O genro 💍
Jimin estava de pernas cruzadas, mas seu pé direito não parava de balançar um só segundo enquanto assistia os pais de Jungkook discutir.
Em resumo, o casal dizia o quanto o filho agiu irresponsavelmente, fazendo algo grande sem os consultarem.
O clima era tenso.
Por alguns minutos o loiro ficou ali, assentindo mudo ao mesmo tempo que varria os olhos pela sala mobiliada.
Ele viu uma foto em preto e branco de um bebê de olhos grandes, apontando para a câmera. Os traços lembravam Jungkook. Não que tivesse uma foto do arquiteto em seu arsenal para comparar, mas se gabava da sua boa memória fotográfica. Além do mais, a pintinha embaixo da boca entregava tudo, não precisava ser um gênio para juntar uma coisa a outra.
"Será que Jungkook tem irmãos?", pensou. Um marido de verdade contaria isso, falaria sobre a família... Então Jimin estava no escuro. Precisava ser cuidadoso e não falar bobagem, senão quisesse ir dali direto ao xadrez por invasão de propriedade e usurpação... Ou fosse lá como chamava a coisa toda.
— Sogro e sogra, do fundo do coração, peço desculpas! — começou. — Foi eu que me apaixonei perdidamente por Jungkook depois do nosso... Bem, depois que ele me fez um novo homem. Na noite que nós conhecemos, Jungkook agarrou meu... coração... e me pegou pelo... Não era coração que eu iria falar, mas enfim, são detalhes embaraçosos. O caso é que, de repente, eu acordei de manhã e descobri que não saberia viver sem ele! — Jimin molhou os lábios, desejando uma bebida gelada. — O casamento foi apenas uma consequência, mesmo que eu achasse que estávamos nos precipitando um pouquinho. No final, não envolvemos família, nem amigos. Só... sabe como é? A gente e o nosso amor.
Seokjin bufou.
Isso não era bom.
Jimin tinha certeza que a figura alta de suspensório e gravata borboleta, fosse um professor aposentado. Existiam diplomas e medalhas que enfeitavam a parede de papel floral. Além disso, uma placa pesada que servia como peso de papel dizia claramente: "Obrigado pelo bom trabalho, professor Jeon".
Sem contar na lousa móvel no canto da sala.
— De qualquer forma queria dizer que fizeram o homem mais generoso e amável do muuuuundo todo! — elogiou o loiro.
— Obrigado, meu jovem, mas não sei se estamos falando da mesma pessoa.
— Jin, por favor... — repreendeu a mulher pequena, levantando as mãos.
— Certo, certo. — ele virou as costas escondendo a carranca. — Minha opinião já sabem... Você tem alguma coisa a falar, Yuna?
— Eu... — os olhos dela ficaram perdidos pelo ambiente e então negou. — Só não acredito nisso.
— Não? — Jimin balbuciou com sua boca em um perfeito "o". Uma pitada de pavor começou a surgir.
Seria muito ridículo se fugisse pela janela? Ele mediu a abertura e cogitou que passaria com facilidade por ela.
— Não.
— Posso perguntar em qual parte não acredita, sogrinha?
— Que Jungkook poderia ser tão... insensível, iresponsavel!
— Aaaah... — Jimin relaxou automaticamente os ombros.
Já Seokjin estava cada vez mais alterado.
— É bem típico dele! Pelo visto o garoto não mudou nada! — sibilou contrariado. — O casamento é o quê? Uma piada para ele? Isso é o que eu queria saber... E isso vale para você também, mocinho! — de repente Jin mudou de alvo, apontando diretamente para Jimin. Ele pegou o giz em um pestanejar de olhos e começou a escrever no quadro, soletrando cada sílaba: — "O que os jovens de hoje pensam sobre o casamento?". — finalizou, sublinhando a palavra casamento e exagerando no tamanho do ponto de interrogação.
