O infiel 💍
— Preparado? — Jungkook já tinha estacionado o carro no meio fio. Ele olhou para a casa dos pais, antes de dar meia volta e abrir a porta para o então esposo.
O arquiteto fez questão de bancar o cavalheiro. Ele tinha certeza que os pais bisbilhotariam pela janela.
— Já nasci preparado, meu bem. — debochou o loiro, aceitando a mão que foi estendida para o ajudar a sair. Jimin aproveitou a deixa para pinçar o braço alheio. — O quê? Precisamos parecer íntimos. — chiou quando viu o outro ficar tenso.
Jungkook não disse nada. Ele ajeitou os ombros e caminhou pelo caminho de pedra.
Seus passos eram lentos, desajeitados. Ele pigarriou, colocando a mão na boca para falar disfarçadamente:
— Certo, mas esse é o limite. — sussurrou.
Não estava sendo paranóico. Todo cuidado era pouco. Seu pai tinha diploma em libras, consequentemente também era excelente em leitura labial. Sabia muito bem disso pois costumavam adivinhar o que os técnicos de futebol falavam para os jogadores quando o microfone não estava por perto.
— Limite? Como se eu fosse te beijar. Até parece... — Jimin bufou, imitando o gesto alheio ao falar com a mão em frente a boca. — Você se acha muito irresistível, não é, Jungkook?
— Não. Apenas estou alertando para não ter nenhuma troca de afeto em público. — concluiu.
— Hum... Então quando estivermos em casa, pode? — provocou, cutucando as costelas do mais velho.
— Só se comporte... benzinho. — advertiu, tomando alguns segundos para tocar a campainha na sequência. — É agora.
Na verdade não tinha como prever o que lhes aguardavam do lado de dentro, mas Jimin sabiamente repassou tudo, desde como se conheceram, até chegarem ali, em Dobb's Mill.
Só que na versão inventada, claro.
O loiro também arranjou um anel semelhante ao que usava e colocou no dedo do arquiteto. Bijuterias ele tinha aos montes, embora Jungkook não precisasse saber que aquelas eram alianças reais, que um dia ele já foi noivo de um idiota que o largou no altar.
Mero detalhe.
A porta abriu, mas eles não avançaram, até Yuna abrir os braços em gesto afetuoso.
— Oh, querido! Estou tão feliz! — ela abraçou Jungkook e respectivamente o esposo de seu filho. — Você se casou com um lindo príncipe!
— Também me sinto feliz, mamãe. — Jungkook conseguiu dizer sem parecer tão mentiroso, mas assim que Seokjin se aproximou confiante, com as mãos no bolso, pensou que não conseguiria levar aquilo adiante. — Como vai, papai? — cumprimentou, esperando um sermão como resposta.
Todavia, foi surpreendido com um largo sorriso, acompanhado de um abraço de urso.
Jin quase o levantou do chão.
— Oi, filho!
Jungkook se sentiu um pouco estranho. Seu pai nunca foi de abraçar ou demostrar esse tipo de carinho, mas isso o fez relaxar um pouco e acabou dando tímidas tapinhas nas costas do mais velho.
— Oh, meus meninos! — a mulher choramingou, abraçando-os também. — Venha, Jimin, venha! — chamou, fazendo o loiro se juntar ao abraço grupal.
Foi uma cena tocante.
[...]
O quintal da casa dos pais de Jungkook era cercado por madeiras baixas e brancas. Existiam diferentes tipos de flores no jardim, uma perfeita vista da varanda grande com cadeiras e banco de balanço.
Por hora, Yuna resolveu mostrar a Jimin suas hortaliças, para que pai e filho tivessem um momento a sós antes de servir o almoço.
— Por que fez isso, filho? — estavam na mesa de chá, do lado um do outro.
Foi uma boa ideia ter uma conversa antes de comer, na certa Jungkook se entalaria com a sobremesa na primeira oportunidade.
— E-eu... — tentou falar, mas Jin completou.
— Posso compreender. Jimin é um rapaz... diferente. Ele pode ser um pouco tagarela e extravagante, mas passei a apreciá-lo em pouco tempo. Posso ver o quanto ele te faz feliz, realizado. — apertou os ombros do filho. Jin não queria poupar elogios para o genro. — Jimin é muito bem-vindo aqui, filho. Se quer saber, gosto mais dele do que de Taehyung.
Jungkook mordeu a bochecha para não falar. Ele não concordava com o pai, Taehyung era perfeito em todos os aspectos.
