Capítulo 35 - Bruno

Voltar para casa jamais tivera um significado especial. E a saudade nunca batera tão rápido por alguém que se havia visto poucas horas atrás.

É, estar apaixonado é foda.

Bruno tamborilou o dedos no volante, ainda dentro do carro estacionado na garagem. Tinha acabado de chegar do treino, e o motivo de se deter quando queria correr para os braços dela, era justamente esse: estava completamente aterrorizado com o que sentia.

Ele inspirou fundo, decidindo sair do casulo e entrar em casa. Porque no final, não importava a batalha interna que travasse entre mergulhar ou não naquela relação, sempre acabaria caindo.

O barulho de seus passos o denunciou quando entrou na sala, onde Serena estava sentada como uma menininha. Os pés debaixo do corpo, os olhos na televisão e o sorvete no colo.

No entanto, a cena que ele se habituara a ver e enchia seu coração daquele sentimento louco, se esvaiu assim que os olhos dela cruzaram com os dele.

Alguma coisa tinha acontecido.

Sem trocar uma palavra sequer, ela colocou o pote de lado e correu para os seus braços. Bruno a abraçou forte, apertando-a contra o peito. 

Serena o soltou. E os olhos tristes que o fitavam deslizaram para sua boca, um segundo antes de beijá-lo. 

Os lábios se encontraram num beijo doce e lento que ele aprofundou, provando o gosto de pistache que a língua gelada dela oferecia. Os dedos de Serena se fecharam em sua nuca, ao mesmo tempo em que desfazia o coque frouxo para sentir a sedosidade dos cabelos dela.

Contudo, o que era pra ser um cumprimento, se transformou. Ela parecia desesperada, e ainda que também estivesse pronto e sedento, queria entender o que estava acontecendo.

Bruno a separou de si.

- O que houve? 

Serena engoliu em seco, meneando a cabeça. Ele esperou por uma resposta que não veio. 

- Me diz.

- Bruno...

Ela desviou os olhos, demonstrando que era mais sério do que aparentava. Bruno segurou o queixo dela.

- Serena, no segundo dia em que esteve aqui, combinamos que seríamos totalmente sinceros um com o outro. Sem segredos.

- Eu sei.

- Então me diz.

Ela suspirou, se desvencilhando de seu toque para virar-se de costas. O coração dele disparou dentro do peito, atiçado pela ansiedade que aquele comportamento incutia.

Finalmente Serena o encarou novamente, os olhos claros o mirando com expectativa.

- Se você precisasse esconder algo de mim para me proteger... o que faria?

Ele franziu o cenho.

- Como o quê?

- Qualquer coisa... – ela devolveu receosa. – Só me diga o que faria.

- Não sei. - deu de ombros. - Provavelmente diria a verdade.

- Mesmo que fosse algo que me magoasse muito ou me deixasse... revoltada?

Ele pendeu a cabeça, observando-a balançar as sobrancelhas sugestivamente.

- Serena, não estou entendendo aonde quer chegar. Está supondo que eu fiz algo para te deixar assim?

- Não, não é isso! Eu só preciso saber se você iria me contar.

- É claro que sim. – abriu os braços – Eu te conto tudo, e até o que não quero dizer você consegue me fazer falar.

Serena piscou por alguns segundos, os olhos se marejando.

- Ai, Bruno... – ela o abraçou. – Esse é um dos motivos que me fazem gostar ainda mais de você.

- Serena, está me assustando. - Bruno a segurou de novo. - Está tudo bem?!

Ela mordeu os lábios, um vestígio repentino de felicidade perpassando no semblante.

- Agora que estou com você, sim.

- Mas antes não?

O brilho fugiu dos olhos claros.

- Eu vou te contar tudo. 

Ele assentiu, esperando. Porém os lábios dela deram lugar a um sorriso torto e sugestivo. Bruno pendeu a cabeça, percebendo a luxúria na expressão.

- Eu sei o que você quer. Mas, tem certeza que essa é a hora? 

Ele umedeceu os lábios, se segurando para não ceder. O que quer que a entristecera era mais importante do que sua vontade. 

