Capítulo 31 - Bruno

A expressão no rosto de Serena era tão dolorosa quanto uma ferida aberta em seu peito. E só de ver o sofrimento daquela mulher, que era o seu coração todinho, ele tinha vontade de quebrar Renato em muitas partes. 

- Eu fiz porque tinha de fazer. Você não entende...o Hector... – a voz do jogador saia vacilante e trêmula.

Os olhos dela empoçaram lágrimas, encarando o homem que acreditava ser seu amigo.

- Por quê? – Serena balbuciou, as palmas expostas demostrando vulnerabilidade.

Renato inspirou fundo, buscando fôlego. Porém, quando abriu a boca para dizer, nada saiu.

- Não tem uma explicação, não é? – Bruno perguntou ao jogador, que parecia prestes a cair no chão, de tão pálido.  

Farley desceu a escada, desconfiado. Michele vinha atrás dele, murmurando "de novo não".

Renato meneava a cabeça repetida vezes, como se não acreditasse na própria atitude. Os olhos claros presos em Serena, que estava atrás Bruno, fazendo um esforço tremendo para não se debulhar em lágrimas.

Ele massageou as têmporas, buscando se acalmar. Contudo, cada pingo que deslizava pelo rosto dela o deixava com mais raiva.

- Serena... – o jogador murmurou, chegando mais perto. – Só me deixe explicar... É tudo o que peço.

Bruno esperou a resposta dela. Porém, Serena se afastou, murmurando com a voz embargada:

- Não...

Renato continuou caminhando, até estar a menos de um metro de Bruno, que era o obstáculo para chegara até ela.

- Você escutou. Pra trás. 

O jogador parou, encarando-o. Os olhos brilhando em desafio. Bruno cerrou os punhos, os nós dos dedos queimando para encontrar o rosto do outro.

Contudo, antes que pudesse fazer qualquer coisa, a mão de Serena tocou-lhe o ombro, num gesto silencioso de paz. Ele respirou fundo, sentindo o toque reverberar como uma descarga de calma em sua pele.

Do outro lado da sala, Sarah entrou distraída. E, quando os viu, a expressão se nublou, carregada de preocupação sobre o que estava acontecendo. Bruno acenou a cabeça levemente para a amiga, que prontamente entendeu.

Sarah caminhou receosa até Serena, estática atrás dele. A amiga ergueu a mão, num convite para tirá-la da sala.

Graças aos céus, Serena aceitara.

Ele não queria que ela estivesse presente para o que quer que pudesse resultar daquela situação. 

Mas, com a ausência dela, Renato mudou da água para o vinho:

- Você conseguiu mesmo afastá-la de mim...

Bruno sentiu vontade de rir.

- Apesar de não gostar de você, eu nunca tentei te afastar dela... – abriu os braços. – E pelo visto, nem precisei né?

- O que você quer, Bruno?! Me ridicularizar?!

Renato estufou os ombros, o peitando.

- Sério, Renato?! - Bruno arqueou uma das sobrancelhas. – Estou pouco me fudendo para você.

O jogador deu um sorriso decrépito.

- Engraçado... E essa raiva de mim? Vem da onde? 

- Você mexeu com a única coisa que não deveria... Eu te avisei, lembra?

Claro como os primeiros raios do dia, a promessa feita voltou à mente dele: se machucá-la, eu mesmo farei questão de destruir sua vida.

- Lembro... - Renato murmurou, o olhar cabisbaixo dirigido aos pés. 

Bruno uniu as sobrancelhas, observando o comportamento curioso do jogador, que devia sofrer de algum transtorno bipolar. Oscilando entre a raiva e a vitimização. 

Então, quando os olhos de Renato novamente se ergueram, estavam diferentes.

- Cumpra sua promessa. Vai... me enche de porrada. 

Bruno pendeu a cabeça.

- Você quer que eu te dê uma surra?!

- Quero que cumpra a promessa.

- Bruno, não... – Farley disse, chegando ao seu lado. Bruno levantou a mão para o amigo, pedindo calma.

- Renato, para ser sincero, estou com muita vontade de te machucar. Mas agora, vendo seu estado.... – meneou a cabeça. – Não vale a pena.

Socar alguém que já estava abatido, seria o mesmo que tampar o sol com a peneira. Ou então, seria uma oportunidade para ganhar um diagnóstico de sadismo. E Bruno já tinha muitas transtornos psicológicos para dar conta.

- Faça!

O jogador colocou as mãos nos ombros dele, o chacoalhando. Bruno se livrou do aperto.

- Faça, Bruno! – Renato suplicou mais um vez. – Se lembre do nosso passado, e...

- Eu já disse que não temos passado algum! – Bruno abriu os braços, cansado daquela história. – O problema que há entres nós reside aqui e agora: você magoou uma pessoa importante pra mim, e isso me deixa com raiva. Mas, não vou te dar uma surra porque quer sentir dor...

