O bom mentiroso💍

ㅡ Definitivamente, você enlouqueceu!

ㅡ Pensei que amaria a ideia, Call.

ㅡ De casamento?

ㅡ De estar envolvido com alguém. Ainda que seja uma farsa. ㅡ Jungkook resmungou, ajeitando a mesa de trabalho já perfeitamente organizada.

Call imprimiu os lábios, nada feliz. Ele ainda não conseguia acreditar que o garçom, que não era japonês coisíssima nenhuma, estava induzindo Jungkook a ir tão longe.

Aquela história soava tão maluca que poderia ser um roteiro escrito por alguém muito criativo ou um documentário sobre um cara que fugiu de manicômio e fantasiou a coisa toda.

As duas versões faziam mais sentido do que o que ouviu nas últimas vinte e quatro horas.

ㅡ E para sua informação, não é casamento. É apenas um acordo onde ele fica na minha casa e em troca briga comigo em público, tornando minha vida um inferno.

Call estalou os dedos, enfatizando o que Jungkook falou.

ㅡ Isso que é casamento.

[...]

Jimin simplesmente brilhava de suor após a aula de zumba. Ele acenou, se despedindo do grupo de mulheres que fez amizade.

O loiro era muito popular na cidade.

Quando passou em frente ao corpo de bombeiros, o chamaram.

Jimin não queria atrapalhar, mas os homens de farda tagarelavam e riam despreocupados. Também não era como se tivessem muito o que fazer em Dobb's Mill. A ocorrência mais emocionante que tiveram no último mês, foi resgatar um felino em apuros preso em uma árvore.

ㅡ Olá, meninos!

ㅡ Jimin, você aceita uma rosquinha? Tem de chocolate com nozes, sua favorita. ㅡ perguntou Yoongi, um dos veteranos, oferecendo uma caixa recheada de donuts.

ㅡ Poxa, muito obrigado, mas vou ter que recusar. Acabei de perder algumas calorias e não tenho pretensão de recuperá-las tão cedo.

ㅡ Não vejo como, você está em ótima forma. ㅡ gracejou, com um sorriso galanteador.

O loiro ofegou sem graça, colocando as mãos na cintura marcada pelo colan roxo.

ㅡ Ah, diga isso ao meu marido. Ele implica com meu "quadril gordo".

ㅡ Nossa... ㅡ o branquelo estalou a língua no céu da boca, não concordando. ㅡ Vejo que não é você quem precisa perder peso, mas o mané do Jungkook que tem que passar em um oculista urgentemente. Não concordam, caras? ㅡ se dirigiu aos homens, que falaram um "com certeza" de boca cheia. ㅡ Viu só?

Jimin se fez de modesto dizendo que era bondade deles, mas saiu de lá quase saltitando pelo elogio coletivo.

Afinal, não precisava ser alto e esbelto como um certo Kim para ser notado.

[...]

ㅡ Okay. Estarei em casa às dezoito horas, dezoito e meia no máximo. Quer que eu leve alguma coisa? ㅡ perguntou, equilibrando o celular no ombro enquanto mantinha as mãos ocupadas preparando o próprio café. Call entrou na copa nesse mesmo instante, ouvindo o resto da conversa. ㅡ Certo, certo. "Massa para panqueca sem fermento". Não vou esquecer. Tchau, amor. D-digo... Tchau, Jimin! Aish. ㅡ Jungkook se embolou nas palavras já desligando.

Call gargalhou alto.

O ruivo ria e chorava ao mesmo tempo, e não parou nem após ser ameaçado a levar uma "cafesada" no meio das fuças.

Era épico demais ver Jungkook tão desconcertado.

[...]

Dois meses haviam passado.

Jungkook e Jimin conversavam diariamente para manter as coisas ㅡ se lê verdades falsificadas ㅡ sempre atualizadas.

O loiro se especializou no cursinho de doces e agora fazia sobremesas deliciosas com a senhora Jeon para vender na barraquinha improvisada.

