Capítulo 6
Os únicos domínios masculinos que a Bia conhecia, eram o quarto do irmão, sempre bagunçado e fedendo a chulé, e o quarto do Diego, arrumado e cheiroso. A verdade é que ela nunca tinha ido de surpresa na casa do namorado e ele devia arrumar tudo antes de ela chegar.
O apartamento do garçom era um meio-termo. Sem contar o tênis perto da porta, que ganhou a companhia da sua sandália assim que ela entrou, um chinelo no canto da sala e uma camiseta jogada no encosto do sofá, tudo estava limpo e organizado, e o único cheiro era o do mar entrando com a leve brisa pela janela.
Ela beliscou só a batata, que ele tinha colocado num prato com um monte de ketchup do lado, e deixou o sanduíche todo para ele, que devia estar faminto depois da noite de trabalho. Eles comeram em silêncio, sentados no sofá de dois lugares que mal cabia na sala minúscula junto com o móvel da televisão.
O garçom lhe deu uma olhada de lado e a Bia foi transportada para uma versão alternativa da história da Chapeuzinho Vermelho. Uma em que o Lobo Mau levava a menina para a casa dele, eles dividiam as guloseimas e ele cogitava fazer dela a sobremesa. Ela quase engasgou com o peso daquele olhar e se afastou um pouquinho mais no sofá. Os dois tentaram pegar a mesma batata, as mãos se encostando por acidente, e a sensação de ter levado um choque fez a Bia recolher o braço rapidamente.
Quando ele foi levar os pratos e os copos para a cozinha, ela tentou ligar de novo.
— Eu desisto. — Ela jogou o celular dentro da bolsa ao continuar sem resposta. — Eu tô melhor, você pode devolver a minha chave.
— Onde você mora? — Ele sentou no sofá, e o ar se movimentou numa carícia contra a pele dela.
— Na Barra.
— Você pode até estar melhor, mas não o suficiente pra dirigir até a Barra. — Ele sacudiu a cabeça.
— Você deve estar cansado e querendo dormir. Eu me viro.
— Você pode dormir aqui, de boa — ele ofereceu, e antes mesmo que ele terminasse a frase, ela já negava com a cabeça. — Os seus pais vão entender. Eles vão achar melhor do que receber um telefonema dizendo que você deu de cara num poste.
— Não é isso, eles não vão se preocupar.
Era verdade, eles pensavam que ela estava com o Diego, e a Bia já tinha dormido na casa dele outras vezes, no quarto de visitas, claro. A mãe dele não aceitaria de outro modo.
O Diego.
Ela ficou de pé num pulo, era exatamente por causa dele que ela precisava ir embora.
— Escuta, obrigada, você foi super legal, mas não tem obrigação de ser minha babá. Sério, eu tô bem.
— A gente faz um teste — o rapaz propôs. A Bia inclinou a cabeça, esperando. — Se você passar, eu devolvo a sua chave. Se não, você dorme aqui. E relaxa, você vai dormir no meu quarto e eu fico com o sofá.
— Eu aceito. — A Bia estalou os dedos e se preparou. — Pode mandar.
— Junta os pés — ele pediu. A Bia esperava por perguntas e respostas, mas atendeu, disposta a arrasar no teste e ir embora. Ela ignorou a tristeza que apertou seu estômago ao entender que aquilo significava nunca mais vê-lo. — Agora, braços abertos pro lado. Faz um quatro com as pernas.
Como assim?
Seu rosto deve ter entregado sua confusão porque ele ficou de pé e mostrou o que queria. Ela estudou a perna dele dobrada na frente da outra e riu.
— Só isso? — a Bia debochou do teste super difícil, só que não, mas foi só tirar um pé do chão e seu corpo começou a tombar para o lado. Ela o apoiou de novo.
Não, ela estava indo muito rápido. Ela se concentrou e fez uma nova tentativa.
— Droga — ela xingou quando quase caiu e o rapaz começou a rir. Talvez, fosse melhor com a outra perna. — Para de rir, você tá me atrapalhando!
Ele obedeceu.
A Bia se concentrou, pronta para comemorar porque o tornozelo dela estava quase, quase, quase chegando no joelho, quando ela percebeu que se inclinava perigosamente para o lado. Duas mãos fortes a impediram de se esborrachar. Ela desistiu, caindo na gargalhada.
— Reprovada. — O dono das mãos esquentando sua cintura sorriu. — Você não devia beber. Você é fraca demais.
