04
Cause there's a spark in you
You just gotta ignite the light
And let it shine
Just own the night
'Cause baby, you're a firework
• Firework - Katy Perry •
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Frase do Capítulo:
-A minha alegria foi ver a tua cara novamente depois de muito tempo separados.
Ferran Torres, 2012
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António Torres
13:00h - em Barcelona dia 28/02/2012
Faltavam poucas horas para Ferran comemorar o seu aniversário de 12 anos. Ele estava radiante, e eu não podia estar mais feliz por estar ao seu lado nesse momento especial. Apesar de sua alegria, percebia em seus olhos um leve desejo de ver a irmã e os avós, mas sabia que em dois dias ele os encontraria. A expectativa desse reencontro o deixava ainda mais animado, tanto que ele não conseguia parar de falar sobre como seria incrível revê-los.
Estávamos a almoçar num restaurante aconchegante, e Ferran, cheio de entusiasmo, pediu o seu prato favorito. Enquanto ele saboreava a refeição, eu sorria por dentro, pensando na surpresa que estava a preparar para ele. Há anos, desde que tinha 8, ele sonhava em soltar fogos de artifício na noite de seu aniversário. Ele dizia que aquilo fazia-o sentir-se livre, como se pudesse tocar o céu.
Desta vez, decidi cumprir a promessa. Tudo estava planejado e os seguranças já estavam a organizar o cenário num campo aberto, e à meia-noite do dia um de março, os fogos iluminariam o céu em sua homenagem. Mas, por enquanto, eu precisava distraí-lo e manter tudo em segredo.
Entre uma garfada e outra, Ferran olhou para mim, curioso. — O que vamos fazer à tarde, papai?
Eu sorri, fingindo casualidade. Não podia deixar escapar nem uma pista.
— Vamos passear no parque. E talvez... mais tarde, quem sabe, possamos adotar um cão.
Seus olhos brilharam de emoção. — Papai, podemos chamá-lo de Thor? — perguntou, a boca ainda suja de molho da carne.
Não pude conter o riso.
— Podemos, claro! Mas antes limpa a boca, pequeno!
Ele rapidamente limpou o rosto, sem conseguir conter a empolgação.
— Desculpa, pai. Nem percebi de tão animado que fiquei!
— Eu sei, filho. Mas ouve bem, à meia-noite tenho uma surpresa para ti. Quero que prepares o coração, porque as emoções vão disparar como nunca antes.
Ele deu uma risada alta, enquanto seus olhos brilhavam de curiosidade. Depois, ficou sério por um momento e disse:
— Papai, eu não quero um cão de raça. Os vira-latas também merecem uma chance, e eu quero dar essa felicidade a um deles.
Senti um orgulho enorme de ouvir isso.
— Sem dúvida, filho. E tenho a certeza de que o cão que escolhermos será muito feliz na nossa família.
O almoço terminou com risadas e planos. Enquanto Ferran limpava o prato com a última fatia de pão, o relógio caminhava lentamente para a madrugada mágica que estava por vir. Mas, por ora, nosso próximo destino era o parque. Afinal, o dia estava apenas a começar, e ainda havia muito para viver antes de acendermos o céu em celebração ao coração livre e vibrante do meu pequeno herói.
Estava concentrado no telemóvel, respondendo a uma sequência interminável de e-mails, enquanto Ferran terminava o seu prato. A maior parte das mensagens eram relacionadas às empresas na Espanha, discutindo atas das reuniões da última semana e detalhes dos ofícios a serem enviados. Do lado de fora, os seguranças mantinham a vigilância, observando pela janela para garantir que tudo estava em ordem.
Quando Ferran terminou a sua refeição, pedi a conta. O funcionário trouxe rapidamente o recibo, e eu coloquei o dinheiro debaixo do papel. Contudo, algo chamou a minha atenção: um guardanapo dobrado, com uma mensagem escrita à mão. A frase fez meu sangue gelar. "Acho melhor estares de olho nas pessoas que amas, pois este é o meu único aviso. Ass: J."