Foi Jimin quem teve a ideia de arrecadar fundos para a reforma da igreja, que precisava de uma pintura e bancos novos. O reverendo abraçou a ideia e todos da comunidade compravam aos montes os doces diversos da família Jeon.

Mas não foi só isso que mudou.

No primeiro mês o arquiteto ia a Dobb's Mill apenas aos domingos, voltando nas segundas, de manhã. Agora ele pegava a estrada nas sexta-feiras após o trabalho e saía de lá diretamente para a empresa, alegando ter mais tempo para pôr em prática o plano de conquistar Kim Taehyung.

Na verdade, dirigir oitenta quilômetros da capital para o interior, sem pausa nenhuma, era tranquilo. O problema maior era dormir na poltrona reclinável e não deslizar dela, já que Jimin fazia questão de não tirar a o maldito plástico filme do estofado para que não sujasse. Mas fora isso, Jungkook avançava gradativamente na aproximação com o ex, ganhando cada vez mais confiança do mesmo.

Pensando nisso, uma noite, logo após o entardecer, o arquiteto tomou um banho demorado, vestiu a roupa mais casual e passou seu melhor perfume, saindo de casa a pé para que Jimin não percebesse.

Quando finalmente chegou na casa do Kim, ele viu as luzes da sala ligadas, então despenteou um pouco o fios molhado e fez uma cara sofrida, antes de tocar a campainha e encostar o ombro na coluna.

Taehyung ainda morava com os pais, mas Jungkook foi meticuloso, ele sabia que naquela hora o amigo estava sozinho em casa, já que os Kim iam para bingo, religiosamente, todos os sábados.

ㅡ Oi, Tae. Posso falar com você? ㅡ foi o que ele disse com os olhos tristes assim que o acastanhado abriu a porta.

As maçãs do rosto alheio ganharam um tom forte de vermelho e Taehyung grunhiu, coçando a cabeça.

ㅡ Não sei se podemos...

ㅡ Você nem imagina o que aconteceu! ㅡ Jungkook suspirou afetado, balançando os braços no ar. ㅡ Eu cheguei em casa e ele começou a... Nossa. ㅡ bufou, pinçando a ponta do nariz. ㅡ Desculpa te incomodar a essa hora, Tae. Mas posso entrar? Sinto que vou enlouquecer se não desabafar com alguém.

ㅡ Bem... entre. ㅡ murmurou por fim, dando um passo para trás para Jungkook passar.

ㅡ Sendo sincero eu nem sei porque vim aqui...

ㅡ Jungkook.

ㅡ Só queria sair de casa e...

ㅡ Jungkook! ㅡ Taehyung disse com mais firmeza fazendo o mais velho se calar.

ㅡ O quê?

ㅡ Jimin... Ele está aqui.

ㅡ E-está? ㅡ gaguejou, notando a presença do loiro sentando elegantemente no sofá.

ㅡ Claro que estou.

ㅡ O q-que está fazendo a-aqui?!

ㅡ O que você está fazendo aqui? ㅡ rebateu contrariado, descruzando a pernas.

Taehyung rugiu em constrangimento, não querendo ser o intermediário daquela DR.

ㅡ Minha nossa...

ㅡ Tae, eu sou o único que está tentando fazer esse casamento dar certo! ㅡ Jungkook tentou se defender.

ㅡ Mas que grande mentira! ㅡ acusou o loiro se levantando.

ㅡ Gente, por favor! ㅡ o Kim gesticulou tentando amenizar os ânimos.

ㅡ Você disse que nunca mais veria o Vitão!

E lá estava o arquiteto com o dedo acusatório, apertando a mesma tecla sobre o assunto espinhoso.

Jimin já estava farto disso.

ㅡ E a culpa é de quem? ㅡ Jimin olhou com mágoa para Taehyung. ㅡ Quer perguntar ao "senhor matrimônio" quando foi a última vez que dormimos juntos?

ㅡ O q-quê? ㅡ Jungkook gaguejou em confusão.

ㅡ Quer falar a verdade? ㅡ Jimin arqueou as duas sobrancelhas parecendo cada vez mais irritado com o arquiteto. ㅡ Diz para ele a verdade, Jungkook!

