Capítulo 23

A Bia virou de costas para o espelho, dando a última checada na mini saia preta super curta e no top estampado, bem larguinho e decotado. Ela ia encontrar com as amigas da faculdade, mas seu fim de noite era do Lourenço e foi por causa dele que ela escolheu a roupa ousada.

Como tinha imaginado, ele não era o tipo de cara que mandava mensagens toda hora e fazia mil ligações, mas ele tinha ligado nos dois últimos dias, no intervalo entre um trabalho e outro, e naquela sexta-feira, eles combinaram de se encontrar na hora em que ele saísse do bar.

Na discussão do grupo das amigas para escolher onde ir, a Bia sugeriu o bar de Copacabana. As meninas gostaram da ideia e a Bia matava logo dois coelhos, não precisando perder tempo dirigindo pra lá e pra cá.

Depois de retocar o batom e dar uma borrifada extra de perfume, ela pegou o celular e a carteira para guardar na bolsa. Ela tinha uma mensagem da Vivi.

Vivi: Tem festinha na casa do Alê, o amigo do Marcelo q ficou te paquerando no Leblon. Bora?

A Bia mordeu o lábio. Aquele era o único porém na bolha de felicidade em que ela tinha passado a viver desde seu último encontro com o Lourenço. Ela tinha começado a falar o nome dele aqui e ali, para os pais e o irmão irem se acostumando, mas ainda não tinha contado nada para a pessoa que era sempre a primeira a saber de tudo.

Não era difícil prever como seria. A Vivi ia abrir o discurso contra o Lourenço, a Bia ia defendê-lo, ninguém ia convencer ninguém e a discussão só serviria para acabar com aquela sensação deliciosa que a envolvia por causa do novo relacionamento. Ela não poderia se esconder da Vivi por muito tempo, mas queria proteger aquilo mais um pouquinho.

Bia: Eu já combinei com as meninas da faculdade

Vivi: Se mudar de ideia me avisa q eu mando o endereço

Bia: vlw, bjs

O estacionamento do bar estava lotado de novo, mas daquela vez, a vaga que a Bia arrumou na rua foi mais perto e ela não precisou correr, porque não estava atrasada.

— Biatriz com 'i', você chegou cedo. — O Shrek a recebeu com um sorriso. — O Lôro só sai mais tarde.

— Eu vim encontrar umas amigas. — A Bia apertou a mão dele e da Fiona.

— Ele tá sabendo que você vinha? — a Fiona perguntou com um ar de desconfiança que pegou a Bia de surpresa.

Ela não tinha contado para o Lourenço que ia se encontrar com as amigas lá porque queria fazer uma surpresa, não tinha passado pela sua cabeça que ele podia não gostar.

— Ele sabe, quer dizer, eu tô chegando mais cedo do que a gente combinou, mas eu não vou atrapalhar o trabalho dele.

— Você acha, né? — Ele deu uma risada sarcástica.

— Para com isso. — O Shrek balançou a cabeça para o companheiro de trabalho e abriu a porta para a Bia. — Não liga não, menina. Ele gosta de se meter onde não é chamado.

A Bia fez exatamente aquilo, não ligou e entrou no bar deixando as insinuações do segurança do lado de fora. Ele devia estar achando que ela ia atrapalhar o esquema do Lourenço levar meninas para casa, sem saber que os dois estavam juntos e aquilo era coisa do passado.

As colegas da Bia tinham juntado duas mesas e um garçom, que não era o Lourenço, apareceu e pegou seu pedido assim que ela se sentou. Quando ele se afastou, ela correu os olhos pelo bar à procura da razão do seu coração estar batendo como um louco, mas não o achou no meio de tantas pessoas. A menina sentada do seu lado a puxou para perto.

— A Simone tá vindo — a Júlia avisou, falando baixinho. — Foi a Claudinha que chamou.

— Fazer o quê? — A Bia suspirou contrariada. A tensão entre ela e a Simone tinha atingido um nível insuportável desde o encontro na chuva, e, com certeza, ela ia aprontar alguma quando visse o Lourenço, mas era tarde demais. — Se ela se comportar, eu me comporto também.