Parei, olhando ao redor do restaurante com uma sensação de desespero e alerta. Meu coração disparou, mas tentei manter a calma, especialmente para não alarmar Ferran. Com a voz controlada, mas o medo evidente nos olhos, disse-lhe.
— Filho, levanta-te devagar e sai do restaurante. Eu já vou atrás de ti.
Ferran obedeceu, embora percebesse sua inquietação. Caminhou em direção ao carro com passos hesitantes. Eu segui logo atrás, tentando disfarçar o turbilhão de pensamentos que tomava conta de mim. Assim que entrei no carro, encostei a cabeça no volante, com os braços a segurá-la. Precisava pensar, mas o olhar preocupado de Ferran ao meu lado partiu-me o coração.
Ele estava assustado, e eu não podia revelar o que tinha acabado de acontecer.
— Senhor, está tudo bem? — Lopez, bateu na janela do carro, despertando-me. — Podemos seguir para o parque, como planeado?
Respirei fundo, tentando recuperar a compostura. Mas sabia que era arriscado manter os planos originais.
— Está...está tudo bem, Lopez. Mas houve uma mudança. Vamos direto ao canil e depois seguimos para o parque. Que achas, filho?
Ferran olhou-me, ainda desconfiado, mas assentiu com um pequeno sorriso.
— Por mim tudo bem, papai.
— Ótimo! — respondi, forçando um tom de entusiasmo. — Lopez, vá no carro da frente com Navarro. O Paulo e o Bernardo seguem no carro de trás. Quero todos atentos.
— Sim, senhor. Vamos já organizar tudo. — respondeu Lopez, passando as instruções aos outros seguranças.
Quando os carros começaram a se mover, senti os olhos de Ferran fixos em mim.
— Pai... está tudo bem? Estás diferente desde que pagaste no restaurante.
Pisquei algumas vezes, tentando afastar o peso da ameaça que acabara de receber.
— Está tudo bem, filho. Não te preocupes. Dentro de dois dias estaremos em Portugal, e tudo ficará calmo. Descansa, está bem?
Ele assentiu, mas o medo no seu olhar ainda estava lá. Por fora, fazia de tudo para aparentar calma, mas por dentro sabia que havia algo maior a caminho. E, acima de tudo, precisava proteger Ferran. Custasse o que custasse.
Natasha Torres
15:27h - em Portugal
A manhã começou como qualquer outra: acordei cedo, como de costume. Porém, no meio do banho, uma realidade diferente caiu sobre mim como uma avalanche de água fria. Eu não trabalhava mais. Aquele ritmo frenético e as responsabilidades que antes ocupavam meus dias haviam ficado para trás. Com isso em mente, decidi ocupar a manhã com algo produtivo e importante para mim, realizar a prova de condução e finalmente tirar a carta de carro. Estava nervosa, claro.
Com tantas coisas acontecendo nos últimos tempos, minha mente estava um redemoinho. Mas nada, nem mesmo o nervosismo me faria desistir. Esta conquista era minha.
Mais tarde, já depois das 16h, enquanto caminhava pela cidade, passei pela antiga loja da Gucci onde trabalhei durante tanto tempo. Um misto de nostalgia e saudade tomou conta de mim. A gerente estava à porta, e isso me impediu de ir até lá para me despedir propriamente dos amigos que fiz. Sentindo um aperto no peito, atravessei a rua distraída, sem sequer verificar se vinham carros. Foi quando ouvi o som estridente de travões, seguido de um susto que fez meu coração disparar.
Olhei para o carro branco que quase me atingiu, e, para minha total surpresa, quem saiu dele foi James. Fiquei imóvel por um momento, tentando processar tudo. Ele correu na minha direção, a preocupação evidente em sua expressão.
— Estás bem? — perguntou, ofegante, enquanto examinava meu rosto com cuidado.
— Sim...estou. — respondi, ainda meio atordoada. Tentei parecer tranquila, mas minha voz tremia levemente. — Desculpa, foi distração minha.