— Eu quase nunca bebo. — Ela deslizou as mãos de leve nos braços musculosos que a apoiavam. — Eu tô tendo...
— Uma péssima noite — ele terminou por ela, e a Bia riu mais ainda, porque, de repente, a noite não estava mais tão ruim. Quer dizer, tinha começado horrível, mas desde que aquele desconhecido tinha resolvido cuidar dela, as coisas melhoraram consideravelmente.
— Tá certo, eu fico — ela concedeu. Ele soltou sua cintura devagar e se afastou prestando atenção se ela não ia cair. Ela aproveitou e se jogou deitada no sofá. — Mas eu fico aqui.
— Nada disso. Você vai ficar mais à vontade lá dentro. — Ele tentou segurar as mãos dela.
— Você é muito grande pro sofá. — Ela tentou se esquivar, rindo e batendo nas mãos dele.
— Eu sou o dono da casa, você tem que fazer o que eu mando. — Ele tentou ficar sério, mas não aguentou e acabou se juntando às risadas dela.
Ele tinha um sorriso lindo.
— Eu sou visita, você tem que fazer tudo pra me agradar.
Ele conseguiu segurar os pulsos da Bia e começou a levantá-la. Ela tentou fazer força para trás, mas não era páreo para ele e quando percebeu que estava perdendo, ficou em pé no sofá e o olhou de cima. As mãos dele voaram para sua cintura novamente.
— Eu te levo no colo, se precisar — ele ameaçou, com aquele meio sorriso canalha no rosto e os olhos escuros e brilhantes. A Bia nunca tinha visto olhos tão quentes antes, cor de chocolate derretido.
— Tudo bem. — Num impulso, ela se jogou nos braços dele.
Ele a pegou no ar, surpreso, e a segurou com facilidade. Ela se agarrou aos ombros fortes e envolveu as pernas na cintura dele.
— Eu sempre quis fazer isso. — Ela jogou a cabeça para trás, numa gargalhada.
— É sempre assim? — A voz dele ficou séria, de repente. — Quando você ri?
— Assim como? — A Bia parou de rir também, afinal o cara estava debochando da sua risada.
Eles estavam na mesma altura e deu para examinar a expressão dele de perto. Não, não era deboche. Ele a olhava como se tivesse acabado de desvendar um mistério muito especial.
— Como se o sol estivesse dentro de você.
Os dois se encararam por segundos que se esticaram e aumentaram a tensão na sala a um nível quase insuportável. Ele se aproximou devagar, mas desistiu. A respiração dos dois era praticamente uma só, e ele fechou os olhos, numa luta clara contra si mesmo. Aquilo precisava acontecer, era como se a Bia fosse morrer se ele se afastasse, e se ele não queria tomar a iniciativa, ela tomou coragem pelos dois.
Os lábios dele receberam os dela da mesma maneira que os braços tinham recebido o corpo, com surpresa e facilidade. Ela se agarrou a ele ferozmente, fazendo cada segundo contar porque a qualquer momento a realidade iria se intrometer.
Ainda não.
A Bia nunca tinha sido beijada com tanta fome. Ela também estava faminta pelas mãos dele, pelo fogo se espalhando na pele dos dois, pela língua que dançava com a dela num ritmo louco e delicioso.
Só mais um pouco.
Ele sentou no sofá e as mãos que antes estavam preocupadas em segurá-la, se sentiram livres para ir passear por onde quisessem. A Bia se ajeitou e deslizou as unhas compridas de leve pelo couro cabeludo dele, e ganhou um gemido, e só por isso, ela fez de novo. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos e começou a separá-los.
Não, não, não...
— Bia... — O nome saiu rouco, raspado pela garganta. — Bia, não.
— Não? — Ela o olhou, implorando.
— Não — ele repetiu, com mais firmeza.
— Tudo bem. — Ela suspirou e deitou a cabeça no ombro dele. — Mas é que o seu cheiro é tão bom. — Ela correu a ponta do nariz pelo pescoço levemente suado e perfumado, uma mistura que a estava deixando tonta. — E a sua barba arranha tão gostoso. — Ela continuou pelo maxilar até chegar ao ouvido. — E eu queria tanto ver a sua tatuagem.
Ele deu uma risada fraca, e a afastou, com as mãos nos ombros dela.
— Como você sabe que eu tenho tatuagem?
— Você tem, não tem? — Ela deu um sorriso safado e foi recompensada com um aceno afirmativo. — Deixa eu ver?
