O1 ⋆ de volta ao lar.

˖ ┈─ eu nunca tinha vindo à praia,
nem ficado perto do oceano.


É estranho voltar para casa depois de tanto tempo. Três anos, mais especificamente. Mais estranho ainda é perceber que houveram muitas mudanças, mas você ainda consegue identificar cada centímetro daquele lugar como se ainda fosse o mesmo.

A verdade é que estamos tão acostumados com a frase "Só se vive uma vez, mude agora" que chega a ser deprimente quando você volta para o ponto de partida. Não por saudades, mas por necessidade. Era um desejo dela.

Foram três anos inteiros evitando contato com o mundo externo como forma de luto. Houve até uma professora particular que estava presente na casa pontualmente em todos os dias necessários. Sem festas, sem passeios, sem amigos e, obviamente, sem viver. Não é querendo trazer um ar dramático logo no começo, mas é assim que começam boas histórias, não é? E depois só Deus sabe se terminarão como começaram ou se haverá um ponto chave que mudará tudo.

Foram incontáveis as vezes que o pai tentou fazer uma adolescente deprimida enxergar que aquilo não era o fim do mundo, mesmo quando ele mesmo estava quebrado por dentro.

Afinal, esse é o trabalho de um pai, correto?

Agora, de volta à Malibu, Estelle não sabe exatamente como se comportar. Nem sabe se foi uma boa ideia. Até mesmo o pai estranhou quando a garota chegou perto de si e fez o pedido; um papel bem acabado nas mãos e os olhos vermelhos pelo choro recente.

A casa antiga surpreendentemente estava muito bem cuidada e horas depois a garota descobriu que foi porque Josh, o melhor amigo de sua mãe, cuidava da moradia sempre que preciso. Caso retornassem. Ele cuidou mesmo sem saber se voltariam. E continuaria cuidando se não voltassem. É uma casa com memórias, afinal de contas.

Estelle vagava pelas ruas sem saber exatamente para onde estava indo, não havia um lugar para matar as saudades ali. Ou se havia, não lembrava e sinceramente não queria. Bem vindos à uma vida totalmente entediante e sem sentido. Ainda era comecinho de verão e a garota trajava um short jeans surrado e um top xadrez preto e sem alças. Em mãos, um picolé de limão. Uma pessoa normal em Malibu. Uma mente bagunçada em Malibu.

Quando se deu conta, estava no topo da calçada que ia direto para a praia e uma música exterior parecia estar competindo com a que tocava em seus fones. Tirou o objeto dos ouvidos e os olhos castanhos não demoraram para encontrar uma plataforma mais afastada dos guarda-sóis e dos mini comércios na areia; sobre ela estava um grupo de quatro. Uma banda, digamos. Havia um vocalista, baixista, guitarrista e baterista. E, caramba, ela tinha que admitir: Eles não eram tão ruins. O encaixe dos sons era quase perfeito, mas era só isso. Sem voz, sem sentimentos. A Estelle de sete anos já estaria correndo dos pais pela areia para escutar mais de perto. A Estelle de 17 anos não.

Essa Estelle deu um sorrisinho de canto e voltou a colocar os fones ── que tocavam uma música aleatória de The Greatest Showman, seu musical favorito ── enquanto seguia caminho para casa. E ignorou a experiência de apreciar o ensaio sentada na areia.

O caminho de volta para casa foi tranquilo, ela ainda conhecia aquele lugar como a palma da mão. Jogou a embalagem do picolé na lixeira próxima ao poste e entrou na residência estilo americano. Bem aquelas de filmes de terror, saca? Felizmente não é um gênero incluso na nossa história.

── Já em casa, filha? ── ouviu a voz melodiosa do pai da cozinha, este que vestia um avental cinza e preparava alguma receita aleatória que encontrou na Internet. Amava as comidas estranhas do progenitor.

── Só fui dar um passeio. Malibu ainda é a mesma, apesar das mudanças ── ainda é a casa de sua mãe. Foi o que quis dizer. Ester se sentou em frente a bancada e deixou os fones caírem sobre seu pescoço. ── Sabia que tem um tipo de banda nova tocando lá na praia? Eles não são ruins para um bando de marmanjos.