Ele assentiu, ainda desconfiado, mas parecia aliviado. Eu agradeci rapidamente e continuei em direção ao pequeno café do outro lado da rua. Precisava de um tempo para respirar e me recompor. Sentei-me a uma mesa próxima à janela, como sempre fazia, tentando ignorar o turbilhão que acabara de acontecer. Pedi o meu café habitual e mergulhei no telemóvel, rolando distraidamente pelas notificações enquanto esperava o pedido.
Então, senti uma mão forte pousar no meu ombro. O toque foi firme, mas não ameaçador. Virei-me devagar, já com a respiração suspensa. E lá estava ele novamente: James.
— Não consegui simplesmente ir embora. — disse ele, com uma expressão séria, mas os olhos carregados de algo que eu não conseguia decifrar. — Precisamos conversar.
O que antes era apenas um café tranquilo transformou-se num momento cheio de incertezas e questões não resolvidas que pareciam voltar à tona com uma força inesperada. James inclinou-se levemente na cadeira, o sorriso no olhar parecia uma tentativa de suavizar a tensão.
— Posso, Natasha? — perguntou ele, com um tom aparentemente inocente.
— Claro que pode, sente-se, por favor. — respondi, esforçando-me para manter a compostura.
— Muito obrigado.
Antes que ele pudesse continuar, o empregado aproximou-se com o meu café.
— Aqui está o seu pedido, senhora. O senhor deseja alguma coisa? — perguntou, pronto para anotar.
— Pode ser um café igual ao desta dama, por favor! — respondeu James, sem hesitar.
— É para já, senhor.
Enquanto o empregado se afastava, encarei James com uma expressão cautelosa. Ele parecia demasiado à vontade, como se nada da nossa história anterior tivesse peso. Resolvi quebrar o gelo com uma pitada de sarcasmo.
— Bem, James, por que vieste para esta mesa, com tantas outras vagas? Não me diga que as outras têm espinhos. — Coloquei o telemóvel sobre a mesa, com o ecrã virado para cima, tentando mostrar desinteresse.
Ele riu suavemente, mas sua resposta foi direta.
— Eu não perderia por nada a sua companhia, Natasha. — fez uma pausa, cruzando os braços sobre a mesa. — Sei que perdeu o emprego e tenho uma proposta para si. Quero dar-lhe uma oportunidade de trabalhar comigo. Além disso... — ele hesitou, mas logo continuou —, sei que naquela noite não começamos com o pé direito. Quero remediar isso.
Fiquei em silêncio por um momento, deixando as palavras pairarem. A ideia de trabalhar para James parecia absurda, mas ele parecia sério.
— Estou à procura de emprego, é verdade — admiti. —Mas, sinceramente, tenho muitas coisas em que pensar antes de me meter novamente em sarilhos. — fiz questão de falar pausadamente, para que ele entendesse que eu não estava interessada em criar confusões ou alimentar falsas expectativas.
O sorriso de James desapareceu. Ele inclinou-se para a frente, falando mais baixo, mas o tom era ameaçador.
— Ouve com atenção, Natasha. — o empregado chegou com o café, interrompendo-o momentaneamente. James agradeceu educadamente, mas assim que o empregado saiu, voltou a inclinar-se, a voz baixa e fria. —Eu não estou aqui para brincadeira. Posso arruinar a tua vida num estalar de dedos. Aconselho-te a aceitar.
Senti um aperto na garganta quando ele segurou a minha mão com força. Apesar do tom ameaçador, mantive a calma.
— Olha, faça o que quiser. Para ser sincera, isso já não me importa mais. — afastei a mão da dele, levantando-me. —Agora, se não se importa, vou embora. Tenho um compromisso em breve. Mas James não queria deixar as coisas assim. Antes que eu pudesse dar um passo, ele agarrou-me pelo braço e puxou-me para mais perto.
— Não me testes, Natasha! — sussurrou, mas seu tom era alarmante.
Antes que pudesse reagir, um segurança aproximou-se rapidamente, interpondo-se entre nós.
