Acordei cedo, com uma puta ressaca, com um mau humor que ninguém agüentava. Mesmo com uma preguiça maior que o meu mau humor, me obriguei a ir à academia. Chegando na academia, iria correr até esquecer meus problemas, iria correr até sentir minhas coxas começarem a queimar. A ligação do Luís não me saía da cabeça.

– Droga! Vou ter que trocar meu número de novo – resmungando, continuei a correr até que meus pensamentos estivessem cansados. Tinha meio que virado uma rotina, o Luís não aceitava o fim do nosso namoro, sempre mudava de número, mas não sei como, ele sempre achava e me ligava, me dizia que estava arrependido, que queria reatar o noivado, cerca de um mês atrás descobriu onde morava agora quase todos os dias recebo flores, bichinhos de pelúcia, cartas de amor. Estava quase pensando em me mudar. Desisti, gostava demais do meu apartamento. Mas nem que ele viesse coberto de ouro iria querer alguma coisa com ele.

Andava um pouco distraída, pensando teria que mudar meu número o quanto antes, já fazia meu caminho para sair da academia, entrei em um corredor com pouco movimento afim de sair mais rápido da academia, já estava atrasada para o trabalho, quando esbarrei em uma parede. Estava já a caminho do chão quando dois braços fortes tentaram me segurar, o que só amenizou o impacto. Foi então que eu percebi, que não era uma parede, era um cara bem grande.

– Ai meu Deus! Me desculpa por favor, devia olhar por onde eu ando e eu... – foi quando vi seus olhos, duas piscinas azuis da cor céu, olhando para mim com preocupação e eu perdi totalmente a linha de raciocínio. Analisei todo seu rosto, olhos grandes e bem azuis, nariz reto e bem afilado, boca perfeitamente bem esculpida e carnuda, maxilar bem largo, sobrancelhas grossas, mas aparentemente bem cuidadas. Acho que o conjunto ficou muito bem nele, e ainda tinha uma barba por fazer, o que conferiu ao seu rosto um estilo de garoto malvado.

Desde que terminei com o Luís não me envolvi mais com ninguém, alguns caras até que me atraíam fisicamente, mas não passou disso. Tentei ir a um encontro há um mês atrás, mas foi um completo desastre. Decidi esperar um pouco mais, esperar um cara que eu realmente me interessasse. Meu único relacionamento é com meu vibrador, escondido debaixo de várias lingeries sensuais inutilizadas.

– Ah, sem problemas linda – sua voz baixa e rouca me cativou, se abaixou para me ajudar a levantar, quando aqueles lindos lábios pecaminosos estavam próximos senti seu hálito fresco, e seu cheiro de homem me fez querer pular no seu pescoço e inalar aquele aroma incansavelmente – Linda? Ta me ouvindo? – putz! Tinha viajado tempo demais.

– Ah, tô sim, desculpa! – senti minhas bochechas esquentarem, acho que ele percebeu que eu estava olhando descaradamente para o seu rosto lindo.

– Bem desculpas aceitas, mas por mais que eu esteja gostando desse papo no chão, que tal nos levantarmos? – ele se ergueu primeiro e ofereceu a mão para me ajudar. Foi quando vi suas mãos, grandes e fortes. Imaginei-as passeando pelo meu corpo, me despindo e me segurando com vontade. Acho que demorei muito nos meus devaneios de novo, pois ele já estava balançando a mão perto do meu rosto – Alôô? Terra para...

– Camila – peguei sua mão e me levantei do chão.

Quando levantei pude perceber seu corpo melhor. Era bem mais alto que eu, devia ter uns 1,90 metros. Não tinha exatamente um corpo forte, mas pela parte que era exposta na sua roupa de academia – braços e panturrilhas – parecia que tinha tudo no seu devido lugar. Ele tinha ombros bem largos, mas resto do seu corpo era esguio. Tinha panturrilhas bem torneadas que combinavam bem com o seu físico. Mas o conjunto formava alguém com uma estatura bem grande.

Vestia uma camiseta azul da cor dos seus lindos olhos e um calção preto. Seus cabelos eram de um tom bem escuro e acredito que estava em um tamanho maior do que o de costume, pois ele tirava constantemente do rosto másculo. O conjunto da obra era quase demais pra qualquer mulher agüentar. Lindo de morrer. Acho que o homem mais lindo que eu já vi na minha vida.

Ele exalava um ar de garoto malvado, um cheiro de homem que era só a cereja pra completar tanta perfeição. Sério acho que um homem desses deveria ser proibido de andar na rua. É uma covardia com as mulheres de todo mundo.

E para completar eu estava completamente suada e descabelada por causa dos exercícios. Minhas bochechas vermelhas e rosto completamente molhado. Minha calça cinza apertava em vários lugares que eu não gostava e por isso estava com uma camiseta preta do AC/DC masculina customizada enorme que cobria tudo o que eu não gostava com um top simples cinza. Ninguém merece conhecer o cara mais lindo do mundo parecendo uma louca que acabou de correr uma maratona e que provavelmente cheirava como um saco de roupa suja.