— Não quer que eu levante e escreva a resposta aí, né?
— Não! — o ex-professor largou o giz e limpou os dedos sujos de qualquer jeito na calça. Quando Jimin achou que o homem não falaria mais, ele perguntou: — Foi por causa do nosso desentendimento?
Jimin arregalou os olhos e confirmou lentamente.
Aquela informação não foi ideal, mas foi o bastante para ganhar mais terreno.
— Bom eu... — suspirou com uma tristeza comovente. — Eu não queria tocar nessa assunto, mas... sim. Embora Jungkook tenha se sentindo muito mal com tudo isso, senhor Jeon.
— Se ele sentiu algo, então disfarça muito bem! — zombou o homem com toda sua mágoa.
— Talvez seja porque você não fala mais com ele, querido! Admita, você é tão orgulhoso quanto aquele cabeça de vento!
Jeon Yuna não media palavras quando resolvia falar o que pensava, mas, apesar disso, era ela a principal apaziguadora entre pai e filho. Por esse motivo, foi só afagar as costas tensas do marido que o mesmo amoleceu.
— É ele quem nunca liga, nem vem nos visitar. — murmurou Seokjin.
Jimin continuou mudo, pulando os olhos de um para o outro.
Se ele saísse de fininho, eles nem iriam notar.
— Oh, Jin, não seja assim. Não fale o que estou pensando...
— Boa parte da culpa é sua. Você quem o mimou demais!
— A mesma ladainha de sempre! Ao menos eu estava presente na maior parte do tempo, enquanto você só se preocupava com a educação dos filhos dos outros!
Jimin grunhiu, precisava intervir.
— Ele falou disso outro dia... Tadinho, até chorou! Eu tive que fazer compressas geladas porque os olhos dele ficaram inchados... Foi de partir o coração.
— Ouviu isso, Jin?
— Ouvi sim, estou bem aqui. — retrucou com seu humor, embora também estivesse surpreso.
— Meu garotinho chorou... — a voz da jovem senhora embargou. — Por que não pega o telefone e liga para ele?
— NÃO! — Jimin gritou alarmado. — Quer dizer... Não acho que seja uma boa ideia. Ele entraria em negação, seria demais... Por que não me usam como intermediário? — sugeriu docemente. — Podem mandar um recado e eu passo para ele... por enquanto.
— Jin, querido?
— Bom, eu c-creio que... — o homem tentou falar, mas a voz tremia. Levou meio minuto para se recompor e dizer: — Diga a ele que, pelo amor de Deus, volte para casa!
— Oh, querido!
— Que lindo... — Jimin bateu palmas emocionado quando os Jeon se abraçaram. — Isso foi maravilhoso, família!
O loiro reconhecia que a maior parte do que falou não era verdade, mas se as mentirinhas fizeram aquele casal adorável se sentir menos retraído com o filho ausente, então ele estava fazendo o bem.
Então não iria para ao inferno, no máximo pegaria alguns anos de prisão.
[...]
— Só mais cinco minutos, hoje não tem aula... — resmungou, puxando o lençol. O pano pequeno descobriu seus pés sobre a poltrona reclinável. Houve outra batida e Jimin disse um inconsciente "entra".
— Estou entrando. — por um momento a mulher estranhou a porta não estar trancada, mas deu de ombros, na certa o outro havia esquecido. — Bom dia, Jimin!
— Bom dia, mãe do Jungkook... MÃE DO JUNGKOOK??? — Jimin sentou atordoado. A luz de fora passava com facilidade pelas janelas livres de cortinas, então foi uma verdadeira guerra abrir os olhos sem fazer careta. — Olá, senhora Jeon? — disse com a voz rouca, alisando o peitoral. Não sabia exatamente que horas eram, mas era cedo o bastante para não ter matado seu sono. — A que devo a honra da sua visita às... — com esforço conferiu o relógio de pulso. — Às nove horas da madrugada?