— Larga ela, por favor, senhor. Não vou avisar novamente. Da próxima não será amigavelmente.
James hesitou, mas finalmente me soltou, mas riu com ironia, os olhos cheios de desprezo.
— Meu Deus, que medinho que tenho. — zombou. — Natasha, acho que precisas rever o tipo de homens com quem andas, sabes?
Antes que eu pudesse responder, o segurança interveio, aproximando-se rapidamente.
— Senhora, venha. Vamos sair daqui! — disse, colocando uma mão firme e protetora sobre as minhas costas.
Tentei explicar-me, mas as palavras saíam entrecortadas pelo nervosismo e pela raiva.
— Do que está a falar? Eu nem sei quem ele é! Só sei que ele me segue todos os dias desde que...
James interrompeu, rindo mais alto.
— Desde que? Pois é, não é? Olha só, António, mostrando as suas maiores armas! Cuidado para não escorregar nelas!
Aquele comentário disparatado fez o meu sangue ferver.
— Olha só, seu traste, eu sei cuidar de mim. Se não quer levar uma porrada de uma mulher, é melhor ficar quietinho! — rebati, sentindo a raiva tomar conta de mim.
Mas antes que pudesse dar um passo atrás, ele agarrou o meu pulso com força.
— Como ousas?! — gritei, tentando soltar-me, mas a força dele era assustadora. A situação escalou de forma rápida e humilhante. James, num acesso de raiva, deu-me um estalo no rosto. O som ecoou pelo café, e todas as pessoas ao redor pararam para olhar.
— Senhora, por favor, venha! — insistiu o segurança, puxando-me para longe. Conseguiu afastar-me dali enquanto James continuava a lançar insultos, sem a mínima vergonha de estar no centro das atenções.
Enquanto caminhávamos apressadamente para fora, senti o rosto arder, mas a minha dignidade estava ainda mais ferida.
— Isso fez sentir-se mais mulher? — perguntou, num tom mordaz, sabendo que James ainda podia ouvir.
— Do que está a falar? — perguntei com ele a meu lado, tentando acalmar-me enquanto me conduzia para um local seguro. — Sei muito bem defender-me. Além disso, diga ao seu chefe que não preciso de seguranças!
— É preciso, sim... — respondeu ele, com firmeza, parando na calçada para me olhar nos olhos. — Aquele homem é perigoso. Por favor, aceite que eu, pelo menos, fique a 10 metros de distância para garantir sua segurança.
Bufei, irritada, mas sabia que ele estava certo. Não podia enfrentar James sozinha, não quando ele já tinha mostrado até onde podia ir.
— Tá, tá, está bem. Mas 10 metros, entendido? Nada mais. — cruzei os braços, tentando esconder a vulnerabilidade que sentia. —Além disso, nem sei o seu nome. Pode dizê-lo?
Ele hesitou por um momento, mas respondeu com um sorriso discreto.
— Enrique, senhora. Qualquer coisa, estou ao seu dispor.
Suspirei, aliviada por finalmente ter alguém que me ajudasse naquela confusão.
— Obrigada, Enrique, por me tirar dali.
— Não precisa agradecer, senhora. Apenas mantenha-se segura.
Enquanto caminhávamos, senti uma mistura de frustração e alívio. A presença de Enrique era reconfortante, mas saber que James continuava à solta deixava-me inquieta. Sabia que aquilo estava longe de acabar.
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António Torres
23:50h - em Barcelona
Estava dirigindo em direção ao local onde a maior surpresa dos 12 anos de Ferran seria revelada. Ele estava vendado o caminho inteiro, e eu, ansioso, olhava de vez em quando para garantir que ele não estava espiando. Mas Ferran, cheio de confiança, manteve a venda no lugar.
Já tínhamos passado no canil e adotado um novo amigo de quatro patas, e agora, faltavam apenas 10 minutos para chegar ao campo onde tudo aconteceria. Eu não sabia quem estava mais animado, ele ou eu. Havia planejado cada detalhe, e a expectativa crescia a cada quilômetro.