— O problema foi o segredo, não compartilhar sua decisão. Eu não consigo deixar de pensar que faz parte das nossas desavenças.
— Pai, eu...
— Não, precisa dizer nada. Jimin já disse tudo por você.
— Mesmo? — Jungkook semi serrou os olhos para o loiro a poucos metros dali.
Jimin o encarou de volta, mostrando que estava atento quando seu nome foi citado.
— O que quero dizer... — o professor aposentado fez uma pausa para beber um pouco da limonada gelada. Era uma conversa difícil, mas necessária. — É que te perdoou, filho.
— O senhor me perdoa? — repetiu pateticamente, se perguntando qual parte da conversa ele perdeu.
— Siim. Não vou negar que fiquei aborrecido no passado. Primeiro você gasta toda sua poupança, depois se endivida para construir uma casa que sequer pretende morar. Então, além de ficar devendo o banco, paga um aluguel alto na cidade, tendo um emprego que não compensa todo seu talento. — balançou a cabeça, frustrado. — E ainda por cima, pediu em casamento a pessoa errada...
— Por favor, não começa, pai. — Jungkook se remexeu na cadeira, incomodado com o rumo da conversa. Aquilo não os levaria a lugar nenhum, aliás, da última vez trocaram farpas, romperam qualquer tipo de comunicação.
— Não vou falar nada, não se preocupe. — deu outro gole da limonada, forçando um tom mais ameno. — O importante é que finalmente criou juízo e começou a tomar boas decisões. Jimin, por exemplo. Além de ter entregue o apartamento e ter decidido voltar para cá de vez.
Jungkook fechou os punhos. Sua voz era de uma raiva contida, quando se dirigiu ao esposo fake:
— Jimin, você disse a eles que eu estava me mudando para cá?
— Hã... Deixe-me pensar.
Jin apertou novamente os ombros do filho.
— O que ele disse foi que você estava arrependido, que na semana passada até chorou. Mas tudo bem, filho, não há vergonha nisso. Só não exagere muito ou vai parecer um bebê chorão. — aconselhou.
— Só um minuto. — Jungkook se levantou fazendo o gesto para que o loiro o seguisse até a outra extremidade da varanda. Yuna se juntou ao marido para se servir da bebida gelada, mas claro, nunca tirando o foco do casal. — Você disse que eu sentia muito?!
O loiro tomou um segundo para escolher bem as palavras. Se Jungkook fosse uma bomba relógio, diria que ele estaria prestes a explodir, caso digitasse o código errado.
— Não grite, benzinho. Bom... você disse que sentia muito pela situação, lembra?
O loiro estava no modo "esposo-on". Jungkook entendeu o recado.
— Ah, sim. M-mas nunca disse que me livraria d-do apartamento!
— Filho, as intenções dele foram boas. — Jin interviu, se sentindo culpado por começar aquela faísca.
— Oh, claro, claro! As i-intenções dele são, realmente, as melhores. Não é, meu bem? — disse exasperado.
Sim, ele estava com raiva, mas não era de mentira. Jimin não tinha direito de se meter naquilo.
De certa forma, se sentiu traído.
Um silêncio pesado pairou ali. Então Jimin franziu as sobrancelhas, cruzando os braços. Ele também não gostou do tom de voz do outro.
Foi ofensivo aos seus ouvidos.
— Vai se catar, Jungkook! — resmungou por fim, dando as costas para o arquiteto.
— Estão vendo? Jimin é educadíssimo, um gentleman! — os Jeon se entre olharam sem graça por presenciar tal situação. — Pois bem... Mãe, pai... Bom, eu não queria dizer i-isso agora, mas é bom que vocês saibam q-que... — Jungkook puxou o ar nervoso, contudo em sua cabeça oxidada era o momento oportuno para dizer aquilo. — que Jimin e eu vamos nos separar!
— O quê?! — o loiro foi o primeiro a reagir.
Yuna colocou a mão no peito, se sentindo mal, mas foi amparada por Seokjin.
— Foi por esse motivo que ele veio para cá, para assinar os papéis da separação!
— Jungkook, o que você está dizendo? — Jimin o olhou em pânico.
— Vamos, papai, me dê um sermão! Diga: "Outra ação imatura do Jungkook"! — cuspiu as palavras, por fim indo embora.
O coração de Jimin apertou.
Como ele suspeitava, havia sim um exagero nas ações, mas tal desabafo foi uma descarga emocional contida, sabe lá por muitos anos. Por isso pediu sinceras desculpas aos pais de Jungkook e correu atrás do arquiteto, o alcançando já perto do carro.
