Cap. 49 - Ele é meu!
Era oficial. Eu estava anestesiada. Não conseguia sentir fome, nem dor, nada, nem as lágrimas se interessavam mais em rolar.
Perder o Miguel foi um golpe que eu não estava preparada para sentir. O primeiro sentimento que me acometeu foi o de desespero, seguido da negação e por fim a apatia.
Não conseguia me dar conta de onde estava, nem do que acontecia ao meu redor. Senti um abraço, seguido de outro, mas não conseguia reagir. Devagar, mas aos poucos tomando proporções cada vez maiores, a revolta foi adentrando em meu ser. Queria gritar, queria acordar e alguém me dizer que tudo se tratava de um terrível pesadelo.
Mas não: era uma verdade dolorosa, o Miguel havia morrido enquanto me defendia.
Fechava os olhos e a cena novamente voltava diante de mim: o Miguel caindo desfalecido enquanto dizia que me amava. Eu não tinha palavras, porém depois disse muitas vezes que o amava também, mas ele já não podia me ouvir.
De repente, comecei a sentir algo. Começou como um calorzinho que foi logo aumentado e logo meu peito queimava. Queimava de um jeito diferente. Coloquei a mão na altura do coração e fechei os olhos. Assim que o fiz, ouvi nitidamente:
Meu, ele é meu!
Abri os olhos surpresa e não havia ninguém perto de mim. Fechei novamente os olhos e novamente ouvi nitidamente a mesma frase. Lembrando de Samuel, falei em meu íntimo:
Papai, é você?
A resposta veio imediata: Sim e reafirmo que ele é meu!
Senti um calafrio com essas palavras e soube que realmente Ele havia levado o Miguel.
Vá até ele...
Sem dizer nenhuma palavra, balancei a cabeça. Me recusava a ver seu rosto pálido, inerte, aguardando ser removido para outro local a fim de aguardar a sua família.
Vá até ele!
Pus-me sobre meus pés e relutantemente andei em direção ao quarto que o Miguel ainda estava. Mal percebi quando o Ariel se colocou ao meu lado, abraçando-me enquanto eu marchava em frente. Assim que entramos no quarto, sem nem perceber que havia chegado pois a minha mente teimava em lembrar das tentativas inúteis de ressuscitamento até chegar ao hospital e algum tempo após, inclusive. Via nitidamente o momento em que um médico disse as fatídicas palavras que tiraram meu chão: Hora do óbito...
Ao ver o Miguel inerte, meus pés se recusaram a prosseguir, mas o Ariel segurou firme em minha mão, num aperto que dizia claramente estar ao meu lado e eu consegui me aproximar.
Assim que o fiz, fechei os olhos e as lágrimas lentamente foram descendo, sem ruído. Não via o que acontecia ao meu redor, mas a mão do Ariel não soltava a minha em nenhum momento.
De repente senti algo me envolver e era como se eu não estivesse ali. Sem abrir os olhos eu me via num vasto campo e um homem estava sentado pensativo. Era o Miguel. Eu sorri enquanto ia em sua direção e percebi o momento exato quando ele me notou, pois seus olhos se conectaram com os meus e o sorriso logo veio em seu rosto. Seu sorriso era tão lindo! Ele se levantou e aproximou-se de mim. Estendi a minha mão e segurei a dele.
Mas então, ele ainda sorrindo se afastou e eu senti uma paz tremenda, uma plenitude sensação de estar ali era tão boa que comecei a cantar, uma canção que estivera em meu coração há tanto tempo, cantarolava-a baixinho, seus acordes tocavam em minha mente onde quer que eu estivesse. Eu cantei, louvei ao meu Criador, ao Papai que é Digno de todo louvor.
https://youtu.be/Fe1G18w6mLc
Não há outro como Tu, soberano e fiel
Não há outro como Tu
Reina sobre a terra e céus
És o Alfa e Ômega, início e fim
És o ar que eu respiro, tudo pra mim
Tu és Jesus, Tu és Jesus
O louvor inundava-me, inebriava-me trazendo sensações que até então eu desconhecia. Eu me sentia livre e era como se meu coração fosse explodir pois eu sentia a presença de Jesus ali, ao meu lado. Parecia estar sozinha, mas não estava. Era pleno, era perfeito!
