03


Not even the Gods above
Can separate the two of us
No, nothing can come between you and I
Oh, you and I

• You and I - One Direction •
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Frase do Capítulo:
-Se eu não for o amor da tua vida, pelo menos que seja alguém que te fez bem.

Natasha Costa, 2012

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Ferran Torres
07:15h - em Barcelona

Eu morava com a minha mãe em Barcelona há dois anos. Ela quase nunca estava em casa e, por isso, sentia-me sozinho. As únicas coisas que me traziam alegria eram as videochamadas com o meu pai, a minha irmã e os meus avós, além do futebol... era o único escape que me mantinha feliz.

Já tinha manifestado o desejo de ir morar com o meu pai, mas sabia que era bastante complicado. Pelo menos, a partir de março, ficaria com ele em Portugal até agosto, o que era um alívio no meio de tudo isso.

— Bom dia, Ferran. Vamos, pequeno, é hora de te preparares para a escola. — disse Joana, a minha babá. Quando a minha mãe viajava, era ela quem cuidava de mim.

— Bom dia. Hoje sinto-me um pouco doente, não posso ficar em casa? — disse, esfregando os olhos ainda sentado na cama.

— Já me disseste isso na semana passada e não estavas doente, Ferran. Mas deixa-me verificar a tua temperatura, não quero ser enganada outra vez.

— Estou mesmo mal, dói-me a barriga... e dói muito! — respondi, colocando o termómetro debaixo do braço.

Passaram-se alguns minutos e Joana verificou a minha temperatura. Disse que eu estava com um pouco de febre, mas nada grave, e decidiu que seria melhor eu ficar em casa. Olhou debaixo da almofada para confirmar se eu não tinha escondido uma bolsa de água quente como fizera antes, mas desta vez, eu não estava a mentir.

O estresse de estar sozinho pesava em mim, e as raras visitas da minha mãe, que só ficava dois dias antes de voltar ao trabalho, não ajudavam. Sabia que o meu pai estava sobrecarregado com o trabalho, mas sempre que podia, vinha visitar-me e passava todo o tempo comigo.

Desci para tomar o pequeno-almoço, enquanto a dor de barriga aumentava. Não disse nada a princípio, mas sabia que se piorasse, teria de avisar. Não queria arriscar que fosse algo grave. Depois de comer, sentei-me no sofá para ver desenhos animados. Joana já tinha informado os meus pais que eu estava doente e, com sorte, sabia que hoje o meu pai viria. Isso animava-me um pouco, pelo menos, teria a sua companhia.

António Torres
08:30h - em Portugal

Durante aquela noite, mal consegui dormir. A minha mente estava a mil, cheia de pensamentos. Já tinha me despedido dos meus pais e da minha filha e seguia para o aeroporto. Passaria três semanas em Barcelona, e embora quisesse ficar mais tempo, a ideia de trazer o meu filho de volta deixava-me animado. A caminho, lembrei-me de que precisava passar pela casa da Natasha e pedi a Lopez para mudar o trajeto.

O prédio onde a morena morava era imponente e elegante. Saí do carro, seguido de perto pelos seguranças, mas pedi que esperassem do lado de fora; queria ir sozinho dali em diante. Subi as escadas e cheguei ao terceiro andar, onde ficava o apartamento 3B, à esquerda. No topo da escada, vi Enrique junto à porta.

Toquei à campainha, mas ninguém respondeu. Tentei de novo até que a porta se abriu, revelando Natasha, vestida com uma camisola larga branca e calças cor-de-rosa com riscas brancas. O seu cabelo molhado mostrava que tinha acabado de sair do banho.

— Olá, Natasha. Posso entrar? — perguntei, notando o ar cansado dela enquanto esfregava os olhos. — Precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem.

— O... olá, António. O que faz aqui? — disse ela, surpresa, tentando fechar a porta, mas bloqueei-a com o pé. — Não temos nada para falar. Por favor, vá embora.

— Quero saber como estás depois do murro que levaste na boate. Era para ter sido eu...

— Sim, era. — interrompeu ela, com um tom misto de frustração e amargura. — Eu fui uma tola por me meter na frente. Nem sei por que fiz isso.

Sem pedir permissão, entrei no apartamento, deixando a porta aberta atrás de mim.