ㅡ T-toda a verdade? ㅡ vacilou.

O loiro bufou.

ㅡ Uma vez! ㅡ respondeu a própria pergunta. ㅡ E sabe lá há quanto tempo, que não... Você sabe. ㅡ franziu a testa encoberta pela franja descolorida. De repente voltou a encarar o moreno. ㅡ Você quer dizer a ele o motivo?

Jungkook arregalou os olhos de bambi, apontando para si.

ㅡ E-eu?

ㅡ Porque nosso querido Jeon-Fodástico-Jungkook tem um segredinho escorregadio. ㅡ Jimin sibilou, trincando os dentes, antes de dar um olhar furtivo do arquiteto para o Kim, que moscava no meio da sala.

Taehyung engoliu em seco, se encolhendo.

ㅡ O-olha, eu não quero me envolver, então se me dão licença...

ㅡ Ah, mas você já está beeeem envolvido! Porque você é o segredinho dele. ㅡ sibilou o loiro, fazendo Taehyung virar nos próprios calcanhares.

ㅡ Hã???

ㅡ Isso mesmo. Ele tentou esquecer você, Deus sabe que ele tentou... E por um tempo pensei mesmo que iria. Ele estava tão próximo de mim... ㅡ o loiro lambeu os lábios volumosos buscando ar. ㅡ Costumávamos lavar o cabelo um do outro... Tudo era tão perfeito. ㅡ Jungkook mordeu a bochecha para não sorrir. O loiro seguia uma linha de raciocínio admirável. Sua atuação era digna de prêmio. Tudo que poderia fazer era balançar a cabeça pateticamente e concordar com a história inventada. ㅡ Mas aí veio Maui. ㅡ grunhiu choroso, fazendo uma pausa dramática.

ㅡ O que aconteceu em Maui? ㅡ Taehyung deu um passo a frente intrigado com o suspense.

O esforço para pensar em algo foi tão intenso, que drenou suas forças e Jungkook se sentiu um pouco tonto.

ㅡ Bem... Errr... Acho que é melhor você explicar, Jimin. ㅡ murmurou o arquiteto pálido, sentando no sofá.

ㅡ Estávamos lá para comemorar a promoção de Jungkook. ㅡ começou a falar novamente, usando braços para narrar. ㅡ Ele estava tão feliz... Feliz demais, tentando ao máximo se divertir e me agradar. Corríamos na beira da praia e ele me carregava em seus braços fortes. No final do dia voltávamos a aconchegante cabana e a gente dançava e dançava, bebendo vinho até nossa risada perder o sentido, porque nossos corpos mostravam que palavras já não eram suficientes. Era uma coisa transcendental, um encontro de almas... Pelo menos acreditei nisso. ㅡ suspirou, cruzando os braços. ㅡ Até que um nativo passou vendendo macadâmia e Jungkook insistiu em pegá-las no ar com a boca.

ㅡ Então ele se engasgou e quase morreu? ㅡ quis saber Taehyung, comprando aquela conversa.

Jimin negou.

ㅡ Foi bem pior. ㅡ balançou a cabeça. ㅡ É uma dessas jogadas, ele mastigou a castanha com casca e acabou quebrando um dente. Foi muita burrice, eu sei... Passamos nosso último dia na ilha procurando um médico cirurgião. ㅡ Jimin foi até o sofá e acariciou a mão do "marido". ㅡ Nunca vou esquecer: lá estava eu, segurando a mão de Jungkook na cadeira do dentista, esperando ele acordar da anestesia. Sua aparência era horrível com o chumaço de algodão enfiado na boca, a bochecha enxada parecendo o Kiko do Chaves...

Taehyung conseguiu visualizar direitinho a cena, ficando com dó do outro.

ㅡ Quando finalmente acordou, ainda estava grogue. A cabeça enevoada entre o que era sonho e realidade. ㅡ o loiro fez outra pausa, como se aquilo fosse doloroso de falar. ㅡ E aí ele olhou para mim e disse: Tae, meu Taetae.