Renato cambaleou para trás, o semblante atordoado. Bruno continuou:

- Então, vai embora e leve aquele cara junto.

Todos na sala pareciam estátuas, abismados com o que acabara de falar. Principalmente Renato, boquiaberto a sua frente. 

Bruno apontou na direção da porta:

- Vá, e não volte.

O jogador fechou a boca, a expressão transformando-se novamente.

- Não vou.

- Renato, não me faça...

Se Bruno não estivesse alerta e se desviasse no último segundo, um soco encontraria seu supercílio direito. E, com a força dada, provavelmente lhe obrigaria a tomar no mínimo, uns três pontos.

- Cara... – Farley tentou segurar Bruno.

Mas era tarde, tarde demais.

Ele puxou o colarinho de Renato, arrastando-o porta a fora. O jogador cambaleava, tropeçando nas próprias pernas e murmurando palavras sem sentido.

Na frente da casa, onde Hector estava encostado em um Land Rover, Bruno jogou Renato, que quase se estrebuchou contra o carro se não fosse o ex de Serena.

- É só isso o que você sabe fazer?! Bater nas pessoas?! – Hector gritou, chamando a atenção da vizinhança. – Eu quero falar com ela.

Qual era o problema daquele cara?

Os olhos do empresário tinham um tom agressivo. A coloração arroxeada ainda visível desde a última vez que Bruno enterrara os punhos no rosto dele.

- Não estou impedindo Serena de nada. – cruzou os braços – Mas, se depender de mim, você nunca mais terá contato com ela.

- Você ainda vai se arrepender disso! – Hector proferiu, o topete loiro se desfazendo com a ferocidade com que falou, latindo como um cão raivoso – Ela vai vir falar comigo, e você não vai impedir isso!

O empresário marchou em sua direção.

- Hector, pare... – Renato tentou segurá-lo, mirando os olhos arregalados e determinados em Bruno, como quem estivesse tentando avisar alguma coisa.

- Me solta, porra! – Hector se debatia no aperto – Hoje eu não estou bêbado, e ele vai sentir o que é bom...

Bruno pressionou os lábios, com vontade de rir. Farley, que já estava ao seu lado com Guilherme, soltou um silvo, provavelmente também segurando um riso. Rafa correu na direção de Renato, ajudando a conter Hector.

- Esse cara é uma comédia... – Farley sussurrou.

- Isso, caralho! Ri mesmo! Quero ver quem vai rir... 

- Hector, já chega! – Renato sacudiu o homem, que deu uma cotovelada em sua barriga e se soltou, logo depois se esquivando das mãos de Rafa.

- Você está assim porque agora é mais um apaixonado por aquela cadela! – Hector ralhou pra Renato, arqueado sobre o próprio corpo por causa do golpe. – É, eu sei. Ela parece que tem um mel, não é? Deixa todos loucos...

Como alguém pode ser tão nojento e sujo?

Os lábios de Bruno se tornaram uma linha fina, contendo o asco pelo empresário. Dodô chegou de carro, descendo rápido e ficando alerta. Logo, todos que estavam dentro da casa saíram. Menos Serena, Michele, Munique e Sarah. 

- Você vai se arrepender de ter ajudado ela. Vai se arrepender! E quando souber... - Hector apontou na cara de Bruno, balançando o indicador efusivamente.

Bruno deu um passo à frente, girando o empresário e imobilizando os braços nas costas da camisa social. A vontade de pegar aquela gravata pendurada e a enroscá-la no pescoço dele, era grande. 

Mas respirou fundo, e murmurou perto do cangote do gaúcho:

- Volte para o lugar de onde você saiu. 

Bruno pretendia manter Hector contido e jogá-lo dentro do carro. Afinal, era o chá de bebê da Luna, e ele estava fazendo um esforço desumano para não arrastar a cara daquele homem no asfalto, mesmo que sua pretensão inicial fosse essa.

Renato continuou encarando Bruno, meneando a cabeça para seja lá qual mensagem estivesse tentando passar.

- Aquela cadela me traiu! – o empresário esbravejou. – Fudeu com você, e.... Você ao menos tem certeza se a criança é sua ou não?!

Todo desejo de paz se esvaiu tão rápido que parecera nunca ter existido.

Bruno levantou o braço do homem no sentido contrário. Hector mal teve tempo de terminar a frase, antes que um grito agudo irrompesse da garganta, junto do barulho do deslocamento do ombro.

Um som que ecoou como música. 

- Seu filho da puta! – O gaúcho ralhou sob seu puxão. - Deslocou meu ombro!

