Mazza, o corvo com presas

Com seus olhos verdes e triangulares, Mazza se via um pouco diferente dos outros pássaros do Reino das Aves. Enquanto os outros pássaros possuíam bicos, Mazza tinha presas afiadas que os assustavam. Enquanto os outros pássaros cantavam canções alegres, Mazza sussurrava melodias melancólicas que faziam pensar. Enquanto as outras aves ganhavam suas penas coloridas aos poucos, Mazza trocou todas as suas penas de uma vez só.

Como Mazza não possuía asas, demorou para aprender a voar com seu corpo pesado. Ele observava as outras aves deslizando pelos céus com leveza enquanto ele se esforçava para dar seus primeiros saltos. Mas, com o tempo e muita persistência, aprendeu a voar até tocar os céus, mergulhar nos rios profundos e escalar montanhas tão altas que pareciam tocar as nuvens. Seu pai adotivo, o Corvo-Branco, sempre lhe dizia:

— Os corvos são diferentes, Mazza. Só continue. — Dizia ele, dando uma leve bicada em sua cabeça. — Há corvos pretos, brancos, de três olhos, de três patas e até corvos que não sabem o que são. Então, o que é um corvo com presas entre tantos corvos diferentes?

As estações passaram, e chegou o momento de migrar para conhecer novas terras. Mazza, o Corvo Com Presas, estava nervoso com a ideia de deixar o que conhecia para trás.

— Não tenha medo, meu filho. O mundo é tão vasto e belo quanto você permitir que ele seja. — disse o Corvo-Branco, com um sorriso tranquilo.

E assim, Mazza voou. Ele atravessou céus estrelados e nuvens tão fofas quanto algodão. Cada nova visão o fazia esquecer um pouco do medo: campos dourados, rios que brilhavam sob o sol, montanhas cobertas por um tapete de árvores verdes. Mazza sentia-se pequeno, mas também cheio de possibilidades. Até que, um dia, uma tempestade apareceu.

Os ventos uivavam, os relâmpagos riscavam o céu, e o granizo caía como pedras. Mazza lutou com todas as suas forças contra o caos. Seu corpo doía de tanto serpentear contra a tempestade, seu coração batia forte, mas ele não desistiu. Por fim, exausto, deixou-se cair, flutuando até pousar em uma clareira.

Quando abriu os olhos, viu que não estava sozinho. Um gato prateado e peludo o encarava, com olhos brilhantes como a lua. Ao lado, uma tartaruga negra e musculosa piscava com curiosidade, e um cervo branco, sem galhada, mastigava grama tranquilamente.

— Onde estou? — perguntou Mazza, confuso.

O gato prateado deu um longo bocejo e respondeu:

— Você está aqui.

— Aqui? Que lugar é esse? Qual reino? — Mazza olhou ao redor.

A clareira era tranquila e mágica. Um lago azul-safira brilhava no centro, cercado por pinheiros altos. Flores coloridas e frutos doces espalhavam-se pelo chão, enchendo o ar com um perfume encantador.

O gato prateado riu, lambendo as patas.

— Aqui é onde você está, Serpente-Que-Voa.

— Não sou Serpente-Que-Voa! — respondeu Mazza, erguendo o corpo. — Eu sou Corvo-Com-Presas.

— Ah, é? — o gato inclinou a cabeça. — Para mim, você parece mais uma Serpente-Que-Voa. Mas se você diz que é um Corvo-Com-Presas, então é isso que será. Eu sou o Gato-Lobo, aquela tartaruga é o Veloz Super Sônico, e o cervo... bom, ele é só o Cervo. Ele nunca disse o nome, e acho que não se importa.

Mazza olhou para os três, intrigado.

— Vocês são diferentes... Eu não sabia que gatos uivam, nem que tartarugas são rápidas, e que os cervos... O que os cervos fazem?

O Cervo olhou para Mazza, despreocupado.

— Faço o que sinto que devo fazer: corro, como grama, salto, tiro um cochilo após a comida e acho que só. O que os Corvos-Com-Presas fazem?

Mazza não sabia o que responder. Ele abaixou a cabeça, pensativo.

— Eu... eu só fazia o que as aves faziam. Nunca pensei no que eu queria fazer.

O Gato-Lobo soltou um uivo alto, quebrando o silêncio.

— Não precisa decidir isso agora.

Nos dias que se seguiram, Mazza viajou por vários lugares sempre voltando para a Clareira. Ele sentia-se diferente a cada dia, mas era um diferente bom, um diferente que o fazia sorrir.

Certa tarde, enquanto observava o lago, o Gato-Lobo sentou-se ao seu lado e perguntou:

— Então, Corvo-Com-Presas, sabe onde está agora?

Mazza olhou para a clareira, para os reflexos dançando no lago, e respondeu com um sorriso:

— Pode me chamar só de Mazza e eu estou onde devo estar.

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