CAPÍTULO 54

Em uma manhã fria e sombria, Lorde Calisto estava prestes a consagrar-se como barão das terras de Fannel. Sua ascensão ao poder era veloz e fortemente auxiliada pelos rebeldes. Sem que soubesse, lordes de Manile, Durunt e Vaomont foram induzidos pelas forças ocultas da rebelião a aceitá-lo como novo barão. A própria Real Santa Igreja aprovava a ascensão do jovem Calisto, visto que era um dos escolhidos do eclipse citado pelas profecias do próprio arcebispo Kalefap.

As atividades da rebelião haviam praticamente cessado na região após as ações enérgicas de Lorde Calisto. Muitos sacrifícios por parte da rebelião foram feitos para fazer com que as ações de captura e eliminação de grupos rebeldes tivessem sucesso. Calisto tornava-se cada vez mais confiante e sua própria confiança e grande energia acabou por mobilizar o povo e os nobres das províncias de Fannel.

Membros da Família Real viajavam para Fannel, o Duque de Kamanesh, assim como os soberanos dos baronatos vizinhos. A capital, Liont, preparava-se para recebê-los com grande pompa. Sua titulação sairia em poucos dias. O passo mais difícil para alcançar a posição fora convencer o Lorde de Vaomont. No entanto, Rayan e alguns de seus informantes conseguiram algumas provas do envolvimento de Lorde Vaomont no assassinato do Barão Ludwig. Com essas informações em mãos, Lorde Calisto pode persuadir o fraco mas ambicioso Lorde de Vaomont a apoiá-lo como novo Barão de Fannel.

O jovem já apreciava seus aposentos na torre central do castelo de Liont. Local amplo e arejado, coberto com peles cinzentas nas quais gostava de pisar com os pés descalços. A cama era grande e possuía um fino véu branco preso em quatro grandes estacas que subiam de suas extremidades. Havia uma porta de vidro e de madeira que levava a uma sacada de onde podia ver boa parte da grande cidade de Liont.

Naquele instante de solidão e quietude o jovem questionava sua existência. “Que preço terei de pagar por essa conquista? Tem de haver um preço... Acho que o preço é justamente este: nunca conhecerei a paz na consciência. Sempre pensarei em uma próxima conquista, ou, como proteger minhas próprias conquistas de outros ambiciosos como eu. Mas o que fazer? Renunciar a tudo isso? Renunciar e ser um peão? Ser comandado por esses loucos? Pelo maldito Weiss? O ridículo e decrépito Rei Maurícius?”

O Jovem levantou-se da cama, caminhou até a escrivaninha na qual havia uma bela jarra de prata reluzente. Sem de dar o trabalho de usar copos, levou a jarra à boca sorvendo seu conteúdo. Doce vinho proveniente de Manile.

Batidas em sua porta interromperam sua tentativa de fuga da realidade.

– Sim?

– Senhor, trazemos um prisioneiro que insistia em vê-lo.

Calisto pensou incomodado ao dirigir-se a porta. “Prisioneiro? Que bobagem é essa!”

Ao abrir a porta viu dois soldados com olhos sonolentos e uma figura envolta em trapos da qual sentiu grande energia. Quando seus olhos azuis cristalinos cruzaram-se com os seus recebeu rápidas palavras em seu pensamento, “Calma, eu não vim para lutar.”

Calisto murmurou, – Um tisamirense...

Os guardas, atordoados e controlados pela vontade do tisamirense deixaram o local.

Disse e voz alta, – Chamo-me Radishi.

– Ah Radishi! Já ouvi dizer muito a seu respeito. O que deseja vindo até meus domínios?

– Vim para saber pessoalmente que tipo de pessoa você é.

– Mesmo sendo membro conhecido da rebelião, ousa vir até meu castelo para saber que tipo de pessoa que sou?

– Sim.

– Você é louco, poderoso e veio me derrotar!

– Bem talvez, mas não acha possível que as pessoas tenham interesses que estejam além de conquista, lutas, destruição e poder?

– Talvez, se forem tolos, ou servos naturais.

– Diria então que sou um servo.

– O servo sábio que se curva diante do mais forte, afinal?

– Sim, meu senhor, eu vim para conhecê-lo, e para servi-lo se julgar que seu caráter é digno de um líder que deve ser seguido.

Calisto estava surpreso com as palavras do tisamirense e convidou-o para sentar-se.

– Diga-me Radishi o que deseja saber?

– Quero fazer algumas perguntas. Posso?

– Claro.

