O garçom 💍
A festa estava bem movimentada. O salão se tornou um grande formigueiro de pessoas, sendo na maioria funcionários que se dispuseram a vestir seus melhores sorrisos para parabenizar o presidente da empresa.
— Só estou dizendo que seria ótimo receber um certo reconhecimento pelas horas faturadas.
— Eu sei, eu sei... — disse Jungkook tentando acompanhar seu amigo sobre a conversa acalorada. Ambos falavam um pouco mais alto por causa do burburinho que os rodeavam. — Ei, por gentileza, quero um pouco de champanhe! — se dirigiu ao jovem garçom que ia passando. O profissional prontamente parou, equilibrando a bandeja com a mão esquerda enquanto a outra derramava o líquido borbulhante. Por um segundo, quase transbordou. — Chega, chega!
— Okay, okay! — soltou o garçom.
— De onde você é, mocinho? — Call não disfarçou o interesse quando olhou o rapaz loiro dos pés a cabeça.
O uniforme era padronizado com gravata borboleta adornando o colarinho, blusa social branca e colete preto de botões. A calça de alfaiataria tinha a mesma cor que a parte de cima, finalizando com o sapato de couro preto e bem lustrado. Era uma roupa padrão, assim como os outros garçons, a diferença era que o uniforme sem graça deixava o rapaz muito sexy.
— O que disse?
— Perguntei de onde você é. — repetiu Call agora mais alto, quase soletrando.
Jungkook revirou os olhos. Ele sabia bem o que o outro estava fazendo, por isso respondeu pelo rapaz que se mostrava confuso.
— Tóquio. Ele deve ser japonês.
O garçom levou de volta a garrafa nobre à bandeja, desviando com agilidade do fluxo de pessoas. Tinha muito o que fazer, caixas e mais caixas de espumantes aguardando para serem despejadas, mas o ruivo magro de sardas não parava de falar e ele não queria ser grosso porque esperava por uma gorjeta gorda no fim do expediente. Afinal, não queria ser chamado atenção por algo bobo, muito menos ter o salário já miserável, descontado.
— Sim, sim.
— Viu? Acho que ele não fala nossa língua. — confirmou Jungkook.
Havia muito barulho ali e loiro voltou a perguntar, fazendo uma concha com as mãos:
— O que disse?
— Ele perguntou se você gosta de ficar por cima ou por baixo. — respondeu Call.
Uma sombra de irritação surgiu nos olhos do loiro, mas isso não passou de uma fração de segundos, logo o rapaz sorriu e fez um cumprimento gentil com a cabeça.
— Sou Jimin.
— Circulando, circulando! Vamos, Jimin! — um homem de meia idade com uma pança saliente e um forte sotaque francês, bateu palmas, chamando atenção do funcionário. Na lapela de uma espécie de bata branca estava escrito "Chefe Erik Jacquin".
— Okay, okay! Arigatô, sainorá! — o garçom se curvou de um jeito gracioso, indo embora.
— Aproveitem os canapés também, estão divinos! — comentou o chefe simpático, logo se misturando aos convidados.
— Viu só? O loirinho gostou de você!
— Não seja ridículo, Call.
— Olá, como vai? — o arquiteto cumprimentou um conhecido, sem deixar de ficar colado ao colega. Há vinte minutos os dois rodopiavam atrás de uma mesa vazia em meio ao caos. — Do que está falando, Jeon? Você é muito cético. Precisa incrementar paixão em sua vida. Afinal, você é muito jovem para viver amargurado pelos cantos... Oi, senhor David! Como vai a família?! — acenou ligeiramente, ouvindo um "está ótima". — Taehyung já é passado, meu amigo. Você precisa tocar sua vida, um corpo quente para esquentar seu colchão.
— Graças aos céus! — exclamou Jungkook aliviado quando finalmente achou uma mesa. — Eu sei, Call, eu sei... Mas como?
— Indo para cama com alguém, ué. — disse simplista, abrindo os braços com tal disparate.
— É fácil falar quando se é um galinha. Mas eu não consigo se não houver alguma... conexão.
— E o Taylor? E o Edmond do setor de finanças? Ele parece ter uma quedinha por você.
— Oh, você fantasia demais para um cara solteiro e hétero.
O ruivo iria rebater, mas não teve tempo. Algo grande estava para acontecer.
— O CEO está vindo! Hora de agir, soldado! — Call ajeitou a gravata se levantando com um sorriso escorregadio. — Olá, senhor Thopson! Meus parabéns, pelo belíssimo trabalho! — disse juntando as suas mãos com as do mais velho, em um aperto acalorado.
As bochechas enrugadas do presidente estavam vermelhas, assim como a careca lustrosa, soando dentro do terno caro feito por medida.
