao vê-la, imediatamente se iluminou.
— Mamãe, vovó, vovô, que saudades! Veem, eu estou bem!
— Ainda bem que estás bem, minha princesa — disse Natasha, abraçando S/n com carinho. — Olha, trouxe um peluche para ti!
Eu estava vendo tudo acontecer à minha frente, e, mais uma vez, me sentia grato por Natasha estar ao nosso lado. Ela era uma mulher excepcional, sempre disposta a ajudar, e sua presença tinha transformado completamente minha vida. Eu não queria que ela fosse embora, e sabia que não a deixaria ir de forma alguma.
A noite foi passando, e às 22h00, meus pais e Ferran já haviam ido para casa. Fiquei no hospital com Natasha e S/n. A pequena estava dormindo tranquilamente, e eu, sentado ao lado de Natasha, agradeci-lhe por tudo o que ela havia feito, não só por mim, mas também por minha família, durante esses últimos dias tão difíceis.
Sabia que ela precisava ir embora, então não insisti. Pedi apenas para ela ir com Enrique para casa, para que eu tivesse a certeza de que ela estaria bem. Dei-lhe o meu número de telefone, e ela me deu um último sorriso antes de sair. Ela beijou a testa de S/n e me garantiu que tudo ficaria bem.
Depois que Natasha se foi, S/n acordou, pedindo para eu deitar ao lado dela, para se sentir segura. Não hesitei. Descalcei as minhas sapatilhas e ajeitei melhor a almofada, deitando-me ao lado dela. Ela encostou a cabeça no meu peito, e, mesmo com o peso do mundo sobre meus ombros, ela adormeceu tranquilamente.
Lá estava eu, com o coração cheio de amor por ela, mas também com uma mente em conflito. Era difícil descansar quando o meu coração estava em guerra com minha mente, mas, de alguma forma, ao ter S/n ali, eu me sentia mais completo. E sabia que, ao seu lado, enfrentaria qualquer coisa.
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