CAPÍTULO 70

Depois da infrutífera e arriscada viagem às montanhas geladas, Calisto não via a hora de retornar ao conforto de seu castelo em Liont. Seja qual fosse a intenção original do grupo de anões, o confronto teria servido apenas para piorar as relações destes com Lacoresh. A única informação interessante que pode levantar com a viagem foi o fato de haver ligações entre aquele grupo de anões e os Tisamirenses.

Faltava pouco para chegar, muito pouco. Além dos problemas recentes que vivenciara, o jovem barão não estava preparado para as más notícias. Ao chegar nas ruas da cidade, pode perceber uma atmosfera perturbadora. Agora tinha certeza, havia algo de errado. O próprio céu estava coberto por nuvens cinzas e carregadas. Cada vez mais, acreditava em sinais da natureza.

Aproximando-se do castelo, foi revelada presença de cavaleiros do rei. Não havia nenhum deles no pátio, mas puderam ver seus cavalos, escudeiros e bandeiras. Derek, ao observar os brasões nas mantas dos cavalos informou a Calisto que o líder dos cavaleiros, Julius Fortrail, estaria no local. Identificaram-se junto à guarda que abriu caminho para que entrassem. Calisto questionou qual era o motivo da movimentação e obteve a resposta que não queria: tratava-se de uma comitiva recém chegada que acompanhava o príncipe Serin.

Ao ouvir o nome do príncipe, sentiu um calafrio na espinha, lembrando-se de quando se conheceram no castelo real em Lacoresh. Pouco depois, chegavam ao no salão de recepções. Calisto encontrou-se com o príncipe, acompanhado de algumas figuras conhecidas.

– Ah, Barão Calisto! Sua chegada está de acordo com as previsões! – Serin vestia-se com uma túnica negra e uma grande capa púrpura escura com interior forrado com veludo cor-de-sangue. Os cabelos negros e brilhosos estavam presos por uma fina coroa de prata. Sua pele branca acentuava suas olheiras estreitas e escuras, que pareciam um efeito de maquiagem.

Calisto curvou-se diante do príncipe e sorriu sarcasticamente, – Príncipe Serin, a que devo a honra de sua ilustre presença?

– Estou muito satisfeito pela oportunidade de lhe trazer, boas notícias pessoalmente.

– E quais são essas notícias que o fizeram vir de tão longe?

Serin sorriu com satisfação sádica, – Conseguimos encontrar o esconderijo rebelde no qual um de nossos nobres era mantido cativo, e melhor, destruímos os rebeldes e recuperamos nosso companheiro!

Calisto engoliu seco.

– Parecia impossível, mas resgatamos meu caro amigo, o doutor Adam Fannel, filho do falecido Barão Fannel.

– Não fala sério?

– Certamente sim! Ele está, neste momento, repousando em seus antigos aposentos.

Calisto ficou quieto e tentando dominar o impulso que sentia de atacar Serin e os cavaleiros que o acompanhavam.

Serin parecia se deliciar com a situação. – Bem, essas foram as boas notícias! Mas ainda tem mais. Meu pai, o rei, também ficou muito satisfeito com a volta de Adam. Consultando as escrituras, decidiu devolver-lhe o controle do Baronato de Fannel. Logo mais irei conduzir a passagem oficial do controle das terras de Fannel para Adam, assim como sua titulação como Barão.

Era demais e Calisto explodiu. – Isso não é justo! Eu conquistei a posição de Barão das terras de Fannel, não podem simplesmente desfazer isso assim... Thouder...

Serin levantou sua mão esquerda, branca como a neve, num movimento vigoroso. Em seu dedo médio, um anel de estranha constituição brilhou. Calisto estava paralisado. Sua não podia mover sua boca, nem mesmo mover seu corpo.

– Estes não são modos de um nobre, barão Calisto! Gritar na presença do príncipe herdeiro do trono de Lacoresh, ainda mais na frente de seus mais graduados e bravos cavaleiros é inaceitável. Exijo uma retratação! – Com um movimento brusco, Serin controlou os músculos de Calisto forçando-o a ajoelhar-se. Calisto atingiu o solo de uma vez, sentindo muita dor nos joelhos.

Sua ira superava os limites. Percebeu que dois dos cavaleiros levaram as mãos às suas espadas, esperando alguma reação negativa dele. Se assim o fizesse, poderia ser morto, de forma tola. Sua ira era borbulhante e descomunal. A imagem serena de seu professor, o tisamirense Radishi surgiu em sua mente. Foi ele que o salvou de ser executado como um tolo.

Quando sua voz voltou, não tinha alternativa senão se humilhar diante do príncipe. – Peço perdão majestade.

