Capítulo 25 - Bruno

Assim que saiu do carro e se deparou com Renato, encostado na entrada da porta do bar lotado, toda a pretensão de manter a calma se esvaiu.

- Bruno?!

De maxilar cerrado, Bruno passou direto pelo jogador, marchando para dentro do Bar. Renato veio ao seu encalço.

- O que está fazendo aqui?!

- Eu acerto as contas com você depois. – respondeu, se esquivando de alguns clientes para chegar aos fundos, perto do caixa e da cozinha. – Agora me diga onde ela está.

Renato franziu o cenho.

- Serena ou Rebeca?

Bruno se deteve, estampando um sorriso irônico.

Era óbvio que queria saber de Serena. Jamais tinha perguntado por Rebeca, nem quando estavam juntos esporadicamente.

Pela sua expressão, Renato deve ter entendido, porque prontamente a boca se abriu para responder:

- Ela foi...

- Oi amor! – Rebeca cortou Renato, descendo as escadas ao longe. - Como vai? Sentiu saudades?

Ela colocou as mãos na cintura, expondo o corpo que outrora ele conhecera como a palma da mão, e agora a todo custo queria esquecer. 

- Me poupe da sua ladainha. – revirou os olhos. – Cadê a Serena?!

- Nossa, que tourinho bravo! Sempre gostei mais de você assim...

Alguns clientes olharam por cima dos ombros, assustados. 

Se ela que administrava o lugar não tinha respeito, por que ele teria?

- Me dê. – estendeu a palma da mão.

- O quê? Não tem nada comigo...

- Rebeca. Não vou pedir de novo.

A loira assobiou, fingindo observar as unhas postiças. Bruno suspirou, e tirou o próprio celular do bolso, discando o número da polícia.

- Aí, ta bom. – Rebeca fez uma careta, depositando o aparelho na palma dele. – Você é tão dramático...

- Esse é o celular da Serena... - Renato notou, um segundo antes do semblante enrugar, regado de desconfiança. - O que está acontecendo?!

A loira deu de ombros, como se não fosse nada. Bruno teve o prazer de revelar:

- O que aconteceu foi que sua amiga está inconformada com o término de algo que jamais começou, e resolveu descontar na Serena.

Os olhos claros de Renato se arregalaram.

- Você roubou o celular da Serena?! – a voz do jogador subiu uma oitava.

Fernando, que servia uma mesa próxima, largou a bandeja que levava e abriu os braços:

- Que tal conversarem em um lugar mais reservado, hã?! – ele indicou a porta da cozinha com o queixo.

Bruno cruzou os braços.

- Eu não tenho nada para conversar.

Renato ainda estava boquiaberto, e ignorando Fernando, continuou:

- Você mentiu quando disse que ela se sentiu mal e foi embora, não foi?! 

Rebeca assentiu sem remorso algum. 

 – Droga, Rebeca! Você é... Porra, te considerava uma amiga! Achei que queria me ajudar quando disse que eu poderia vir aqui com a Serena... E onde ela está agora?!

- Também quero saber. 

- Eu apenas a convidei para uma conversinha quando ela foi no banheiro...

Bruno cerrou os punhos. Antes que pudesse perguntar, Renato chegou primeiro:

- Você bateu na Serena?!

Ele engoliu em seco, fechando os olhos ligeiramente.

- Eu espero que você não tenha ousado fazer isso. – disse entre dentes – Porque acho que fui muito claro quando ameaçou ela.

Rebeca riu, como se eles tivessem contado uma piada. Renato explodiu:

- Enlouqueceu, Rebeca?! Caralho! A Serena está grávida. E ainda que não tivesse, você não tem direito algum de ficar perseguindo alguém!

A loira olhou de forma inquisidora pro jogador.

- Eu pensei que fosse meu amigo!

- Você fala como se não tivesse me usado para encurralar uma pessoa vulnerável! - Renato coçou a cabeça. - Com uma amiga dessa nem preciso de um inimigo...

Rebeca se encolheu sob a acusação dele. Bruno, que estava com vontade de rir, sentiu o peso do olhar da ex sobre ele. 

- Nem olha pra mim. Qualquer laço que eu pudesse ter com você acabou no momento em que ameaçou Serena e meu filho.

A revelação da ameaça deixou Renato mais estarrecido. Alguns clientes pararam suas conversas para acompanhar a briga. 

Rebeca bufou e bateu o pé.

- Quer saber?! Eu não ligo! Estou cansada de homens ditando a minha vida!

- Que bom. Porque eu to cansando de você perturbando a minha. – Bruno devolveu. Rebeca fechou os punhos, indo pra cima dele.

As mãos dela estapearam seu peitoral, as unhas lascando sua carne e o tecido da blusa. Ele virou o rosto, esticando os braços para mantê-la longe. 

Renato intercedeu, puxando a ex pro lado contrário. Rebeca se esquivou do amigo, e abraçou Bruno à força, esfregando o corpo no dele. 