— Por favor... Deixa só eu lembrar como se respira? — Jimin apoiou as mãos no joelho puxando o ar. Assim que se sentiu menos tonto, começou a falar devagar, procurando os olhos do outro. — Olha, eu errei, okay? Eu viajei quando comecei a achar que seria bom se reconciliar com seu pai. Errei com você, peço mil desculpas, Jungkook. Não foi minha intenção te magoar, mas não acho que devemos nos separar apenas por causa disso.
— Espera, aí... Nós decidimos nos divorciar por causa do Vitão!
— Não, senhor! Vim aqui para resolver as coisas e salvar nosso casamento. Vitão foi só um deslize, um caso apenas de uma noite, nada mais que isso.
Jungkook ficou pensativo, roendo as unhas.
O pior foi admitir que Jimin tinha razão.
— Você é bom nisso.
— Valeu. — deu de ombros.
— Então a gente volta lá e conserta as coisas? Isso seria péssimo, quebraria plenamente meu orgulho, não sei se consigo.
— Não, relaxa. — Jimin franziu o nariz, trocando o peso para o outro pé. — Melhor parecer que estamos realmente em crise. Tem ser tudo gradativamente.
O arquiteto mais uma vez concordou. Ele deu a volta para abrir a porta para Jimin e só depois entrou no carro dando partida.
Dentro da casa, Yuna pegava o telefone com Seokjin a encorajando. Estava ligando para um amigo pessoal, que sempre tinha bons conselhos para oferecer a casais em crise.
[...]
Uma semana depois.
— Amor, veja quem o Bam e eu encontramos no caminho.
Jimin se virou ainda com o quadro nas mãos. Ele teve a excelente ideia de revelar fotos e espalhá-las pela casa, assim dava mais ênfase a fantasia de que estavam juntos. Não que tivessem realmente tirado aquelas fotos, mas nada que um bom programa de photoshop não resolvesse.
— Oh, que surpresa. Olá, Taehyung! — disse com um sorriso forçado, deixando o quadro de lado para cumprimentar o mais alto. — Não sabia que também gostava de passeios matinais. — sem esperar qualquer comentário, se dirigiu a Jungkook. — Onde está o nosso cachorro?
— O prendi no quintal.
— Ual, que quarto lindo! Olha só esses móveis... Tudo parece brilhar aqui! — comentou o Kim, maravilhado.
— Eu tentei usar a luz natural justamente para dar esse ar mais esplendoroso, mas ao mesmo tempo acolhedor.
— Ficou perfeito, Jungkook.
Após isso, houve o mais absoluto silêncio.
Jimin estava teimosamente no meio dos dois amigos. Era palpável a animação de ambos para ficarem a sós, afinal fazia pouco mais de uma semana que não se viam.
As bochechas vermelhas de Taehyung e as pupilas dilatadas de Jungkook reviravam o estômago do loiro.
Por Deus, eles não conseguiam disfarçar?
— Já ia fazer uma vitamina de morango. Vocês querem?
— Eu quero muito. — o arquiteto lambeu os lábios vendo Taehyung cabisbaixo, escondendo o sorriso presunçoso enquanto colocava as mãos para trás, balançando o corpo esguio.
"Tão adorável que dá vontade de vomitar", pensou Jimin, revirando os olhos ao sair dali. Todavia, o loiro parou no portal, olhando por cima do ombro assim que escutou Taehyung dizer:
— Jungkook, você disse que iria me mostrar a banheira.
— Sim, você precisa ver como é grande! Cabem duas pessoas dentro.
— Mesmo?
— Lembro que uma vez me falou que adoraria ter uma?
— Estou indo, querido! — Jimin cantarolou.
— Certo, certo... Tchau. — resmungou, pouco se importando.
Jungkook tocou as costas do Kim e o conduziu até o banheiro da suite. O espaço era todo em mármore branco. Existiam duas pias feitas especialmente para casais. O boxe em vidro transparente era separado da banheira grande e retangular, diferente do designe pradrão americano. Afinal, foi tudo muito bem planejado pelo arquiteto, tudo minimamente pensado para agradar seu amigo/ex-namorado Kim Taehyung.
— Gostou da casa? Digo... ainda falta você ver o sótão e o quarto de hóspedes, mas estão vazios.
Taehyung balançou a cabeça.
