Capítulo 42 - Bruno

Ele não queria saber se não tinha experiência com bebês, só queria ter Luna 24 horas em seus braços.

A garotinha era geniosa, chorona e comilona. E, no mesmo dia que nascera, deixara sua mãe exausta.

- Isso me faz lembrar do seu pai, sabia? – disse sua mãe, quase que empoleirada em seu ombro para olhar Luna – Quando eu tive você e Henrique, fiquei muito cansada. Bia tinha dois anos e meio, e demandava minha atenção tanto quanto vocês dois. Seu pai ficou tão preocupado que cogitou se demitir do único trabalho que nos sustentava pra ficar em casa.

Bruno sorriu, se lembrando do cara que era o herói dele, Henrique e Bia. Izabel suspirou, e apertou seu ombro.

- Parabéns, filho. Tenho certeza que será um ótimo pai.

Ele tirou os olhos do semblante sereno de Luna, e encarou a mãe.

- Mesmo... ela sendo de Henrique?

Izabel sorriu, se sentando na beirada da cama em que Serena dormia, e disse:

- É uma situação muito...peculiar, realmente. Mas acredito que Henrique está feliz. Não tinha outra pessoa que ele confiasse mais do que em você.

Bruno se ajeitou na poltrona em que estava. E ainda que desconfortável, revelou:

- Erámos tudo um para o outro.

Poderia ter dúvida em qualquer coisa na vida, mas se Henrique tivesse ali, por mais diferente que fossem em personalidades, ele saberia que sempre teria alguém para contar.

Uma certeza, fé e confiança que transcendia qualquer obstáculo.

- Eu sei... – observou sua mãe respirar fundo, enquanto colocava um fio do cabelo acobreado atrás da orelha. – Você se sentiu abandonado quando ele se foi.

Bruno engoliu em seco, embalando Luna com um pouco mais de firmeza para que suas mãos trêmulas não fossem vistas.

Queria negar a afirmação da mãe. Porém, incapaz de ignorar a verdade, ele apenas assentiu, voltando a olhar pra menininha que segurou seu indicador com uma das mãozinhas.

- Mas ele não me abandonou. Na verdade, me deixou os maiores presente da minha vida.

Sua mãe afastou uma lágrima, e veio em sua direção:

- Que bom que agora você percebe. – então a expressão de Izabel ficou séria quando avisou: - Só não deixe esses presentes irem embora.

Bruno franziu o cenho, mas antes que pudesse responder, Luna se remexeu em seus braços. Ele tentou niná-la, mas a garotinha chorou. 

No mesmo instante, Serena despertou alarmada. Ele se levantou, levando Luna até ela.

- Bom, vou deixar vocês dois. – Izabel avisou, um segundo antes de se retirar do quarto e fechar a porta.

Serena ainda massageava os olhos quando pegou a garotinha, deitando-a no colo para amamentar. Bruno ficou do lado dela, observando Luna cessar o choro aos poucos, até parar e quase dormir.

- Como você está? – ele perguntou. Serena ergueu os olhos em sua direção, mas logo os desviou.

- Bem...exausta. Foi a experiência mais incrível da minha vida, e a mais cansativa também.

Sem nem pensar duas vezes, devolveu:

- a minha também.

Mais uma vez, o olhar dela se deteve nele. Porém, dessa vez estava surpreso.

- O que está acontecendo, Serena?

Uma das sobrancelhas dela se ergueu.

- Você realmente está perguntando?!

Certo. Ele merecia.

Não podia aparecer e fingir que não tinha sumido durante duas semanas sem dar sinal de vida. Por isso, admitiu:

- Eu errei.

- O quê?!

- Eu errei. Pedir tempo foi a pior decisão que tive... ainda mais em um momento em que você estava tão vulnerável. – ele perpassou a mão pelos cabelos, observando-a respirar fundo.

A verdade é que o medo de perdê-la fora tão grande que preferiu, mais uma vez, fugir.

- É, foi sim.

- Então...

Ele a encarou, observando o olhar dela pairar longe e depois retornar a ele.

Queria pedir desculpas. Queria pedir que ela voltasse pra casa. Queria dizer que Hector não era mais um problema.