- Eu te amo! Por que você me deixou?! 

- Rebeca, por favor... - conteve a ânsia de empurrá-la, apenas segurando os pulsos para que ela parasse de o apalpar. - REBECA! 

O tom de sua voz a deteve. Ela deu alguns passos para trás, cabisbaixa. 

- Você... - ela balbuciou entre soluços. Renato parecia um fantasma, pálido e estático. 

Toda a cena era tão nojenta que, senão fosse com ele, provavelmente não acreditaria. 

Bruno resolveu ignorar o assédio e a agressão para tentar novamente: 

-Cadê ela.

- Serena foi embora. Mas, eu estou aqui. Fale comigo. - as mãos dela pousaram no próprio coração. 

Se ela não tivesse sido tão baixa com Serena, talvez pudesse sentir pena. Porém, agora não sentia nada, a não ser vontade de ir embora. 

- Já disse que não tenho nada para falar com você. Então me diga o que quero saber antes que eu perca a paciência.

Uma lágrima desceu pela bochecha maquiada dela. Bruno prosseguiu: 

- Sabe, Rebeca. Eu sei onde ela está. Estou te dando a chance de consertar as coisas. 

- Faz o que é certo, Beca. – Renato, agora um pouco mais corado, tentou uma abordagem mais branda.

Rebeca gritou. 

- Qual o problema de vocês, hein?! Estão todos querendo proteger ela. Estão apaixonados, porra?! Eu não sou um monstro! Não a machuquei!

- Então o que você quer?! - Bruno indagou, abrindo os braços. 

- Eu quero você, Bruno! Só preciso da sua atenção!

Ele pendeu a cabeça.

- E para isso você tomou o celular de Serena e a prendeu no escritório do seu pai? 

Sem ser a casa de Bruno, o escritório daquele bar fora um dos lugares que eles mais transaram quando ficavam.

Na cabeça doentia dela, aquilo devia ter alguma definição romântica, totalmente diferente do que tinha significado para ele: sexo.

- Sim! Eu só consigo sua atenção através daquela cadela prenha! - Ela ralhou. Bruno conteve a raiva. De repente, a expressão da loira suavizou, os olhos brilhando. - Como você sabe que a prendi lá? 

- Te conheço, Rebeca.

- Por que você me ama, não é? Eu sempre...

- Não. Nunca te amei. E cada segundo que percebo o quanto conheço você, tenho mais certeza que quero estar longe.

A boca de Rebeca abriu e fechou algumas vezes. O olhar agora marejado. 

- Bruno... – Renato meneou a cabeça, em aviso.

Ele estava pegando pesado. Sabia. Mas tinha se cansado da obsessão dela faz tempo.

Quem faz o que quer, está propenso a receber o que não quer.

- V-você não entende... – ela balbuciou, o rímel negro descendo em filetes de lágrimas. – Esse filho não é seu...

- Você está errada. Aquela criança é minha desde que fiquei sabendo da existência dela. 

O que sentia pelo filho da Serena era algo que já não conseguia mensurar, muito menos imaginar sua vida sem. Não tinha dúvida alguma que quando aquela criança nascesse, sempre poderia ter nele um pai. 

- M-as... Como ela conseguiu?

- Serena é a mulher mais doce que conheci até hoje. – revelou. – Por isso, vou falar de novo. Não se meta mais na minha vida, nem na de Serena e do nosso filho.

Rebeca balançou a cabeça repetidas vezes, não acreditando no que ouvia. Então parou, e com o olhar carregado de dor, perguntou:

- Ou o quê?!

- Ou eu vou fazer questão de destruir sua vida. 

- Você vai me pagar, Bruno...

Obstinado, continuou:

- Vou começar denunciando seus atos, depois vou contar ao seu pai acamado, que você prendeu uma mulher grávida no escritório enquanto devia estar trabalhando...

- Já chega, Bruno. – Renato interveio, puxando Rebeca. 

- Se não quer o meu amor, terá o meu ódio! - A loira gritou aos quatro ventos. Até o músico que tocava ao vivo, tinha parado, agora atento ao show particular.  - VOCÊ VAI ME PAGAR! 

- Pare, Rebeca! – o jogador a chacoalhou, arrastando-a para dentro da cozinha.  A ex esperneou, os saltos se arrastando no chão. - Peça desculpas a Serena por mim, Bruno. 

Ficou observando eles desaparecerem na porta entre berros e ameaças. Não valia a pena culpar Renato. Pelo visto, o jogador tinha sofrido tanto quanto ele. 

- Pow, cara. Pegou pesado. – Fernando apareceu ao lado dele.

- Eu sei, Fernando. Eu sei.

Bruno meneou a cabeça e seguiu caminho, ignorando a quantidade de celulares que os filmavam. 

Com destino ao escritório do bar, suas pernas subiram os degraus da escada de dois em dois. Agora estava parado à porta, que tinha uma chave na fechadura.

