Capítulo 1 || Mateo King
Meu motorista reduziu a velocidade do carro e de maneira oculta me permitiu olhar para a mulher loira de um 1,70 de altura que ganhou não somente uma data especial do meu ano, mas um espaço exclusivo na minha agenda.
Ellie ganhou todos os segundos bons que passei longe do prédio da King e do legado que levantei quando abandonei ela sozinha, nas ruas de São Paulo para correr atrás de um lugar melhor não somente para mim. Eu queria a oportunidade de dar o mundo para ela. Sempre pensei na minha menina de olhos claros e sorriso encantador.
Como Ellie ficou depois que não voltei do restaurante onde sempre íamos juntos buscar comida? A uma parte escondida de sua vida que meu dinheiro nunca foi capaz de pagar para desvendá-lo e isso me incomoda muito mais do que os milhões que estou perdendo apenas por passar alguns minutos olhando para o sorriso que não sai de seus lábios ao olhar novamente para a fachada de seu novo restaurante, um sonho de garota que ela sempre me contou em suas histórias nos dias frios onde não tínhamos cobertores ou um lugar seguro para dormir. Um sonho que ela compartilhou comigo... um sonho que ajudei ela a conquistar. Mesmo que em segredo.
"Um restaurante grande... onde nenhuma criança ou adulto vai passar fome, Theus"
Theus... nunca Mateo, era nosso apelido secreto junto com a música que usávamos para correr quando fosse preciso, o nosso sinal de perigo. E mesmo assim eu a abandonei sozinha naquele dia, com fome e frio porque a chuva molhou nossos cobertores e alagou a casa abandonada que servia de refúgio para nós.
Ellie Delacroix foi abandonada novamente pela única pessoa que acolheu seus medos. Entrei naquele carro com o coração bagunçado e cheio de inseguranças. Aquele dia mudou minha vida em um curto espaço de tempo, mas não o dela. Ellie continuou morando nas ruas? Alguém acolheu minha borboleta de asas escuras? Durante muito tempo tranquei minhas emoções e me obriguei a esquecer a garota que detém uma parte do meu coração. Usei a saudade que senti de seus abraços para impulsionar meus estudos e crescer na empresa do meu pai.
A tantas coisas que desejo contar para ela sobre a minha vida, os lugares que visitei sem sua companhia. Como me tornei um amante de pedras preciosas e criei o anel perfeito para ela nas minhas horas vagas. Porque eu nunca fui capaz de esquecer o azul profundo de seus olhos e o cheiro doce de sua pele. Ellie foi meu amor de infância e agora, olhando para ela, ajudando-a a realizar um sonho que idealizamos juntos. Sei que esse sentimento apenas se intensificou com os anos.
Depois de 20 anos, ela conseguiu montar o seu bistrô numa das ruas mais calmas e bonitas de São Paulo, o movimento é suave e os pássaros cantam ao fundo junto com o sol que reflete em sua pele leitosa. Seu nome ilustra a placa colorida na frente do prédio de dois andares que comprei especialmente para ela em segredo. O nome Delacroix foi a única coisa que ficou com ela depois de ser deixada na porta de um orfanato, ela era apenas um bebe quando isso aconteceu e um de seus sonhos envolvia conhecer seus pais verdadeiros e descobrir o que os motivou a abandoná-la daquela maneira. Ellie nunca odiou seus pais verdadeiros, pelo contrário. Ouvi suas histórias inocentes sobre como sua mãe podia ser uma fada que precisou voar para uma missão longa e por isso precisou deixá-la para poder salvar o mundo.
"Theus? Talvez o meu papai seja um astronauta... já imaginou? Ele pode estar olhando para mim lá do altooo"
"Espero que um dia eles voltem, faz muito frio aqui..."
Naquele dia fazia 7 graus no centro de São Paulo e para evitar que ela ficasse doente, peguei dois lençóis que tínhamos conseguido de doações para moradores de rua algumas horas mais cedo e cobri seu corpo trêmulo com eles. Com uma pequena faca que achei no lixo, vigiava seu sono a noite inteira. Sabendo que alguma pessoa ruim podia entrar e machucá-la a qualquer momento. Eu nunca permitiria que algo assim acontecesse com ela... não com a minha Ellie.
E agora não nos conhecemos, mas, Ellie é a minha versão favorita do mundo e nunca mas soube sobre mim. Onde estive, o que aconteceu comigo aquela tarde. As estações mudaram, me tornei Mateo King. Filho de um dos maiores juízes que o país já teve e dos apertos de bochecha de Dona Eira King, minha mãe de coração.
Não ganhei apenas um lar há 20 anos atrás. Eu ganhei todo o amor do mundo e nunca serei capaz de agradecer a família King por isso, pelo homem que me tornei e por tudo que fui capaz de construir a partir disso.