Pouco tempo depois, chegamos ao local. Era um campo isolado, perfeito para evitar problemas com o barulho. Desliguei o carro, respirei fundo e saí, pedindo a Ferran que ficasse onde estava. Meus seguranças já estavam prontos, e fui até eles para conferir os preparativos. Cada foguete estava posicionado cuidadosamente, e o espetáculo havia sido planejado para terminar com uma explosão final deslumbrante. Dei as últimas instruções e voltei ao carro.
Abri a porta do passageiro e ajudei Ferran a sair. Ele ainda estava com a venda nos olhos, e eu não pude conter um sorriso ao ver sua expectativa. No escuro, ele não fazia ideia do que estava por vir. Podia ser qualquer coisa para o seu 12º aniversário, e ele parecia estar tentando adivinhar.
— Pronto, Ferran? — perguntei, minha voz carregada de entusiasmo.
— Sim, papai! Estou pronto! — respondeu ele, com uma empolgação quase palpável.
Segundos depois, dei a ordem. Os primeiros fogos iluminaram o céu, rasgando a escuridão com cores vibrantes. Ferran retirou a venda e ficou boquiaberto. Seus olhos brilhavam mais que qualquer estrela no céu, e seu sorriso era tão genuíno que aqueceu meu coração.
— Uau, papai! Isso é para mim? — perguntou ele, quase sem fôlego, sem desviar os olhos do espetáculo.
— É tudo para ti, meu filho. Feliz aniversário!
Ele correu pelo campo, olhando para o céu enquanto os fogos explodiam em cascatas de luz. Cada movimento dele exalava pura felicidade. Era exatamente o que eu queria: um momento que ele jamais esqueceria, um aniversário que marcaria sua infância para sempre.
Enquanto Ferran continuava a admirar o show de luzes, Lopes, um dos meus seguranças, aproximou-se e chamou-me à parte, perto do carro. Seu rosto estava sério, o que fez minha alegria momentaneamente dar lugar à preocupação.
— Senhor, precisamos falar. É urgente. — sussurrou Lopez, olhando discretamente ao redor, como se quisesse evitar alarmar Ferran. Meu coração acelerou. Algo estava errado, e eu sabia que precisaria lidar com isso sem estragar a noite mágica de Ferran.
Lopez inclinou-se ligeiramente para mim, mantendo o tom sério.
— Senhor, Enrique acaba de informar que James esteve novamente com Natasha no café em frente à antiga loja da Gucci, onde ela trabalhava.
Levantei uma sobrancelha, confuso com a relevância dessa informação.
— Ok, e o que eu tenho a ver com isso? Já disse que isso não me interessa. — Cocei a cabeça, tentando parecer desinteressado.
Mas Lopez não se deixou convencer. — Senhor, conheço-o há bastante tempo. Sei quando está apaixonado, e é por aquela moça. Admita, não é? Está a pensar nela agora, quer ligar para ela, não quer?
Soltei um suspiro irritado, tentando afastar a conversa.
— Lopez, que bobagem é essa? Pelo amor de Deus! Não estejas a exagerar.
— Então, posso tirar o segurança que está a proteger Natasha?
Endireitei-me imediatamente, a preocupação evidente em minha voz.
— Tirar? Não, claro que não! Estás doido? Nem pensar!
Lopez deu um passo atrás, mas continuou com sua explicação.
— James ameaçou-a, senhor. Enrique teve que intervir. Mas o pior de tudo é que há um vídeo a circular nas redes sociais.
— Como assim, ameaçou-a? Que vídeo? — perguntei, pegando o telemóvel que Lopez estendia para mim.
Toquei no "play" e assisti ao vídeo. As imagens mostravam Natasha enfrentando James com uma coragem impressionante, sem recuar mesmo quando ele tentou intimidá-la. Enrique aparecia no final, afastando-a da confusão. Enquanto o vídeo terminava, algo dentro de mim mudou. Natasha era forte, mas aquilo não significava que ela deveria enfrentar tudo sozinha.