– O que sabe da origem de seus poderes?

Calisto ficou quieto, incomodado por não saber resposta alguma à pergunta do estrangeiro.

– O que sabe sobre Tisamir?

– A cidade oculta, não é mesmo?

– Pois sim!

– Pouco, sei apenas que possuem uma grande escola e que fica isolada nas montanhas da cordilheira de Thai.

– O que sabe sobre os necromantes? Quero dizer, o que realmente sabe sobre suas intenções?

Calisto sem realmente saber algo resolveu mentir, – Não são assuntos que discutiria com você de forma alguma.

– Entendo. Mas suponha que saiba pouco, ou mesmo, que nada sabe sobre os reais planos e intenções deste grupo de feiticeiros das trevas que tomou posse deste reinado. Por que agir junto a pessoas que...

– Sei onde quer chegar, tisamirense! Acha que cairia tão fácil numa conversa como essa? Acha que passaria para seu lado, não é mesmo? Pois saiba, não tenho lado, tenho apenas a mim mesmo!

– Verdade? – seu olhar demonstrou tristeza naquele momento. – A solidão é umas piores coisas que existe. Após uma pausa inquiriu – E seu pai?

– Pai? Não tenho pai. Fui criado por Thoudervon, um ente morto-vivo. Nunca tive pai.

– E como acha que chegou ao mundo, através de um encantamento?

– Não... na realidade...

– Um dos motivos pelos quais vim até aqui, foi por causa de seu pai.

Calisto ficou nervoso e aumentou o tom de voz – Meu pai? Como assim? Quem seria meu pai, do que está falando.

– Conheço seu pai verdadeiro e ele vive.

– É e daí? Que diferença faz se um porcaria de um tisamirense vem me dizer que tenho um pai? Onde ele esteve? Nunca fez nada por mim! Que morra...

– Infelizmente, seu pai também parece não nutrir bons sentimentos em relação a você Calisto. Temo que se você não mudar sua atitude quanto a vida, eventualmente vocês irão se encontrar, num confronto de vida ou morte.

– Então é assim... Meu velho deve ser legal como eu, imagino. Que venha, vou fazer picadinho dele.

– É muito triste, sabe Calisto, quando percebemos que a existência de uma pessoa está dominada por ambição e ódio.

– É melhor você começar a falar alguma coisa interessante logo senão terei de matá-lo.

Radishi sorriu largamente e disse, – Muito bem, aos negócios! Escute bem e verá que não minto. O Rei e seus comparsas necromantes o temem, mas acreditam que o têm e sempre terão você sob controle.

– Disso eu já sabia, conte algo de novo.

– Bem, eles estão certos... Possuem poderes além de sua capacidade e no dia que você se tornar muito perigoso se disporão de você imediatamente.

– Muito bem gênio, disso também já sabia. Diga-me algo de novo antes que perca minha curta paciência.

– Se aceitar minha ajuda, poderemos mostrar a eles que estão redondamente enganados em relação a você.

– Ajuda? E em que você acha que pode me ajudar, fracote?

– Posso lhe oferecer dois bens valiosos: conhecimento e treinamento.

– Treinamento? Como assim?

– Você nem faz idéia, não é mesmo?

– Idéia de que Tisamirense?

– Deste enorme poder que possui! Dentro de sua cabeça. Poder quase ilimitado. É impressionante o que conseguiu aprender por si só, sem um professor. Se seus companheiros suspeitassem de em algum momento você tenha arranjado um professor para as artes psíquicas, mandariam matá-lo imediatamente.

– Ei o que está me dizendo? Que tenho muito poder mas não sei usá-lo?

– Sim.

– E porque você quer me ensinar?

– Tenho esperanças quanto a você... Sinto que está confuso porque muitas verdades foram escondidas de você pelos necromantes até então. Se aos poucos, lhe trouxer conhecimento, imagino que por si só, você conseguirá reavaliar sua vida e sua conduta.

– Mesmo que eu use meu poder ampliado para maiores conquistas?

– É um risco que estou disposto a correr.

– Não tenho certeza. Não sei se é o melhor momento para envolver-me com você tisamirense. Vou pensar no assunto e discutiremos novamente quando for barão e dono destas terras oficialmente.

– Como quiser, Calisto. Apenas cuide-se para não ter um encontro desagradável com seu pai. Ele deseja reparar o mundo do erro que acredita ter cometido ao gerá-lo.

– E como poderei fazer isso?

– Não viaje pela cordilheira de Thai e não se envolva em assuntos que digam respeito aos anões.

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