Capítulo 13

A Bia voltou a si, afundada no colchão pelo peso do Lourenço e com a respiração ofegante dele no ouvido.

— E eu que achei que não podia ficar melhor — ele murmurou antes de lhe dar um beijo tão carinhoso, que o coração dela se apertou e se expandiu.

Ele se separou dela, mas não pôde ir muito longe na cama de solteiro apertadinha, e se ajeitou de barriga para cima, retirando a camisinha e a colocando no chão. A Bia estava sem palavras, então, simplesmente, se deitou no peito dele, satisfeita, enquanto ele fazia as pontas dos dedos passearem com leveza pelo seu corpo, num carinho tranquilo, para desacelerar.

Talvez, fosse hora de ir embora? Ou será que era como nas festas, extrema falta de educação sair logo depois de comer?

Ela quase riu com a analogia ridícula, e só conseguiu se segurar para não ter que se explicar para o Lourenço. Não que ela quisesse ir a lugar nenhum, porque estava muito gostoso ali, deitada com ele, pele com pele, as pernas entrelaçadas, no silêncio confortável da tarde preguiçosa de domingo. E o Lourenço estava tão relaxado quanto ela. Se ele não parecia estar com nenhuma intenção de sair da cama, ela ficaria um pouco mais. Ele com certeza saberia dar a entender se sua presença passasse a ser incômoda.

Uma brisa entrou pela janela, e com a claridade que escapou pela cortina esvoaçando, a Bia conseguiu ver melhor a tatuagem. No desenho do coração sangrando, transpassado por uma faca, dentro da faixa que o envolvia, ela leu o nome.

Alícia.

Quem seria a mulher que machucou o Lourenço e o que ela fez para arrancar sangue do coração dele?

A Bia contornou a tatuagem com a ponta do dedo e esperou. Ele continuou calado e ela engoliu a pergunta. Quer dizer, ela era curiosa como todo mundo, mas preferia quando as pessoas lhe contavam as coisas espontaneamente. Se o Lourenço não falou nada era porque não queria que ela soubesse, e ela respeitaria a privacidade dele.

Além do mais, havia outra dúvida que a perseguiu nas últimas semanas e aquela era uma ótima oportunidade para esclarecê-la.

— Posso te fazer uma pergunta?

Se ela já não tivesse desistido de perguntar sobre a Alícia, o teria feito naquele momento. O Lourenço retesou todos os músculos do corpo e parou com o carinho. Definitivamente, um assunto a ser evitado.

— Claro — ele respondeu com a voz apertada.

— Naquele outro dia que eu vim aqui, eu andei de elevador?

Ele soltou uma risada, voltando a relaxar.

— De onde veio essa pergunta? — Ele segurou seu queixo e a obrigou a olhar para ele.

— Do pouco que eu me lembro, o que tá me deixando mais confusa é isso.

— Mais do que ter transado pela primeira vez com um cara que você nem sabia o nome?

— Tudo bem. Segundo lugar — ela concedeu, o rosto queimando. — Mas, é verdade? Eu andei de elevador?

— Quando a gente chegou, você disse que não ia entrar num elevador que tinha duzentos anos. Eu pensei que era drama, pra chamar minha atenção, e subi sozinho, crente que quando você percebesse que eu não tinha caído, ia subir também. Você começou a demorar, e eu morri de medo de você ter sumido bêbada, sozinha pela rua. Eu te achei sentada na escada do prédio, chorando. A gente conversou, você se acalmou, eu te convenci a subir e você veio comigo. De elevador.

A confirmação do que ela desconfiava, fez o ar deixar seus pulmões num longo suspiro. Era verdade, então. Pelo menos, agora ela sabia que se um dia andar de elevador fosse caso de vida ou morte, ela só precisava beber quatro vodcas.

Ou da companhia do Lourenço.

Não, claro que não. A culpa foi do álcool.

— Tinha mais de dez anos que eu não entrava num elevador.

— Você ficou presa? — Ele voltou a acariciar suas costas.

Não era uma história que ela contava para todo mundo, mas ela não se importou com a pergunta e nem pensou em dizer que não queria responder. E não se incomodar em se abrir com ele deveria ter assustado a Bia, mas não foi o caso.

— Quando eu tinha seis anos, quase sete, eu briguei com o meu irmão e resolvi fugir de casa. A gente morava no último andar de um prédio de doze andares. Eu esperei a empregada se distrair e saí escondida. Em plena descida, eu pensei que se eu fosse embora, eu também nunca mais ia ver minha mãe e meu pai, e quis voltar, mas claro que quando eu apertei o botão do meu andar, o elevador continuou descendo. Eu comecei a apertar todos os botões e, de repente, o elevador parou e ficou tudo escuro.