— Bom, vou ligar para ela. — Declarei, já decidido.Lopez deu um leve sorriso de canto, como se soubesse que eu tomaria essa decisão.
— Quer o número?
— Sim, por favor. E enquanto isso, fiquem de olho no meu filho. Estou no carro, no banco do passageiro.
Lopez assentiu e passou-me o número. Sentei-me no banco do carro, digitei os dígitos e respirei fundo antes de apertar o botão para ligar. Eu sabia que esta conversa não seria fácil, mas precisava ouvir a voz de Natasha. E mais do que isso, precisava garantir que ela estava bem.
A conversa com Natasha tinha sido tudo menos amigável. Apesar de estar acostumado a lidar com pessoas difíceis, algo nela era diferente, mais complicado, mas também estranhamente fascinante. Isso me irritava ainda mais. Eu não era alguém que gostava de perder o controle das situações, e ela, de algum modo, parecia despertar uma inquietação em mim.
Estava decidido, encerraria essa história e partiria o mais breve possível para Portugal. Precisava de distância, não só dela, mas de tudo que me fazia perder o foco. Saí do carro com passos firmes e bati a porta com força, o som ecoando pelo campo escuro.
— Mas quem ela pensa que é? — murmurei, mais para mim mesmo do que para Lopez. —Lopez, hoje à tarde partimos no jato. Avise o hangar!
Lopez, sempre eficiente, assentiu rapidamente. — Sim, senhor. Às 08:00h farei a ligação para o aeroporto e deixarei tudo preparado.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ouvi os passos rápidos de Ferran se aproximando. Ele vinha correndo em minha direção, com os olhos ainda brilhando de alegria pelos fogos de artifício.
— Papai, está tudo bem com a mana e os avós? — perguntou com preocupação, pegando na minha mão. — Vamos mais cedo por quê?
Respirei fundo, forçando um sorriso para acalmá-lo.
— Está tudo bem, filho. Só estou com muitas saudades deles. Vamos hoje à tarde e levamos o Thor connosco. Mas agora, vamos para casa descansar um pouco. De manhã, arrumamos tudo para partir, está bem?
Ferran sorriu, embora ainda parecesse um pouco confuso.
— Sim, papai. Estou ansioso para ver a S/n e os vovós! Faz oito meses que não os vejo.
— Eu sei, meu pequeno. Vai ser muito bom estarmos todos juntos de novo. Agora, vem logo. Estás cansado e precisas descansar antes da viajem.
Com isso, guiei Ferran de volta ao carro. Enquanto ele se acomodava no banco, eu olhei para o céu escuro, ainda com os resquícios dos fogos desaparecendo. Mesmo com tudo planejado para o dia seguinte, minha mente ainda estava cheia de pensamentos sobre Natasha.
Por que ela conseguia mexer tanto comigo?
Abanei a cabeça, tentando afastar essas ideias. Amanhã, tudo ficaria para trás, e eu poderia focar no que realmente importava: minha família.
S/n Torres
18:08h - em Portugal
A tarde estava tranquila. Depois de uma manhã de aulas, aproveitei para ajudar a vovó Aurora a cuidar das flores no jardim. Ela parecia especialmente animada depois de um telefonema que recebera mais cedo, mas não me disse do que se tratava. Enquanto regava as tulipas, ouvi a campainha tocar. Vovó foi atender, enquanto eu continuava a cuidar do jardim, sem imaginar o que estava por vir.
De repente, olhei para a sala de estar e vi Ferran entrando com um cão. Não acreditei no que estava vendo e corri até ele, sem conter as lágrimas de felicidade. Abracei-o com força, sentindo toda a saudade acumulada dos últimos meses. No meio disso tudo, uma voz inconfundível ecoou, fazendo meu coração aquecer instantaneamente.
— Olá, princesa! Então, como estás? — disse meu pai, agachado perto do lustre e da poltrona.
Levantei o olhar, e lá estava ele.