Mas, observá-la e percebê-la tão apática, lhe tirou as palavras.

Ficaram alguns minutos se encarando.

Ele notando-a tão abatida. Ela piscando aqueles olhos maravilhosos em sua direção, mas sem nenhuma expectativa.

Serena cortou o silêncio:

- Vai me pedir desculpas?

- É o eu deveria fazer. - Bruno engoliu em seco. – Mas tenho a impressão de que não vai mudar nada.

E pior: nem ele se perdoava.

- É...você tem razão. Não vai mesmo. - Ela assentiu, fitando o chão por um momento, depois encarando a bebê em seu colo. – Mas... obrigada por ter vindo. Eu nem sei se conseguiria senão tivesse aqui.

Bruno pendeu a cabeça, e sem dúvida alguma, disse:

- Conseguiria sim.

Serena sorriu levemente, meneando a cabeça.

- Você sempre acreditou em mim.

- E você em mim.

Então, com seu comentário, todo vestígio de um boa conversa sumiu. A expressão dela se fechou, o olhar se desviando novamente.

Bruno franziu o cenho, preocupado. Mais uma vez, perguntou:

- Serena, o que aconteceu nesse tempo que fiquei fora?! Sei que pode ser uma pergunta idiota. Só que estou com a impressão de que...

- Eu te esperei, Bruno.

- Então o que...

- Você não me esperou.

Mais uma vez, ele ficou sem entender.

- Por que eu fiquei fora?!

Serena fechou os olhos por um momento, inspirando fundo. Porém ele percebeu o nó que a fez engolir seco.

- Olha, Bruno. Acho melhor não continuarmos essa conversa, tá bom? Eu estou cansada, e...

Ele segurou o antebraço dela, e pediu:

- Serena, me diz.

- Não dá.

Ela pressionou os lábios.

- Mal consigo olhar pra você sem sentir vontade de chorar...

- Serena?!

Bruno abriu os braços. Sua ausência tinha machucado tanto assim?!

Ela se desvencilhou dele, levantando com Luna no colo. E quando o encarou novamente, o semblante se retorceu.

- Não tenho que te falar nada, Bruno. Você já é adulto e sabe bem das suas atitudes.

- Serena, do que você está...

- Toc Toc! – Michele abriu a porta e colocou a cabeça pra dentro quarto. Porém, no instante que percebeu o ambiente pesado, perguntou: - Estou atrapalhando alguma coisa?

- Não! – Serena respondeu rápido demais, dando alguns passos pra longe dele. – O que foi, Mimi?

- Renato tá lá na sala, amiga. Disse que é uma passada rápida, e se tiver muito cansada ele pode voltar depois...

Bruno odiou o fato da expressão dela se clarear tão rápido.

- Não, que isso. Vou falar com ele.

- Serena? – ele chamou. Ela olhou por cima do ombro, e murmurou:

- Outro dia a gente conversa, Bruno.

- Você não vai voltar pra casa?!

Ela se deteve por um instante. Porém logo respondeu:

- Acho melhor não... Dessa vez eu é que preciso de um tempo. Ficar perto de você não vai fazer muito bem para mim.

E saiu. Sem nem olhar pra trás.

Bruno ficou estático por alguns segundos, sentindo um sentimento estranho lhe cortar o peito e queimar o estômago. 

A raiva de si por machucá-la foi tão grande, que senão fosse a chegada de Bia, provavelmente teria se xingado e socado o travesseiro. 

A irmã entrou e bateu a porta, arrumando a bolsa que estava a tiracolo.

- Eu estou indo embora. Vou pegar Miguel na casa da avó.

Ele bufou, expirando um pouco da raiva para dizer:

- Tudo bem.

Porém Bia continuou em pé na porta, os braços agora cruzados.

- O que foi, Beatriz?!

- Estou com raiva de você, ok?! Você sempre faz péssimas escolhas!

Bruno assentiu, concordando totalmente com a afirmativa. 

Sua irmã balançou a cabeça, e com um suspiro, disse:

- Não pensei que ia dizer isso depois do que você fez... mas que bom que veio.

- Claro que eu iria vir.