Mordeu os lábios, sentindo um suor frio lhe descer a nuca. O coração descompassado retumbava dentro do peito.

Só esperava que ela estivesse bem.

Quando girou a maçaneta, um cômodo escuro o saudou.

Vazio.

Somente o que restara das coisas do pai de Rebeca estavam ali, encaixotadas e empilhadas no canto. No chão, alguns potes e enlatados estavam enfileirados, como se o escritório tivesse se tornado uma dispensa.

Nada de Serena.

Ele entrou, o desespero se assomando a raiva.

A cômoda onde ficava o computador estava empoeirada, a não ser... Bruno pegou um palito de cabelo. O mesmo que Serena usava para embolar as madeixas acima da cabeça, e que devia ter usado para tentar se libertar.

- Onde está você...

Se virou, olhando as prateleiras que antes carregavam ficheiros e documentos, agora lotadas de condimentos. Ao lado de um pote, havia uma foto.

A fotografia estampava um dia feliz, onde ele e Rebeca estavam em um churrasco depois de um jogo glorioso, um pouco após conhecê-la e começarem a ficar.

Enojado por tudo o que Rebeca havia se tornado, e por tê-la escolhido como ficante, pressionou os lábios, empurrando o porta retrato da prateleira.

A moldura de vidro se espatifou no chão. O som dos cacos ecoando por seus ouvidos.

Bruno sorriu.

Depois, uma a uma, cada coisa da prateleira foi empurrada. Cada pote no chão, chutado. Cada caixa, revirada.

Em poucos minutos, a sala virara uma zona, exatamente como se sentia por dentro.

Bruno pegou o palito de cabelo, e desceu.

- Fernando – chamou o garçom que tentava convencer com descontos alguns clientes a ficarem. – Onde está a mulher que Rebeca prendeu no escritório?

A pergunta de Bruno fez os clientes arregalarem os olhos e se levantarem de vez.

- Porra, Toro! – Nando deixou os braços caírem. - O Jay me disse que escutou da cozinha alguém gritando enquanto vocês discutiam... Ele a soltou. Ela foi embora pelos fundos já faz uns minutos.

- Droga!

Ele saiu a passos rápidos, se esquecendo até mesmo de agradecer ao colega. Quando chegou a rua, olhou em volta. O sereno baixo enevoava a noite enquanto uma chuva fina começava a cair, beijando o asfalto.

Para onde será que ela iria sem o celular?

Seu peito retumbava, o coração a mil. Os olhos dele escorregavam de um lado a outro, procurando por um ponto de ônibus. E então...

- Táxi! – a voz conhecida gritou, ecoando pela rua deserta. 

Serena tentou fazer com que um táxi que passara a mil por hora parasse. Aquela hora era difícil que algum a socorre naquele bairro.

- Serena! 

Serena estava ao lado de um poste que improvisava um ponto de ônibus com uma placa.

- Bruno?!

Ela colocou a mão acima dos olhos, protegendo-os da chuva para observar melhor através da noite molhada e enevoada. 

Bruno não disse nada, apenas a rodeou com seus braços.  Serena estava com o corpo molhado e a pele arrepiada. 

Ele afundou o rosto nos cabelos úmidos dela, sentindo o aroma delicioso de lavanda que exalava.

- Está tudo bem?! – a soltou e perguntou, ainda apertando-a contra si. - Rebeca colocou a mão em você?!

- E-la me assustou, e pegou meu celular da bolsa – Serena mordeu os lábios. Lágrimas grossas rolaram pelas bochechas, se misturando as gotas de chuva. – Estou chorando de raiva. No mínimo devia ter dado um tapa nela... – inspirou, prendendo o choro. 

Ele suspirou de alívio. Tanto por ela estar bem, quanto por não ter entrado em uma briga com Rebeca. Provavelmente seria isso o que a ex queria. Qualquer motivo para revidar.

- Deixei um presente por nós dois. - Bruno sorriu, se referindo a bagunça de comida e vidro e papelão no escritório do bar. Serena franziu o cenho, confusa. – Está tudo bem? - repetiu. 

Ele segurou o rosto dela, agora mirando-a nos olhos a poucos centímetros de distância. A respiração ainda estava entrecortada. Bruno encostou a testa na dela, respirando o mesmo ar.

Serena assentiu e respondeu:

- Agora estou melhor. 



Uhu, o cap saiu! O que vocês acharam da música que eu coloquei para representar a Rebeca? hehe Ela não desiste, e é bem provável que retorne em outros momentos mais a frente...

O próximo capítulo guarda surpresas calientes, e respostas sobre o que aconteceu quando ela estava com Rebeca. Tá imperdível, minha gente.Sério!! 

Sai ainda nesta semana, mas como sou péssima para cumprir calendários e promessas, não vou dar um dia kkk Porém, quanto antes eu terminar de revisar, postarei.

Obrigada por acompanhar esse casal!! Até o próximo capítulo <3 

Não está revisado :(

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