Capítulo 24
— Diego, se você veio encontrar com as meninas, elas estão sentadas naquele canto. — A Bia apontou na direção de onde ela tinha acabado de vir e retomou o caminho da saída.
Apesar da promessa do Diego de telefonar, eles não se falavam desde a conversa no seu quarto e interagir com ele naquele momento, era tudo o que ela não queria. Infelizmente, ele era teimoso e persistente.
— A Simone me disse que vocês vinham pra cá. — Ele segurou o braço dela. — Você tá indo embora?
— Eu tô com dor de cabeça. — Não era mentira, uma pequena pontada do lado da sua testa começava a lhe incomodar.
— Eu vim porque eu sabia que você ia estar aqui.
— Por favor, Diego, outra hora a gente conversa?
— Aconteceu alguma coisa? Você tá tremendo.
— Não aconteceu nada. Eu só preciso ir embora.
— Eu vou com você. — Ele a soltou e colocou a mão na parte de baixo das costas dela, a empurrando suavemente para a porta. — Eu te levo em casa, ou a gente vai pra um lugar mais calmo e conversa.
— Não! — Ela deu um passo para o lado, se afastando. — Sério, eu prefiro ir sozinha.
— Bia...
— Você não tá escutando ela dizer que não? — o Lourenço interrompeu o que o Diego estava prestes a falar.
A Bia colocou a mão por cima do estômago se revirando e soltou um suspiro frustrado. A ira do Lourenço era tanta que ela podia sentir o corpo dele vibrando perto do seu. Aquilo não ia acabar bem.
— Tá beleza, cara. — O Diego mal se dignou a olhar para ele. — Eu e a minha namorada nos entendemos sozinhos.
— Namorada? — O Lourenço deu um passo de lado e virou a cabeça.
— Eu não sou namorada dele — a Bia se explicou para um, e se virou para o outro. — Eu não sou sua namorada.
— E o garçom precisa saber disso, por quê? — Foi a vez do Diego levantar as sobrancelhas, sem entender nada.
— Porque ela é minha namorada — o Lourenço esclareceu por ela.
— Eu também não sou sua namorada. — A raiva da Bia por ele ter praticamente a expulsado do bar ainda não tinha passado.
— Agora eu tô sacando aquela parada de conhecer melhor. Tá ganhando tempo pra escolher? — O Lourenço jogou a acusação na cara dela.
Se ele estava querendo o troféu de 'o mais imbecil da noite', tinha acabado de ganhar.
— Na verdade, eu tô pensando em ficar com os dois — a Bia disse, entre dentes. — Você nos fins de semana, e ele nos outros dias. Tá bom pra você?
— Bia, por que você tá dando ideia pra esse cara? — O Diego a puxou para o lado dele. Ela tropeçou e, antes de recuperar o equilíbrio e achar uma justificativa que não fosse esquentar mais os ânimos, ele entendeu tudo sozinho. — Claro, o desfile! Foi você que se aproveitou dela quando ela estava bêbada!
Ele partiu para cima do Lourenço, mas a Bia se enfiou no meio dos dois e colocou a mão no peito dele.
— Fala mais alto que as pessoas lá da rua não te escutaram. — A Bia não sabia se tentava acalmá-lo ou brigava com ele. — E isso não é da sua conta, não se mete.
— Claro que é da minha conta, você era minha namorada. — Ele segurou o braço dela e tentou tirá-la da frente do Lourenço, ela firmou os pés no chão e resistiu.
— Mas não sou mais, e ele não sabia.
— Eu sei me defender sozinho. — O Lourenço pegou o outro braço dela e também tentou afastá-la, mas o Diego não a soltou e ela ficou presa entre os dois. — Da próxima vez, você pensa duas vezes antes de largar a sua namorada bebendo sozinha a porra da noite toda. Ela merece coisa melhor.
— Você, por acaso? — o Diego ironizou.
— Dá pra me soltar? — A Bia bateu os pés no chão, mas, como se tivesse sido combinado, os dois intensificaram o aperto nos seus braços.
— Que confusão é essa? — A voz do Shrek foi um alívio para os ouvidos da Bia. — Quem vai sair?
— Eu! — ela se ofereceu. — Pede pra esses dois me soltarem e me põe pra fora, por favor?
