Capítulo 24 - Bruno

Diogo rapidamente havia ido embora. E logo depois, ele também partiu. Já não era mais capaz de ficar em casa sabendo que ela não estava.

Bruno entrou no carro e colocou a música no volume máximo. Tinha esperanças de não escutar a própria mente enquanto a voz de Dave Grohl - Foo Figthers - , na música Time Like These soasse alto em seus ouvidos.

No caminho, enviou uma mensagem a irmã, avisando de sua chegada.

Necessitava que alguém concordasse com o martírio que estava impondo a si mesmo ao tentar se afastar dela. Ou talvez, só precisasse se distrair para não sucumbir a sua vontade de estragar tudo e fuder outra pessoa ao invés de pensar no quão estava fudido.

Antes de sequer bater na porta do apartamento, Beatriz a abriu. O cabelo negro era um coque emaranhado em cima da cabeça, e suas vestes não passavam de um pijama largo cheio de caveirinhas.

- Só assim pra você vir visitar a sua irmã?

Ele piscou.

- Assim como?

- Você não me engana. - ela assobiou. 

Antes que pudesse responder, Miguel passou correndo por Bia, abraçando suas pernas.

- Tiooooo

- Oi, garotão!

Ele balançou os cachos de Miguel e o pegou no colo. O sobrinho enlaçou os braços revestidos pelo moletom em seu pescoço, rindo. 

Bruno deu um beijo no alto da cabeça dele, o depositando novamente no chão. Miguel balbuciou algo sobre bola e saiu correndo. Logo depois, Beatriz o abraçou, guiando-o para dentro do apartamento.  

Bruno seguiu a irmã até a cozinha, de onde exalava um cheiro maravilhoso de bife acebolado. O sobrinho reapareceu com uma bola na mão, contando afoito sobre o primeiro gol dele na escolinha de futebol que Bia o tinha matriculado. Enquanto isso, a irmã servia comida em um pratinho de acrílico.

- Depois eu falei que você era o meu tio. Ninguém acreditou! - o garoto ralhou, cruzando os braços.

- Caramba, é mesmo?! - ele se agachou e sussurrou no ouvido de Miguel: - Diga pra sua mãe que um dia desses sou eu quem vou te levar - deu uma piscadela. 

- Isso! – O sobrinho socou o ar. 

- Toma, Miguel. Come tudo. - Beatriz repassou o prato pro filho. – Senta na mesa. Não no sofá.

- Tá, mamãe. – o garoto respondeu a contragosto, saindo da cozinha.

Beatriz meneou a cabeça.

- Ontem ele me disse que quer ser você quando crescer.

Bruno pressionou os lábios, segurando uma risada.

- Isso não é tão bom quanto parece.

- Deixa. – ela gesticulou. – Pelo menos ele não quer mais ser aposentado que nem nossa mãe.

Bruno riu. Bia foi até a geladeira e tirou uma garrafa de cerveja, passando-a para ele. Para si, ela pegou uma taça e encheu de vinho branco.

- Cadê o William?

- Embarcado, só volta fim do mês. - Bia bebericou da taça e mexeu no conteúdo de algumas panelas que estavam ao fogo. – Então, não vai me falar nada?

Ele pigarreou e tentou:

- Como estão as coisas?

Bia soltou uma risada.

- Você é péssimo em puxar assunto, Bru... Eu vou facilitar para você. Não sei de muita coisa dela e Renato.

Bruno franziu o cenho. 

- Você não veio aqui pra isso?! - Bia ficou boquiaberta. - Me surpreendeu.

- Não tinha pensado nisso... Mas agora que você tocou no assunto, termina de contar. – exigiu, abrindo a Long Neck com a barra da blusa.

- Que droga! Eu e minha boca grande... Eles são amigos. – Bia se deteve com a colher de pau na mão, como se repensasse em algo. – Mas não no nível de vocês dois.

Ele tomou do gargalo, o gosto amargo da cevada passando pela garganta.

- Não temos um nível.

- Verdade! – ela se virou pra ele, agora bebendo da taça. – Vocês já extrapolaram o limite de amizade.

- Não extrapolamos nada.

- Fala sério, Bruno! Está claro que você vive em negação sobre seus sentimentos... Se eu tivesse um amigo que dormisse comigo todas as noites, o William enlouqueceria.

Silêncio. 

Bia suspirou e mudou de assunto:

- Onde ela está?  

- Saiu.

- Com quem...

- Por que isso é importante, Beatriz?

- Acho que a sua resposta já diz tudo. Não vou ficar tirando conclusões precipitadas, ok? Esse é o trabalho da Sarah. 

Bruno revirou os olhos, bebendo o líquido em goladas sucessivas. A irmã continuou:

- E agora, pelo simples fato dela sair com um homem, você parece prestes a encher a cara.