— Fizeste isso por bondade, e eu agradeço. Agora é a minha vez de retribuir. Trouxe uns medicamentos e pomadas que ajudam na cura. — falei, pousando a sacola na mesa da sala.

— Já disse que tens de sair. Se alguém te vir aqui, seja um funcionário ou um investidor. Podes arranjar mais problemas, e sabes disso.

— Problemas? — soltei um riso sarcástico. — Não posso ter mais do que já tenho. E, acima de tudo, tu és...

— Eu sou o quê? Não tenho tempo para isto. Tenho coisas para resolver. Por favor, sai da minha casa — insistiu, exasperada.

— Ok, eu vou. Mas, pelo menos, aceita o que trouxe para te ajudar a curar essa ferida. — disse, estendendo a mão para tocar o rosto dela, mas Natasha recuou instintivamente.

— Por favor, senhor... — disse, apontando para a porta.

Suspirei e saí, sentindo o peso das minhas preocupações. Mesmo assim, não pude deixar de notar como a sua presença irradiava uma beleza que parecia desafiar qualquer momento difícil.

Aurora Torres

Já tinha levado S/n à escola, António já estava a caminho do aeroporto e Duarte tinha começado o seu dia de trabalho. Decidi, então, aproveitar a manhã para fazer compras. Com o aniversário do meu neto se aproximando, uma celebração que aconteceria em Espanha, mas que terminaria com a sua vinda para Portugal. Precisava encontrar um presente especial.

Estacionei o carro perto da zona monumental e comecei a caminhar pelas ruas, espreitando as vitrines das lojas. Entrei na Forever 21, mas nada parecia adequado para o Ferran. Voltei ao carro e dirigi até a Toys R'Us, que ficava um pouco mais distante, e demorei um pouco a chegar. Assim que estacionei, vi uma cara familiar: era Natasha. Sai do carro e dirigi-me à loja, mas lembrei-me de que tinha esquecido o telemóvel. Voltei ao carro para buscá-lo e, minutos depois, entrei na loja sem um plano concreto do que comprar.

— Bom dia, senhora Aurora Torres! Posso ajudá-la? — disse um funcionário ao se aproximar. — Está à procura de um presente para os seus netos?

— Ainda não, mas obrigada pela oferta! — respondi gentilmente.

Continuei a explorar a loja, lembrando-me de que Ferran já tinha comentado que queria uma bicicleta para quando viesse para Portugal. S/n já tinha uma, então decidi que seria uma boa ideia comprar uma para ele também, para que ambos pudessem andar juntos no parque. Apaixonei-me por uma bicicleta New Néon e chamei o vendedor para buscá-la no armazém. Enquanto esperava, vi Natasha perto de uma prateleira.

— Olá, Natasha! Como estás? — cumprimentei, estendendo a mão.

— Olá, senhora Aurora. Não esperava vê-la aqui. — respondeu, parecendo um pouco surpresa. — Vim comprar um presente para o meu irmão, que vai passar a Páscoa aqui com o meu pai.

— Já te disse que não me trates por senhora, não gosto disso. — sorri. — Mas fazes bem em comprar algo para o teu irmão. Quantos anos ele tem? Desculpa a curiosidade, a minha boca grande...

— É o hábito, desculpe. Ele tem 16 anos e é a coisa mais linda deste mundo. Só não sei bem o que comprar... tem tanta coisa, mas tudo é tão caro. Vou encontrar algo que ele goste, com certeza. — disse ela, com um sorriso meio tímido.

— O meu neto tem 12 anos e é a razão de viver do meu filho, junto com a irmã. Os filhos são tudo para ele, faria qualquer coisa para os ver felizes. — comentei, com um olhar carinhoso.

— Ferran, certo? Já ouvi falar dele no trabalho. Dizem que vai se tornar grande jogador de futebol. — disse Natasha enquanto caminhávamos pela loja.

— Sim, ele está a dar o seu melhor para isso. Não tenho dúvidas de que conseguirá — respondi, orgulhosa.

Nesse momento, o telemóvel tocou dentro da minha carteira de Natasha.

— Desculpa, preciso atender esta chamada. Foi um prazer falar contigo! — disse, apressando-me para atender.

— O prazer foi meu, até mais! — respondeu Natasha, sorrindo antes de se virar para continuar a procurar o presente.

