Capítulo 01 - Desilusões

Bom dia mundo! Nada melhor do que acordar de bom humor, linda, limpa, com som calmo do oceano e com o homem perfeito ao seu lado. Bem, isso aconteceria caso eu fosse a personagem de algum livro de um conto de fadas ou a protagonista de algum filme mamão com açúcar. Mas aqui estou eu, acordando com o som quase ensurdecedor de buzinas de pessoas enfurecidas no trânsito, com olheiras de rímel chegando até quase metade da minha bochecha, completamente atrasada para a aula, na minha cama completamente vazia. Sim, essa sou eu, Camila Martins, prazer.

Vou começar falando um pouco sobre mim. Fui uma aluna mediana, sempre tentei ser certinha, nunca bebi demais, nunca namorei demais, nunca me apeguei demais, nunca menti demais. Comecei a trabalhar bem jovem, não porque precisei ou algo do tipo – meus pais sempre me apoiaram financeiramente, mas foi porque sempre gostei de ter minha independência. Acho que foi por esse motivo que tive meu próprio apartamento com 19 anos. Falo diariamente com meus pais e tenho um relacionamento bem legal com o meu irmão mais novo, Isaac. Hoje, com 23 anos, estou terminando minha faculdade de engenharia, trabalho meio período como bartender e acabei de mudar pro meu apartamento dos sonhos. Não é grande, mas é em um bom bairro. Há alguns meses acabei de terminar meu namoro/noivado de pouco mais de 3 anos, mas sobre isso vou falar daqui a pouco.

Meu trabalho é a noite, e como já estou na reta final do meu curso não há mais a necessidade de comparecer diariamente a faculdade. Com o meu tempo livre de dia, comecei a cuidar mais de mim, afinal tive que começar a mudar, querendo ou não, pois como estava em um relacionamento de longa duração, acabei por relaxar um pouco na minha aparência. Comecei a malhar, mudei drasticamente minha dieta depressão-porque-não-tenho-mais-um-namorado (que estava resumido a sorvete, doritos e refrigerante), e depois de sofridos meses, voltei meu corpo usual. Não me acho gorda nem magra, nunca tive um corpo de violão, sou satisfeita com meu corpo cheinho, seios pequenos, quadril largo, pernas longas e malhadas, meus cabelos e olhos escuros e minha altura um pouco acima da média.

O bar onde trabalho é um espaço bem legal tem uma pista de dança enorme, tem dois andares e é um dos mais requeridos da cidade. A equipe é maravilhosa, incluindo minha melhor amiga e companheira de apartamento, Bianca. A Bianca é da minha idade, tem os cabelos escuros e os olhos esverdeados. É bem mais baixa que eu e tem um corpo de causar inveja a qualquer mulher, parece até uma boneca de tão pequena e rosto juvenil. Conhecemos-nos no tempo da escola, e até hoje somos melhores amigas. Crescemos juntas, nos decepcionamos juntas, e ela me conhece melhor do que outra pessoa da minha família. Faria qualquer coisa por ela, a considero uma irmã mais nova, mesmo possuindo a mesma idade.

Decepção amorosa é o meu nome do meio. Não me envolvi com muitas pessoas, mas os caras com quem me envolvi sempre tinham algum segredo obscuro, ou simplesmente eram verdadeiros cafajestes. Tudo parecia ter mudado quando conheci o Luís. Mas como parece que o cupido tem uma cisma comigo, eu estava errada mais uma vez.

Ontem a noite, Luís me ligou. Disse que queria falar comigo, que queria conversar seriamente comigo. Não respondi, ele não ia escutar nada de mim, desliguei o telefone na cara dele e corri no armário da cozinha procurando alguma bebida forte. Que me lembre, bebi quase toda uma garrafa de vodka e duas taças de vinho.

Antes de qualquer coisa, vou explicar o porquê terminei com o meu namorado, primeiro: ele é um babaca completo, acho até que inventaram o termo babaca pensando nele. Conheci ele na escola, éramos amigos antes de sermos namorados. No último ano do ensino médio, me pediu em namoro e eu cega de amor, aceitei. No começo do namoro, eram tudo rosas e corações, não que eu seja uma romântica incorrigível, mas até que curtia a atenção e o carinho. Depois de 2 anos de namoro, ele mudou de repente, ficando frio, não avisando a hora que saía e muito menos a hora que chegava. Mas mesmo com ele distante, o relacionamento foi fluindo, mais por esforço meu do que qualquer coisa. Mais ou menos um mês depois do seu tratamento de gelo, ele chega em casa, simplesmente me entrega a aliança e me pede em casamento, e eu muito bobamente apaixonada aceito – penso até que o seu tratamento era resultado do seu nervosismo. Ainda sinto ódio de mim e uma vontade absurda de matar o Luís quando me lembro disso.

No período que passamos noivos, tudo foi melhorando, ele foi promovido, compramos nosso apartamento juntos e já tínhamos começado a guardar um pouco para a cerimônia. Tudo estava correndo bem, voltamos a ter um relacionamento saudável. Luís estava visivelmente mais alegre, e atribui a mim essa felicidade. Fui aprendendo a ser uma dona de casa e confesso, me acostumei a ter sexo quase todo dia.