O pai travou no seu trajeto de levar a travessa ao forno. Por um segundo pensou que a garota tivesse ido finalmente para a praia. Se permitido aproveitar. Mas ao olhar para a filha, não viu sequer um traço de animação, como se estivesse esperado o passeio inteiro para lhe contar. Ao contrário: ela mexia distraidamente no celular. Suspirou com um sorriso mínimo.

── Sério? Ouvi falar que teremos um festival no final do ano, eles devem ser uma das bandas que vão tocar ── o mais velho fechou o forno e limpou as mãos na toalha. Agora focando na menina. ── Você quer ir?

Arriscou. Estelle o olhou sem expressão e não pareceu pensar muito antes de responder.

── Não, eventos ao ar livre são tediosos ── o senhor Parker sabia que não era isso. Mas não discutiu. Não que fosse um tabu na casa, mas por via das dúvidas, era melhor que não cutucasse a ferida da filha que demorou tanto para cicatrizar. ── Além do mais, posso assistir pelas transmissões.

Anthony resolveu não insistir. Querendo ou não, a garota havia puxado a teimosia de sua mulher. Eles logo entraram em qualquer outro assunto mais relevante: escola, jantar e novas amizades. Não que Estelle não fosse sociável, só tinha preguiça. As pessoas na Coreia eram tão tediosas que chegava a ser deprimente. Então não criou laços fortes o suficiente. Talvez em Malibu fosse diferente. Se a mãe podia chamar de paraíso, talvez um dia ela conseguisse, certo?

Estelle subiu para tomar banho e tornou a descer para que pudesse almoçar. O assunto sobre o colégio se prolongou por mais alguns minutos antes do pai avisar que estava saindo para a casa de Josh para conhecer a nova esposa e os filhos. A Parker mais nova disse algo sobre estar cansada e que outro dia visitava o padrinho.

Agora, sozinha em casa, ela fez o que qualquer adolescente faria.

Subiu para o quarto e foi maratonar filmes até dormir. Fazia alguns minutos que estava assistindo Wolverine ainda sem um pingo de sono. Era um dos seus favoritos e ela se recusava a dormir enquanto ele passava. Foi quando o celular apitou e ela o pegou, abrindo no chat do pai. Havia uma foto e logo abaixo a legenda "Só faltou você, filhota". Na foto estava seu pai tirando a selfie com um sorrisão que fez ela sorrir junto, Josh, a senhora Spencer e uma criancinha com um sorriso banguela sendo segurada por um cara de 18 anos, aparentemente. Estranhou. Quando saíram de Malibu, Josh ainda não era pai. Então imaginou que o mais velho seria só filho da mulher.

Ainda com um sorriso fraco, ela respondeu a mensagem com um "Diga ao dindo que lhe mandei um beijo e logo o verei" e curtiu a foto, voltando a prestar atenção no filme.

Eram por volta das duas da manhã quando acordou de novo. No dia seguinte ela tinha aula, mas isso era o de menos; precisava acalmar a mente inquieta que ainda não tinha se acostumado com a mudança. Desligou a TV que ainda passava algo aleatório e pegou o violão apoiado ao lado da cama junto da pasta meio bagunçada sobre a escrivaninha. As partituras foram espalhadas e ela começou a dar voz às músicas da mãe.

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Pelo amor de Deus, Estelle não lembrava que escolas eram tão insuportavelmente insuportáveis.

Havia se acostumado tanto em estudar em casa que estar naquele ambiente era assustador, mesmo que muitos vissem essa reação como um tipo de drama. Barulhento e cheio demais, por isso passou os intervalos sentadinha em seu lugar ouvindo música e só levantou para ir ao banheiro e beber água. Na hora da apresentação também não foi lá aquelas coisas. Sinceramente? Ela agradecia que já era seu último ano.

Não gaguejou e nem sofreu bullying da patricinha com seu namorado capitão do time de basquete como via em seus livros genéricos. Até fez amizade bem rápido. Amizade esta que agora estava tagarelando no caminho pra casa.

── Imagina que genial se você não tivesse ido embora ── começou Olivia. ── A gente poderia ter se conhecido com cinco anos e nos tornado melhores amigas até hoje.