Pagar uma bolsa de estudos secretamente para que Ellie conseguisse conquistar seus sonhos foi um passo arriscado. Quando consegui finalmente chegar até ela, muita coisa tinha mudado não somente na minha aparência. Com 18 anos e uma passagem comprada para estudar Administração em Harvard. Coloquei um amigo próximo a mim para negociar uma bolsa de estudos para Ellie na faculdade de gastronomia que ela quisesse. Ele entrou como fiador e até hoje aquele idiota é amigo dela.
Arthur Sant é a linha tênue que tenho com Ellie. E coincidentemente é a única pessoa que confiei perto dela e Ellie concorda totalmente com isso, porque atualmente é ele que está parabenizando-a pela inauguração de seu bistrô. Não o seu melhor amigo de infância, e sim, o homem que entrou na sua vida trazendo esperança e uma melhora significativa de vida. Foram 8 semestres ouvindo meu melhor amigo contando sobre suas conversas com a menina dos meus sonhos. E depois de algum tempo, ele a convenceu a abrir seu bistrô e começar a trilhar seus sonhos com uma pequena ajuda, MINHA!
Mas isso nunca será o suficiente para suprir o que eu fiz com ela. Eu abandonei Ellie sem pensar duas vezes. Não tinha mais espaço para mim no seu coração, porque fui covarde o suficiente para não abrir a boca durante os primeiros anos que passei na mansão King. Eu podia ter dito que tinha outra pessoa sofrendo nas ruas dessa maldita cidade, eu tinha que ter dito que Ellie segurou nas minhas mãos nos dias que pensei que algo ruim poderia acontecer conosco morando na rua. Se eu tivesse falado que a menina que passou três anos morando comigo dentro de uma casa abandonada, passando inúmeras dificuldades agora estava sozinha. Os King teriam aceitado acolher ela, sei disso porque conheço dona Eira e seu coração acolhedor.
Ellie abraça Arthur com carinho. Quebrando a expressão séria de homem de negócios dele, Arthur sabe que estou observando cada movimento que eles fazem porque ele me contou o exato horário que chegaria no restaurante de Ellie, era minha oportunidade de vê-la depois de um ano inteiro. Um ano conturbado pelo câncer que derrubou uma das mulheres mais incríveis desse mundo. A doença chegou devagar, no auge de seus 67 anos, dona Eira tinha uma saúde impecável para sua idade. O que fermentou as notícias ruins acerca disso, porque mamãe tinha uma missão antes de morrer: Ver sua filha verdadeira uma última vez. A criança que foi sequestrada de seu berço a duas décadas e que deixou cicatrizes na minha família de coração. Papai cantava uma pequena canção de ninar todas as noites para mim e quando cresci, descobri que Brenna dormia apenas com o som da voz dos dois cantando essa mesma canção. E mamãe continuou a plantar flores no seu jardim em homenagem às mães que perderam seus filhos tragicamente. Um pequeno símbolo do amor que Eira King tem pela vida, mesmo que essa tenha tirado sua única filha legítima a tantos anos.
Foi por isso que fui adotado por eles, porque nenhuma criança merece passar frio e fome pela negligência dos pais. No fundo do meu peito eu sei que eles se sentem culpados pelo rapto de Brenna. Porque nem mesmo a família mais rica do mundo podia prever o que aconteceu a tanto tempo atrás. Quando eles foram chamados de mentirosos pelos veículos de imprensa e o coração de Eira se tornou um buraco vazio, cheio de saudades de sua bebê.
Ellie se sentiu assim quando notou que eu não havia voltado? Ela sentiu como se o mundo tivesse roubado seu único amigo? Porque eu senti como se meu lar tivesse sido levado de mim enquanto saímos de São Paulo. Naquele dia conheci o meu quarto e lugar dentro da família King. Para um garoto que cresceu nas ruas e aprendeu a aproveitar até um simples pirulito, fiquei eternamente agradecido e ao mesmo tempo com medo do que poderia acontecer com Ellie.
Mas eu não falei sobre ela até encontrá-la quando fiz 18 anos e entrei naquele avião para seguir uma nova etapa da minha vida. Ellie finalmente tinha entrado no meu radar e eu faria o possível para mantê-la em segurança como eu não fiz anos atrás.
Quando o motorista começou a dirigir, passamos na frente de seu bistrô e sua dona animada que parou para olhar na direção do carro, posso jurar que ela olhou no fundo dos meus olhos atrás do vidro escuro do carro.
Apertei meu celular ao ponto de quebrá-lo tamanho a enxurrada de sentimentos e lembranças que passaram pela minha cabeça.
Ellie não era mais uma menina, ela agora é uma mulher. Uma mulher linda. E uma parte egoísta do meu coração grita que ela é minha! Minha!
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Chegamos oficialmente (Quem está ansiosa?)
Deixe seu voto e comentário no capítulo e indica o livro para sua amiga que ama um CEO delicioso e um Mafioso perigoso 😏
Até breve 🖤
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