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António Torres
13:00h em Barcelona

Subi as escadas e abri a porta do quarto. Ferran ainda dormia, e aproximei-me devagar para acordá-lo. Ele abriu os olhos, sorriu ao ver-me e abraçou-me, mas logo levou a mão à barriga, o que me preocupou. Decidi chamar um médico para vir até casa, pois sabia o quanto Ferran detestava hospitais. Ele ainda se lembrava da experiência ruim que tivera aos 6 anos.

Trinta minutos depois, o médico chegou. Ferran estava sentado no sofá, absorto nos seus desenhos animados favoritos. O médico examinou-o cuidadosamente e diagnosticou uma simples gastrite, nada sério. Senti um grande alívio ao ouvir isso. Ele receitou um medicamento adequado, e assim que o médico saiu, levei Ferran até à farmácia para comprá-lo. Como eu tinha uma reunião no clube às 14h30, decidi que ele viria comigo.

Fomos à melhor farmácia da cidade, aquela em que eu confiava plenamente. Comprámos o remédio, mas um episódio desconfortável aconteceu. Uma funcionária não parava de me lançar olhares e tentar puxar conversa. A situação tornou-se tão evidente que os meus seguranças intervieram, pedindo-lhe que se despachasse.

— Papai, vou ver o Messi, o Xavi e o Iniesta? — perguntou Ferran, empolgado, no banco do passageiro, com um brilho nos olhos. — Eles podem dar-me um autógrafo? Sou muito fã deles!

— Claro que sim, filho. Hoje eles treinam à tarde, e vamos chegar a tempo de os ver. Já falei com eles, e estão à tua espera — respondi, sorrindo ao ver a sua animação.

— Até que horas eles treinam? Posso vê-los? — continuou ele, cheio de entusiasmo.

— O treino vai durar entre 1h30 e 2h. Mas não, filho, não poderás vê-los. Eles estarão a gravar, e a tua presença no campo poderia causar problemas para o clube. Mas prometo que, da próxima vez que houver um evento mais descontraído com o Barça, tu, a tua irmã e os avós poderão vir, combinado?

— A Natasha também pode vir? A maninha falou muito dela e disse que é muito bonita. E, papá, tu precisas de uma namorada. — disse ele, inocentemente.

— De onde tiraste essa ideia, Ferran? — perguntei, rindo. — Não estou a gostar de ninguém, e isso não é uma prioridade agora. O mais importante para mim és tu e a tua irmã. Vocês são sempre a minha prioridade absoluta.

— Em Barcelona —

Natasha Costa
14:50h - na sua casa

Hoje, recebi uma chamada da gerente da loja da Gucci onde trabalhava. Atendi, e ela pediu para eu ir à loja. Quando cheguei, fui informada de que ela me esperava na sala dela. Bati à porta e entrei, percebendo que ela tinha uma expressão séria e desapontada.

Sentei-me na cadeira em silêncio, enquanto ela me encarava sem dizer nada por um minuto inteiro. Aquela calma antes da tempestade deixou-me apreensiva, mas não esperava que a minha alegria fosse desmoronar em poucos segundos.

Ela disse que tinha visto os vídeos da discussão na festa e que a Gucci não podia se associar a esse tipo de situação. Ter uma funcionária envolvida em brigas prejudicava a imagem da marca e da loja, por isso, ela explicou que precisava me despedir. Comecei a chorar, sem saber como reagir.

Tentei argumentar, mas ela apenas me apresentou o papel para assinar e afirmou que os meus pertences já estavam arrumados numa caixa no balcão. Deveria pegá-los e sair.

Cheguei a casa pouco depois, desorientada e sem parar de pensar em tudo aquilo.

Por que me meti no meio daquela confusão?

Se eu tivesse saído logo da festa, nada disto teria acontecido. Enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. Nestes seis anos, o trabalho tinha sido estável e satisfatório, e agora, tudo desmoronava. Fui para o meu quarto e deitei-me na cama, onde chorei até ficar exausta. Liguei a televisão para tentar me distrair com um filme, mas isso não durou muito. A campainha tocou insistentemente. Embora não quisesse ver ou falar com ninguém, a insistência me forçou a levantar e abrir a porta.