Elas começaram a conversar no segundo período de aula, quando Estelle pediu ajuda por não estar acompanhando a matéria nova de Química, e desde então ela já sabia de tudo sobre a morena. Inclusive que era irmã de Lee Felix, um ex famosinho do colégio e que agora trabalhava na Coffee Bear e tinha uma banda fora do expediente.

Olivia até prometeu levá-la para um dos ensaios. Agora estava fazendo perguntas sobre ela, cansada de tagarelar sobre si mesma. E Ester respondia quase ── eu disse quase ── na mesma animação, ocultando algumas partes. Contou que nasceu em Malibu e morou até os treze, antes de se mudar para a Coréia do Sul e que lá seguiu com sua vida antes de voltar para cá neste ano.

Estelle só foi, de fato, acordar pra vida quando percebeu aonde elas tinham parado. A fachada da cafeteira era muito bonita e chamativa na medida certa, mesclando o marfim com um tipo de azul bebê. Olivia espiou pelo vidro por uns segundos antes de sorrir abertamente e segurar nas mãos da acastanhada, puxando-a para dentro. O sininho sobre a porta fez o barulho que anunciava sua chegada e só deu tempo de ver Olivia correndo até um garoto loiro que segurava uma bandeja repleta de utensílios vazios e trajava calça jeans, uma t-shirt branca e o avental personalizado da cafeteira.

Estelle se aproximou sem causar algazarra quando a nova amiga a chamou com as mãos e os olhos do loiro pousaram nela, com um sorriso bem parecido com o de Olivia logo depois.

── Ester, esse é Felix, o irmão que eu te falei. Mano, essa é a Estelle, ela voltou recentemente para cá e é nova lá na escola ── os apresentou brevemente. Estelle deu um sorrisinho e o cumprimentou.

── Seja bem vinda de volta à Malibu, Estelle. É um prazer te conhecer.

Foi quase impossível não mudar a expressão de simpática para desacreditada quando ouviu a voz grave de Lee. Oras, ela esperava outra coisa dada a sua aparência gentil. Mas uma coisa tinha que admitir: Isso tornava o garoto extremamente interessante. As meninas se juntaram próximo ao balcão, ao lado de mais três garotos distraídos. Felix aproveitou que o ambiente não estava cheio para atender ambas com calma. Fizeram seu pedido e Olivia logo começou um novo assunto durante a preparação.

── Ficou sabendo do festival que vai rolar no final do ano? Falta meses e essa é a fofoca que mais ganha reconhecimento por aqui. Você vai, né? Nossa, vai estar cheio de gatinhos lá. E bandas novas também, claro.

Falou tudo de uma vez só, mas seu irmão ainda a olhou feio quando citou sobre os garotos. Ester riu fraco da euforia natural da amiga e se ajeitou no banquinho, tirando a mochila dos ombros e a deixando no banco desocupado ao seu lado.

── Foi mal, Liv, mas não. Não curto esses eventos e sendo bem sincera, as músicas que vão tocar lá não me agradam muito. Já espiei um ensaio ontem ── falou simplista, distraidamente mexendo nos guardanapos bem organizados e não percebeu quando Felix soltou um sorrisinho convencido.

── Você fala como se entendesse de música.

Uma quarta voz falou. Ela então percebeu pela visão periférica que vinha do cara sentado à um banquinho de distância do seu, sendo separados apenas pela sua mochila. Ele não a olhava, estava digitando freneticamente no celular, mas ainda parecia prestar atenção na conversa. Bisbilhoteiro.

── Perdão, o que disse? ── chamou por sua atenção e se virou para ele, o rosto torcido em uma expressão confusa.

O rapaz soltou um suspiro bem audível ── diga-se de passagem ── e largou o celular sobre o balcão, pegando a latinha de Pepsi e dando um longo gole antes de se virar para ela com a cara mais provocativa do mundo. Ele passou a língua sobre os lábios e ela passou a língua no interior da bochecha.

── Desculpe, gata, vou repetir. Disse que você fala como se entendesse de música, mas a real questão é: Você ao menos sabe o básico para estar julgando os caras? ── o desconhecido falou de maneira relaxada e se apoiou no balcão com um dos braços. À essa altura os outros dois atrás dele estavam prestando atenção na conversa e Felix continuava fazendo o café especial de Olivia que era outra toda ouvidos.