— Vejo que gostou da poltrona. — desconversou, dando uma boa olhada no espaço vazio.
— Sim... — Jimin bocejou. — Estava vendo qual o melhor lugar... Queria ligar a lareira, faz um pouco de frio à noite. — deu outro bocejo desleixado, se levantando de vez. — Por favor, sente aqui, senhora... Aish, essa claridade ainda vai me cegar.
— Oh meu Deus! — chiou a mulher, virando o rosto.
O loiro balançou as mãos no ar.
— É astigmatismo, não é contagioso.
— Mas eu deveria vir mais tarde...
— Tudo bem, eu já acordei. Posso fazer um café e...
— ... quando você estiver vestido apropriadamente. — completou.
— Ops! — puxou o lençol que havia esquecido no chão. Jimin cobriu seu corpo como pôde, obviamente não estava nu, usava uma cueca boxe azul, sua cor favorita, diga-se de passagem, mas para uma mulher puritana como Yuna era demais. — Posso explicar, foi um erro de cálculo ter roupas sujas acumuladas. Fui, praticamente, obrigado a lavar tudo de uma só vez ontem noite e graças a Deus que aqui tem máquina de lavar. Não é daquelas que sai com a roupa quentinha e seca, mas dá para quebrar o galho.
— Hum... Já posso olhar?
— Pode, sim. Desculpa, senhora Jeon!
Ela de fato virou, suas bochechas estavam vermelhas quando fez isso.
— Meu filho pelo menos tem bom gosto. — grunhiu baixinho, mexendo na mini bolsa que carregava.
— O que disse?
— De qualquer forma, vim deixar isso aqui. — estendeu um envelope.
— É uma carta de boas vindas? — o loiro tentou adivinhar. Não se espantaria se fizessem como à moda antiga, até gostava da ideia do papel e tinta fresca. Com a Era Tecnologica, tudo se resumia em um amoji cansado ou figurinha do momento.
Mas não era uma carta.
— É só um presentinho para ajudar vocês a começarem.
— Um cheque? Ah... Não podemos aceitar. — foi negando, até se espantar ao ver quantos zero tinham no papel. — Ual! Sogra, isso é muito...
— Já somos velhos e aposentados, não temos com o que gastar. — disse simplista. — Sei que parece exagero, mas Jungkook é nosso único filho. Só aceite, por favor.
Jimin mastigou os lábios, não sabendo o que pensar. Era muita generosidade emanando em ondas daquela mãe amorosa. Yuna sem sombra de dúvidas era uma mulher bondosa, que provavelmente passou a vida toda no lar, cuidando da família, então não sabia se invejava Jungkook por ter alguém assim ou se desejava realmente ser o genro merecedor de tudo aquilo.
— Querido, está tudo bem. — a mulher pareceu ler a mente de Jimin. Ela se aproximou mais e tirou uma mecha loira dos olhos brilhantes do mais novo, depois tocou o nariz de botão, sugerindo animada: — E aí, vamos às compras?
[...]
O setor de criação onde trabalhava mais parecia uma verdadeira sauna.
Jungkook afrouxou sua gravata, prensando os lábios. Gotículas de suor desciam de sua testa.
O dia estava quente lá fora e o novo ar condicionado não funcionava direito, causando um efeito estufa para os homens super vestidos.
— Oi, Jungkook? — o rapaz novo do almoxarifado cumprimentou com sorriso torto. Descaradamente ele seguiu com os olhos a linha do pescoço suado de Jungkook até percorrer os braços de veias aparentes, devido a manga da blusa repuxada acima do cotovelo. — Dia quente, né? Muito quente...
— Pois é... — Jungkook foi menos caloroso ao retribuir o cumprimento, saindo antes que o outro puxasse um assunto aleatório.
Infelizmente estava acostumado a isso.
O lado ruim de ser homossexual assumido, era essa suposição de que sempre estaria disponível para qualquer cara recém saído do armário.