Bia apertou os olhos.

- Fico surpreendida com a sua arrogância, sabia?! Isso só mostra que você tem uma característica que eu ainda não conhecia: é cara de pau.

Dessa vez foi Bruno quem cruzou os braços:

- Pera aí, Beatriz. Eu fiz alguma coisa pra você, ou só está querendo me irritar?!

- Estou vendo que você já está irritado o bastante. Mas isso não muda o fato de que a sua atitude foi imperdoável, Bruno. Vou a machucou... e sabe o que é pior?! Fez exatamente aquilo que disse que poderia fazer. - ela meneava a cabeça incessantemente. - Nem devíamos estar surpresos.

Bruno franziu o cenho.

- Que porra está acontecendo com vocês?!

Bia riu ironicamente.

- Agora vai se fazer de sonso, também?!

O semblante de Bruno se fechou, mas quando sua boca se abriu para uma reposta, Munique entrou saltitando no quarto.

- GENTE! Vocês precisam ver o que está passando na televisão!

Bia e ele interromperam a discussão para olhar a modelo. Sarah veio em seguida, o rosto tão pálido quanto se tivesse visto uma assombração.

- O que está acontecendo?! – Bia perguntou, desconfiada. Munique agarrou o antebraço deles dois, puxando-os:

- Venham logo!

Na sala, Renato estava ao lado de Serena, toda a atenção vidrada na TV. O jornal da noite televisionava uma notícia bombástica: "Empresário Hector Ferraz acaba de ser preso por acusação de estupro"

- O que...mas como... – Serena não conseguia pronunciar nenhuma frase completa.

Bruno ficou boquiaberto, vendo as imagens do gaúcho sendo conduzido delegacia adentro com uma montoeira de repórteres em volta. 

Estava tão surpreso que se sobressaltou com o tapa maroto de Renato em suas costas. Ele se virou pro jogador, concedendo um aceno de cabeça. Em uma reposta cúmplice, Renato deu uma piscadela.

Na realidade, era um alívio ter a confirmação de que o jogador havia feito o correto. Apesar de, intimamente, ter confiado nele pra tal.

- Hector não será mais um problema. – Renato deu o veredicto.

Os olhos claros de Serena se arregalaram.

- Conseguiu o vídeo?!

Renato assentiu com um sorriso, e se virou pra ele.

- Sim. Mas só foi possível porque o B....

- AHHHHH – Serena pulou nos braços do jogador. – Eu sabia que você ia conseguir, Renato! Meu Deus... nem sei como agradecer! – ela segurou o rosto dele e deu-lhe um beijo demorado na bochecha.

Bruno pressionou os lábios e virou o rosto. Serena continuou:

- Eu te perdoo, Renato. Sei que você fez coisas questionáveis... mas também foi a pessoa que ajudou a consertar tudo. – ela colocou as mãos na direção do coração. - Obrigada de coração.

- Serena... - Renato ia começando quando foi interrompido. 

Então veio a última frase, aquela composta exatamente para ele. Adornada com todas as palavras que quebraram cada pedaço do seu coração.

- Você faz muito bem para mim, Renato.

Se ela tinha feito a escolha dela. Quem seria ele para reverter?

Renato sorriu, porém ainda assim balançou a cabeça.

- Obrigado, Serena. Mas como eu ia dizendo, só foi possível porque o B...

Dessa vez, foi Bruno quem interrompeu o jogador, colocando uma mão no ombro dele. 

- Todo o crédito é seu, Renato.

O jogador uniu os olhos.

- Quê?! Você...

- Não. É você quem faz bem pra ela. 


Esse cap demorou mas saiuuuu. Depois daquele cheio de emoção, esse veio mais leve,  ainda que com uns toques de tensão. 

E aí, minha gente?! Acharam que Serena pegou pesado? Eu sim. Mas não é fácil quando pensamos que fomos traídas :( 

O que vocês acham que acontecerá?! Agora só depende desses dois. 

Até o próximo, que trará mais desafiossss. *risadinha maléfica* 

** gente, desculpe os possíveis erros. Tive que fazer uma revisão rápida porque to enrolada :( 

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