Já Estelle não sabia se prestava atenção no claro insulto que recebeu ou se focava no fato de já conhecer o cara de algum canto. O que teoricamente era impossível visto que voltou ontem. O Lee de cabelos loiros colocou os pratos perto de suas respectivas donas e jogou o pano sobre o ombro, pegando o caderninho e saiu de fininho para atender ao novo casal que tinha acabado de entrar.

── Respondendo a sua pergunta, sim, eu sei o básico sobre música. Sei o que eu estou falando quando digo que aquilo que tocam lá são apenas palavras ao vento; quase ninguém realmente coloca o valor merecido das canções ── falou simplista, levando a caneca com o café expresso até a boca ao desviar o olhar para o seu pedido. E tornou a olhá-lo. ── Amadores, é a palavra certa.

Ela achou que aquilo seria o suficiente para que ele a deixasse em paz e voltasse a atenção para o próprio aparelho. Mas do contrário, o rapaz só sorriu mais e se inclinou para frente, apoiando a mão no banco entre eles. O olhar de Estelle desceu para ali e automaticamente puxou a mochila para si. Ele riu baixinho.

── Fica tranquila, senhorita sabe-tudo. Temos aqui uma espécie de Beethoven mirim, incrível ── a voz masculina era carregada de sarcasmo e a Parker teve que se segurar muito para não revirar os olhos e mostrar que estava verdadeiramente quase se irritando. ── Sendo mais específico, a sua visão para música é muito fechada e simplesmente não entra nessa sua cabecinha que existem outros jeitos de se expressar através dela.

Aquilo foi a gota d'água. Qual é, ela entendia de música, sim. Largou a caneca sobre o balcão e virou seu dorso para ele, cruzando os braços. Olivia à essa altura do campeonato já estava com a cara enfiada no celular; acostumada com esse jeito do melhor amigo de seu irmão de se sobressair sobre os outros. Já os outros dois caras faziam mais um pedido. Resumindo, Estelle e o desconhecido pareciam estar em seu próprio mundinho com suas opiniões completamente diferentes. A única diferença é que ela estava ofendida e ele se divertia com a situação, como se usar do sarcasmo para irritar as pessoas já fizesse parte do seu dia a dia.

── A questão é que é raro ver alguém realmente se expressando por aí. A música já deixou de ter algum tipo de significado para a maioria do pessoal da nossa idade, e isso é um fato que você vai ter que aceitar ── falou de prontidão e sem desviar o olhar do dele. ── Então não venha falar que minha visão não é ampla. Quando aparecer alguém que entra no quê você falou, talvez eu concorde.

E ela deu o assunto por encerrado e continuou a comer.

Ele continuou falando.

── Simples: Venha ver um dos nossos ensaios na praia que vai entender ── o desconhecido falou, descendo do banco e pegando sua própria mochila semiaberta junto com seus amigos ── Hm... Hoje, às seis. Vai ser ótimo expandir seu conhecimento, senhorita sabe-tudo.

Ele deu mais um sorriso e se encaminhou para onde Felix estava, dando aquela despedida ombro a ombro antes de sumir pelas ruas de Malibu. Olivia espiou eles se afastarem antes de olhar para a amiga.

── Por Deus, que insuportável.

Ester colocou ambas as mãos sobre o rosto e ofegou pesado, arrancando uma risadinha da Lee que acariciou suas costas como se dissesse "Relaxa, eu entendo" e ao mesmo tempo dissesse "Viu nada ainda".

── Você vai? ── foi o que perguntou.

Ela ia?

── Não, eu não curto praia ── falou depois de um tempo, empurrando o prato após terminar de comer e pegando o celular para avisar ao pai aonde estava. Quando acabou, se virou para Olivia e ela estava com uma expressão de tédio ── O que? É sério, não sou orgulhosa ao ponto de inventar uma desculpa ruim dessas, ok?

── Sei, sei.

Ambas se despediram algum tempo depois e cada uma rumou para a sua casa. Ao chegar, ela deu um beijo casto na bochecha do pai e foi direto para o quarto, jogando-se na cama. O convite ainda rondava sua mente.

