15 de Julho

— Aurora?

— Sim...

— Ah, finalmente! — suspirou aliviado, entrando pela janela. — Sabe, pensei que nunca fosse encontrar você!

— O que dis-

Nesse momento ela parou de fazer os riscos característicos de Sally no rosto, encarou o espelho e, com o canto dos olhos, observou parte do quarto esperando ver alguém, mas apenas encontrou seu reflexo. 

Então, de súbito, virou-se a fim de visualizar o quarto melhor atentando para a porta e, não tendo avistado ninguém retomou o processo de maquiagem, um tanto confusa. 

— É a Sally? — ouviu alguém falar em seu ouvido, como se estivesse colado em seu rosto.

 A diferença? Não havia nada ali, exceto seu reflexo que, agora, tinha um risco torto à base de lápis de olho preto.

Como se estivesse engolido um apito, o único som que conseguira emitir fora um, quase mudo, grito de horror. Um tom pálido tomou conta de seu rosto no lugar da maquiagem azul e sua boca estava seca, com um aspecto quase mórbido.

— Pai nosso que estás no céu santificado seja o vosso nome venha a nós o vosso reino seja feita sua vontad-

— Ah, não... Vai começar tudo de novo...

Pronunciando toda e qualquer oração que conhecia de forma atropelada e ininterrupta, Aurora fazia o sinal da cruz freneticamente e apertava os olhos com tanta força que chegava a doer.

— Olha, não precisamos fazer isso, sabe? Eu pensei que você fosse levar isso de forma madura e...

— Ai minha nossa! — deixou escapar em desespero, vendo que aquilo ainda continuava ali.

— Santo anjo do Senhor meu zeloso guardador me rege me guia e me guarda — ainda recitando as orações que conhecia, ela saiu da frente do espelho e correu para o outro lado do quarto, mais especificamente para o outro lado da cama, a fim de ficar o mais longe possível do "fantasma".

— Ave Maria cheia de graça o Senhor seja convosco, bendita sois vós entre as mulheres bendita é o frut-

— Uau, você conhece muitas orações! — ele disse, caminhando cautelosamente até ela, tentando, sem sucesso, acalmá-lá.

— Eu só posso estar vendo coisa... Calma Aurora... Respira, é só uma pegadinha. Calma...

— Isso, fica calma Aurora.

Agora, um grito estridente saíra de sua boca involuntariamente e o pânico foi instaurado: sem saber para onde correr, a única coisa que conseguiu fazer foi correr para a cama, pegar o edredom e colocar-se abaixo dele, fazendo-o de seu forte.

— Eu assisti Constantine e todos os filmes dos Caça-Fantasmas! Também já vi todas as temporadas de Supernatural então, se eu fosse você, iria embora agora! Eu sou perigosa! — gritou, com a voz abafada pelo edredom.

— Sério? Constantine e Caça-Fantasmas? Vai pegar um espelho ou uma Mochila de Prótons pra se defender? E, em qual temporada Supernatural está? — aquele estranho disse em tom casual, colocando a cabeça dentro do refúgio de coberta.

Ao avistar novamente a mesma imagem, instintivamente, Aurora deu um salto que a fez cair de costas da cama, mas, rapidamente levantou e tentou se afastar o máximo que pôde, protegendo-se, agora, atrás da porta do guarda-roupa.

— Já sei! É a casa, não é? É esse quarto? Esse era seu quarto e agora você o quer de volta! Pode ficar com tudo, a cama é sua, os móveis... Só deixe a minha família em paz, por favor!

— Eu não quero nada disso, eu vim aqui só para obter uma informaç-

— Foi o jogo do copo que jogamos no outro dia, né?! Eu sabia que era uma péssima ideia! Não queria incomodar o pessoal lá de cima, ou de baixo, não sei... Mas a questão é que Vanilla foi quem fez o contato, então é melhor falar com ela!

— Não é nada disso! Quer me ouvir? — dizendo isso, apareceu ao lado de Aurora fazendo-a tremer dos pés à cabeça.

Com o susto, ela gritou tão alto que fez com que o espectro gritasse de volta, devido ao susto que ele tomara com a garota. Desesperada, Aurora saiu correndo pelo quarto enquanto o estranho tentava acalmá-la, como se isso fosse possível.

— Eu não vou te machucar! Quer parar de correr e gritar, por favor?

— Isso só pode ser loucura da minha cabeça... Eu estou ficando louca!

— Me escuta, pelo amor de sei lá quem!

— Nãããããããoooooo!! — ela corria com as mãos nos ouvidos, sem a menor intenção de parar.

Sem saber o que fazer para acalmá-la, ele pensou na única coisa que poderia fazê-la parar.

— Quinze de Julho! — gritou, chamando a atenção da garota. — Você conhece essa data, quinze de Julho? É importante pra você, não é?

No mesmo instante, Aurora tirou as mãos das orelhas, incrédula. Pela primeira vez, o encarou, reparando que se tratava de uma forma humana, mais especificamente, de um rapaz da sua idade, que não possuía um corpo físico, mas era envolvido por um particular conjunto de névoa.

Nunca havia visto tal coisa na vida e seu coração quase saía pela boca.

— Eu sabia que essa data também significava muito pra você. — ele disse, tranquilizado. — Falando nisso, prazer, meu nome é Arthur. É muito bom conhecer você, Aurora. — falou sorrindo, fazendo com que seus olhos fechassem com o gesto.

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