— Oi, amiga! Sinto muito, nem sei o que dizer — disse Francesca ao entrar rapidamente e me abraçar, com Matilda no colo. — Hoje vim fazer-te companhia. O Leandro viajou com a equipa de futebol, então a Matilda e eu decidimos ficar contigo, se não te importares, claro.

— Olá, Francesca. Olá, Mati. Não precisavas ter vindo... não quero ouvir ninguém dizendo que devo seguir em frente, por favor. — falei, tentando conter mais lágrimas.

— Quem disse que viemos falar disso? Trouxe alguns jogos, os nossos pijamas e os brinquedos da Matilda. Hoje é noite das meninas!! — disse Francesca com um sorriso encorajador.

— Titia Nat, posso assistir a Rapunzel na sua televisão? — perguntou Matilda, puxando a minha roupa com um olhar irresistível, segurando um pacote de sumo de maçã.

— Claro, amorzinho. Queres ajuda para colocar o filme?

— Xim, tia! Obrigada. — respondeu ela, animada.

— E então, amiga, como estás? O senhorio já veio falar contigo sobre a renda? — perguntou Francesca, sentando-se à mesa.

— Já, sim. Passou aqui há dois dias e disse que, se eu não pagar até o início do próximo mês, serei expulsa. Já devo duas rendas. Tento gerir o dinheiro, mas as coisas não são fáceis.

— Já te disse que podes contar comigo e com o Leandro. Podemos ajudar. Diz-me quanto deves, por favor.

— Não, Francesca. Quero resolver isto sozinha. Se algum dia estiver a passar fome ou em extrema necessidade, peço, mas agora, prefiro lidar com isso por mim mesma. Mas então, vieste aqui para termos a nossa noite de meninas, não é?

— Sim, amiga. E vamos fazer uns docinhos e preparar um jantar delicioso. Aprendi uma nova receita que tens de provar. A Matilda adorou, não foi, filha?

— Sim, mamãe! Vamos fazer hoje, titia e mamãe?

— Claro! Vamos para a cozinha, e depois, quando terminarmos, voltamos para ver o filme juntas.

— Por mim, está ótimo. Vamos lá!

S/n Torres
19:00h - em casa

A ideia de que o pai, pudesse estar apaixonado por outra mulher deixou-me pensativa. Não era algo comum vê-lo sem emoção ao falar da mamãe, mesmo com as viagens constantes dela. Talvez a ausência prolongada tivesse mudado alguma coisa ou simplesmente Ferran, sendo mais jovem, já não demonstrava tanto sobre o assunto.

Enquanto estávamos na videochamada, notei que o semblante de António estava mais leve, mas havia algo diferente nos seus olhos, um brilho que eu não via há algum tempo. Ele e Ferran conversavam animadamente sobre os treinos, e eu não quis interromper para perguntar sobre isso. Preferi deixar o momento descontraído, aproveitando a risada deles e a alegria de partilharmos mesmo que à distância.

Depois da chamada, fiquei um pouco pensativa no meu quarto. Lembrei-me dos sorrisos que papai dava quando falava de nós, os filhos, e de como ele sempre parecia ter tanto carinho ao falar de mamãe, mesmo que ela viajasse muito. Mas hoje, havia algo que não encaixava, talvez fosse só a saudade ou, quem sabe, uma mudança nos sentimentos dele. A avó percebeu meu silêncio e entrou no quarto para saber se eu estava bem. Ela sempre tinha um jeito suave de perguntar, colocando a mão no meu ombro e esperando que eu falasse.

— Está tudo bem, querida? — perguntou ela, com uma voz terna.

— Sim, avó... Só fiquei a pensar se o papai está apaixonado por alguém. Hoje, ele estava diferente, sabia? — respondi, olhando para a janela e vendo as luzes do jardim lá fora.

— As pessoas mudam, minha querida. E às vezes, quando menos esperamos, elas encontram novas formas de felicidade. Talvez o teu pai tenha algo a dizer quando voltar. Mas lembra-te de uma coisa, o amor de um pai e a alegria dele com os filhos nunca mudam, aconteça o que acontecer.

As palavras da avó trouxeram-me um conforto, mesmo que a dúvida persistisse. O importante era saber que, independentemente do que estivesse a acontecer, o nosso laço como família era forte.

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