- Bruno, o que aconteceu foi péssimo e trouxe lembranças de um momento em que eu me sentia sem vida e vazia... Quando eu estou com você é diferente, me sinto viva. E quando você me preenche... – as maçãs do rosto dela ruborizaram. – Eu vou te contar tudo, prometo. Mas agora eu preciso ter você dentro de mim.

Cacete.

Todas as terminações nervosas do corpo dele se retesaram, paralisadas pelo pedido daquela mulher. Serena parou de puxá-lo, mordendo a bochecha em ansiedade.

O receio que ela tinha de uma resposta negativa era tão latente, que o deixava com vontade de rir. Como ela ainda não percebera que o tinha de joelhos e a postos para qualquer coisa que pedisse, ele não sabia.

Ainda assim, Bruno não permitiu que ela perguntasse novamente. E ignorando as preocupações por alguns instantes, a pegou no colo num movimento rápido.

Serena estava tão determinada que, quando colocada na cama, se ajoelhou vindo pra cima dele. A boca o capturava em beijos desesperados, as mãos o acariciando como se dependesse daquilo pra viver.

Como se fosse a última vez.

Em poucos segundos já estavam nus, com suas mãos serpentando sobre ela. Serena correspondia a qualquer toque, retorcendo-se como se a pele estivesse em chamas. E cada expressão de deleite no rosto o iluminava de uma certa maneira que, se somente servisse ao prazer dela, ficaria satisfeito.

Porém, como sempre, ela queria mais.

E agora trocava de posição para ficar de quatro na frente dele. Bruno precisou de um momento pra ter certeza que não era uma miragem, e de mais outro para rogar por controle.

Os olhos de Serena o fitavam através do espelho na parede oposta. As cores claras meio nebulosas, alucinadas por mais prazer.

Ele segurou o membro pela base, guiando-o para dentro enquanto a outra mão a segurava pela cintura. A penetração pareceu levar uma eternidade até preenchê-la por completo. Serena cerrou os olhos e mordeu os lábios, abafando um gemido agudo. 

Hipnotizado, Bruno a fitou. Os cílios espessos dela estavam deitados sobre as maçãs do rosto, os lábios avermelhados agora entreabertos. 

E ele... putz. Estava totalmente perdido em um limbo de alívio, êxtase e amor.

[...]

Ela estava enroscada nele embaixo da coberta, a mão repousada delicadamente sobre seu peitoral. Apesar disso, a maneira como a respiração soava alta, indicava que não se encontrava adormecida.

- Sei que está acordada.

Serena ergueu a cabeça, sorrindo amarelo.

- Ás vezes me assusta o fato de me conhecer tão bem.

Bruno ergueu a sobrancelha, perpassando uma das mãos sobre o cabelo dela.

- Então, agora vai me contar o que está acontecendo?

- Sim. – ela assentiu, se ajeitando de lado para olhá-lo melhor. – Só que antes preciso que saiba algumas coisas sobre o que eu sinto.

- Certo.

Inspirou fundo, se preparando. Porém, o que Serena disse tirou-lhe o ar.

- Estou apaixonada por você.

Ele ficou tão sem reação que ela continuou:

- Eu sei que disse para não me apaixonar, mas... aconteceu. Não consigo controlar meu coração. 

- Serena, eu... – Bruno se sentou, umedecendo os lábios para dizer o mesmo. Porém ela o cortou:

– Tudo bem, sei que disse que é diferente. Não estou esperando que sinta a mesma coisa, muito menos um pedido de casamento...

- É isso o que quer?

- Isso o quê?

- Um pedido de casamento.

- Não! Quer dizer...eu falei de maneira figurativa. – Serena riu sem graça, mas o olhar brilhou de curiosidade. – Você se casaria?!

- Depende. 

Se fosse com você.

Ela pareceu analisar a resposta dele por alguns segundos, e prosseguiu:

- Só estou dizendo porque preciso que saiba o que tudo isso significa pra mim... que é muito.

- Serena, faz alguns meses que eu durmo e acordo do seu lado. Mês que vem nossa filha nasce, e ontem eu perguntei se quer ficar comigo, como minha mulher. - Bruno segurou a mão dela. – Você tem noção do quanto está significando pra mim?

