ㅡ Não posso acreditar. No pouquíssimo intervalo de tempo que conheci Jimin, entendi toda sintonia do amor de vocês, por isso fiquei em choque quando me procuraram dizendo que  o casal recém casado, já estar passando por dificuldades. ㅡ disse o reverendo Kelmon, que tinha por volta de trinta anos, não mais que isso. ㅡ Na verdade, o que podemos fazer de antemão, meus filhos, é nos reunirmos semanalmente depois do culto.

Jungkook pensou em como era contraditório receber conselhos do jovem padre, que praticamente cresceu ao seu lado. Eles estudaram juntos e se deram super bem, mesmo que Jungkook só falasse em desenhos e Kelmon mostrasse um certo fascínio pela vida eclesiástica. Jungkook era amigo do "garoto esquisito" que queria usar batina enquanto os meninos da sua idade contavam vantagens em espiar as meninas no banheiro da escola.

Provavelmente por isso que Jungkook não o via como padre, porque Kelmon era jovem demais para ser levado a sério.

ㅡ Eu não vou!

ㅡ Você nem mesmo tentou, Jungkook!

ㅡ Senhor Jeon, por favor... ㅡ apaziguou o reverendo, com sua infinita paciência.

ㅡ Não vou fazer terapia conjugal, não mesmo! Isso é ridículo... ㅡ resmungou Jungkook teimosamente, cruzando os braços.

ㅡ Parece que tirou tudo o que queria do relacionamento e agora desiste como um covarde! ㅡ pontuou o ex-professor. ㅡ O casamento é diferente de apenas uma noite, meu rapaz. Ou costumava ser... E deveria continuar assim! Na minha opinião, isso é questão de princípios!

ㅡ Querido... ㅡ Yuna murmurou, pedindo com o olhar cautela para o marido.

Ela estava no sofá, segurando as mãos do genro em apoio, enquanto Jin acompanhava com a mandíbula trincada o filho andando de um lado para o outro em uma pose totalmente birrenta.

ㅡ Aish! Porque está todo mundo brigando comigo? Ele é o culpado! ㅡ o arquiteto apontou o dedo acusatório na direção do loiro. ㅡ Foi ele que... que...

ㅡ Culpado do quê, filho?

ㅡ Foi ele que inventou de... de... Não me chame de "filho", temos a mesma idade, Kelmon! ㅡ protestou.

ㅡ É só uma expressão. Mas foi o que Jimin fez? ㅡ insistiu o jovem padre.

Jungkook começou a transpirar. Jimin até poderia ver dali a cabeça do arquiteto saindo fumacinha enquanto pensava.

ㅡ F-foi Jimin que inventou d-de sair com o ex-namorado e eventualmente dormir com ele. Pronto, falei! ㅡ forçou uma voz chorosa para dar ênfase a cena, mas precisou virar para a parede porque, por mais que tentasse, lágrima nenhuma saía. ㅡ Queriam os d-detalhes sujos, aí estão eles: Jimin foi para cama com outro homem enquanto estávamos casados!

Silêncio.

Um grande, profundo e mais constrangedor silêncio estacionou ali, apenas quebrado pelo tic toc incessante do relógio cuco.

O reverendo inflou as bochechas como bexiga, soltando o ar aos pouquinhos. Até mesmo o cachorro saiu dali de fininho, preferindo ir para sua casinha no quintal.

ㅡ Que coisa, não? ㅡ murmurou o religioso.

ㅡ Bom... É melhor esperarmos lá fora. Vamos, querido! ㅡ disse a senhora Jeon, empurrando o marido.

Seokjin bufou, resmungando:

ㅡ Isso está acontecendo porque o mimou demais.

ㅡ Ah, cala a boca! ㅡ a mulher retrucou, dando um beliscão nas costelas do marido.

A porta da frente bateu e assim que os três ficaram a sós, Jimin foi logo falando:

ㅡ Eu estava chateado!

ㅡ O quê?! ㅡ o arquiteto berrou.

Tudo cena.

ㅡ Não, Jungkook. Deixa ele desabafar. ㅡ pediu o reverendo.

ㅡ Jungkook me deixava em casa moscando o dia inteiro. Ele nunca permitia fazer nada do que eu tinha vontade.

ㅡ Seja mais específico, filho.

Jimin assentiu, choramingando.

ㅡ Como os cursos de arte. ㅡ o arquiteto espreitou os olhos, se concentrando na história improvisada. Ele continuava de pé, em frente a lareira, enquanto Jimin gesticulava com os olhos marejados, sustentando a pose de marido vitimado. ㅡ E às vezes eu quero ir ao teatro ou a praia, mas ele reclama das minhas coxas e bochechas rechonchudas. Então eu digo: "ótimo, farei aula de dança", entretanto ele diz: "não, não, é caro demais!".

ㅡ Não acredito nisso! ㅡ exclamou o arquiteto, dramático.

