Capítulo 11 - Serena

A boca desenhada de Renato estava a um palmo de seu rosto, e seu estômago estava quase se revirando em borboletas de alegrias. A mão direita dele envolveu a nuca dela enquanto a outra segurava firme sua cintura. Serena só conseguia ver aqueles olhos azuis à sua frente, e quando finalmente se preparou para o beijo umedecendo os lábios com a língua...

- Serena.

Ela conhecia a voz que vinha detrás deles, e não, simplesmente não podia acreditar que ele estava ali.

Bruno bufava plantado atrás do sofá, seu calção molhado pingando a sua volta e o peito nu brilhando em gotículas de água. Ao seu lado, uma mulher morena com corpo escultural fazia cara de paisagem. Renato soltou um suspiro de desgosto.

– Será que posso falar com você... – Bruno disse. Ela franziu o cenho para a indagação que mais pareceu uma ordem. – Por favor? – Ele tentou de novamente.  Serena assentiu contrariada.

- Só um minuto, Renato. – ela sorriu e deu um beijo rápido na bochecha dele. – Se quiser, pode me esperar lá fora.

- Tudo bem. Leve o tempo que precisar... – Renato respondeu. Mas antes que ela se levantasse, ele segurou seu pulso, puxando-a para um selinho demorado. Bruno pareceu ter grunhido de irritação.

Ele partiu a passos duros em direção ao quarto depois que sussurrou algo para a mulher que o acompanhava, que também foi para fora da casa. Serena o seguiu. 

Chegando no quarto dele, Bruno fechou a porta com a chave. O quarto dele estava perfeitamente arrumado e impecável. E parecia ter acabado de sair de uma loja de decoração, senão fosse pelo brasão do Flamengo na parede atrás da cama e o cheiro inconfundível do seu perfume amadeirado. Bruno ficou parado a sua frente, a expressão impassível.

- O que foi? Aconteceu alguma coisa? – ela indagou preocupada. Ele pareceu controlar a respiração.

- Você não pode se misturar com aquele cara.

- Quem? – Serena franziu o cenho.

- O Renato.

- Ah é, e por quê? – uma das sobrancelhas se arqueou, surpresa em como Bruno parecia enciumado - Por que ele é gremista? – brincou. Bruno bufou.

- Não, porque ele está usando você para me atingir.

- Bruno, essa é uma acusação muito grave, e o mundo não gira ao seu redor. – Ela disse, cruzando os braços. Bruno revirou os olhos.

- Serena, ele veio convidado por Rebeca.

- Tudo bem... Mas o quem tem demais nisso? Na verdade isso só mostra que você deve dar um limite aos próprios colegas, já que convidado não convida.

As sobrancelhas de Bruno se ergueram, e um sorriso zombeteiro perpassou rapidamente pelo semblante dele.

- Engraçada, você. – ele murmurou sarcástico. Serena prendeu um riso.

- Mas é só isso? – Ela perguntou, trocando o peso dos pés. Bruno ainda parecia incomodado.

- Toma cuidado, ele pode ser comprometido.

- Ele disse que está solteiro. – Serena rebateu. Bruno deu um sorriso torto.

- O fato de um homem dizer que não está comprometido não quer dizer que é verdade.

- Eu sei! Não sou inocente. Mas levando em conta que a poucos dias Rebeca estava com você, não acho que ela esteja com Renato. Então acredito que ele tenha dito a verdade. – Serena explicou. Bruno se aproximou dela, lhe tocando o ombro.

- Serena, pelo amor de Deus! Eu jamais namorei com a Rebeca, e não estou falando dela... – explicou como se fosse óbvio. – Mas não é só isso. Eu o conheço a algum tempo.

- Então o que é? – ela quis saber, agora com as mãos na cintura. Ele ficou quieto, os lábios numa linha fina – Se não pode ser sincero comigo...

- Eu fiquei com a ex-mulher dele. – soltou. Serena tentou analisar a informação.

- E o que que tem o fato de você ter beijado a ex-mulher dele? – ela indagou com um dar de ombros. Bruno deu uma risada cínica.

- Serena, eu transei com a mulher dele enquanto ainda eram casados.

Os olhos dela se arregalaram.

- Que horror! Como você pode ter enganado ele dessa maneira? – ela o acusou, dando um passo para trás.

- Não enganei ninguém, Serena. Eu a conheci em uma festa...

- E não perguntou se ela era comprometida?

- Por que eu deveria fazer essa pergunta? Eu sou solteiro. Se a mulher que vai ficar comigo está comprometida ou não, o problema é dela! 

- Você é um.... – ela não encontrou palavras para expressar o horror que sentia. Serena encarou ele com os olhos acusadores, mas tentando entender o que estava havendo ali, decidiu abstrair. – Tudo bem, Bruno. Supondo que você tenha razão e ele queira me usar... seguindo essa sua teoria, eu também sou solteira.