— Papai! Vieste mais cedo. Que saudades! — Corri para os braços dele, e ele me envolveu em um abraço forte e carinhoso.
— Quisemos fazer uma surpresa, eu e o Ferran. Pequena, que tal irmos comer fora para comemorar o aniversário dele? — sugeriu, com aquele sorriso que sempre me fazia sentir segura.
Vovó, que tinha voltado para a sala, respondeu com alegria.
— Vamos, sim, António. Deixa-me só telefonar para o teu pai, tenho a certeza de que nos encontrará onde quer que decidamos ir.
Enquanto isso, Ferran, sentado no colo do papai, parecia mais animado que nunca.
— Podemos ir ao McDonald's? Eu sei que não é um restaurante, mas faz muito tempo que não vou, papai, nem mesmo na Espanha. — disse ele, olhando para nós com olhos brilhantes.
Eu e vovó rimos, e papai balançou a cabeça, fingindo ponderar. — Tá, tá bom, filho. Vamos ao McDonald's, sim.
A alegria de estarmos todos juntos era palpável. Era nesses momentos simples que tudo parecia fazer sentido. Estávamos em família, e isso era tudo o que importava.
Natasha Costa
19:10h - no casa
Estava a jantar em casa a minha deliciosa massa à bolonhesa e estava tão boa! Preparei a mesa de jantar, liguei a televisão e estive a ver as notícias. Vi que o António tinha vindo para Portugal novamente, mas desta vez trouxe o seu filho. Só me faltava ele aparecer para se explicar, mas como eu tinha dito a mim mesma, não abriria a porta para não me zangar.Ia colocar a primeira garfada na boca quando a campainha tocou.
Mas eu não atendi, nem iria abrir a porta, fosse quem fosse. Insistiu, mas eu não abri, até que ouvi o António a afirmar que estava a ver a luz atrás da porta e o som da televisão.
— Por favor, Natasha, abre a porta, por favor. — disse ele, batendo com o punho na porta.
— Eu não vou abrir, e nem temos nada para falar. Além disso, eu conheço-te há pouco tempo.
— Por favor, deixa-me explicar, vamos, abre a porta...
— Diz o que queres e vai embora. Vamos! — respondi, abrindo a porta apenas um pouco.
— Posso entrar, por favor?
— Ok...ok. Vamos, diz o que queres, eu estava a ir comer.
— Estou a ver que te interessas pelas notícias sobre mim. — disse ele, ironicamente, olhando para os movimentos que eu fazia.
— E tu és sempre assim convencido? Não devias estar com a tua família?
— Eles estão num restaurante a poucos minutos daqui, por isso resolvi passar aqui. E além do mais, o que é que tu tens a ver com o James?
Aquela dúvida fez-me inflamar as entranhas. Não me digas que ela e ele tiveram um caso.
— Estás maluco, só pode! Eu e ele não temos nem nunca tivemos nada. Se vieste aqui para perguntar isso, podes dar meia-volta e ir embora. Agora, esquece e sai daqui!
Instantaneamente, a raiva tomou conta dele. Esmurrando a mesa e derrubando a cadeira, senti o olhar de raiva dele, que se afastava de mim com receio de que me fosse agredir, como se estivesse a esconder algo dele.
— A porra que eu vou esquecer! Se algum homem lhe tocar sem a tua autorização, podes considerá-lo um homem morto!
— Mas que porra é esta? Sai daqui! AGORA! — falei, mas o António avançou na minha direção, querendo um beijo meu. Eu retribuí com um estalo na cara. — Sai daqui, AGORA! Não falo mais contigo!
— Eu não sei o que me deixou assim... Eu te... — disse ele, mas meu telemóvel tocou. Era a minha mãe.
— Acho melhor ir embora, por favor. Sai da minha casa.
— Ok, eu saio, mas a nossa conversa terminou aqui! Nós ainda voltaremos a ver-nos.
— Sai agora!
Será que eu estou a criar sentimentos pelo António e ainda não notei?
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Eu estou apaixonado pela Natasha?
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