O homem já vinha de uma série de felicitações desde o começo da noite, mas não desprezou o cumprimento do funcionário no qual não lembrava o nome.
— Ah, obrigado. Acho que todos podem se orgulhar também. A empesa não é composta por apenas um, mas por um montante. Essa noite brindaremos por todos da companhia.
— Sim, estou inteiramente dentro. Meu peito explode de orgulho por trabalhar aqui. Sou muitíssimo grato pela oportunidade que ganhei ao entrar nessa magnífica empresa. Aprendo mais à cada dia. — Call apertou ainda mais as mãos do chefe. — E mil perdões se estou sendo tão direto vindo assim falar com senhor. Pode ter sido o champanhe que me deu uma certa coragem, mas juro que apenas queria parabenizar pela sua grande liderança. Era o mínimo que poderia fazer dizendo isso. Sou seu maior fã!
O CEO riu sem graça, mas adorou toda aquela bajulação.
— Bem, obrigado...
— Espero não estar embaraçando o senhor. — completou o ruivo sabiamente.
— De forma alguma, meu jovem... Como é mesmo seu nome? — perguntou, sinalizando para uma garçonete que passava com taças de champanhe.
Nessa fração de segundos, Call gesticulou para o amigo, que continuava grudado na cadeira sem reação..
— Sou Call Miffy. O senhor lembra do Jungkook? Uma vez ele ganhou um prêmio como funcionário do mês.
— Jung quem?
— Jeon Jungkook! Olá, senhor Thopson. É um grande prazer conhecê-lo pessoalmente! — falou firme, dando um aperto de mão forte para causar uma boa impressão. Seis longos anos trabalhando na empresa e era a primeira vez que ficava cara a cara com o "todo poderoso". Obviamente isso drenou um pouco seu cérebro, mas precisa causar uma boa impressão. — Ham... O prédio ainda está no meu lugar, certo?
Call levou as mãos a cabeça enquanto o presidente afiava o olhar para o jovem de traços marcantes.
— Certamente.
— Bom... Lembra daquele banco que projetou em Nova York anos atrás? Fiquei na calçada por horas absorvendo a magnitude daquele edifício no dia da inauguração. Até hoje quando vou a Nova York faço questão de passar naquela rua só para ver o banco que surgiu de um emaranhado de rabiscos sem vida.
— Ha ha ha! Obrigado, meu jovem. gargalhou o homem feliz com as palavras bonitas, mas Jungkook não havia terminado de seu discurso.
— Não acha que deveríamos buscar mais daquela originalidade ao invés dos mesmos projetos com essas estruturas toscas de formas geométricas? Isso é tão anos noventa... ultrapassado e metódico! — puxou o ar para recuperar o fôlego, sequer vendo o amigo desesperado fazendo um x com os braços — Se temos modelos inovadores, por que continuamos repetindo esses? Como diria minha mãe: "Um bolo feito apenas com farinha, não tem sabor".
O maxilar do CEO estava duro, assim como seu olhar.
— Somos a maior firma de arquitetura da região leste da América, rapazinho. E algumas pessoas parecem gostar muito do nossa "bolo sem gosto". Não é atoa que estamos atuantes há mais de quarenta anos no mercado. Agora, se me dão licença, tenho convidados a receber. — rosnou irritado.
Era possível ver faíscas dos seus olhos quando deixou os dois funcionários.
— Cara, você enlouqueceu?! Por que não lhe deu logo um soco nas bolas e chamou seus filhos de feios?!
Jungkook caiu na cadeira. Seu semblante era de quem acabou de ter sido atropelado por um caminhão.
— Só achei que ele gostaria de ouvir uma opinião diferente.
— Por Deus, por que achou isso?! Se eu encontrasse um meio, não costuraria minhas mãos no testículos dele!
— Somos diferentes... — resmungou Jungkook.
— Sim, mas na segunda-feira ainda estarei empregado. — pontuou o ruivo, seus olhos vivos pulando para a figura importante que passava. — Olá, senhor Simpson. Belo terno!
Jungkook bufou, revirando os olhos, embora no fundo invejasse essa parte tolerante de Call. Por vezes queria se desprender do orgulho e beijar o solo de quem quer fosse, se isso lhe desse alguma vantagem, mas não conseguia. Sua personalidade driblava entre ranzinza e cética, duas combinações nada graciosas.
Nos últimos meses sentia que parecia mais uma carcaça oca, uma coisa mecânica que era programada apenas para comer, trabalhar e dormir. Às vezes não necessariamente nessa ordem. O problema é que, desde o dia que seu coração foi partido, Jungkook não fazia nada além do que viver no piloto automático.