O modo como os olhos dele faiscaram revelou desagrado.

- Eu sei. – ele murmurou com o maxilar cerrado. – Só que quando Renato descobriu a traição, ele humilhou a mulher e depois reatou a relação deles só para que pudesse traí-la. Desde então... é uma galinha. - Serena fez uma careta, pasma por toda aquela história – Posso não ser o melhor homem do mundo, mas alguém que faz isso...Não é digno.

- Você parece querer justificar um erro com o outro. – Serena murmurou com um suspiro. Porém tinha que admitir, Renato realmente não parecia flor que se cheirasse. Bruno deu de ombros e continuou:

- Então, o que quero dizer é... ele só quer te comer. – concluiu pesaroso. Serena colocou uma mão na frente da boca, segurando um riso. Ele franziu o cenho sem entender.

- Olha Bruno... – ela encarou os olhos negros dele, sentindo as bochechas arderem em chamas. – Eu também só quero isso.

- O quê?! Você quer ser usada? – Bruno parecia perplexo. Ela suspirou jogando a cabeça para trás. 

- Eu fiquei alguns anos casada com um cara que quero esquecer. Tudo o que preciso é me divertir... então, se isso significa ser usada, sim! Eu quero ser usada e também quero usar ele! – os olhos de Bruno se arregalaram. Uma das primeiras vezes que ela o via expressar algo naquele rosto indecifrável. – está satisfeito?!

- Se você se apaixonar , ele vai te machucar.

- Não vou me apaixonar por ele! Que loucura! – exclamou estupefata. - Olha só, não tem aquela mulher que está lá fora te esperando? – ela perguntou e ele assentiu. – Você a ama? Está apaixonado?

- Claro que não.

- O que quer então?

- Só quero me divertir.

- Exatamente. Só quero me divertir também! Eu posso?! Você me permite?! – ela foi irônica.

- Se você só quer que alguém te coma... eu posso...

- Ai Meu Deus...Não vou transar contigo, tá legal?! Você é o tio do meu filho!

- Não ia propor essa asneira, Serena! – Ele exclamou, abrindo os braços. - Mas da maneira que você sempre supõe isso estou começando a achar que é exatamente o que quer...

Algumas gotas de água caíram nos pés dela, indicando a proximidade dele. Serena engoliu em seco, evitando respirar o perfume de Bruno. 

A expressão dele estava nublada, e realmente parecia ofendido pela acusação dela. Mas o que realmente a chateou foi constatar o modo como o próprio coração parecia retumbar dentro do peito ao mesmo tempo em que seu centro feminino queimava. Bruno suspirou, se afastando dela.

- Ia falar que poderia te apresentar alguns amigos. Mas você me trata como se eu fosse um tarado..

- Porque tentou ficar comigo no início! 

- É, mas me dei conta de que seria um erro. Então fica tranquila, ok? Você não faz o meu tipo!

Serena mordeu os lábios, de repente se sentindo muito irritada e envergonhada. Bruno bufou, meneando a cabeça. Ela engoliu a sensação de rejeição e passou por ele, em direção a porta.

Mas Bruno entrou em sua frente no último segundo, quase fazendo-a se chocar contra o peitoral dele. Ele a olhou de cima a baixo, a respiração pesada.

– Pode me deixar sair?!

- Você pode fazer tudo o que desejar, Serena.– Murmurou, antes de abrir a porta.- Só toma cuidado.

Serena saiu batendo o pé em direção ao quarto, e entraria no corredor se uma mão não segurasse seu antebraço.

- Serena?! – Era Sarah, que agora a acompanhava – Ih... pela sua expressão já vi que o ogro fez o trabalho dele.

- Eu não consigo entender como ele pode ser assim... – Serena desabafou, seguindo pelo corredor e abrindo a porta do quarto.

- É, ele é um doce. – Sarah foi irônica – Mas parece que com você está melhorando – a segunda frase dela não parecia conter sarcasmo.

- Melhorando... – Serena pressionou os lábios para conter um riso.

- Eu vi vocês somente por algumas horas, mas em anos de amizade com Bruno, ainda não tinha visto ele fazer para alguém o que fez por você. – Sarah murmurou, parecendo interessada. - Ele veio te buscar, depois ainda apresentou você, ainda tocou em você... não parecia ter intuito sexual. – ela analisava os últimos comportamentos de Bruno. – Vocês são amigos, Serena. Ele gosta de você!

- Nossa... se isso for gostar, imagina como deve ser ter o desgosto dele – ela murmurou desacreditada. Sarah riu.

- Acredite, não queira saber... mas acho que você vai ver a Rebeca sofrendo na pele.

- Coitada... – ela se compadeceu pela mulher, lembrando de vê-la chorando.