— Biatriz com 'i', eu sabia que você era encrenca. — Ele deu um sorriso e colocou uma mão no ombro de cada um dos rapazes. — Vocês escutaram, a moça não quer ninguém segurando ela.
O Diego atendeu, mas o Lourenço, confiante por conhecer o Shrek, ignorou o pedido.
— Você vai com ele? — Ele a puxou para perto dele.
— Sério? É isso que você pensa de mim? Que eu vou me jogar nos braços do primeiro que aparece a cada discussão?
— Não. — A voz dele perdeu a agressividade e ele a soltou.
— Por que não? — o Diego se meteu na conversa. — Foi assim no sábado passado, não foi?
— Eu não me joguei nos seus braços! — A Bia cuspiu as palavras.
— Mas você também não fugiu deles. — O Diego deu um sorrisinho de lado.
Cara, ele merecia uma surra e, se fazer barraco fosse seu costume, a Bia poderia dar uma nele ali mesmo. E ela duvidava que os dois seguranças juntos fossem capazes de impedi-la.
O Lourenço a olhava magoado, mas ela não se deixou comover. O beijo que ela tinha aceitado do Diego não era nada perto do 'cuidado' que ele tinha tido com a mulher que levou para casa.
— Vamos? — O Shrek pôs a mão no ombro dela.
— Vamos — a Bia concordou, cansada. Ela tocou de leve a manga da camisa dobrada do Lourenço. — Se você estiver a fim de ouvir a explicação, me liga, amanhã.
Ele concordou, com um aceno de cabeça.
— E eu? — o Diego perguntou. — É assim que você vai me tratar agora?
A Bia chegou bem perto e encostou a ponta do dedo no peito dele, falando baixo, mas deixando toda a sua raiva tornar sua voz a mais ameaçadora que conseguiu.
— A gente não é nada um do outro e eu não devo nada pra você. E eu pensava duas vezes antes de tirar satisfações com ele. — A Bia levantou o polegar na direção do Lourenço. — Ele vai quebrar a sua cara e a Vera não vai gostar nem um pouquinho.
Ela virou as costas e saiu do bar, esfregando os braços avermelhados pelos apertões dos dois. Ela ignorou o tchau da Fiona, não era culpa dele que o Lourenço não gostou de vê-la antes da hora, mas ele não precisava ter ido fofocar na primeira oportunidade.
A Bia pegou o caminho de casa com um gosto amargo na boca. A noite, que tinha começado promissora, estava terminando com outro desentendimento entre ela e o Lourenço.
Num impulso, ela entrou no mesmo posto de gasolina da semana anterior. Ela não precisava de combustível e foi até a loja de conveniência e comprou uma água. E um saquinho de batatas. E uma barra de chocolate.
A noite de Copacabana não gostava dela. A única vez que ela voltou para casa sorrindo, foi depois da tarde que passou com o Lourenço. Não. A culpa era do bar. Toda vez que ela tinha ido lá, a situação saiu do seu controle e foi na direção oposta do esperado.
Será que não era algum tipo de sinal de que ela devia desistir? Sempre que ela e o Lourenço davam um passo à frente, eles davam dez para trás logo em seguida, e quem iria aguentar aquilo por muito tempo?
O único problema era que a Bia nunca tinha baseado suas decisões em sinais. E se ela não tivesse ido ao bar, ela não conheceria o Lourenço, que foi a melhor coisa que aconteceu com ela nos últimos tempos.
Então, se Copacabana, o bar, as estrelas ou sei lá o quê, estivessem tentando dar algum tipo de aviso, ela ia mostrar que suas decisões eram mais poderosas.
Além disso, ela tinha se prometido não fugir no primeiro problema. Ela ligou o carro e saiu do posto decidida. A noite estava longe de acabar e não era hora de voltar para casa.
A vaga na porta do prédio parecia estar à sua espera. O Lourenço ficou mais de três horas em pé na chuva. Duas horas sentada no carro iam ser moleza, ainda mais com um saco de batatas e uma barra de chocolate para lhe fazer companhia.
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A batida no vidro acordou a Bia, que demorou alguns segundos se orientando até lembrar porque estava dormindo no carro. O relógio no console marcava duas e vinte, e o rosto do Lourenço a encarava sério do lado de fora da janela. Ela passou a mão pelo queixo checando se não tinha babado e pelo peito, limpando os farelos de batata, antes de abrir a porta e sair.