ㅡ Não, não... Desabafe, Jimin. Purifique seu coração. ㅡ incentivou o padre Kelmon.

ㅡ Como a faculdade de gastronomia, por exemplo. Ele não apoia!

Okay. Jimin era o rei do improviso, Jungkook admirava isso, mas ele também poderia acompanhar.

ㅡ E-e quanto as aulas d-de tênis? Você d-deixou de ir depois de três semanas! E as a-aulas de mergulho que me fez pagar adiantado o semestre inteiro e sequer concluiu?

ㅡ Claro! Você ficou implicando com minha roupa de mergulho!

ㅡ Hahaha, eu só disse que você parecia uma foca.

ㅡ Sério? E isso não é motivo para eu ficar ofendido?! Oh céus, meu marido é tão engraçado!

As olhos do religioso pulavam de Jimin para Jungkook e vice versa. Era difícil entrar no meio do fogo cruzado.

ㅡ Qualquer um parece uma foca com aquela roupa de borracha, Jimin. Eu disse aquilo, não só porque focas são estranhas e desengonçadas, mas porque também são fofas!

ㅡ Não importa. Eu não quero ser comparado com uma!

ㅡ Garotos, parem, por favor!

ㅡ O problema é que estou lendo, então você desmarca as páginas de propósito!

ㅡ E você deixa a toalha molhada em cima da cama!

Do lado de fora, Jin e Yuna sorriam um para o outro ouvindo a discussão fervorosa.

De certa forma, Jungkook e Jimin lembravam eles no início do casamento. Nada foi fácil, a verdade é que a vida conjugal era uma montanha russa que encaravam diariamente, mas estavam ali, trinta anos depois para contar que ainda se amavam muito.

[...]

ㅡ Vamos explorar esse processo complexo de viver no mesmo teto sem se estranharem a cada dez minutos por coisas irrelevantes.

Jungkook e Jimin balançaram a cabeça em concordância.

Não se sabe bem o que o religioso fez, mas o casal estava quietinho, sentado um ao lado do outro no sofá, de mãos dadas.

Ainda que a carranca dos dois fosse persistente.

ㅡ Jimin. Vamos trabalhar na ideia de fazer as atividades que citamos e concluí-las. Sem desistência! E você, Jungkook...

ㅡ Mas, Kel... Digo, padre Kelmon, eu não tenho dinheiro!

ㅡ Nem com a baita promoção que todos estão falando, hum? ㅡ perguntou o reverendo com um sorriso doce.

ㅡ Oh, sim, a promoção... ㅡ Jungkook estreitou os olhos para o loiro aparentemente angelical, batendo as pestanas longas.

Jimin só poderia suspirar agradecido por Jungkook não ter super poderes, senão os olhos do outro sairiam raios lasers no momento.

[...]

ㅡ Vejo vocês no ensaio do coral!

ㅡ Tchau, padre Kelmon! ㅡ Jimin acenou, saltitante. ㅡ Senhora Jeon, não se esqueça de me dar aquela receita de pudim! ㅡ gritou o loiro, vendo o carro dos pais de Jungkook sumir na próxima curva.

O moreno rosnou.

ㅡ A gente vai se encontrar sim, mas é no fundo do rio, onde seu corpo vai estar!

ㅡ Hahaha, pois crie penas e faça cocô na árvore, benzinho! ㅡ debochou furioso, marchando para dentro de casa. ㅡ E por que teve que falar da minha "escapada" com aquele sei lá quem?! Fiquei envergonhado, cacete!

ㅡ Ora bolas, f-fizemos um acordo!

Jimin se aproximou, estalando os dedos nas fuças do arquiteto.

ㅡ Mas isso não lhe dá o direito de denegrir a minha imagem! E minha reputação, como fica?!

ㅡ "Sua reputação"? Você é um artista em mentir! FOI VOCÊ QUE ME USOU!

ㅡ Não grite comigo! ㅡ o baixinho tremia furioso. ㅡ Só estamos fingindo ser casados, mas parece que o único a enganar alguém aqui é você, tirando vantagem com seu "amiguinho" Taehyung. ㅡ taxou, fazendo sinal de aspas.

ㅡ E EM TROCA DISSO VOCÊ EXTORQUIU UMA CASA MOBILIADA! ㅡ berrou quando o baixinho deu as costas, o deixando sozinho. Então completou: ㅡ E ainda quer fazer faculdade! Pelo amor de Deus...

ㅡ E AULAS DE DANÇA! ㅡ sibilou o loiro, levantando o dedo do meio antes entrar no quarto e bater a porta com extrema força.

É... pelo jeito alguém dormiria no sofá novamente.

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Oi? Foi mais curtinho esse capítulo, mas achei legal dividir aqui. Só teve DR e torta de climão, nem o Bam aguentou kkkkkkkkk

E vocês entenderam a referência? Padre Kelmon foi aquele "candidato padre" das últimas eleições kkkkk

Até a próxima,
xuxus!