Ainda mais agora com a notícia de que foi dispensado pelo namorado.
Mas o detalhe que ninguém sabia, ou se preocupava em perguntar, era que junto a sua sexualidade vinha uma carência absurda por afetividade.
Jungkook simplesmente não conseguia achar ninguém atraente ou se envolver em um romance tórrido, se não houvesse uma conexão mais forte. Se não houvesse paixão implícita. Taehyung era um exemplo disso, já Park Jimin...
Bem, Jimin foi uma excessão.
— Boby está caidinho por você. — Call cutucou Jungkook, oferecendo uma caneca de café.
— Obrigado, mas não. Estou bem assim. — ele bebericou, porém cuspiu o líquido preto de volta a caneca. — Que horror, está sem açúcar!
— Seu mal agradecido. Já tive o trabalho de colocar a água e o pó. Ponha açúcar você, folgado!
Jungkook revirou os olhos diante o drama, deixando a caneca distante dos seus desenhos, por precaução.
No seu emprego, muitos já aderiram as mesas digitalizadoras, mas ele não. Jungkook até tentou, porém se atrapalhava constantemente com o aparelho e acabava estragando o trabalho de horas. Agora pensava, seriamente, em fazer um curso gráfico assim que tivesse de férias. Não queria ficar para trás.
— Olha essa aberração. A única coisa sensata foram os dutos de ventilação, o resto não para salvar nada.— comentou.
— Pensei a mesma coisa quando vi o projeto. Vai mesmo fazer tudo a mão?
— Hunrum... — resmungou o moreno, apagando com a borracha, depois soprando na folha. — Sabe... Eu andei pensando e acho que vou vender a casa em Dobb's Mill.
— Mesmo? Mas, e se colocar mais colunas aqui... — apontou para o ponto em questão.
Jungkook suspirou e continuou se remoendo:
— Além do mais, acho que manter a casa impede que me relacione com alguém...
Call bufou.
— Claro. Assim como o Michael, o Boby, o Patrick...
Jungkook estalou a língua no céu da boca.
— Sabe o garçom loirinho daquela noite?
Call se debruçou na mesa, interessado.
— Aquele que não falava nossa língua?
— Sim. — Jungkook parou um instante, estreitando os olhos para comparar a planta original com o seu desenho. — É muito interessante, para não dizer patético. Essa porta da direto para uma parede!
— E o que aconteceu? Você o loirinho... Oh, você dormiu com ele?!
— É, bem... Sim. E se quer saber, eu acordei no meio da noite com um nó enorme na garganta.
— Legal! — o ruivo explodiu em felicidade, quase sucumbiu a vontade de abraçar o amigo ali. — Para quem gosta disso, claro.
— Não, não é esse tipo de nó que está pensando, Call! — ralhou. Nem tinha notado o duplo sentido das palavras, mas deveria saber porque o amigo tinha doutorado nisso. — Eu quis dizer que estava confuso, angustiado!
— Ah... — a cara de maracujá de Call foi impagável.
— Fiz algo horrível! — o moreno fez uma pausa, gesticulando com o lápis no ar. — Eu fui embora!
— Sei... — grunhiu entediado, porque lá estava o velho Jungkook de volta.
Seu amigo nunca relaxava.
— O motivo foi o Taehyung. Admito que cheguei no fundo do poço, mas eu cansei, não quero mais isso. — disse decidido. — Eu quero e vou superá-lo. Vou esquecer nossa história, era a casa me impedia isso.
— É isso aí, campeão! —
o ruivo comemorou juntando o punho fechado com o do amigo. — E quando vai ser?
— Nesse fim de semana. — Jungkook suspirou, já planejando a viagem de carro e o que precisaria arrumar em relação a toda papelada. — É isso... Sábado vou a Dobb's Mill e me livrarei da casa.
.
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Só melhora né?
🤭💓
Mas e aí, vocês estão gostando?
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