Renato agora passava as mãos pelo rosto, lamentando. Estava óbvio que tinha desistido de tentar avisar algo. E também, Bruno não entenderia nada. Pelo menos, não enquanto as palavras de Hector lhe deixassem com sangue nos olhos.

- Já chega, Bruno. – Renato pediu, erguendo as mãos. Bruno o encarou:

- Fica quieto. Antes que eu deixei ele e vá quebrar você também.

- Olha só o que o feitiço daquele mulher faz... – o empresário ia dizendo, quando Bruno lhe deu uma rasteira. 

Hector se desequilibrou, caindo no chão. A mão até tentou segurar o corpo, mas quando identificou o ombro deslocado, cedeu, rolando pela elevação da garagem abaixo. A cabeça quase relando no meio fio da calçada.

- Já chega! – Dodô segurou Bruno, o puxando para trás.

Renato bufou e deu um soco na lataria do carro. Logo depois, foi até Hector, o ajudando a se erguer do chão.

- Entra no carro, droga. Você já conseguiu o que queria, não é?! – o jogador dizia para o ex de Serena, que agora sorria como um abobalhado enquanto segurava o ombro.

- Consegui... – Hector murmurou entre gemidos, se jogando dentro do banco de trás. Contudo, antes que batesse a porta, gritou. – Você vai me pagar, Bruno... Se ela não vai voltar pra mim, também não vai ficar com você!

Renato meneou a cabeça, entrou no automóvel e saiu cantando pneu. Todos ficaram atônitos, observando o carro do empresário sumir da rua.

- Cacete... - Guilherme foi o primeiro a falar. – Que porra foi essa que acabou de acontecer?! Não entendi nada!

Bruno assentiu, inspirando fundo para equilibrar a respiração. Farley estava boquiaberto, com as mãos na cintura. Dodô, cruzou os braços:

- Aquele cara está armando alguma coisa...

- Você não devia ter encostado nele, Bruno... – Rafa murmurou, coçando o queixo. - Acho que era exatamente isso o que ele queria...

Bruno se virou para o amigo: 

- Está sabendo de alguma coisa que eu não sei. - sua pretensão era fazer uma pergunta, porém a voz saíra tão alterada que parecera uma afirmação.  

Ainda assim, Rafa entendeu e negou. 

Mas, de qualquer forma, seja lá o que era para ter acontecido, não fazia a mínima diferença. Bruno tinha tomado uma atitude, e se era a correta ou não, saberia depois.

Além de que, naquele momento, tudo o que desejava era vê-la. 

Por isso, ele girou nos calcanhares e entrou na casa, encontrando as meninas no meio de uma discussão acalorada.

Os olhos de Bruno percorreram a sala, sem identificar Serena.

- O que está acontecendo? – Perguntou, atraindo a atenção. - Cadê ela?

- Serena se trancou no banheiro faz meia hora – Munique apontou para uma porta no fim do corredor. - Eu acho que devemos arrumar um jeito de entrar, só que a Sarah diz que ela precisa de um tempo...

- Já tentamos isso, Michele!  – Sarah exclamou – Bruno, acho que a única pessoa que ela vai querer ver, é você.

- Tudo bem, vou tentar. – ele assentiu, caminhando para o banheiro sob o olhar atento delas.

Na frente da porta, Bruno respirou fundo e chamou:

- Serena?

Um barulho de água corrente ressoava baixinho, quando de repente parou.

- O que você quer, Bruno? – a voz dela estava embargada. - Veio me dizer, "eu te avisei"?

Ele franziu o cenho, preocupado com o que acabara de ouvir.

- Claro que não. Por que eu faria isso? Não tenho nenhum prazer em ver sua dor.

A porta se abriu abruptamente, revelando os olhos inchados e molhados dela. Ele umedeceu os lábios, se recuperando da tristeza que lhe atingiu o coração por vê-la assim.

- Por que está aqui, então?

- Eu... – as palavras lhe fugiram. Bruno passou a mão no pescoço, sem saber o que dizer. – Só queria saber como está.

- Uma pessoa acabou de se passar por meu amigo para se vingar de você... Me sinto usada, estou péssima – Serena pressionou os lábios, provavelmente segurando uma nova onda de lágrimas que se empoçaram nos olhos. – É só isso?

Ele a encarou, observando-a unir as sobrancelhas em irritação.

- Por que está com raiva de mim?

Serena suspirou, passando as mãos pelo rosto.

- Eu não sei! É que quando olho pra você, lembro que...

Bruno deu um passo para trás, ignorando o aperto no peito que sentiu ao ouvir aquilo. Sempre soubera que era isso que poderia oferecer: dor.

- Então, vou te deixar sozinha...

- Não! – Serena segurou seu antebraço. – Quero que fique comigo.

- Por quê? Para te lembrar do que faz mal?

Ela franziu o cenho.