- Beatriz, em nenhum momento falei que era com um homem que Serena saiu. Apesar de que sei você sabe porque ela deve ter contado.  E outra, essa daqui é apenas uma cerveja. – ele indicou a garrafa de vidro com o queixo, ainda que tivesse pretensão de beber mais de uma.

- Aham. E a Serena...

- Já chega, Beatriz. – colocou a garrafa de vidro com um baque no mármore da pia. – Será que podemos falar de outra coisa?

- tuuudo bem!

- Tio, você e a mamãe estão brigando? – Miguel voltou receoso a cozinha. 

Os olhos alarmados do sobrinho fitavam os irmãos.

- Claro que não, Miguel.

- Estavam sim, eu ouvi.

Bruno se agachou até que ficasse na altura do sobrinho de 5 anos.

- Verdade, garoto. Você me pegou. Mas quero que saiba que as pessoas as vezes se desentendem... e eu e a mamãe já fizemos as pazes.

- Vocês não se abraçaram. – Miguel alegou. 

- Vem, Bruno. Me dê um abraço. – Beatriz o chamou com os braços abertos. – Anda logo. – a irmã o obrigou, suplicando com os olhos. Sem entender, Bruno a abraçou.

Miguel sorriu, olhando os dois.

- Viu, amor? Nós fizemos as pazes. Agora pode voltar pro seu jantar, ok? Seu tio não vai mais encher o saco da mamãe.

Miguel saiu da cozinha satisfeito.  

- Como se fosse eu que estivesse enchendo seu saco...

Bia fez uma careta e comentou: 

- Eu o ensinei a fazer as pazes com os coleguinhas através do abraço. Como a mamãe fazia com a gente, lembra?

Bruno juntou as sobrancelhas. Beatriz deu um tapinha na própria testa.

- É claro que você não lembra, eu brigava muito mais com o Henrique... – Ela parou assim que viu a maneira como ele inclinou a cabeça. – Desculpe.

- Não tem porque pedir desculpa. Vocês sempre conviveram mais pelo fato de eu estar longe tentando entrar nas seleções dos olheiros – comentou, o vazio deixado pelo irmão palpitando dentro do peito.

A irmã o observou de esguelha. 

- O que foi, Bia?

- Você...não vai embora?

- Não. – colocou as mãos no bolso. – Por que eu deveria?

- Não sei. Quando falávamos de Henrique você ia... Quer saber, deixa pra lá. – ela afagou o ombro dele. – Estou feliz pelo seu crescimento, Bru! Sério. Isso só pode ter sido coisa da Serena.

É claro que tinha a ver com ela. 

Serena sempre o convencia a falar sobre Henrique e o que gostavam de fazer. Já estava tão acostumado, que em algum momento falar do irmão deixara de se tornar tão difícil. E às vezes, até podia sentir uma espécie de gratidão e nostalgia.

Porém, agora ele precisava se distrair da ausência dela.

- Beatriz - murmurou em aviso. Bia assentiu, entendendo. 

- Ok, vamos começar de novo... Me diga, o que você tinha em mente quando veio aqui?

- Eu só queria alguém... quer dizer, queria esclarecer uma dúvida.

- E qual é?

Ele deu um gole na cerveja, ganhando tempo para elaborar a pergunta da forma mais impessoal possível.

- É sobre ela. Eu estou confuso... Não sei se estou fazendo o certo ao tentar me manter longe.

Bia pendeu a cabeça, analisando.

- Não acho que seja essa a sua dúvida. Acho que quer saber se o que sente pela mulher que está grávida do seu irmão falecido pode trazer culpa e dor pra vocês dois.

Sabia que não daria pra esconder da irmã. Pelo menos, não quando ela estava ciente de que o bebê de Serena era de Henrique.

- Também. - Bruno mordeu os lábios, admitindo contrariado.

- A sua proximidade a Serena não a fará sofrer se não permitir que a culpa seja um obstáculo.

- Não é só isso, Bia. – passou as mãos pelo rosto. – O problema sou eu.

- Isso soou tão clichê. – ela sorriu. Bruno ignorou a irmã, e continuou: 

- Não sei o que está acontecendo comigo e com o que estou sentindo. Mas, sei que, se nós ultrapassarmos o limite... – se referiu à tensão sexual que havia entre eles. – Será irreversível. E aí será questão de tempo até que eu estrague tudo.

- Bru, você não vai estragar tudo.

- É claro que vou, Beatriz! Eu e você sabemos que nunca tive um relacionamento sério, muito menos uma mulher só... Eu não posso dar a Serena o que ela merece. E ainda tem o fato de que, quando eu lembro de Henrique, sinto como se estivesse roubando a vida que era do meu irmão.

Ele omitiu a informação de que pela primeira vez estava há mais de uma quinzena sem ficar com alguém. 

Serena era uma sombra no pensamento dele. 

Bruno sonhava com ela tanto dormindo quanto acordado, e tudo piorava quando despertava com ela em seus braços. 