Ir significaria ceder para a opinião do cara insuportável. Mas não ir significaria que ela não estava pronta para abandonar sua visão sobre o assunto e só daria mais razão para ele.

E, sinceramente, ambos eram ruins.

Por fim decidiu dormir. Talvez amanhã ele nem lembre de si e provavelmente não vão voltar a se ver. Ester dormiu tranquila ali.

Mas no dia seguinte, já estava com um mau humor de afastar qualquer um. Tudo parecia estar dando errado do minuto que acordou ao tempo que chegou na escola. Imediatamente foi recebida por Olivia, esta que fazia mil perguntas do porquê Estelle não foi no ensaio e que o cara estava falando para ela o quanto sua amiga era orgulhosa.

Ela só fingiu que estava com muita dor de cabeça para tantas perguntas e falou que mais tarde responderia. Só restou a Olivia aceitar e ambas seguiram para a aula. Que, pasmem, era a sua menos favorita. Fala sério, quem liga para Biologia?

A Parker não prestou atenção em um milésimo da explicação, torcendo para que Olivia estivesse super atenta ao assunto de viroses humanas e que depois passaria as anotações para ela. A garota só foi acordar quando o sinal soou forte na sua cabeça. E se antes mentira sobre estar com dor, agora era verdade.

── Finalmente, garota. Você estava quase babando no seu caderno ── disse Olivia. Ela estava fechando o caderno de Biologia e pegando o dinheiro de sua mochila.

Ester levantou a cabeça meio desnorteada, só dando tempo de ver os estudantes saindo da sala e seguindo para o refeitório. Bufou pelo sono interrompido e tentou ajeitar os cabelos longos da forma que pôde e pegou sua carteira, saindo da sala junto da amiga que falava sobre a matéria nova.

Ao contrário dela, Olivia adorava essa cópia barata de Ciências básica.

As duas pegaram seus respectivos lanches e se sentaram na mesma mesa do dia anterior.

── Foi mal por não ter prestado atenção na matéria e babado no professor junto com você ── ela falou com tédio e isso fez a Lee corar. Mas Estelle não deu atenção; olhava para a sua bandeja pensando o porquê de ter comprado se não estava com fome. ── Mas acho que aquele amigo do seu irmão amaldiçoou meu dia porque está tudo uma mer-

── Seung!

Foi interrompida e se virou para trás pra ver com quem ela falava. Um garoto magro com cabelos pretos segurava uma bandeja e andava tranquilamente pelo refeitório em busca de uma mesa e parou quando sua atenção foi chamada. Ele olhou de Estelle para Olivia e abriu um sorriso, mudando sua direção para a mesa das meninas e se sentando logo depois.

── Que surpresa você acabando um exercício a tempo de ir para o intervalo, Liv ── foi a primeira coisa que o garoto desconhecido falou. Ester riu baixinho porque talvez Olivia não fosse tão estudiosa.

── Hahaha, hilário, Kim ── revirou os olhos. ── Acho melhor você parar de andar com o Christopher, está ficando insuportável que nem ele.

Ester decidiu comer mesmo sem fome, não queria mostrar interesse na conversa dos outros. Porém foi impossível após a seguinte fala do Kim.

── Falando nele, o cara ficou o ensaio todo falando da sua amiga por ter faltado o ensaio ── Parker ergueu os olhos e os do cara caíram sobre ela. ── Oh, é você? Muito prazer, sou o Seungmin. Foi mal não ter falado contigo lá no Coffee Bear ontem, sem paciência pro Chris e seu sarcasmo.

Ela travou.

── Você estava lá ontem? ── perguntou e Seungmin riu fraco.

── Eu estava ao lado do Christopher, aquele que ficou enchendo teu saco. Faço parte da banda dele.

A boca da garota formou um perfeito "O" e isso fez os outros dois rirem. Então o Desconhecido Descarado se chamava Christopher. Não que a informação fosse ser útil já que não voltaria a vê-lo, mas é melhor do que ter "Desconhecido Descarado" como apelido.

── Mas fica tranquila, o Minnie é bem mais legal. ── Olivia assegurou.

