08: "Normalidade" que nos fere

Aviso de gatilho

• Assédio


Hoje o dia não começou tão frio como o habitual. Logo, decidi usar apenas uma blusa de mangas compridas debaixo da camisa de uniforme ao invés de um casaco.

Abro as janelas para arejar o quarto e acabo vendo Yudis agarrada ao braço do amigo de Ur que parece animado com a conversa. Ur aparece e fala alguma coisa que os faz rir, de certa forma essa imagem mexe comigo. Como eles conseguem ser tão alegres? Como Yudis consegue animar alguém que sempre aparenta estar sério?

Volto a fechar minhas janelas por um sentimento de desânimo que toma conta de mim, de seguida eu solto o ar que nem tinha percebido que estava preso em meus pulmões.

Diferente dos outros dias, hoje preparei-me cedo para ir à escola, não que eu tenha algum motivo especial, apenas aconteceu e acho que isso dá motivos para estar Yudis entrando no meu quarto sem bater a porta somente porque não a deixei trancada hoje cedo, o que também é questionável porque dificilmente faço isso.

— Toc-toc. — a minha amiga diz vindo em minha direção com um sorrisinho alegre desenhado nos lábios.

— Oi. — Eu murmuro tentando dar um jeito de arrumar os meus cabelos num coque que não seja tão desleixado como dos outros dias.

Yudis joga sua mochila de lado na cama antes de jogar seu corpo ali de maneira relaxada e estar me encarando com uma falsa careta de tristeza.

— Deixa ele solto, gatinha. As pessoas precisam ver você arrasando com essas chamas. — Acho que é precisamente por isso que eu não os deixo solto de qualquer maneira. É incômodo e desteto quando estão olhando para mim pelo comprimento ou pela cor dele.

Mas Yudis pensa o contrário. Sempre vê formas de me admirar por eles.

Quando criança, alguns colegas da escola riam do meu cabelo por ser ruivo e diferente de todos os outros. Yudis sempre me defendia admirando meu cabelo por ter a cor do por-de-sol e a cor de chamas. Mas eu não ligo muito para isso, tanto que, tem vezes que tenho vontade de cortá-lo.

O que parece que não vai tardar tanto assim à ser feito.

— Hoje não. — Declaro ajeitando os cadarços da minha sapatilha.

— Nossa, que desgostosa — Ela brinca fitando o teto, pensativa. — Por que não me contou que o Querin mora na sua casa?

Eu ergo meu corpo de imediato, surpresa.

— Então você conhece ele?

— Claro que conheço, ele era veterano na nossa escola, muitas garotas conhecem ele, por sinal. — Yudis está mascando um chiclete, o que acho irritante quando ela o estala de repente. — Você não o acha lindo?

Dou de ombros, me voltando para a minha escrivaninha do outro lado do quarto onde está a minha mochila.

Eu não o acho lindo. Tenho a certeza disso. Mas parece estranho e errado que eu tenha pensamentos assim por um garoto, uma vez que faço de tudo para os repelir sempre que posso.

Então pondero que o melhor é guardar isso só para mim mesma quando digo com falsa indiferença:

— Sei lá.

— Como assim, "sei lá"? Me explique. — Tenho vontade de dar uma risadinha do tom de acusação em suas palavras, porém me contenho.

— Eu não interajo com ele. Nem sequer o vejo ele pela casa. — Eu acho que acabo de contar uma meia verdade para minha amiga, o que não é tão ruim comparado ao que não tenho contado faz anos.

— Ur estava me contando que ele te ajudou com vovó Yame ontem. — Ela diz, deixando as perguntas chatas de lado e capturando a minha atenção. — Eu e a minha mãe fomos fazer uma visita mais cedo.

Eu sorrio retraída. Acho que esse é o motivo de a considerar a melhor amiga que poderia ter.

— Como você está com toda essa situação?

Deixo que meus ombros caiam conforme visto uma das alças da mochila colocando-a nas costas. — Eu vou ficar bem se ela estiver bem.

Yudis acena com a cabeça e olha para o relógio no seu pulso, um incentivo para se levantar e pegar na sua mochila.

— Está na hora de ir. — Ela afirma ajeitando a saia de uniforme que lhe bate na metade das coxas vestidas numa langerie preta. —  Vamos, Igith amiga.

Eu nego sutilmente com a cabeça, ocupando o lugar que ela estava na cama.

— Sua hora. Eu saio daqui a trinta minutos, Yudis.

