ELE

Os mistérios de Mason Cooper
por Marshall Sullivan

A mente de Mason é um campo aberto e inexplorado, cheio de mistérios jamais desvendados.

É difícil entender como ele abomina bala de café, mas acampa na Starbucks toda manhã (e sempre pede a mesma coisa: Frappuccino Choco Chip no tamanho venti, com café, chocolate, chantilly, cobertura, xarope de baunilha, gelo e chocolate granulado).

Seu relógio biológico é regular, mas seu apetite parece seguir uma linha contínua de fome absoluta por carne grelhada com molho funghi.

Ele se diz fã de jujuba, mas detesta as verdes.

Ele tem uma pose meio erudita de quem sabe das coisas e anda por aí empunhando livros com títulos fortes como algo que define sua magnitude intelectual. A verdade é que ele lê a última frase de cada livro antes de começar a leitura, fica estagnado por três meses numa mesma edição e risca suas frases favoritas para a posterioridade com marcador de texto neon berrante.

Ele deixa um isqueiro em cada cômodo do seu dormitório e gosta de espalhar alguns na minha penteadeira para casos de emergência ou puro desespero. Eu os jogo fora secretamente, mas acho que ele já descobriu meu plano.

Sua parede é repleta por pôsteres de bandas da década de 80, enfeites com vinis e cordas empilhadas com CDs velhos; a única parte intocada e mantida com zelo em seus aposentos. Sua cama, por outro lado, é uma bagunça de lençóis e cheiros. É incrível como uma pessoa consegue organizar um painel de pôsteres por ordem cronológica, mas não consegue destrinchar a complexidade de dobrar uma roupa de cama.

Ele tem um mural abarrotado de citações famosas ao lado de sua estante.

Ele detesta o Batman, mas ama o Demolidor. Nutre certo sentimento de ódio pelas análises da psique do cavaleiro sombrio; o que, muitas vezes, gera discussões filosóficas pela madrugada, enquanto ele apoia o cigarro de menta nos lábios e encara o vazio. Bruce Wayne é o alter ego Batman ou o Batman é que é o alter ego do Bruce Wayne?

Faz diferença?

Ele tem uma mania irritante de falar sobre qualquer assunto como se fosse uma pessoa vivida e cheia de experiência, o que, em metade das vezes, não é o caso. Gosta de divagar sobre assuntos atuais que refletem na construção da sociedade, como ideologias de gênero, o controle israelense sobre as terras palestinas, a supremacia europeia e a visão eurocêntrica do mundo. Mas sempre que surge em pauta assuntos femininos, ele foge pro outro lado. "Menstruação" e "OB" são palavras que disparam os alarmes da sua mente.

Ele tem mania de lixar objetos. Mason tem o péssimo hábito de raspar palitos de dentes com a chave do carro e deixar um rastro de farpas em cima da colcha da minha cama. Suspeito que faz isso para me irritar.

Ele é um cinéfilo assumido. Metade das suas frases e divagações filosóficas são encenações de passagens dos seus filmes favoritos.

Ele é, sem sombra de dúvidas, péssimo em tentar decifrar minhas mímicas nos jogos. É como se tivesse alguma interferência na nossa conexão mental.

Ele tem sardas no nariz que pipocam no sol, o que o deixa muito bonitinho. Ele as odeia.

Ele tem gostos musicais estranhos. Gosta de ouvir músicas que ninguém conhece. Por exemplo, ultimamente ele anda viciado em músicas instrumentais medievais e está tentando aprender a tocar ukulele.

Antes de cursar Jornalismo, ele fez dois semestres de latim. Enquanto isso, a única coisa que eu aprendi no francês foi como dizer "eu odeio física".

Ele tem uma gaita, mas só sabe tocar uma única música.

Mason tem uma coleção de moedas de países distintos, guardada embaixo da cama, como troféu das suas extensas viagens de autodescoberta.

Ele consegue falar três idiomas (português, inglês e espanhol), mas não sabe entender o significado de um não.

Ele tem uma mancha de nascença com o formato da Irlanda na região do abdômen.

Apesar de bancar uma pose falha de garoto autossuficiente, Mason não consegue dormir com porta aberta, sejam elas quais forem. Gavetas, armário, porta do banheiro... Se há uma mísera fresta que permita a passagem de ar, ele já entra num estado lacônico de pânico.

Certa vez, durante uma aula de psicologia que eu cursei no terceiro semestre, adquiri Mason – secretamente – como um objeto de estudo. Até hoje ele ainda não sabe, mas eu o diagnostiquei com um quadro grave de alcoomania (mania de ingestão de bebidas alcoólicas) e calomania (mania em fantasiar ser possuidor de extraordinária beleza pessoal).

Ele tem duas tatuagens. Um mapa pequeno desenhado na costela com o excerto de Kerouac: "Não havia nenhum lugar para ir, mas todos os lugares"; e um lobo em aquarela, com um matiz de laranja e roxo, no ombro esquerdo.

Ele tem uma coleção de perfumes masculinos.

Acho que é bem provável que ele tenha alguma máfia de contatos para festas de fins de semana.

Mas, se você for perguntar a qualquer observador externo que acompanha a vida agitada desse garoto popular, Mason é apenas... Um cara. Um cara que está sempre ali, presente, sem qualquer acréscimo, cheio de sorrisos tortos e piadas infames. Uma companhia afável, mas impessoal.

Aliás, apesar de todos os poréns de suas manias e gostos, a maior contradição da sua vida é ele mesmo.

O antagonismo dos seus hábitos é a supressão das suas vontades. A antítese de sua personalidade é o seu fingimento. Mason está subjugado a uma prisão de aparências onde ele mesmo é o cárcere.

O maior mistério sobre ser Mason Cooper é não poder ser ele mesmo.

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