— Só se você me deixar ver a sua — ele desafiou.
— Eu não tenho tatuagem. Por enquanto. — A Bia não saberia dizer se ele tinha ficado decepcionado ou aliviado ou os dois. — Serve piercing?
Os olhos dele se arregalaram.
— Piercing?
Ela levantou a barra da blusa e mostrou o umbigo, toda orgulhosa. Ele passou o polegar, suavemente.
— Quem diria que essa moça comportada tem piercing?
— Eu sou, não sou? Tão comportada! — A Bia voltou a se deitar nele. — Tem horas que eu não queria ser... Tem horas que eu queria ser... Só eu...
— Foi por isso que você fez o piercing? Pra se lembrar de não ser comportada?
— Foi. — Ela levantou a cabeça se sentindo borbulhar por dentro. — E pra trocar pela sua tatuagem. Anda, eu te mostrei o meu, agora você me mostra a sua.
— Essa frase ia funcionar melhor se eu tivesse falado. — Ele deu uma gargalhada, e desabotoou os primeiros botões da camisa branca do uniforme, abrindo o suficiente para mostrar a tatuagem.
Em cima do coração dele, tinha um desenho de um coração sangrando, atravessado por uma faca, envolvido por uma faixa com um escrito em letras pequenas que ela não conseguiu ler. A Bia passou os dedos, fazendo carinho. Será que o coração dentro daquele peito também estava machucado? A pele morena se arrepiou por baixo dos seus dedos.
— Você só tem essa?
— Você tem outro piercing?
— Não.
— Então, você só vai ver essa.
Os dedos dela voaram até os botões que ele não tinha aberto.
— Eu posso procurar — ela ameaçou e ele segurou os pulsos dela.
— Chega. Hora de dormir. — Ele tentou se levantar e a Bia se grudou nele. A distração tinha funcionado por alguns minutos, mas ela ainda estava enfeitiçada pelo beijo, e queria mais.
— Eu não tô a fim de dormir — ela reclamou.
Não, ela queria ficar acordada. Com ele. Será que ele não via que era primeira vez que ela se sentia realmente viva? Que cada célula e nervo do corpo dela vibravam por ele?
Ele também não queria dormir. O volume que ela sentia pulsando embaixo dela deixava óbvio. Se aproveitando da posição privilegiada, ela se movimentou contra ele.
— Puta que pariu! — Ele deitou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos, enterrando os dedos na cintura dela. Se para segurá-la ali ou afastá-la, não ficou claro.
— O seu amigo estava errado. — A Bia sorriu, feliz como há muito não se sentia, e deu mais uma reboladinha. — As suas partes funcionam direitinho.
— As minhas partes funcionam tão bem que elas funcionam até quando não deviam. — Ele tentou fazê-la parar. — Escuta gata, vai pro quarto e tranca a porra daquela porta. Agora!
Se ele tivesse pedido qualquer outra coisa...
— E se eu não for? — ela sussurrou e mordeu o pescoço dele, de leve.
— Você precisa. Você tá me deixando tonto. Você tá me deixando louco — ele falava rápido, como se estivesse a ponto de perder o controle. — Porra! Eu só consigo pensar que você não tá usando sutiã e eu tô muito perto de fazer uma merda...
Então, ele tinha reparado, né?
Por que facilitar para ele? Ela estava quente, com febre, delirando e não era possível que ele não estivesse sentindo a mesma coisa. Num movimento tão rápido quanto gracioso, ela segurou a barra da camisa e passou pela cabeça.
— Puta que pariu! — ele repetiu, e mesmo com toda a luta evidente para resistir à tentação, as mãos dele envolveram os seios dela.
A Bia podia explodir sentindo os calos e a aspereza contra a pele sensível, numa carícia delicada e enlouquecedora. Sua cabeça caiu para trás e ela arqueou as costas se oferecendo mais quando os polegares rodearam os mamilos e os apertaram de leve.
— Não para! — ela implorou, ao sentir as mãos se afastarem.
— A gente precisa. — Ele a abraçou com força. — Eu te prometi... Eu disse que você estava segura...
A Bia segurou o rosto dele com as duas mãos e mergulhou naqueles olhos de chocolate.
— Eu nunca me senti tão segura na vida.
Ele se rendeu e a Bia comemorou sua vitória sendo devorada por outro beijo. Uma luz vermelha piscava dentro do seu cérebro, tentando avisar, lembrar um detalhe importante, mas ele beijava tão gostoso...
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