— Nunca vou entender esse lance seu de adorar se atrasar. — Ela murmura deixando um beijo na minha testa. — Nos vemos na escola, então.

[...]

Quinze minutos depois eu estava pegando um ônibus, que por sinal estava lotado e me fazendo me amaldiçoar por ter demorado mais que trinta minutos em casa. Logo, não tinha muitas opções senão ficar parada escutando música através dos meus fones de ouvido consoante casas e mais casas ficavam para trás.

Na primeira paragem que o ônibus faz durante o percurso algumas pessoas saem  deste inferno enquanto que outras vem se acumulando, inclusive um cara que não gosto nem um pouco da forma que faz o meu estômago se revirar ao brilho que tanto detesto no olhar de certas pessoas.

Ele agora está passando por mim, o que deveria ser um alívio. Mas é apavorante que pode estar bem próximo das minhas costas com tanta gente que há por aqui.
E é atordoante quando sinto a mão de alguém em mim na segunda freagem que o ônibus dá, me fazendo jurar que a partir de hoje só irei fazer caminhada porque meu peito está doendo com essa sensação tão remota que me esmaga o peito.

Mesmo que com asco e medo, eu olho por cima do meu ombro e é o mesmo maldito sorrindo malicioso para mim, me enfurecendo e me fazendo detestar que nem um maldito ônibus eu posso pegar em paz.

Não pensei duas vezes e dei uma cotovelada em seu peitoral, de imediato ele se afastou. Algumas pessoas olhavam para mim e outras murmuravam entre si.

— Não tem vergonha de bater em um homem adulto, garota? — Eu bater nele todos vêem, ele tocando em mim todo mundo parece cego.

— Ele devia ter vergonha por não ser capaz de respeitar uma mulher. — Acuso irritadiça, e me sinto imensamente aliviada quando as portas se abrem no instante eu que eu termino de falar.

Às vezes detesto que a sociedade em que vivemos está lotada de gente mal intencionada, poucas delas inocentes ou simplesmente sem malícia em seus atos.
Até a droga de um ônibus mete medo nas pessoas pelo tanto que é incômoda a sensação de ser tocado indevidamente.

É inevitável não sentir o desgosto por não poder ser livre de caminhar por onde eu quero. A hora que quero, sem temer que alguém muito mais forte em relação a mim vai ser capaz de me fazer mal quando bem entender.

Eu não devia me sentir culpada por isso, mas eu sinto. Sinto que ocupar esta posição no mundo, diversas vezes me submete a situação constrangedoras das quais a sociedade considera "normais".

Mas nada disso é normal. Se destrói não devia ser normal, se machuca não devia ser normal. Porque a cada toque indevido, uma alma é terrivelmente ferida.

Tanto como a minha já foi anos atrás.

[...]

Não consigui me concentrar praticamente em nenhuma das três aulas que eu tive. Sinto que estou irritada, e chateada, e com aquele sentimento de fraqueza que me deixa com a sensação de vazio na alma.
Acho que desde a entrada da professora de história eu mantenho a cabeça pendida para a parede no canto onde me sento todos os dias e bem lá no fundo entre os meus pensamentos ouço os burburinhos que eles criam todos dias.

Geralmente, são fofocas sobre outras pessoas, às vezes sobre algum evento importante que os adolescentes compareceram. E noutras, assuntos que eles acham importante trazer a tona por aqui. O que por segundos me faz questionar qual dos três estão falando hoje.

Eu ponho meu corpo ereto e descanso as costas no encosto da cadeira de vinil. Depois curvo um pouco a cabeça e franzo o cenho porque os meus colegas estão pouco se importando com a presença da educadora sentada a nossa frente. Eles não estão cochichando, estão falando realmente.

Aynet, uma das garotas que escolhe o fundão tanto como eu e se senta do meu lado vira-se para mim na intenção de me inteirar no assunto.

— Estão falando da Suaān — murmura ela, uma das mãos em concha protege o lado direito da bochecha como se contasse um segredo. O que literalmente é, eu acho. — Dizem que ela dormiu com o professor de geografia.

Eu intuitivamente passeio o meu olhar pela turma a procura da Suaān, e confirmo que a mal-falada não está aqui. Volto novamente a encarar Aynet, que está mordendo a ponta de sua caneta enquanto me esperava processar a informação.

— Ela não está aqui. Quando começaram com os rumores de que ela dormiu com o nosso lecionador, a garota saiu correndo da sala. Agora se por vergonha ou raiva de estarem falando da vida dela, ninguém sabe.

