Capítulo 25

Na noite seguinte, a Bia entrou no apartamento do Marcelo olhando a hora no celular, calculando quanto tempo faltava para poder ir embora.

Se pelo menos, o Lourenço estivesse aqui.

Não! Aquele pensamento não podia virar rotina. Ele tinha sido honesto sobre a falta de tempo, e ela tinha aceitado.

Além do mais, era difícil se ressentir com ele depois da tarde que eles passaram juntos. Uma sessão de cinema e um passeio pelo shopping de mãos dadas, conversando, sem nenhuma briga, discussão ou desentendimento, nem quando ele insistiu em pagar as entradas ou quando ela não o deixou contribuir com a pipoca e o refrigerante.

E o que estava para acontecer mais tarde... Era só no que ela conseguia pensar.

Seus motivos para não querer estar ali eram outros, o amigo do Marcelo que gostava de paquerá-la era presença garantida. O Diego também não ia perder a oportunidade de provocá-la. O Lourenço disse que ele tinha ido embora com a Simone logo depois da confusão entre eles, e não era difícil adivinhar o que o ex-namorado iria fazer para elevar sua irritação ao ponto máximo. E a Vivi.

A Bia não podia continuar o silêncio, não quando ela e o Lourenço eram oficialmente namorados. A noite prometia confusão e a Bia só estava lá porque era aniversário do Marcelo e a prima ia ficar muito pê da vida se ela inventasse uma desculpa.

— Você tá proibida de ir embora sem dar uns beijos. — A Vivi veio abraçá-la assim que a viu, e a Bia soltou um suspiro. Ótimo começo. — O Alê já perguntou umas quinhentas vezes por você, mas pode deixar que eu vou te ajudar a se esquivar dele até o Diego chegar. Você sabe que eu sou do time dele e...

— Vivi, a gente precisa conversar — a Bia a interrompeu antes que ela começasse a planejar seu casamento.

— Agora?

— De preferência. Tem algum lugar mais tranquilo?

— Não dá pra ser depois? Eu tô ajudando o Marcelo a receber o pessoal.

— Eu sei, e eu não ia pedir se não fosse importante.

A Vivi começou a concordar com um aceno de cabeça, mas a atenção dela foi atraída para atrás da Bia e ela franziu a testa.

— Não acredito que ele trouxe uma vadia!

A Bia olhou por cima do ombro e viu o Diego e a Simone entrando, abraçados. Ele era tão previsível.

— Isso é uma das coisas que eu tenho que te contar — a Bia disse, se preparando para o encontro que não seria agradável. Quando eles passaram direto, ela respirou aliviada. Não foi o caso da Vivi.

— Ei, qual é? Não cumprimenta mais? — ela gritou.

A Bia apertou os lábios. Claro que a marrenta não ia deixar uma provocação daquelas passar batido. O Diego deu meia volta e veio até elas.

—Tudo bem? — Ele deu dois beijinhos na Vivi e cumprimentou a Bia com um aceno de cabeça. — Vocês conhecem a Simone. — A Vivi não conhecia, nem fez questão de conhecer. — Cadê o Marcelo?

— Tá na varanda. — O olhar da Vivi pulou de um para o outro, tentando entender o motivo do climão.

— E você, Bia? — O Diego a olhou com ironia. — Veio sozinha? Ou o namorado tá ajudando a servir as bebidas?

A Simone foi a única que riu da piada tão engraçada.

— Deixa de ser infantil. — A Bia usou o olhar mais frio e cheio de desprezo que conseguiu. — E quem é você pra tentar diminuir alguém por causa da profissão? A única coisa que você faz é se aproveitar de ser bonito.

— Namorado? — A Vivi reagiu. — Ele tá falando de quem?

— Eu achei que vocês contavam tudo uma pra outra? — O Diego sorriu debochado, satisfeito por estar colocando a Bia na fogueira, de novo. — Dá licença, eu vou dar os parabéns pro meu amigo.

Eles mal tinham virado as costas e a Vivi já estava puxando a Bia pela sala.

— A gente precisa conversar.

— Agora? — a Bia ironizou.

A Vivi a levou até o que só podia ser o quarto do Marcelo. Ela a empurrou sentada numa poltrona e ficou em pé na sua frente, as mãos na cintura. Outra pessoa teria tremido nas bases, mas a Bia conhecia a prima há tempo suficiente para não se deixar intimidar.

— Me diz que o Diego não estava falando do Lourenço.

— Ele estava — a Bia respondeu, calmamente. — Eu e o Lourenço estamos namorando.

— Como? Quando? — A Vivi jogou as mãos para o alto. — Você falou que não ia ver aquele cafajeste nunca mais! E por que eu sou a última a saber?

— Senta aqui. — A Bia chegou para o lado e a prima se espremeu junto com ela na poltrona.

Ela contou tudo, começando pela conversa da quarta-feira.

— E não rolou uma rapidinha no banheiro? — A Vivi a encarou, incrédula.

— Não, não rolou — a Bia confirmou e passou para os acontecimentos da noite anterior.

— Você disse que não precisava ser namoro, e foi ele que insistiu. Você tem certeza que entendeu certo?