Aquilo tinha acontecido há tanto tempo, mas o terror de achar que estava recebendo um castigo de Deus por estar fugindo de casa e que ia ficar presa para sempre, ainda fazia o coração disparar. O Lourenço passou o braço pela sua cintura e apertou.

Ela respirou fundo e continuou.

— Eu só me lembro de gritar muito. Ninguém sabe direito quanto tempo eu fiquei presa, mas não passou de quinze minutos. Os porteiros me tiraram de lá desmaiada. O médico explicou que me desligar da realidade foi a maneira que a minha cabeça achou de me proteger do pânico. Mesmo agora, sabendo que foi um curto-circuito no painel causado por mim mesma, eu não consigo entrar num elevador.

Ele deu um beijo na sua cabeça.

— Tá explicado porque você se pendurou no meu pescoço e ficou com os olhos fechados o tempo todo, resmungando alguma coisa que eu não consegui entender. Eu achei que era uma desculpa pra me agarrar.

— E era — a Bia brincou, quebrando a seriedade do momento. — Eu acabei de inventar essa história, pra disfarçar.

— Você não precisa de desculpa pra me agarrar, gata. — Ele virou de frente para ela e a beijou.

As carícias, que antes eram calmas, voltaram a acordar seu corpo, e já que ela não precisava de desculpa, se agarrou a ele. Ele roçou o quadril nela e não era possível que ele estivesse pronto para outra?

— Eu sempre ouvi dizer que o homem precisa de um tempo pra se recuperar?

— É verdade, e tem mais de dez minutos, tempo suficiente. E eu já estava pronto antes, mas não quis interromper a sua história emocionante.

— Idiota — ela xingou, sem se chatear com a brincadeira.

Parecia haver um acordo implícito entre eles de que aquela tarde era para ser leve, divertida e explorar a química incrível que existia entre os dois, e não para conversas que acabariam por deixar um dos dois constrangido. A única coisa intensa permitida ali era o sexo. E naquele quesito, eles tinham tirado nota máxima.

Eles voltaram a se beijar e em poucos minutos só o que importava era que a Bia já estava tão pronta quanto ele. Ardendo. Pulsando. Enlouquecida.

— Eu quero você de novo, princesa. Você tá dolorida? — a pergunta sussurrada foi seguida pela mão invadindo o sexo dela, escorregando devagar até a penetrar com um dos dedos.

— Lourenço! — ela gritou. Como podia ser tão gostoso? Ela rebolou o quadril. — Nem um pouco dolorida... Eu também te quero de novo.

Ele a largou e abriu a gaveta da mesinha de cabeceira, pegando outra camisinha.

Quantas ele tinha lá?

Não. A Bia não ia enveredar por aquele caminho que não levaria a lugar nenhum. E ao invés de se obcecar com uma coisa que ela não podia controlar, ela tomou o pacotinho da mão dele.

— Posso colocar?

— Você sabe como?

— Ahã. — Ela se sentou no espaço apertado entre o Lourenço e a parede, e escorregou a ponta da embalagem pelo peito e barriga dele. E sem saber de onde vinha a ousadia, confessou. — Uma vez, eu vi um vídeo de uma menina colocando a camisinha no homem, com a boca.

Aquilo tinha acontecido depois que ela escutou, sem querer, uma conversa do irmão com um amigo, e o garoto, desesperado, contando como o preservativo tinha estourado porque ele não tinha colocado direito. No auge dos seus dezesseis anos, a Bia achou que não seria ruim se ela aprendesse a maneira correta de se colocar uma camisinha, para referências futuras, óbvio, e foi consultar o sábio dos sábios, o Google.

Entre algumas instruções sérias e muita sacanagem, ela tinha se deparado com o tal vídeo. Na época, tudo pareceu meio vulgar e nojento, mas também, o que se esperar de pornografia na internet?

Mas ali, com o Lourenço, ela foi tomada por uma vontade irresistível de experimentar.

— Você quer? — Os olhos dele se escureceram e ele colocou as duas mãos atrás da cabeça. — Porque eu sou totalmente a favor.

Ele parecia um banquete à sua disposição e, com o estômago cheio de borboletas, ela umedeceu os lábios em antecipação. A Bia não tinha como comparar o tamanho dele com outros caras. O que ela podia dizer, era que tudo no Lourenço combinava. Ele era lindo. Perfeito.

— Só isso, ou posso tentar as outras coisas que ela fez também? — Ela continuou escorregando o pacote da camisinha, subindo pelo pênis ereto da base até a ponta.

Ela não parou para pensar no que se oferecia para fazer e nem de onde vinha a coragem. Sem vergonha funcionou muito bem da primeira vez e ela iria continuar seguindo o conselho dele.

— Puta que pariu, gata! — Ele agarrou um punhado de cabelos dela. — Você pode qualquer coisa. Agora, menos falatório e mais ação. Se você não se comportar, eu retribuo o favor.

A Bia sorriu com a promessa e se comportou da pior maneira possível.

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