O suco de laranja da Bia chegou pelas mãos do mesmo garçom, outra menina se juntou ao grupo, e ela estava tendo dificuldades em se concentrar na conversa, com uma aflição nervosa que não a deixava se sentar quieta na cadeira até que, finalmente, uma voz grave falou no seu ouvido e derramou um monte de arrepios pelo seu corpo.

— Vem comigo?

A Bia não conseguiu segurar o sorriso ao vê-lo e ficou ainda mais feliz por ele querer alguns minutos sozinho com ela.

— Eu também quero ir... — A Júlia fez biquinho.

— Sinto muito. É exclusividade minha — a Bia se gabou e foi andando atrás dele.

Sério, ela estava desenvolvendo alguma espécie de obsessão com traseiros masculinos, ou melhor, com um traseiro masculino em específico. Ela não conseguia desgrudar os olhos daquela bundinha redondinha que continuava deliciosa, mesmo coberta pela calça preta do uniforme de garçom.

Ele a levou até o corredor que ia para os banheiros. Escurinho e pouco movimentado. Quem sabe não dava para roubar uma apalpadinha de nada?

— Quando o Antônio disse que você já tinha chegado, eu achei que era sacanagem com a minha cara. — Ele se virou para ela e cruzou os braços.

Para quem esperava matar as saudades com um beijo, a rispidez na voz dele foi como um tapa na cara.

— Primeiro, quem é Antônio? — Ela se recuperou em tempo recorde e contra-atacou. — E por que sacanagem?

— A Fiona — o Lourenço explicou. — Por que você veio mais cedo?

— Eu te disse que eu ia sair com as minhas amigas antes de me encontrar com você. — Ela baixou a voz quando uma menina passou em direção ao banheiro. — Qual o problema?

— E é uma coincidência fudida você ter vindo se encontrar com elas logo aqui? — Ele não estava preocupado com audiência porque continuou no mesmo tom alto e agressivo.

— Óbvio que não é coincidência, eu achei que não ia ter problema te esperar aqui. — A Bia tentou se explicar, sem entender porque tanta confusão.

— Você acha que eu vou acreditar que você não tá a fim de me vigiar?

A ofensa foi tão gigantesca, que ela deu um passo para trás.

— Eu não sei em que ponto de tudo que aconteceu entre a gente até agora, você achou que eu era controladora e pegajosa, mas você tá errado! E pode parar com o piti, eu já tô indo.

Ela virou as costas, mas ele a impediu de andar, segurando seu braço.

— E você vai pra onde?

— Eu devia dizer que não é da sua conta, porque eu também não gosto que me vigiem, mas eu não me importo que você saiba, eu vou pra casa.

— Isso quer dizer que você não vai voltar mais tarde?

A Bia precisou rir da pergunta idiota.

— Claro que eu não vou voltar. Você gastou menos de um minuto pra estragar a minha noite.

— E você vai bloquear o meu número de novo? — Ele tentou esconder a insegurança, mas a Bia viu.

Ela respirou fundo, buscando se acalmar, apesar de ainda estar confusa e magoada com a reação desnecessária.

— Não, eu não vou. Mas é melhor conversar amanhã, depois que a gente se acalmar.

— Você tá certa.

Ele a soltou e a Bia foi em direção à mesa. Uma pequena parte dela esperou que ele a seguisse e pedisse desculpas, dizendo que tinha exagerado e mudado de ideia, mas ele não foi. E para coroar a noite, a Simone tinha chegado e estava sentada na sua cadeira.

— Pode ficar — a Bia disse, quando ela começou a se levantar, e pegou sua bolsa do encosto. — Eu vou embora.

— Deixa de ser ridícula, Bia — a Simone zombou. — Eu não mordo.

— Eu não tô indo por sua causa. — A Bia revirou os olhos e jogou vinte reais em cima da mesa. — Pro meu suco, o resto fica pros dez por cento.

Ela se despediu das outras meninas com um aceno e passou por entre as mesas de cabeça baixa, as mãos fechadas com tanta força que suas unhas estavam enterradas nas palmas. Ela realmente não tinha sorte naquela droga de bar!

Quase na saída, ela deu um passo para o lado, evitando um encontrão com alguém que entrava.

— Bia?

Ela parou ao ouvir seu nome e encarou os olhos verdes que a fitavam satisfeitos.

Merda!

Seus problemas estavam só começando.

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