- Eu ia dizer que você me lembra do quanto fui ingênua. Você não me faz mal... me faz sentir protegida.

Bruno ergueu as sobrancelhas, incrédulo.

Provavelmente, aquela seria uma conclusão que ela mudaria de ideia tão rápido quanto mudou sobre Renato. 

- Serena, vou te deixar pensar um pouco....

- Não. Não vou deixar que se afaste de mim. – ela o puxou, fazendo-o dar um passo pra dentro do banheiro.

- Por que está dizendo isso? Não vou me afastar de você. Apenas iria te dar um tempo.

- Antes você disse que eu precisava me afastar...

- Serena, antes eu falei muitas coisas que não condizem mais com a realidade.

- Que realidade?

Ele pendeu a cabeça.

- Você sabe que sou incapaz de ficar longe.

Serena piscou.

- Sei?

Bruno suspirou, entrando e fechando a porta atrás dele, antes de abrir os braços e envolvê-la. Serena pousou a cabeça na curva da sua nuca, enquanto ele só conseguia segurá-la firme. 

- Você quer conversar sobre o que está sentindo? – perguntou.

Serena engoliu em seco.

- Não... eu sei que não contei muito sobre meu passado... Tenho vergonha e medo... – ela saiu dos seus braços, erguendo os olhos. – Não quero lembrar...

Ele assentiu. Concordaria com qualquer coisa que a deixasse melhor.

- Hector... foi embora?

- Daqui sim. Mas do Rio de Janeiro, acho que tão cedo não vai...

Serena virou de costas, esfregando as mãos no rosto.

- Vou ter que resolver isso... e meu Deus! Nem sei por onde começar! Não consigo olhar pra Hector de tanto nojo que eu tenho...

Bruno a abraçou por trás, rodeando os braços pela cintura dela.

- Shh... está tudo bem. Não precisa resolver nada agora. Muito menos falar com ele.

- Você deve me achar uma coitada inocente...

As mãos de Bruno se apertaram no quadril dela, a girando. Quando seus olhos se cruzaram, Serena pressionou os lábios, esperando a reposta dele.

- Não diga mais essas coisas.

- Mas é verdade, não é?! Tenho medo do meu ex, e deveria ter te ouvido, não confiado em Renato... – as palavras saíra tão rápidas que quase se embolaram.

Bruno segurou o rosto dela, obrigando-a a encará-lo.

- Serena, você tem o coração mais puro que já conheci. – e aquela era uma das características que mais o apaixonava. - É verdade que é ingênua. Mas, coitada? Não. Ainda não sei o que passou, e para ser sincero, nem sei se quero saber... - Ele temia que a raiva que tivesse de Hector o cegasse. 

-Foi muito ruim... - ela balbuciou, o cortando e olhando através dele. Perdida em algum tempo que não voltaria mais. 

Bruno segurou o queixo dela. 

- Tudo isso é passado. - se referiu ao lugar onde o pensamento de Serena devia ter ido. - Você está aqui...comigo. Não com Hector. E não deveria se sentir envergonhada ou coitada. Se foi tão ruim e passou por tudo, significa que é uma sobrevivente.

- Bruno... – Serena suspirou, piscando os olhos marejados – Precisa parar com isso... Está me confundindo.

- E você também está me deixando louco. – admitiu, quase acrescentando viciado e apaixonado. Serena sorriu, com lágrimas descendo pela face. Ele afastou o caminho molhado com o polegar – Vamos conversar sobre isso tudo depois.

- Tenho tanta coisa para resolver...

- Eu sei, eu sei... – a abraçou novamente, inspirando o perfume maravilhoso dela. O cheiro de lar – Mas agora... – Bruno ergueu o pulso, checando a hora no relógio e observando que Bia estava atrasada, como sempre. – Vamos limpar as lágrimas e erguer a cabeça, que lá fora tem uma festa linda esperando a Luna. E você não pode permitir que Hector e Renato roubem esse momento de vocês.

Serena riu baixinho, inspirando fundo pra segurar as emoções.

- Mas... você vai voltar para festa também, né?

- Claro. – a soltou, segurando a mão fina e delicada entre as suas - Já te disse... Não vou me afastar de você, muito menos da nossa filha. 


Mais um cap, minha gentee! 

O que vocês acharam desse? Começou no pique, mas terminou tão amorzinho... Será que Hector e Renato estão tramando algo? *música de suspense* hehe 

No próx teremos mais sobre essa festa, e também, mais sobre a Serena e vestígios de seu passado. 

Mas agora, queria uma opinião sincera... Ganhamos um nova capa! Uhu! Particularmente, eu achei muito linda (é com o rostinho da nossa mocinha!). Porém, meu apego está me levando a pedir um feddback de vocês.  

Devemos trocar ou não? Diga aqui! <3 


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