– James, prazer em te conhecer – nos cumprimentamos e conversamos parados onde eu tinha caído – bom Camila, sou novo nessa academia, mas que bom que já consegui esbarrar em novas amizades.

– Ei! Já pedi desculpa – virei para encará-lo e ele estava sorrindo da minha reação, mostrando duas linhas de dentes brancos e perfeitamente alinhados, quase que me perdi então me obriguei a desviar o olhar e encarar o chão – Estava muito distraída, não devia andar por corredores sem olhar por onde ando.

– Já te disse que não foi nada demais. Só estou brincando com você. – ainda estava sorrindo e estava cada momento mais difícil manter minha concentração na conversa – E aí, você mora aqui por perto?

– É bem perto sim, mas hoje como tinha que buscar meu carro na oficina, acabei que vim de carro. – menti, ele não precisava saber que eu estava com uma puta ressaca e com preguiça demais para ir andando a academia. Desviei meu olhar do rosto dele para manter meus pensamentos no lugar.

– Ah, então você se incomoda se eu te acompanhar até o estacionamento? Minha casa não é tão perto então tenho que vir de carro.

– Sem problemas – concordei e continuei a andar do lado daquele pecado em forma de homem. Conversamos pouca coisa, descobri que ele era bombeiro, quatros anos mais velho que eu e que tinha dois irmãos, um mais velho e um mais novo.

Andamos com quase nenhuma pressa. Mas quando olhei para o relógio lembrei que tinha que estar no trabalho e que estava ficando muito tarde, já ia chegar atrasada.

– James está muito tarde, vou chegar atrasada no trabalho com certeza! O papo está muito bom, mas tenho que me apressar pra chegar logo no estacionamento, nos esbarramos pó aí, beijos – me afastei um pouco rindo e virando para ele, mas meu sorriso morreu quando cheguei perto da porta que separava a academia do estacionamento.

 – Camila? Tudo bem? Você tá branca – James me alcançou e me encarou com um olhar preocupado.

Congelei no lugar quando vi o Luís no estacionamento, parado do lado do meu carro. Que diabos? Como ele me achou? Arg! Não agüentava mais mudar os locais que freqüentava pra evitar sua presença. Foi então que eu tive uma idéia, se o Luís me visse com outro cara, será que desistiria? Não custava nada arriscar.

Com uma coragem que sinceramente não sei de onde saiu, expliquei rapidamente minha história para James, mas claro que omiti a traição, disse somente que seguimos caminhos diferentes, mas agora ele me queria de volta. E confirmei que não queria ver ele nem se ele fosse o último homem da face da terra. Juntei todo o resto de coragem que tinha, respirei fundo algumas muitas vezes e falei com a cabeça baixa.

– Então, posso te pedir um grande favor? – ele assentiu, consegui reunir forças para conseguir olhar ele nos olhos e continuei – assim, eu sei que acabamos de nos conhecer, mas será que você poderia segurar minha mão e fingir que está apaixonado por mim só por alguns momentos, só na frente do meu ex?

Nem sei como consegui pedir aquilo para um completo gostoso estranho, acho que o meu desespero por ver o Luís ali tão perto foi maior que a minha vergonha na cara.

Já como eu nunca iria namorar um cara lindo e gostoso como aquele, meio que me contentei com o nosso namoro de mentira. Enquanto ele pensava, eu imaginava como seria namorar aquele homem, todo aquele peso e força me fodendo loucamente, com força, com carinho, imaginei seu corpo nu. Acho que minha mente entrou em parafuso. Ele era demais para mim, além do mais, acho que ele era demais para qualquer mulher.

Ele parou um pouco, acho que analisando meu pedido, analisou meu rosto, só espero que ele não perceba o que eu estou pensando. Fiquei parada, mas meu coração estava muito acelerado, estava muito nervosa, queria muito que ele aceitasse, queria que ele fosse meu namorado nem que fosse de mentira. E também ajudaria se o Luís parasse de me seguir.

Epa! Como assim? Desde o Luís não consegui pensar em nenhum outro cara nesse sentido. Fiquei alerta, não podia me levar pelo seu rostinho bonito e seu sorriso de menino malvado. Não posso querer nada com um cara que nem conheço, que nem sei o sobrenome. Mas se bem que ele parece ser do tipo que aceita casos de uma noite. Não! Bloqueei todos os meus pensamentos e me concentrei para conseguir voltar a encará-lo.

James tinha um rosto bem sério, e ainda estava muito calado. Me surpreendeu quando ele me deu um sorriso torto – digno de me fazer querer possuir esse homem no meio de uma academia lotada –  e simplesmente assentiu.

Um sentimento de alívio me inundou quando segurei sua mão e segui com ele para o estacionamento, um pouco preocupada com a reação do Luís.