Os dois amigos sorriram e Ester logo depois sorriu também. Todos ali tamparam numa conversa animada sobre seus gostos para que Seungmin e Parker se conhecessem melhor e isso durou até o sinal bater para que voltassem para a sala de aula.

O humor de Ester já havia melhorado bastante após aquilo, mas ainda estava pensando sobre o tal Christopher. A última coisa que faltava em sua vida era o clichê onde tudo e todos estão conectados e vão fazê-la lembrar de quem ela menos quer no mundo.

Dito e feito, na hora da saída, lá estava ele encostado sobre a árvore do pátio, o celular na mão e a capa da guitarra nas costas; ao seu lado estava Felix com uma mochila. Seungmin passou por si e por Olivia e gritou um "Tchau" e seguiu na direção do amigo, o cumprimentando com o clássico ombro a ombro. Por um minuto ela pôde ver Christopher olhando exatamente para si e abrindo um sorrisinho que lhe fez ter vontade de ir até lá só para arrancá-lo dali. Respirou fundo e se despediu rapidamente da amiga ao ver que ela ia na mesma direção, ainda sentindo o olhar alheio sobre si.

Como se não bastasse não ir ao ensaio, agora estava se esquivando do cara. Parecia um bichinho fugindo do predador, mas naquele momento em específico não ligou e deu meia volta, seguindo para o lado oposto que nem era o caminho de sua casa. Porém ela conseguiria um atalho depois. Só não queria passar por ali e escutar Christopher falando propositadamente alto que pessoas orgulhosas lhe fazem rir.

Qual é, ela nem sabia se ele de fato era assim, mas por via das dúvidas, nem quis descobrir. Depois de uns dez minutos ela finalmente conseguiu achar o caminho da residência e o percorreu pedindo para qualquer um que estivesse ouvindo seus pensamentos que Olivia e Seungmin fossem seus únicos ligamentos com Christopher e que não passaria dali.

Infelizmente, estava de dia e nenhuma estrela cadente apareceria.

❙⫿𝄦. ׄ ★ ׅ ⃝ ⃝🏖ㅤׄ ● ׅ 19:18
𝒬.𝗎𝖾𝖻𝗋𝖺 𝖽𝖾 𝘁𝖾𝗆𝗉𝗈 ❙ 𝐭rês dias depois.

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Sabe quando você se sente familiarizado com um ambiente que mal conheceu? Mesmo que com isso eu queira dizer que conheceu há menos de uma semana. Era o que acontecia com o Coffee Bear e Ester: era um lugar aconchegante e acolhedor, um ponto de calmaria no meio de toda a bagunça de Malibu com o festival que aconteceria no final do ano. A cafeteira passou a ficar firme na sua rotina nos últimos três dias, sempre passava lá após a escola, ou para aproveitar o cardápio excelente enquanto estuda ou apenas para conversar com Felix, este que se mostrou extremamente adorável, sempre preparando seus pedidos com mais especialidade do que com os outros clientes.

E quando eu digo que agora participa de sua rotina, é real mesmo e por isso que agora ela se encontra no seu banquinho de sempre que estava quase adotando com seu notebook sobre o balcão e ao lado o seu cappuccino. Digitava freneticamente a redação do dever de casa enquanto o novo amigo anotava o pedido de uma senhorinha na casa dos 80. Quando terminou e a idosa se dispersou para sentar-se, Maya ergueu os olhos para Felix que estava de costas.

── E então? ── o loiro murmurou um "Hm?" automático de quem não estava prestando atenção. ── Quando ia me revelar sua verdadeira identidade do cara que participa da banda do insuportável? Digo, Christopher.

Felix se virou para ela e ao notar o olhar divertido, sorriu também, negando com a cabeça.

── Não é como uma verdadeira identidade, só não fico com uma placa sobre a banda no pescoço durante o meu expediente ── ditou simplório, entretido no pedido que lhe fora feito. Mas a resposta fez Estelle revirar os olhos.

── Qual é? Você sabe o que eu quero dizer. Quem olha para você pela primeira vez, acha que é alguém que no mínimo curte música clássica. Aliás, ── levantou a mão dramaticamente ── eu já fui uma dessas pessoas.