— O pouco que vi já amei. Na verdade esses dias fiquei pensando sobre o que me disse sobre o Jimin... Err... dormir com o ex-namorado. — disse como quem não quer nada, sentando na ponta da banheira.
— Foi? — Jungkook murmurou distraído, "testando" as dobradiças da porta até fechá-la de vez.
Pena que não sabia onde estava a chave ou "testaria" ela também.
O arquiteto mexeu na torneira, apenas para ter o que fazer, depois fechou, se encostando na pia. Ele teve o cuidado de inflar o peito, cruzando os braços expostos pela camiseta de corrida. Assim seus músculos pareciam maiores do que eram na verdade.
Funcionou. Taehyung ficou visivelmente afetado.
— E o que pensou?
— Que, se ele caiu na tentação, dá para entender o porquê de uma coisa assim acontecer. É compreensível.
— Mesmo?
— Você não acha? — perguntou dando uma longa olhada no amigo dos pés a cabeça, para depois encarar o chão. Suas bochechas e orelhas ficaram vermelhas pela insinuação.
Taehyung não costumava ser assim. Ele não deveria, mas gostou da adrenalina.
— Talvez... — Jungkook engoliu em seco.
— Acho que deveria ser mais empático com ele e perdoá-lo. Afinal, Jimin é só um ser humano com falhas... E nós também, certo? — indagou, voltando a olhar o mais velho por cima dos cílios.
O arquiteto mal conseguia fechar a boca.
— Oh, vocês estão aí! — Jimin empurrou a porta e foi logo falando. Ele sorriu de orelha a orelha enquanto Taehyung se engasgava com a própria saliva, tamanho o susto que tomou. — O que foi, interrompi algo?
— Não, não... — Taehyung gesticulou, sua garganta queimando pelo esforço.
Ele se levantou, ajeitando o calção ao mesmo tempo que Jungkook fuzilava Jimin com o olhar.
No entanto Jimin se fez de desentendido. Ele se aproximou do moreno, ficou na ponta dos pés e enlaçou o pescoço do mesmo, batendo as bocas em um selar demorado.
Se Jungkook estava chateado, ele se desarmou. Tudo que pôde entender foram os lábios doces do menor, sugando sua sanidade.
Quando o loiro se afastou, ele continuou atordoado.
— Você está pegajoso, meu bem. Por que não tira essa roupa suada e toma um banho? — Taehyung fez um som surpreso, então Jimin completou de um jeito venonoso: — Mas de preferência sozinho, sem espectadores.
[...]
— O que foi aquilo? — Jungkook grunhiu assim que saiu do banho. Ele usava uma toalha para enxugar seus cabelos e estia apenas um roupão que encontrou no armário. Por sinal muito macio.
— Você é um banana, foi isso que aconteceu!
— Eu estava tendo um momento legal com o Taehyng e você estragou tudo!
— Pelo amor de Deus, não jogue a toalha molhada na cama! — ralhou o loiro, já pegando o pano para estender no varal.
— Por que me beijou, Jimin? — Jungkook não conseguiu desfazer a carranca desde que Taehyung saiu da casa, praticamente, correndo. E pior, se passasse a língua pelos lábios, ainda poderia sentir o gosto de morango. Não que tivesse feito isso... — Você faltou fazer xixi em mim para demarcar território! Qual seu problema?
Jimin concordou, colocando as mãos na cintura.
— Okay. Foi exatamente isso. Quanto mais você for cobiçado, mais atraente se tornará para aquele talarico magricelo. Não quer que nosso plano tenha cem porcento de sucesso?
— Quero. — murmurou, remexendo a mala para pegar uma muda de roupa limpa. Nem fazia sentido deixar as coisas ali quando tinha um quarto de hóspedes e um banheiro sobrando no final do corredor. — Aish, por que esse cachorro não para de latir?
— Ele fica agitado com estranhos... Caramba, temos mesmo visitas! — exclamou o loiro ao puxar as cortinas.
Jungkook foi até a janela que dava de frente a entrada, ficando atrás do baixinho.
— Mamãe e papai? — ele rapidamente reconheceu o carro estacionado, inclusive a terceira pessoa no banco de trás com o semblante calmo. — Padre Kelmon?!
É, pelo jeito Jimin e Jungkook literalmente ouviriam um sermão, mas agora vindo de um padre.
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Faltando 5 minutos para meia noite, então cumpri com minha promessa de postar no domingo! Só queria agradecer pelo carinho e dizer que estamos na metade da fanfic, xuxus.
Teorias?
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