Ele era o Alfa e Ômega, o ar que eu precisava para respirar. Tudo era tão celestial que eu não queria mais abrir os olhos e descobrir que ainda sentia dor, mas não sentia, só uma alegria inexplicável, indescritível...
Enfim tive que abrir os olhos e estava ali, diante do Miguel naquela cama e o Ariel ainda segurando a minha mão, explicando para uma enfermeira que eu precisava daqueles poucos minutos com ele, para me despedir.
Procurei dentro de mim a dor, o desespero e já não os encontrei. A paz que senti permanecia ali. Jesus era tudo pra mim, Ele me preenchia de tal forma que sua presença me bastava. Meu olhar para o Miguel já foi outro, foi um olhar diferente. Não o encarava como uma pessoa essencial na minha vida, mas como alguém a que fui escolhida para guiar até a verdadeira luz. Minha missão com ele ainda não havia sido concluída, podia sentir em cada pedacinho de mim.
Olhei para o Ariel, que voltou seus olhos em minha direção e apenas um aceno de sua cabeça me deu a certeza que estávamos na mesma página. Estendemos as mãos e repreendemos o espírito de morte, com toda a autoridade, em nome de Jesus, que era e é sobre todo o nome.
Lembrei do louvor que o Pai havia colocado em meu coração naquele mesmo dia mais cedo, sobre adorar em meio ao luto, em quaisquer circunstâncias e o louvor veio
Lembrei do louvor que o Pai havia colocado em meu coração naquele mesmo dia mais cedo, sobre adorar em meio ao luto, em quaisquer circunstâncias e o louvor veio instantaneamente em meus lábios.
Meu Deus, este é quem tú és
Enxuga as lágrimas, restaura os corações
Tú és a resposta: JESUS!
Meu Deus é Deus de milagres, Deus de promessas
Caminho no deserto, luz na escuridão.
Este é quem tú és.
Soltei a mão do Ariel e segurei firma na mão inerte do Miguel. Assim que recomecei a louvar dizendo:
Estás aqui, mudando destinos - te adorarei....
senti a mão dele apertando a minha. Já não conseguia mais louvar na minha língua nativa, mas louvava em outras línguas e mal pude distinguir o Ariel se ajoelhando ao lado da cama e glorificando a Deus.
O aperto em minha mão ficou mais intenso e ao olhar para o rosto do Miguel, ele estava de olhos abertos, suas íris azuis brilhantes e as lágrimas descendo sobre seu rosto. Acho que fizemos mais barulho que esperávamos, pois duas enfermeiras entraram apressadas no quarto, pedindo que nos retirássemos, mas ao olhar em direção à cama, seus olhos quase saltaram das órbitas, de tão assustadas que elas ficaram.
Uma delas ficou paralisada, com a mão na boca, chorando silenciosamente e a outra saiu correndo. Pouco tempo depois, o quarto foi invadido por dois homens que descobrimos mais tarde serem médicos, com mais outro tanto de enfermeiros que não cabiam em si de espanto ao verem o Miguel de olhos abertos.
A árvore cortada havia sido restaurada!
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Hello, galera!
Olha eu aqui de novo... esse capítulo é especial de várias maneiras e espero que tenha conseguido passar para vocês o que foi colocado em meu coração.
Quero lembrar que esta história pode ser uma ficção, mas é baseada em realidades possíveis quando se tem a fé firmada Naquele que tudo pode. Deus é perfeito e todas as suas obras também o são. Ele usa quem e como quer.
"Pois nada é impossível para Deus" Lc. 1.37
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