Uma rapidinha no chuveiro, ou uma noite inteira na nossa cama, sempre arranjávamos um tempinho para nos amar. O Luís sempre foi um ótimo amante, com ele perdi minha virgindade e ele sempre soube o que fazia. Por mais que o sexo fosse uma constante no nosso relacionamento, tinha caído na rotina. Parecia até programado: 5 minutos de carícias e beijos, 5 minutos de sexo e ele sempre gozava apertando meus seios e então era cada um pro seu lado.

Era nosso aniversário de 1 ano de noivado e eu tinha dito ao Luís que não poderia sair do trabalho mais cedo, porque era sexta e o bar iria estar lotado, mas era tudo parte da surpresa que eu tinha preparado, pois já tinha falado com o meu chefe e ele tinha me liberado. Então saí de casa, fui até uma confeitaria que tinha próximo a nossa casa, peguei o bolo que tinha encomendado para a comemoração, passei na casa da Bianca e me troquei lá, colocando apenas uma lingerie nova que tinha comprado especialmente para a ocasião debaixo de um casaco comprido preto.

Cheguei em casa cerca de uma hora depois que saí supostamente pro trabalho. Não o encontrei na sala, coloquei o bolo em cima da mesinha de centro e então fui procurar no resto da casa. Ao me aproximar do quarto escutei a sua voz abafada saindo lá de dentro, encontrei a porta semi-aberta, fui entrando silenciosamente, querendo surpreende-lo, mas a visão que tive fez o meu sangue gelar. Luís, na nossa cama fodendo loucamente duas loiras, em nossa cama! Vê se pode isso! As duas loiras se beijavam tão intensamente que nem me viram parada na porta.

Luís que estava muito feliz comendo a loira número 1 embranqueceu quando me viu a porta, acho que demorou alguns segundos pro meu cérebro assimilar o que estava acontecendo na minha cama. Acho que foi na hora que o Luís se levantou da cama e veio na minha direção que meu corpo reagiu e pude sair dali. Quase já saindo do apartamento o Luís agarrou meu braço e me fez virar para encará-lo, quando me virei, dei o tapa mais forte que já tinha dado na minha vida. Quando seu rosto voltou a me encarar, disse friamente.

– E pensar que eu ia te dar a minha vida! Cada sonho, cada promessa, cada sorriso, Luís, não significou nada pra você?  Como você pôde fazer isso comigo? Compramos esse apartamento juntos! Você conhece minha família, meus amigos. Como vou explicar? Maldito, egoísta, filho de uma pu... – nesse momento a loira número 1 sai do quarto, e eu pude ver seu rosto, caralho mil vezes! – e ainda mais com a nossa vizinha! Vai pra merda Luís!

– E...e...eu posso explicar meu amor! – ele começou a gaguejar, abriu e fechou a boca muitas vezes, mas acho que não conseguiu formular nada. A loira número 1 apanho as roupas dela, que até então eu não tinha reparado,  espalhadas pelo chão da sala e saiu correndo para fora do apartamento.

– Pode explicar é um cassete! Não tem nada que você diga ou fale que possa melhorar a sua situação! Cassete Luís, no nosso aniversário de noivado – nesse momento a loira número 2 passa por nós, de cabeça baixa, mas ainda consegui reconhecê-la, puta merda, estava ficando com muita raiva – e ainda traz essa vagabunda que você chama de secretária pra nossa cama? Há quanto tempo Luís? – quando demorou a me responder, gritei com ele – Há quanto tempo você está me traindo?

– Cerca de dois anos – respondeu com a cabeça baixa depois do que pareceu ser uma eternidade, todo o ar que estava em meus pulmões se foi.

– Você é um filho de uma puta de um mentiroso – e acho que o último pedaço de sanidade que tinha se foi.

Fiz meu caminho pra mesinha de centro, apanhei o bolo que tinha encomendado e arremessei em sua direção. Acho que ainda estava muito chocado com minha presença ali, ou sei lá, nunca tinha me visto possessa daquele jeito que não desviou do bolo. Pedaços de chocolate começaram a escorrer pelo seu rosto e corpo nu.

– Espero que essas putas te mantenham aquecido de noite seu imbecil porque isso – e abri meu casaco revelando minha lingerie sensual, cinta-liga e meias combinando – você nunca mais vai ter – vi quando sua respiração acelerou e ele engoliu em seco. Também vi de relance seu pau soltar um espasmo animação.

– Meu amor, não faz assim Camila, vamos conversar, vamos dar um jeito na situação. Eu te amo, eu juro que foi somente um momento de fraqueza – a cada palavra que dizia, ia tentando se aproximar de mim acabei dando vários passos para trás, queria manter uma distância dele, não poderia suportar o seu toque.

 Ignorei totalmente seus apelos e continuei a falar. Dois anos de “fraqueza” hunf! Era só o que me faltava, ele só podia achar que eu o amava ao ponto de ser completamente idiota.

– Fica com esse apartamento, faça um bom proveito, pode foder quantas putas você quiser, sem se preocupar de esconder da sua ex-noiva – deixei meu anel de noivado em cima da mesinha e saí do apartamento, deixando um Luís abalado e coberto de bolo para trás.

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