- Eu não teria tanta pena... – Sarah disse se esparramando na cama dela. – O modo como ela olhou pra você parecia querer te comer viva! – fez uma careta. – Eu sempre soube que aquela dali não valia 1 real! Mas o ogro não quis me ouvir...

- É interessante ver sua análise sobre essas coisas...– Serena retocou a maquiagem com a porta do banheiro aberta, omitindo da amiga a ameaça de Rebeca. Seus olhos estavam molhados, e ela não queria voltar pro churrasco com aquela cara de choro.

- Ah, eu sou psicóloga! Mas meio que sou obcecada por linguagem corporal e comportamento humano...

Serena a olhou de soslaio. Aquela mulher baixinha com um sorriso grande piscou para ela. Não, ela definitivamente não precisava de ninguém lhe analisando.

Já bastava a sua mãe quando em vida: "nossa, Serena! Mas você é mesmo uma canceriana" ou o preferido dela "Minha filha é uma autêntica canceriana". Sentia saudades da mãe, mas odiava rótulos.

- Você deu aquele olhar que as pessoas geralmente dão quando descobrem que sou psicóloga... só não vá me perguntar se sou louca, por favor!

Serena riu, voltando para o quarto. Ela já tinha ouvido dizer que psicólogos eram doidos. Mas ela não iria fazer aquilo com Sarah.

- Não vou perguntar isso, Sarah! Só... não me analise – pediu. Sarah fez sinal de zíper em frente a boca.

- Vou guardar pra mim minhas considerações. – prometeu, se esquivando um pouco do pedido de Serena. Mas tudo bem, só o fato de não ser surpreendida por relatórios acerca do seu comportamento já bastava.

Se a mãe dela estivesse ali, com certeza diria que isso era um medo dela de saber ou descobrir coisas que tentava ignorar. E ela admitia, às vezes mais gostava de uma mentira doce do que uma verdade amarga. Não à toa preferiu acreditar nas mentiras de Hector durante meses, ao invés de confiar na própria intuição e fazer o que era certo.

- Mas olha, de fato é bom escutar Bruno e tomar cuidado com Renato... ele é bonitinho, mas é ordinário... – brincou Sarah, a fazendo rir. Mas então, Serena franziu o cenho.

- Pera aí... como sabe que Bruno queria falar comigo sobre Renato?

- Ah, você sabe! Estava na cara que Bruno estava com ciúme de vocês.

- Quê?! – Serena exclamou, logo depois soltando uma risada alta. Ela até achou que fosse isso no início, mas depois do que Bruno dissera, estava convencida de que não. – Bruno não tem ciúme de mim, e pelo visto, nem de ninguém.

- Bom... – Sarah balançou a cabeça, analisando. – É bom que pense assim.

- Por quê?

- Acho que não vai querer saber a resposta, Serena... É uma análise. – Sarah deu de ombros.

- Sarah... Não acho justo não dizer depois de ter atiçado minha curiosidade.

- Tudo bem! – Sarah parecia muito feliz em contar – É melhor pensar que ele não sente ciúme de você, assim você também não saberá que sente ciúme dele.

Serena piscou algumas vezes, esperando Sarah retirar aquela baboseira que dissera. Mas a loira nada mais fez que continuar impassível.

- Ok... acho que eu não esperava por isso.

- Imaginei! – Sarah sorriu. – Então...só tome cuidado com o Renatinho.

Serena se lembrou de Renato, um pouco mais baixo que Bruno, mas ainda mais musculoso. E aqueles olhos azuis, aquela barba por fazer... Ah!

Talvez fosse a gravidez. Não, com certeza era. Tinha lido um livro a caminho do Rio de Janeiro que dizia que o desejo aumentava 100% para algumas grávidas. Bom, no caso dela, parecia estar atingindo um ápice muito maior que esse teto.

Mas para seu desgosto, estava sozinha. E estar naquela festa estava sendo difícil, os convidados de Bruno realmente eram lindos.

- Toc Toc... – Michele entrou – Fiquei procurando vocês feito uma louca.

Sarah e Serena tomaram um susto com a aparência de Michele. Os cabelos da ruiva estavam meio desgrenhados e a blusa justa um pouco torta.

- Sei... – Respondeu Sarah. – E onde você estava? Não vai me dizer que estava se engraçando de novo com Farley né...

Michele deu um sorriso amarelo e Sarah revirou os olhos.

- Tsc..Tsc..Tsc... às vezes eu acho que nós mulheres temos que nos ferrar mesmo, viu? – Sarah comentou aleatoriamente observando as unhas pintadas de laranja.

- Ué, amiga! Nem todo mundo tem um relacionamento perfeito que nem você tem com o Dodô. – Michele alegou – A maioria de nós têm relacionamentos conturbados... e às vezes nem sabe o que sentimos.