– Está perdoado, meu jovem. Imagino que as boas notícias não tenham soado tão boas a seus ouvidos... Meu pai, o rei, no entanto é compreensivo e misericordioso. – Aproximou-se e ofereceu a sua mão gelada ajudando-o a ficar de pé. – Você mantém seu título de Barão, e em compensação pela perda nestas terras, o rei lhe oferece uma extensão de terras adicionas para sua propriedade ao sul, incluindo a administração e coleta de impostos de 4 vilas que até recentemente eram administradas pelo Duque de Kamanesh.

Calisto fechou a cara e disse procurando parecer agradecido, – Aceito a proposta generosa de vossa majestade.

– É claro que aceita... – Sorriu o príncipe com satisfação. – Antes de terminarmos, estou curioso... – O príncipe parou por um momento e comentou, – Mas que falta de hospitalidade a minha. Antes, vamos sentar e comer algo, pois tenho certeza que está cansado e precisando repor energias.

Seguiram em silêncio para o salão ao lado, no qual havia uma mesa posta. Os cavaleiros logo foram tomando posição ao redor da mesa e servindo-se. Calisto sentou-se e próximo a ele e príncipe e o primeiro cavaleiro de Lacoresh, Julius Fortrail. Vestia uma túnica cinza, com uma capa vermelha preza por um grande botão dourado na altura do peito.

O cavaleiro olhava para Calisto com seus olhos azuis intrigados. Imediatamente Calisto, percebeu que o homem tinha grande respeito por ele. Talvez por uma questão de empatia, Calisto tenha penetrado na mente de cavaleiro e captando seus pensamentos. “Impressionante a fibra deste rapaz. Seu ódio controlado é notável. O rei e o príncipe deveriam tê-lo como aliado. Trantando-o desta forma serão destruídos no futuro próximo. Não entendo, é como se estivessem criando a serpente que lhes aplicará o próprio veneno cultivado.”

Distraído pelos pensamentos do cavaleiro Fortrail, Calisto ignorou por duas vezes as perguntas do príncipe Serin.

– Responda de uma vez, barão! – exigiu o príncipe erguendo o tom da sua voz gelada.

Calisto foi capaz de retomar a concentração e respondeu, – Desculpe-me, alteza, suas perguntas sobre a viagem e o paradeiro dos anões me fizeram divagar por uns momentos. Não acredito que a viagem tenha sido bem sucedida.

– O que quer dizer, não conseguiram encontrar os anões?

– Muito pelo contrário, alteza. – Calisto fazia questão de exaltar a posição do príncipe, deixando perpassar apenas uma pequena pontada de escárnio. – Tivemos um encontro, desagradável, ou melhor, um confronto.

– Lutaram contra os anões?

– Pois sim.

Serin parecia preocupado. – Imagino que tenham feito um bom serviço, matando a todos, sem deixar evidências.

Calisto divertia-se a perceber a pontada de medo que o príncipe demonstrava quanto o assunto dos anões. – Temo que isso não foi possível, alteza. Lutamos contra eles e muitos deles saíram vivos para contar a história.

Serin ficou pensativo.

– Já enviei uma mensagem a este respeito para o poderoso Thoudervon.

– Não é um assunto para esta ocasião Barão Calisto! – disse rispidamente.

– Perdoe-me alteza.

Houve uma pausa na conversação e Serin tomou uma taça cheia de vinho, pensativo. Sentindo a oportunidade de falar, Julius perguntou, – Poderia dizer qual era o efetivo de anões, Barão Calisto?

– Não eram muitos, mas são belicosos, conforme havia lido em diversos livros.

– Não se sabe muito sobre seus números, ou de seus domínios, não é mesmo cavaleiro Fortrail?

– Sabemos mais do que você imagina e menos do que gostaríamos. Atualmente, são uma das maiores ameaças em potencial ao reino de Lacoresh.

Serin apontou o dedo no rosto de Calisto. – Barão Calisto. Você não deveria tê-los confrontado! Era apenas para sondar-lhe as intenções.

– Sinto alteza, mas não tivemos opção. Garanto-lhe que o confronto não ocorreu por nosso desejo, mal pudemos escapar com nossas vidas.

Um dos cavaleiros que estava sentado um pouco distante, riu alto e disse zombeteiro, – Que venham os malditos pirralhos, nos os esmagaremos com as solas de nossos pés!

Vários cavaleiros riram. Serin fechou a cara e levantou-se. – Julius, reúna seus homens, vamos partir para Lacoresh ao anoitecer. Por hora, temos que cuidar da titulação do Jovem Adam Fannel. Não há tempo para cerimônia e festejos.

Serin saiu com passos rápidos e determinados. Antes de deixar o recinto chamou Calisto, – Barão, faça seus preparativos, irá nos acompanhar em nossa viagem para Lacoresh.

Calisto sorriu e pensou, “Príncipe Serin, seu maldito idiota! Você não perde por esperar!”

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