Certamente não conheço muita gente na turma, mas todo mundo sabe que a Suaān é de uma família bastante religiosa — o que por vezes não muda muito as atitudes das pessoas. — e isso me faz cogitar o que teria realmente acontecido entre eles, embora eu não sou ninguém para julgar ela, principalmente quando não sei se esses rumores são verdadeiros.

— E os pais dela? — pergunto por curiosidade.

— Ainda não sabemos da história completa, mas tarda nada a escola inteira saberá.

Eu lhe dou um leve aceno e volto a posição inicial. Pendo a cabeça para o lado e deixo que novos pensamentos tomem conta da minha mente.
A primeira coisa que eu pondero é: o professor deve ter assediado ela ou algo assim. Entretanto minha mente cria outro cenário e imagino: e se Suaān deixou-se insinuar para ele?

Fico pensando muito nessas duas probabilidades, mas não por tanto tempo como eu gostaria porque me sinto ferrada quando o professor de matemática entra e hoje é dia de teste surpresa.

[...]

Se eu tiver uma nota ao menos razoável naquela prova, é Deus me ajudando. Depois que a realizamos, eu decidi que foi o teste mais difícil no ano inteiro. Talvez porque o lecionador tenha nos controlado tão bem a ponto de ninguém ter conseguido colar hoje.
Não que eu tenha hábito de fazer isso. Muito pelo contrário, detesto que tenha de recorrer a cola quando não consigo estudar ou captar nada durante as aulas.

Estou caminhando distraída pelos corredores límpidos e reluzentes da escola ladeados de cacifos, rumando ao banheiro antes de voltar para casa definitivamente. E me amaldiçoo muito quando dobro o corredor e tombo com um grupo de garotos do último ano.

Embora eu esteja atordoada pelo contato inesperado com as mãos de um cara em meus ombros, consigo repelir a vontade de chorar e o desconforto que isso me causa o afastando para longe de mim.
Consequentemente, tenho a visão de quatro moços de estaturas diferentes e feições intimidantes que me encaram com fissura.

— Opa, olha só o que temos por aqui. — diz um deles, o que me tocou pelos vistos, sorrindo mordaz para mim.

Eu dou um passo para trás, não vacilando um segundo sequer na expressão impassível.

— Não sabia que a maninha do Ur curte se jogar em garotos. Uma vez que muita gente acredita que você prefere outra onda, o que para mim — o outro dá uma olhada rápida em mim, antes de abrir um sorriso malvado — seria um desperdício.

Eu os encaro com asco, e me sinto ínfima quando todos concordam e suas risadas me causam desconforto.
Consigo os ignorar e passar por eles, no entanto, o que não é possível ignorar são as lágrimas que fazem meus olhos arder e todo sentimento ruim que tenho por mim mesma toda vez que ouço alguém dizer algo assim.

É muito difícil passar um dia sem ouvir algo do tipo. Às vezes são comentários maldosos sobre mim e o fato de ninguém nunca ter me visto ficar com um garoto. O que me incomoda demais porque não devia lhes caber se eu gosto de garotas ou não.

Outro ponto que me deixa fora do sério são esses garotos me caluniando sempre que podem. O que ao meu ver é na maior parte das vezes o motivo de eu tanto faltar à escola fora o meu particular desânimo pelos estudos.

Eu empurro a porta do banheiro com mais força que o necessário e sei que se deve apenas ao que acaba de acontecer ali naquele corredor.
Meu peito está apertando, e eu daria muita atenção a isso se não tivesse acabado de ouvir o que sempre me impede de vir até aqui: alguém chorando numa das cabines.

Não gosto de interferir na vida das pessoas, nunca gostei. Mas sei o que é chorar e não ter ninguém para te consolar, sei o quão horrível é sentir-se mal e não poder ter um ombro para se apoiar.

Eu tenho até evitado entrar aqui, porque cada dia é uma garota diferente, chorando por um motivo diferente. O banheiro tornou-se o refúgio de choro delas.

Literalmente.

— Ei, está tudo bem aí? — dou alguns toques na porta, ocasionando um silêncio cortante do outro lado, precedido por algumas fungadas.

— Por favor, eu não quero ver ninguém. — Tenho a leve impressão de que conheço esta voz meiga, porém não me iludo muito.

— Eu somente... — mas que droga, eu sou tão péssima nisso. — Eu somente quero saber se você está bem.