— Você não ia pra casa?
— Eu ia. — Ela sentou no capô, penteando o cabelo com os dedos. — Mas ir pra casa te xingando tá virando uma tradição que eu não quero continuar.
— Eu sei que eu devia dizer que dormir no carro, sozinha, a essa hora é vacilo, mas você não imagina como eu tô feliz por você ter ficado. — Ele estava com as duas mãos no bolso, se balançando para frente e para trás.
— Isso quer dizer que você vai parar de ser babaca?
— Você precisa aprender uns xingamentos mais pesados, babaca é muito pouco. — Ele coçou o lado do olho. — Desculpa, pelo jeito que eu falei com você, e pelas coisas que eu falei. Você não merecia.
— Não merecia mesmo! E eu não vou pedir desculpas por ter ido no bar, eu não acho que eu fiz nada de errado.
— Não, você não fez. Eu é que sou um filho da puta do caralho. — Ele deu um sorriso. — Eu avisei que eu ia fazer muita merda até aprender.
— Você não vai poder usar essa desculpa pra sempre. — Ela segurou a manga da camisa dele e o puxou para perto. Ele veio, e o alívio dos dois se misturou no abraço apertado.
— Mas, hoje, eu posso?
— Hoje, você pode. — Ela buscou os lábios dele, precisando da confirmação que aquela bobagem tinha acabado. Quando os dois se separaram, ela quis esclarecer tudo de uma vez. — Eu não fui no bar te vigiar.
— Tô sabendo.
— Então, por que você ficou tão irritado?
— Se põe no meu lugar, Bia. Quando eu te conheci, você estava bebendo naquele mesmo bar, irada com o seu namorado porque ele não estava te dando atenção. Como você acha que eu me senti?
— Nada a ver. — Ela balançou a cabeça, veemente. — Eu já te disse que eu fiquei sozinha enquanto o Diego estava desfilando, numa boa. O meu problema foi ele me ignorar, depois. Eu sabia que você ia estar ocupado e não queria nenhuma atenção especial. Além do mais, eu não estava sozinha.
— Tem isso também, uma mesa só de mulheres bonitas. — Ele passou a mão no rosto dela. — Você é um ímã pra mim, a minha atenção ia ficar grudada em você, claro que ia dar ruim com o primeiro mané que tentasse te passar uma cantada e eu ia perder o meu emprego por bater num cliente.
— Eu sou capaz de cuidar das minhas cantadas sozinha. — Ela revirou os olhos. — Do mesmo jeito que você cuida das suas.
— Saber, é uma coisa, ver é outra. Vai me dizer que você não ia ficar pilhada se você visse uma mulher dando em cima de mim?
— Claro que ia! — Só de imaginar ela já estava pronta para esganar alguém, e ela deu a vitória a ele. — Tá combinado, então, eu não vou mais te atrapalhar no seu trabalho.
Ela ganhou um beijo por ser uma menina tão compreensiva.
— Tá a fim de ir comer alguma coisa? — ele convidou.
— Você não trouxe comida? — Ela esfregou o rosto no dele, sentindo a barba raspando.
— Eu não estava com fome.
— Eu achei que você sempre estava com fome?
— Quando eu disse isso, eu não sabia que brigar com a minha namorada me deixava sem fome. — Ele levantou o dedo e a impediu de falar. — Não tem jeito, é assim que eu penso em você. Você não é minha amiga. Isso é mais que ficar. E pra ser minha amante, você tinha que ter mais de quarenta anos e estar num daqueles filmes em preto e branco. Então é namorada e pronto.
O sorriso da Bia foi ficando maior a cada frase.
— Por mim, tudo bem, eu não tenho nada contra ser sua namorada. — Podia ser mais rápido do que ela queria, mas fazer o quê? Na sua cabeça, ele também já era seu namorado.
— Vamos? — Ele a ajudou a descer do capô. — Eu não recebi a lista, mas tô lembrado do primeiro item. E você aproveita e me conta porque aquele playboy acha que pode te chamar de namorada.
Ele abriu a porta do carro para ela e, enquanto ele dava a volta para entrar, ela deu uma risada, feliz, porque quem se deixava levar por sinais ia para a cama triste, e a sua noite não podia estar terminando melhor.
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