Lee riu e isso fez Ester sorrir. Ele colocou o café na bandeja desocupada do garçom com o número da mesa e retirou as luvas descartáveis e as jogou no lixo, se virando para a garota com os braços cruzados e os olhinhos semicerrados.

── E quem foi a pessoa que tirou essa maravilhosa imagem sobre mim dessa sua cabecinha?

── Eu mesma, oras. Se Seungmin, com um rostinho de anjo daqueles, pode fazer parte da banda, por que você não? Aliás, no dia em que te vi na hora da saída, você não parecia que estava indo para uma orquestra, e sim um ritual muito louco ── Felix começou a rir mais, colocando as costas da mão na boca para reprimir o riso e não chamar tanta atenção. Ester soltou uma risada soprada, mas continuou, apontando para a figura do loiro. ── Isso aí ficou parecendo um mero disfarce, tá legal?

O amigo assentiu e abanou a mão preguiçosamente enquanto cessava o riso.

── Tudo bem, tudo bem, você tem razão ── suspirou derrotado. Ele foi tirando alguns objetos do balcão, inclusive os braços de Ester, e passou o pano ali, uma nova mania. ── O lance é que nossa banda não é nada oficial ou coisa do tipo. Quero dizer, já tocamos algumas vezes, mas ainda não é o tipo de reconhecimento que queremos, entende? Por isso estamos trabalhando mais em nossas próprias músicas e ainda não divulgamos muito porque queremos surpreender o público no festival.

Ela parou para analisar Felix e notou a forma como um sorriso mínimo ameaçava ocupar seus lábios enquanto falava sobre a tal banda. Parecia realmente importante para ele e, apesar de não curtir o estilo, a garota tinha que admitir que era incrível ver alguém tendo algo a que se dedicar assim como ela.

A única diferença é que ela não pretendia mostrar suas músicas ao público tão cedo; ou talvez nunca. Suas composições sempre foram o meio mais seguro que achou de descarregar pensamentos e sentimentos sem perturbar ninguém, mesmo que seu pai achasse que ela só tinha puxado a paixão da mãe por música. O que não era mentira, mas tinha algo a mais.

Agora, vendo Felix falar daquele jeito sobre o tão sonhado festival, era até tentadora a ideia de comparecer. Mas então sua mente dava voltas e mais voltas em lembranças indesejadas e ela se obrigava a voltar para sua decisão atual sobre assistir virtualmente. Ainda assim pretendia dar apoio ao amigo de longe.

── Entendo. Eu sinceramente espero que vocês consigam sucesso, Lix ── falou sincera com um sorriso fechado.

Ele a olhou com os braços cruzados, jogando o pano sobre o ombro.

── Mesmo não gostando do nosso panelaço?

── Mesmo odiando o seu panelaço.

Ambos sorriram cúmplices. Minutos depois, ouviram o sininho conhecido anunciando a chegada de alguém: Olivia entrou saltitante com Seungmin logo atrás. Ester sorriu mais e acenou para eles, indicando onde estavam e ambos os amigos caminharam até si.

── Oi, Ester. Oi, irmãozinho favorito ── Liv cumprimentou sorridente e Seung só acenou, sentando-se ao lado de Maya.

── Sou seu único irmão, o que você quer? ── Felix perguntou desconfiado e o sorriso de Olivia desapareceu.

── Obrigada pela parte que me toca ── revirou os olhos. ── A gente passou aqui para chamar vocês para ir ao boliche agora, topam?

── Você me chamando para algo? Que milagre é esse? ── quis saber e Olivia mais uma vez revirou os olhos.

── Na real, eu queria chamar a Ester, mas como eu sei que ela sempre tá contigo nesse horário, tive que te chamar também pra usar a boa educação que mamãe nos deu.

Felix bufou como quem já esperava por essa, porém aceitou do mesmo jeito por estar terminando o expediente da sexta. A Parker relutou um pouco por causa da redação enorme que precisaria entregar na segunda, mas, obviamente, Olivia deu seu jeito para convencer a amiga de quê só se vive uma vez e ela pode lembrar daquela redação domingo à noite, tipo umas 23:30.

Assim o quarteto esperou que o novo funcionário do turno a seguir chegasse para que pudessem sair. Foram todos no carro do Lee mais velho com Seungmin contando sobre as vezes que Olivia já passou vergonha no boliche, mas ainda insistia em tentar.