Nos primeiros cinco minutos tudo o que compartilhamos é um silêncio absoluto neste compartimento. E apesar de que eu sou muito impaciente às vezes, consigo esperar o tempo suficiente até que ouço movimentos do outro lado, depois a porta se abrindo para mim sem que eu fique surpresa de que se trata de Suaān, a minha colega que está sendo difamada pela metade da escola nesse momento, praticamente.

A garota sacode a saia e limpa o rosto com as costas das mãos sem erguer a cabeça como se estivesse vergonha demais para me encarar.
Ela treme, e parece frágil e amedrontada. Um espelho para as tantas vezes que já me vi assim.
Eu admito que costumo ser apática em algum momento, tanto como detesto contato físico. No entanto, o estado dela me faz quebrar minhas barreiras defensivas e com cuidado eu a envolvo em meus braços de modo a que a mesma se sinta confortável, uma vez que não temos intimidade alguma.

— Eu te juro que o que estão falando de mim não é verdade Igith, eu juro. — A voz nasalada dela cria uma coragem em mim de a confortar ainda mais, dando o espaço que Suaān necessita para desabafar.

— Fica calma Suaān — Ela encaixa o rosto na curva do meu pescoço e se deixa envolver por minhas palavras.
Eu só direi coisa alguma quando estiver a par do assunto, por enquanto seu estado é o que me preocupa.

— Ele me envolveu nessa situação caótica, que eu tentei ao máximo evitar. — Nós nos afastamos e eu lhe ajudo a limpar as lágrimas com cuidado.

— Vem, você precisa lavar o rosto e se recompor primeiro. Depois, se quiser falar sobre, eu estou aqui. — Eu falo essas palavras e tenho a sensação de que é tudo o que alguma vez eu quis ouvir alguém dizer para mim depois daquele dia.

E definitivamente Suaān queria falar sobre o que aconteceu. E decido que em meio a julgamentos, quando há uma oportunidade de sermos ouvido nós nos agarramos à ela, pois quando tudo está insuportável o que mais queremos é dividir com alguém.

Embora às vezes seja extremamente difícil fazê-lo.

Eu quis por muito tempo. Até perceber que perdi meu tempo querendo algo que não teria coragem de expressar em palavras.

Estamos sentadas uma ao lado da outra no banquinho acoplado a parede ao lado da porta, nossas mãos entrelaçadas e descansadas sobre o colo de Suaān. Ela ainda está fungando e secando as lágrimas com auxílio de lencinhos de papéis disponíveis sobre a ilha do lavatório.

— Acho que vai um mês que me sinto desconfortável na presença do nosso professor. — Ela fala sem desviar o olhar de suas sandálias marrons. — Antes, não era tão ruim, eu era ingênua e não entendia o que estava acontecendo, até não poder fingir desver tudo o que veio a seguir, tudo depois daquele dia que me tirou o chão.

Suaān me colocou a par das situações constrangedoras nas quais esteve submetida nas últimas semanas quando estava na presença do nosso professor de geografia. Ela explicou que de início as conversas pareciam normais, ele a admirava pelas notas e o desempenho nas outras disciplinas. Depois, os elogios foram intercalando entre duvidosos e sinceros.

Mais tarde, começaram os toques suteis em sua mão, ou ombros. Seguidos por perguntas desconfortáveis que a fizeram querer se afastar da companhia do lecionador que já não aparentava ter nada boas intenções.
E que foi a partir desse ponto que tudo pareceu piorar, levando ao que ocorreu há uma semana atrás numa das salas de aulas quando ela explicou como se sentia e o mais velho, como se tivesse intenções de se desculpar acabou causando a situação na qual a garota que costuma usar óculos se encontra agora.

— Eu... Eu acreditei que ele se desculparia, Igith — ela limpa o nariz antes de jogar mais uma bola de papel no caixote ao seu lado —, acreditei até ao momento que sorriu para mim como se no minuto seguinte não tivesse, segundo ele, sem intenções, me apalpado. Foi horrível. É horrível e... vergonhoso.

Eu mordo o lábio inferior com força porque desteto o que estou ouvindo. Detesto ainda mais que exista um professor assim, tanto como o fato de que mais alunos estão possívelmente passando por isso também.

Suaān voltou a chorar, só que agora no meu peito porque eu a envolvi novamente no meu abraço e sem entender muito eu fui forte por ela e guardei as minhas lágrimas, embora fosse como se sentisse sua dor a flor da pele.
Não falaria sobre mim e de como a entendo perfeitamente, de como é horrível alguém que devia educar você acabar machucando você, eu simplesmente fiquei ali por ela porque Suaān precisava de mim.