— Tenho. — A Bia revirou os olhos.

— Então, vocês estão namorando. E, claro, terminaram a noite na casa dele.

— Não, depois que a gente acabou de comer, eu deixei ele em casa e fui embora. — A Bia deu uma gargalhada quando a Vivi cruzou os braços com um grunhido, contrariada porque o Lourenço não agiu como ela esperava. — E hoje, nós fomos ao cinema, e não, Vivi, eu não fui pra casa dele depois. A gente não transa desde aquele domingo.

— Mas, você disse que vai se encontrar com ele mais tarde, com certeza vai rolar, não vai? — A pergunta dela veio como uma alfinetada.

— Depois que todo mundo for embora, vai rolar com você e o Marcelo? — A Bia já sabia a resposta. Os pais do Marcelo tinham ido passar o fim de semana fora para deixar o filho e os amigos à vontade. A prima não ia perder a chance.

— Claro! E eu nem vou beber que é pra não correr o risco de passar mal, mas você não pode comparar o Marcelo com o Lourenço. O meu namorado não é um babaca!

A Bia buscou a reserva de paciência que ela guardava especialmente para a Vivi.

— O meu também não é. Não, espera! — Ela não deixou a prima interromper. — Eu sei que você tem boas intenções, mas, Vivi, eu sou quem tem mais razão pra se sentir prejudicada com o que aconteceu. Se eu consegui superar, por que você não consegue?

— Bia, você nem lembra do que aconteceu.

— Eu me lembro do que aconteceu depois. O Lourenço é boa pessoa, ele tem os defeitos dele, mas quando a gente tá junto é tão bom. E eu não tô falando só de sexo. Ele me disse que eu sou um ímã pra ele, e eu percebi isso hoje. Quando ele tá comigo, eu tenho tudo dele, toda a atenção, todos os olhares, é como se não existisse mais nada no mundo. Eu tenho certeza que ele não tá se aproveitando de mim.

— Você tá gostando desse cara, de verdade. — A Vivi finalmente percebeu.

— Eu tô. — A Bia não conseguiu segurar o sorriso. — E você sabe porque você foi a última a saber? Porque eu não queria escutar você tentando me convencer que eu tô errada quando eu tenho certeza de que eu nunca fiz nada tão certo na minha vida.

Os ombros da Vivi caíram.

— Desculpa. — O arrependimento da prima deixou a Bia de boca aberta. A Vivi sempre teve um pouco de dificuldade em usar aquela palavra. — Eu não tenho sido legal com você. Se você tá me dizendo que o Lourenço não é um babaca, eu vou confiar no seu julgamento. Você nunca deixou de me apoiar em tudo, mesmo quando não gostava de algum dos meus namorados.

— Eu tenho certeza que você vai gostar dele.

— Por que você não chama ele pra vir pra cá?

— Eu falei com ele ontem, mas ele não quis. E não tem nada a ver com ele não querer conhecer vocês, ele só não tá a fim de festa depois de uma noite de trabalho.

— Tudo bem, a gente vai ter outras oportunidades. — O rosto da Vivi se transformou com um sorriso malicioso. — Agora, me deixa ver se você aprendeu direitinho.

Ela levantou e puxou a Bia com ela.

— A roupa tá boa. — A Vivi andou em volta da Bia, observando o vestido preto tomara que caia, com a saia rodada curta, e os sapatos de saltos super altos.

— Ainda bem, porque eu não ia em casa trocar.

— Depilação? — Ela levantou as sobrancelhas.

— Ontem.

— Ótimo. Calcinha nova?

— Eu fui naquela loja que você gosta no shopping depois que ele foi embora.

— Que cor?

— Preta. — A Bia apertou os lábios para não cair na risada, porque parecia que a Vivi estava levando aquela palhaçada a sério, e ela não queria correr o risco de irritar a prima logo quando ela tinha recuperado o bom humor.

— Vermelho também fica bacana em você. Camisinha?

— Ele tem.

— Não se esquece de usar, por favor!

— Eu não vou. — A Bia juntou as mãos como se estivesse rezando. — Um susto por vida é suficiente.

— Pronta você está, minha Jedai. — A Vivi deu uma gargalhada.

— Você e o seu namorado se merecem. — A Bia olhou para os pôsteres de Guerra nas Estrelas espalhados pelas paredes e se juntou às risadas dela com o coração leve.

Tinha sido mais fácil do que ela imaginou. Elas nunca tinham brigado seriamente e a primeira vez não seria por causa de namorado, mas a Vivi e o Lourenço eram duas partes importantes da sua vida, e Bia precisava que elas se encaixassem.

— Você ainda vai me ajudar com o Alê? Ele é legal e tudo, mas não é nele que eu quero dar uns beijos.

— Tô sabendo o que você quer dar. — A Vivi abriu a porta e quando a Bia passou por ela, levou um tapa no traseiro. — Quem vai ficar decepcionado é o Marcelo, ele estava adorando a ideia do melhor amigo dele com a minha melhor amiga, sair os quatro juntos, essas paradas.

— Ele pode ficar amigo do Lourenço.

— Vai ser o jeito.

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