O acastanhado abriu a boca em choque. Já Jimin soltou as mãos de Jungkook rudimente, levantando.

ㅡ Eu vim aqui essa noite porque queria ver com meus próprios olhos se era mesmo para cá que ele viria. E pelo jeito acertei.

Jungkook viu o loiro sair da sala como um furacão, mas não o impediu de partir. Só quando olhou para Taehyung, lembrou de virar para o porta que bateu a segundos atrás, falando tardiamente:

ㅡ Jimin me desculpe! Oh, droga... ㅡ massageou o coração agitado, olhando em súplica para o Kim. ㅡ O que faremos agora?

ㅡ Oh, Jungkook...

[...]

Jimin abraçou o próprio corpo, estremecendo com o vento frio da noite. Ele sequer teve tempo de colocar um casaco quando resolveu antecipar os passos de Jungkook.

ㅡ Mil vezes merda! ㅡ xingou sozinho.

Não foi o combinado.

Jungkook agiu sobre suas costas e aquilo servia como traição. Então estava chateado, claro, definiria a ação do arquiteto como imprudente e precipitada, por isso guardou seu ponto de vista, pata descarregaria tudo assim que Jungkook voltasse para casa.

Se ele voltasse para casa, porque pelo jeito teria os ombros de Taehyung para consolá-lo a noite toda.

O loiro continuou andando pelo caminho que veio, uma pequena clareira que serviu como atalho. Ele estava disperso em pensamentos, por isso gritou assustado quando seus ombros foram agarrados e seu corpo pequeno foi girado sem dificuldades, vendo um rosto familiar surgir na sua frente.

ㅡ Jimin, isso foi maravilhoso! Acho que ele está finalmente caindo nessa balela e me amando de novo! Obrigado, obrigado! ㅡ exclamou Jungkook, espalhando beijos pelo rosto do loiro, que ainda se recuperava do susto.

ㅡ Tudo bem. ㅡ empurrou o outro com as mãos trêmulas para ganhar um pouco de espaço. ㅡ Só estou fazendo o meu papel.

ㅡ Maui, o dentista... Você inventou tudo aquilo na hora?

ㅡ Sim. ㅡ deu ombros, simplista.

ㅡ Caramba! Isso foi genial! ㅡ Jungkook uivou sem se conter, abraçando o loiro novamente. Ele quase esmagou o menor em seus braços, tirando os pés do mais novo do chão.

Jimin grunhiu, mas não pediu para que parasse. Era tão raro ver Jungkook assim que deixou ser embalado por ele.

ㅡ Você é um fenômeno! Um Pablo Picasso da mentira... Não, não. Você é o ator que a Globo precisa ter! Poderia ganhar um Oscar, poderia ser uma estrela de cinema que não ficaria tão chocado, porque você nasceu para isso! ㅡ Jungkook foi enaltecendo o baixinho. Sua boca perto da orelha minúscula cheia de brincos. Havia pelinhos arrepiados ali. ㅡ Por isso que eu te amo!

Jimin arfou, ficando tenso por um minuto.

Mas era apenas uma frase tão idiota.

ㅡ Não exagere...

ㅡ Não estou.

ㅡ Okay... obrigado. Agora me solte. ㅡ o loiro tentou se recompor, demorando a ajeitar a roupa amarrotada para esconder os olhos marejados. Odiava chorar. ㅡ Vamos logo para casa. Tenho que esquentar o jantar.

ㅡ Ainda tem geleia de framboesa? ㅡ Jungkook apressou os passos, ficando ao lado do loiro.

ㅡ Se não tiver comido tudo... ㅡ Jimin revirou os olhos, vendo um bico gigantesco no homem de quase um metro e oitenta. ㅡ Meu Deus, que bebezão chorão. Certo, certo! Talvez possa fazer um pouco, se tiver ingredientes. Caramba, Jungkook... ㅡ deu uma risada alta, esquecendo por vez da futura DR.

.
.
.

Onde essa mentira vai levá-los? Parece que já está virando uma bagunça de sentimentos e eles nem notaram.

🤧💜

Até mais, xuxus!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top