Contudo, se o desejo o vencesse... O que faria se a monogamia o assustasse e ele quisesse deixar ela? 

- Bruno, Henrique não está mais aqui, e ele e Serena não eram um casal. Agora, quanto a você... – ela deu um gole do líquido da taça, pensativa. – Acredito que precisa entender o que sente e escolher o que quer. 

- Não tenho essas respostas. - deu de ombros. - É por isso que preciso me afastar.

- Acho difícil isso acontecer. Tanto da sua parte quanto da dela.

Ele passou as mãos pelos cabelos, perdido.

- Eu sei... porra, tô muito fudido.

- Não xingue aqui! - a irmã o avisou com os olhos semicerrados - E o que vai fazer? Ficar vendo ela sair com outros homens? 

- Se for o melhor pra ela...- Ignorou a raiva que a imagem mental de Renato o fazia sentir.

- Ah, é tão fofo te ver assim... - Bia comentou com uma voz fina. Contudo, logo depois suspirou – Se quer saber, acho que não vai resistir. Talvez a resposta seja deixar fluir.

- E onde fica minha responsabilidade afetiva, Bia?! Não posso deixar fluir quando os riscos são grandes. Não vou ser o responsável por fazê-la sofrer depois de tudo que já passou e vem passando.

- Conversa com ela. Abra o seu coração. Veja se ela sente o mesmo e o que decide em relação a você.

Bruno encarou a irmã.

- Não é questão de conversa. Sei exatamente o que Serena quer. Vejo a verdade todos os dias nos olhos dela...Acho que você não está entendendo.

- Não. É você quem não sabe o que fazer com o fato de estar se apaixonando por ela.

Ele bufou, se virando pra responder a irmã que não estava apaixonado. Porém, o toque estridente do celular o cortou. 

Era ela, a responsável por colocar sua vida de ponta cabeça. 

- Serena, está tudo bem?

- Oi amor... – a voz venenosa sibilou. 

Um alarme soou dentro dele ao mesmo tempo que seus músculos queimaram. 

- Cadê a Serena, Rebeca?! Por que está com o celular dela?!

Os olhos da irmã se arregalaram.

- A Serena está com a Rebeca?! – Bia sussurrou. Ele pediu silêncio com o indicador.

- Bem...- Rebeca murmurou - Acho que você só vai saber se vier aqui. E vem rápido, tá? Sabe como é essas coisas de grávida. Não sei quanto tempo ela aguenta sem fazer xixi nas calças... Nossa, até rimou! – riu, o provocando. 

Um segundo depois, a linha foi interrompida, indicando que Rebeca havia desligado na sua cara.

- Como foi que consegui ficar com essa mulher?! - Bruno fez uma careta de nojo. 

- O que houve?! 

- Rebeca quer que eu vá encontrá-la. – respondeu, já imaginando onde ela estava. O que significava que Renato devia ter levado Serena pro bar do pai de Rebeca.

- Isso não é bom. – Bia murmurou, entorpecida. – Aquela mulher é obcecada. Eu tinha te avisado isso desde o dia em que a vi entrevistando a Brenda sobre você. - se referiu a ex-mulher de Renato que tinha ficado com ele - Se Serena está com ela...

- Ela não vai fazer mal a Serena.

- Como pode ter tanta certeza? 

– Eu a ameacei quando ela disse que faria mal a Serena e o bebê. Rebeca sabe que eu não brinco. 

- Essa história está ficando cada vez pior... - Bia massageou as têmporas. - O que você acha que ela quer, então?

- Não sei, Beatriz. Não sei. A única forma de saber é indo até lá. – girou nos calcanhares. 

A irmã segurou seu antebraço.

- Tenta não fazer nenhuma besteira.

Ele suspirou, dando um sorriso triste. Já tinha em mente o que iria fazer se o ciúme de Renato e a raiva de Rebeca não o cegasse. 

Para dizer a verdade, estava muito tentado a quebrar aquela porra toda. 

Mas ia fazer melhor. 

- Ela escolheu o pior modo de ter a minha atenção, Bia. – revelou, abrindo os braços. – A besteira já foi feita.  



Oi oi oi, minha gente! Mais um cap. Eu sei, to fazendo suspense com o que pode ocorrer kkk mas algumas informações daqui são importantes, depois vocês entenderão.  

O próximo será um doble tap pela visão do Bruno (saí ainda hoje!!). Por razões de: eu tinha que ter postado ontem porque não estaria em casa hoje. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário kk Então postarei mais um cap para compensá-los (e porque eu tbm morro de ansiedade)

E depois dele, teremos um doble tap pela visão da Serena.

Ainda tem muita água (e pedras) para rolar. E já aviso, está chegando o rala e rola do nosso casal. kkk  

Obrigada por acompanhar estes dois <3 

Não está revisado :(

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