Ao chegarem, deixaram seus pertences no carro e levaram só o essencial, entrando no estabelecimento. Estava parcialmente cheio, havia bastante famílias com crianças ali e mais no canto tinham alguns jovens conversando, bebendo energético e provavelmente fazendo apostas sobre boliche bem pesadas, se me permitem dizer.

Os quatro escolheram uma parte para si e Ester foi a primeira a se sentar em um dos banquinhos dali. Ela não sabia jogar ── e nem mesmo havia tentado ── mas queria ver os amigos se divertindo no ambiente que lhes parecia tão familiar.

Passaram-se alguns minutos e ela já estava com a barriga doendo de tanto rir das jogadas falhas de Olivia, essa que assustou o funcionário ao reclamar que as bolas que ela usava estavam com problema.

── E aí, galera. Demoramos? ── uma voz distante chamou sua atenção. Ah, não. ── Nos atrasamos porque o Han ficou vinte minutos escolhendo qual calça o valorizava mais.

Ela olhou rapidamente para a entrada onde três garotos chegavam. Um de cabelos pretos, outro com madeixas roxas e, por mais irônico que pareça, Christopher.

Por um milésimo de segundo ela esperou que ele fosse falar com outras pessoas em outra mesa, mas seu fio de esperança se partiu no meio quando o irmão de Olivia foi cumprimentá-los.

── Só pode ser brincadeira ── deixou um sussurro escapar.

── Chegaram na hora certa pra ver o espetacular mega strike da Olivia ── Felix ironizou. ── Ah, é. Antes que eu me esqueça, Ester, esses são os outros caras da banda. Jisung e Minho.

Ambos acenaram brevemente, sentando-se logo depois.

── Eu só fico na parte técnica e de produção, sem essa ── disse o de cabelo roxo que ela imaginou que fosse Minho.

── Porque o Christopher não deixa a gente ter dança para você brilhar ── disse Jisung.

Clichê ou não, a garota sentiu um olhar pesar sobre si e já imaginava de onde este vinha. Olhou na direção do acastanhado que ainda se mantinha de pé e percebeu seu rosto inexpressivo enquanto a encarava.

Estaria ele chateado por ela não ter ido ao ensaio?

Chateado é uma palavra muito forte. Talvez com raiva. Ou só estivesse pensando na próxima piadinha para fazer Estelle se sentir constrangida na frente de desconhecidos.

Ela não sabia há quanto tempo estavam se encarando; ele em pé e ela sentada ao lado de Seung em um dos vários bancos ao redor da mesa retangular. Só percebeu que ainda estava no planeta Terra quando escutou o grito extasiado da amiga e ambos olharam para ela, vendo sua animação ao ter todos os pinos derrubados. Parecendo acordar para a vida, bateu palmas junto com os outros.

── Eu sabia, essa é a minha irmãzinha.

── Cara, corta essa. Pode me dar meus quinze dólares ── Seungmin estendeu a mão e Jisung começou a rir.

── Mano, você apostou que sua irmã ia errar, seu sem coração?

Felix revirou os olhos enquanto pegava a carteira e Olivia voltou ao grupo sem entender o motivo de tantas risadas. Pobre Liv.

── Diz aí, quem vai agora? ── Minnie perguntou enquanto guardava seu precioso dinheiro.

Ester rapidamente desviou a atenção para o restante dos lugares ocupados, fingindo não ouvir a pergunta.

Mas nem todos deixaram de entender o gesto.

── Que tal a senhorita sabe-tudo?

O suco que bebia quase voltou para o copo.

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٫ ⊹ ❪ 𝗦𝗣𝗔𝗖𝗘 ≀ ⁺ ˒ . ◠ 𝗂𝗇𝗍𝖾𝗋𝖺𝖼𝗍𝗂𝗈𝗇 。. ゚

oi, galerita, fanfic nova no pedaço! aposto que metade do pessoal aqui veio lá do tiktok, finalmente trouxe isso pra vocês.

◠ depois tirem um tempinho para ver a tradução de malibu – miley cyrus, é exatamente para "me amarro na sua onda" se prestarem atenção. até a próxima!

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