Todos os outros estudantes que estão passando por isso precisam se livrar de pessoas assim. E se desta vez eu puder fazer algo o quanto antes, eu farei porque é importante que todos conheçam os perigos a que estamos submersos. Principalmente quando estão tão próximos de nós.

— Me sinto estilhaçada e suja, suja demais para estar perto de outras pessoas. Sinto vergonha do que os meus pais irão pensar se souberem disso. E desde então tenho muito medo de que outros façam isso ou pior comigo. É muito difícil aguentar isso, Igith. Eu não consigo parar de chorar nem que eu tente, embora sempre faça isso longe de todos.

Se eu não fosse quem eu sou, usaria a frase de efeito de que tudo vai ficar bem e que irá melhorar. Mas essa seria a pior mentira que eu contaria para ela. Porque eu sei que as coisas não são bem assim.
Já se passam quatro anos que tenho o conhecimento disso.

— É difícil se sentir diferente disso, Suaān — eu começo a falar com cautela, afastando metodicamente os fios negros dos seus cabelos para o lado. — É super complicado viver com essas imagens em nossa mente, com a sensações desses toques em nossa pele, e de fato impossível superar algo assim. Sim, infelizmente há situações insuperáveis nessa vida.

Suaān tira o rosto do meu peito e me encara como se ela visse em mim aquilo que eu vi nela quando abriu a porta da cabine. A dor de estar marcada pelo meu passado. E agradeço muito que ela não está perguntando nada sobre isso. Porque eu não falaria sobre isso também.

— Pode faltar coragem, e por vezes ter as recaídas de momentos que você só quer esquecer, entretanto, você pode ser capaz de recolher seus caquinhos no seu próprio tempo. Principalmente quando se sentir pronta para compartilhar isso com alguém de confiança. E que também é capaz de evitar que ele faça o mesmo com outros alunos. Seria horrível se o mundo estivesse cem por cento rodeado de pessoas que se sentem assim, como... s.

Suaān nega sutilmente com a cabeça, limpando mais lágrimas.

— Eu não sou capaz, não tenho toda essa coragem e, ninguém acreditaria em mim.

s somos capaz. Se nos unirmos somos capazes de derrubar essa gente sem escrúpulos. — Eu digo, encarando-a com serenidade. — E você não é desmerecedora da companhia das outras pessoas por causa de algo que ele fez. Ele não merece  viver em sociedade por criar ideias desse tipo em ti.

É a primeira vez que uma lágrima me escorre nessa conversa. Porque tudo o que acabo de dizer à ela, a esta garota tão corajosa a ponto de compartilhar o que tem lhe rasgado o peito com alguém, essas palavras eu gostaria de dizer a mim mesma anos atrás e me explicar que talvez não seria tão ruim dizer o que sinto à um outro alguém.

— Alguém já te disse que você é muito incrível, Igith? — Ela indaga, joga mais um lencinho de papel usado no caixote e me encara, abrindo o primeiro sorriso durante estes minutos longos que estamos sozinhas.

Não.

Eu dou de ombros, como se essa pergunta não tivesse me deixando um pouco desconfortável.

— Então saiba que você é muito incrível.

Eu não sorrio. Somente comprimo os lábios e a ajudo a se levantar do banco de mármore gelado.

— Então você também é, Suaān. Porque estamos indo fazer isso juntas.

[...]

A última reação que eu esperava ao contar ao nosso diretor sobre o que acontecia na sua escola, foi de descrença, despreocupação e negligência quanto a  um assunto tão delicado quanto este.

A última atitude que eu esperava da autoridade que acreditamos ser nossa melhor opção, era o preconceito para com as garotas da escola quando afirmou que a culpa era nossa por conta das saias. Tanto quanto de que não poderíamos fazer acusações sem prova alguma.
Nesse momento, detestei que a escola não tivesse câmeras no interior.

A última coisa que eu queria, era ter visto Suaān fazer o que eu fiz e desistir da ideia de que ainda podemos vencer isto.

A última coisa que eu não queria, era ter chegado à casa e chorado por me sentir impotente por não conseguir superar esta normalidade que nos fere.

Não desista garota
Ainda há esperanças
Nem que seja uma mísera gosta
Lute quanto puder
As lágrimas derramadas
Irão te fazer reviver
Mostrando o teu grande e
Majestoso poder.

Dinazarda

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