Os olhos dela se ergueram meio arregalados e molhados. 

- Er...  

- Nós sentimos as mesmas coisas. 

As sobrancelhas dela se uniram. 

- Mas queremos as mesmas coisas?!

- Sim. 

- Como pode saber isso se eu nunca te contei o que quero?! - Ela devolveu desconfiada. Bruno sorriu.

- Porque desde que você aceite estar comigo, eu quero tudo o que você quiser. 

Serena ficou boquiaberta. Ele afagou a bochecha dela.

- Agora me conte o que está preocupando você.

Ela inspirou fundo e perguntou: 

- Confia em mim?

- Claro.

- Você sabe que eu tenho que resolver algumas pendências com... Hector, não sabe?

Hector.

Ele sentiu os músculos queimarem ligeiramente. 

- Sei.

- Eu também te contei o que sinto, porque preciso que não se esqueça que independente do que venha acontecer, eu gosto de você e vou voltar.

Bruno cruzou os braços, sentindo a respiração já acelerada.

- Droga, Serena. Para com esse suspense e me conta logo.

- Prometa que não vai interferir.

- Interferir... no quê?!

- Você disse que confia em mim, não é? – ela devolveu a pergunta feita anteriormente. – Então prometa que não vai interferir.

Ele ficou com vontade de xingar. Já estava a ponto de concordar com qualquer coisa desde que soubesse o que estava acontecendo.

No entanto, parou por um instante, sopesando a confiança que tinha nela, que era total. Por isso, sem mais delongas respondeu:

- Prometo.

Serena assentiu, mordendo os lábios. Porém ele sabia que ela estava se preparando pra contar. 

- Hector esteve aqui hoje, e disse que me dará o divórcio se eu assinar um acordo e deixar tudo com ele.

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso.

- Isso é...ótimo. Assine logo e dê para ele tudo o que quer.

- Não é só isso. – os lábios dela se tornaram uma linha fina. – Ele quer que eu me separe de você.

Bruno piscou, sem certeza se havia escutado direito.   

- O quê?!

- Hector tem raiva por causa do que você fez, além de que acha que é o pai de Luna, e...

Ele a interrompeu. 

- Serena, você não está pensando em aceitar essa condição, está?!

A expressão dela se contorceu triste, uma lágrima finalmente caindo.

- Não vai ser real. Eu apenas vou sair daqui pelo tempo necessário.

- Tempo necessário pra quê?! – a voz dele saiu mais áspera que o previsto. 

No entanto, ela não respondeu, somente afastando outra lágrima que rolou pela bochecha. Bruno esfregou as mãos no rosto para impedir que os punhos se cerrassem.

- Serena, não faz isso...

– É a minha decisão. - apontou pra si mesma. – E eu vou resolver isso de um jeito que já deveria ter feito há muito tempo.

Ele escutava o que ela dizia. Contudo, não ouvia nem compreendia. Bruno fechou os olhos, incapaz de cogitar aquela possibilidade. Ainda assim, perguntou:

- Era isso que estava preocupada em me contar?

Ela pressionou os lábios por um instante, e revelou:

- Também.

- Então tem mais coisas. – concluiu, sentindo os punhos finalmente se cerrarem.

- Sim, mas não vou contar agora. – ela decidiu – Você já está...

- Bravo?!

Puto? Chateado? Enraivecido? Não sabia. Porém, se visse o Hector esqueceria da promessa feita anteriormente, somente pelo prazer de esganá-lo.

Se o que tinha conhecimento era péssimo, imagina o que restava para saber?

- Ele tem medo de você.

- Eu sei.

Serena prosseguiu, a expressão destroçada:

- Ele disse para não te contar nada, só que eu não...

- Fez o certo. - assegurou. 

- Mas você deve agir como se não soubesse de nada. - os olhos dela suplicaram - Ele disse que se for atrás dele, irá te denunciar por lesão corporal. Sem dizer que já te processou...

Bruno bufou.

- Devíamos chamar a polícia. – murmurou. Porém, logo depois reavaliou as ações dele e de Hector, concluindo: - Nós dois seríamos presos.

- Exatamente. - Serena segurou seu rosto. – Você não pode se meter nisso. Precisa focar no futebol e no campeonato que irá começar.