E pelo andar da carruagem, estava fadado a isso. Ele não acreditava mais no amor.
[...]
Um guardanapo de papel e uma caneta tinteira foi o suficiente para desenhar com perfeição a casa que levantou com as próprias mãos. Sua memória visual era excelente, além disso tinha traços delicados e precisos. Ele foi o aluno que sempre ganhou nota dez na matéria de Arte. Não foi por acaso que teve uma bolsa garantida na melhor faculdade que seus pais poderiam sonhar.
Jungkook era brilhante, pena que após a faculdade se estagnou em um cargo que não conseguia o satisfazer.
Na verdade ele tinha muitos planos, projetos inovadores, só faltava uma boa oportunidade aliada as palavras corretas, mas pelo do jeito, tudo havia ido por água abaixo.
No final de contas, do que adiantava ter um QI alto se ele era um completo desastre?
Chateado consigo mesmo, dispensou a companhia de Call minutos atrás, quando já havia um fluxo menor de pessoas no salão e os funcionários do local começaram a recolher cadeiras e mesas.
O arquiteto não estava bêbado. Ele apenas consumiu álcool suficiente para deixar os pensamentos leves e a língua solta.
Ao finalizar o desenho, satisfeito com o que tinha feito, levantou o rosto e viu o garçom que o serviu no começo da noite, limpando distraidamente o balcão do bar no qual estava debruçado.
— Ei, você é o Jimin, não é? O lindo e fofo Jimin do Japão que não fala nossa língua. — comentou meio que tropeçando nas palavras, mas o loiro não deu atenção e continuou a fazer seu serviço, então Jungkook se levantou e pulou de banco para ficar mais perto do outro. Queria mostrar o que tinha rabiscado. — Este é o meu "anel de compromisso", mas assim como alguns aneis, esse parece que ficou grande ou apertado demais para o dedo do noivo. — resmungou triste, tendo pena de si mesmo.
O garçom suspirou, guardando as taças vazias junto as outras em um canto, sem dizer nada.
Ele era perfeccionista, limpava com extrema concentração. Nenhuma macha no cristal reluzente escapava dos seus olhos afiados.
Vendo que o loiro não dava a mínima para si, o arquiteto bufou. Ele dobrou e guardou o guardanapo rabiscado, antes de pegar seu copo com whisky e dar um generoso gole.
O líquido desceu rasgando sua garganta. Tão ruim e forte como a piada infeliz que acabou lembrando:
— Sabe como chama o japonês que não fez a chuca? — peguntou, mesmo sabendo que não ouviria uma resposta, então completou pateticamente: — Kagaro Navara! — gargalhou perdendo o ar por alguns insitante, sua risada sando meio imbecil por estar rindo da piada que só fazia sentido para ele. — Entendeu? Mas também tem Tekomo Nakama...
— Hey, baby! — uma funcionária surgiu, tocando o braço do loiro. Ele girou o corpo dando um sorriso para a mulher. — Pode deixar as taças aí, você já fez muito, amanhã eu termino!
— Aaaaah, obrigado, Michely. Finalmente posso sonhar com um banho quente antes de dormir. Esses sapatos estão me matando! — choramingou antes de se despedir da mulher com um abraço. — Te adoro. Até amanhã, chery!
— Tchau, Jimin! O Jacquin disse que antes de ir, você passasse na sala dele.
— Farei isso.
O loiro deu uma piscadela de um jeito galanteador, antes de virar para Jungkook e ficar sério. Ele arqueou uma sobrancelha, lhe dando um olhar mortal.
— Xenofobia é crime, sabia?
O arquiteto congelou.
Dando-se por satisfeito pelo afeito que conseguiu, o garçom virou, proporcionando uma bela vista de seus quadris balançando graciosamente ao se afastar.
— Vou indo, tchau, pessoal! — o loiro desejou a alguns funcionários, na sequência sumiu por uma porta que deveria ser onde deixavam seus pertences.
— Isso que eu chamo de plot twist. — comentou anestesiado virando de uma só vez o líquido âmbar. — Não tem como minha noite ficar pior. — resmungou, batendo o copo de vidro no balcão.
Ledo engano.
Pelo jeito Jungkook não tinha conhecimento sobre a Lei de Murphy*.
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Uma das principais Leis de Murphy diz:
"Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais... Dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível".
E aí, gostaram? Eu tô bem boiolinha com ela porque é muito comédia romântica. Essa fanfic é baseado no filme "Como agarrar um marido", com Steve Martin e Goldie Hawn de 1992. Eu dei muita risada quando assisti, espero fazer
vocês rirem também.
Até mais! 🥰🥰🥰
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