Serena parecia entrar dentro das duas possibilidades que Michele mencionara. Pra ela, saber o que sentia estava sendo impossível.

Quando lembrava de Henrique seu coração se apertava. E quando recordava de Hector era compelida por uma mistura de raiva, medo e nojo. Já quando via os olhos azuis de Renato, tinha desejo.

Mas com Bruno...uma torrente de emoções nebulosas caia em suas costas: desejo, segurança, proteção, raiva. Mas ele, ao contrário dela, às vezes parecia sentir nada, e noutras vezes, tudo.

- Serena... – Alguém lhe chamou, a tirando dos devaneios. Era Sarah.

- O quê?

- Conte para gente como conheceu Bruno. – Sarah sugeriu. Serena engoliu em seco, a coluna ficando ereta e rígida.

- Ah... foi rápido... – pigarrou – E quando eu o vi... – A testa dela começou a suar nas extremidades.

- Já sei! Sentiu um desejo louco, não é? – Michele indagou animada. Sem saber o que dizer, Serena assentiu. – Todo mundo tá sentindo esse climão entre vocês, menina! E pra dizer a verdade, é a mesma coisa que eu sinto com o Farley, só que a Sarah...

- Tá todo mundo sentindo esse climão? – Serena repetiu, uma palpitação estranha lhe cortando o coração.

- Sim! E como Bruno sempre é tão cuidadoso em relacionamentos, deve ter sido mesmo uma loucura. Afinal, vocês nem usaram camisinha! – Michele exclamou – Quer dizer, com certeza não usaram já que, hum, você está esperando um bebê dele.

- Michele! Você está constrangendo a mim e a Serena... – Sarah murmurou, boquiaberta. Serena estava sem reação. Na verdade, se o mundo acabasse naquele momento talvez oferecesse nenhuma objeção. Mas ainda assim, engoliu a vergonha em seco.

- É ! – Soltou uma risada nervosa. – Foi sim... eu nem sei como aconteceu... Mas hoje não rola mais nada!

- Interessante... – Sarah disse, parecendo analisar explicitamente Serena, que teve vontade de se esconder debaixo da cama. Serena alisou a barriga, buscando conforto no próprio bebê.

- Mas então, já sabem qual o sexo do bebê? – Michele perguntou distraída.

- Ainda não. Aconteceram tantas coisas... Estou atrasada pra fazer o pré-natal.

- Mas sua barriga já está bem grande!

- Sim... – ela se lembrou do evento de mais cedo. Uma alegria irrompendo pelo peito. – Hoje foi o primeiro dia que ele mexeu!

Sarah bateu palmas de felicidade e Michele ficou exultante.

- E como foi? Contaaa... -Sarah suplicou.

Talvez ela nunca tivesse sentido coisa mais linda e emocionante. Aquele puxão e depois aquele chutinho...  Mal podia acreditar que estava gerando uma vida dentro de si própria. E quando Bruno falou e o bebê respondeu com cambalhotas...

- Foi lindo! Eu estava aqui e de repente o senti. Bem aqui. – ela mostrou o exato ponto no baixo ventre. – E quando Bruno falava, o bebê respondia.

- Sério?! – Michele abriu um sorriso largo.

- Sim! Ele parecia dar cambalhotas dentro da minha barriga!

- Isso deve ter sido lindo, Serena. – Sarah murmurou emocionada. Michele levantou de supetão e foi até Serena.

- Ah, eu posso? – Perguntou com a mão estendida.

- Claro! – Serena se levantou, expondo a barriga redonda.

- Como Bruno reagiu? – Sarah parecia entrevistá-la enquanto Michele quase chorava tocando a sua barriga.

- Surpreso... – ela se lembrou das sobrancelhas erguidas dele, e as mãos quentes e grandes tateando a barriga dela, e aquele sorriso torto com os dentes perfeitamente alinhados à mostras. 

Suspirou, a imagem clara de Bruno aparecendo na mente.Estava fazendo um esforço gigante para desgostar dele, mas aqueles momentos realmente a balançavam. 

E por pensar no diabo...



Gente, finalmente saiu o capítulo! E peço mil perdões pela demora, já que era pra ter sido publicado no sábado passado. 

Essa história já está escrita, mas como já deve ter ficado claro...essa autora que vos falam não é a pessoa mais organizada desse mundo kk 

Porém, dont worry, babies! Vou postando aos poucos...

Mas o que me dizem desse capítulo? Gostaram? Está grande demais (sei que escrevo capítulos gigantes rs)? E esse casal, dá pra shippar? 

Comentários são bem-vindos, e não se esqueçam da estrelinha. Nosso par contraditório tem que voar para contar a historia ao máximo de membros do wattpad kk 

Obrigado por acompanharem! <3 

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