- Serena...

- A sua carreira depende disso, Bruno.

Ele riu de nervoso.

Foda-se a carreira, queria dizer. Mas a verdade era: Como ia conseguir focar em alguma coisa quando só tinha olhos pra ela?

- Tem que ter outra solução.

- Não tem. – ela disse chorosa. – Se você soubesse metade do que ele aprontou...

- Me conta.

Serena meneou a cabeça, o abraçando forte.

- Você vai saber de tudo na hora certa. Confia em mim, Hector não será mais problema. - O hálito quente dela abraçava sua nuca, espalhando arrepios pelo corpo dele. – Eu vou, mas eu volto. Estaremos juntos no nascimento de Luna.

Bruno a separou.

- Serena, Luna nasce somente no mês que vem.

Ela assentiu.

- Se tudo der certo como imagino, acho que será mais rápido. – a mão dela estava entrelaçada na dele. – Lembra daquela conversa sobre focar no lugar certo? Foque na carreira. Quando menos perceber, estarei de volta.

Ela estava tão determinada e otimista que o arrasava ainda mais. E não era por falta de confiança nela, mas por ele.

A presença de Serena não só devolvera o brilho do seu futebol, como iluminara toda a sua vida. Porra, ele até imaginava ter uma pedra de gelo no lugar do coração, quando na realidade só não tinha conhecido a pessoa certa.

Ela.

Serena sorriu triste. O polegar acariciando seu pulso de forma apaziguadora, em cima da tatuagem do ano de nascimento dele e Henrique.

- Estou fazendo isso por mim, por Luna e...por nós. – os dedos dela voltaram a se entrelaçar nos dele, quando o encarou e disse: - Apesar disso, você é livre para estar com quem quiser.

Ele riu, perplexo.

- É o que você quer?!

- Bruno...

- Serena, escolher a hora certa para me dizer algo, é uma coisa. Agora, mentir na minha cara...

Ela suspirou. 

- No chá de bebê da Luna, você me contou que muitas coisas ditas antes não condizem mais com a realidade. Mas que coisas são essas?! - Serena abriu os braços. - Eu não quero fazer o que preciso, se tiver de pensar que você pode estar com outra!

Bruno praguejou. Ela continuou:

- Estou falando mentira?! Você é tão sincero comigo, mas sobre o que sente... 

- Sou uma merda. Eu sei.  - concluiu por ela. - Não sou muito de falar, mas tenho outros modos de dizer as coisas. E não é possível que você não perceba o que sinto em cada atitude minha.

- Então me diz. 

- Eu acabei de dizer que sinto as mesmas coisas que você. - ele abriu os braços também. - Não é o bastante?!

- Precisamos falar as coisas, Bruno... por mais óbvias que sejam.  - a voz dela estava suave e vacilante. - Por que não pode me dizer? 

- Porque eu tenho medo! - Bruno explodiu. -Isso tudo...me assusta!

- Te assusta por que não quer sentir? - os olhos dela se desviaram. Bruno balançou a cabeça. 

- É um sentimento diferente e novo, e eu... não sei lidar. - admitiu. - Não percebe que eu mal consigo ficar longe de você?!

A expressão de Serena se clareou.

- Então vai me esperar? 

- Sempre. - respondeu - Respeito o que decidiu, e você até pode sair daqui...Mas vamos continuar juntos. 

Ela sorriu largamente. Porém um vestígio de hesitação ainda a fez perguntar:

- Promete que não vai esquecer de mim?

Bruno puxou a mão dela, depositando-a sobre o lado esquerdo do peito.

- Serena, você está gravada em cada pedaço do meu coração. Só falta estar tatuada na minha pele. 


AAA esse cap me cortou o coração. Eles são tão bons juntos...

Acho que estou apaixonada pelo Bruno kk Quem me conhece, sabe: eu não gostava dele no início. 

Bom, quanto a história... vem surpresas e provações por aí. Nosso ponto alto continua em voga e farão esses dois viver entre altas emoções! 

Obrigada por acompanhar esse casal (que já é meu preferido!). Vejo vocês no próximo <3 

Não está revisado. :(


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