Cap. 48 - Você é meu!
A cada minuto que passava eu ficava impaciente Já eram quase 20 horas e nada do infeliz aparecer. Enquanto isso, bebia um pouco de uísque, mas tentando não abusar para estar com os reflexos claros quando fosse acabar com a vida do Joel, assim como ele acabou com a minha.
Depois que perdi a Cecília e mergulhei na escuridão, o único raio de luz que me apareceu ele fez questão de apagar. Ele estava atravessado em minha garganta como um espinho, incomodando.
Sentia dor, tristeza, angústia, raiva, ódio... solidão. Queria saber onde estava o Papai da Raquel, que ela dizia me amar tanto e deixou que ela sucumbisse nas mãos daquele crápula.
Eu já estava com o coração aberto, sabia que era um caminho sem volta para aceitação. Eu havia sentido algo diferente naquele dia, como se realmente Deus estivesse falando comigo! Mas como? Seria um tremendo paradoxo insistir em usar pessoas para que eu tomasse conhecimento de seu amor e a seguir virar-me as costas.
Ponderando acerca disso, fiquei com uma dúvida em minha mente: qual seria o objetivo disso tudo? Deus, ou Pai, como a Raquel sempre o mencionava, tinha algum propósito oculto em tudo aquilo que eu estava passando? Se fosse assim, não conseguia imaginar o que poderia ser...
Veio em sua mente a imagem da Cecília e a seguir a da Raquel e lembrei-me do sonho estranho em que eu tentava pegar a Cecília, mas ela desaparecia e logo aparecia o rosto da Raquel dizendo que eu tinha conseguido.
Estava pensando nisso, quando uma pessoa tocou em meu ombro. Voltei-me devagar na direção do toque, imaginando quem poderia ter tido a ousadia, torcendo para que fosse aquele bastardo para poder enfim acertarmos as contas.
Assim que focalizei o rosto, não pude acreditar! Era uma mistura da Raquel e da Cecília...o rosto era da Raquel com os cabelos loiros da Cecí. A mistura era interessante, uma versão linda das minhas mulheres. Achei graça porque era sinal de que eu já havia extrapolado na bebida e já me sentia lânguido e começava a ver coisas. Acho até que verbalizei isso, mas imaginei que seria interessante estar com uma mulher assim no meu último dia de vida.
Então ela aproveitando que mencionei o nome da Raquel diz que é a Raquel, se eu não a reconhecia. Como se fosse possível! A minha Raquel tinha lindos cabelos ruivos, foi uma das primeiras coisas que me chamou a atenção nela quando a vi naquela festa!
Parecia que havia se passado tanto tempo e agora, depois de conhecê-la, me atrair e me apaixonar, perdê-la de forma tão cruel! Com um sorriso triste, olhei bem para aquela moça e disse:
— A Raquel está morta, moça. E além de tudo, a minha Raquel tem os cabelos vermelhos lindos, sedosos, não loiros como o seu. Você é apenas uma visão...uma mistura da Raquel com a Cecília....- balancei a cabeça - estou mesmo ficando louco.
Nem bem fechei a boca e descobri que a loucura era contagiosa, porque a moça de repente pegou a minha mão e foi me puxando consigo. Não entendi muito bem, mas ela me empurrou para o banheiro masculino e disse que iria ao feminino e não demoraria. E frisou que eu não deveria sair de lá.
Antes que se afastasse, toquei em seus cabelos e o cheiro me remeteu diretamente à Raquel, fazendo com que eu fechasse os olhos e imaginasse que seria ela ali. Seria deveras perfeito!
Ainda atordoado com a miríade de sensações que me acometiam, entrei no banheiro e pus-me a analisar a imagem que via no espelho: estava longe de ser o homem seguro que sempre fui, um advogado brilhante, convicto de mim mesmo e minhas ações. Onde foi que me perdi de mim mesmo? Meu olhar já não era nem sombra dos olhos sedutores que fazia parte do pacote "Charme Bretas", como dizia meu irmão Rafael. Eles estavam opacos, apagados. A chama dentro de mim havia se extinguido, junto com a vida da Raquel. Suspirei lembrando da moça bonita que estava lá fora: deveria me aproveitar da sua aparência, ou talvez de meu devaneio, e ficar com ela como uma despedida?
Balancei a cabeça resoluto: essa ideia fazia sentido quando me sentia perdido sem a Cecília e ainda não havia conhecido a Raquel. Por alguma razão, pensar em estar com outra mulher naquele momento fazia-me sentir um traidor, mesmo a Raquel nunca tendo ciência de meus sentimentos. Nunca mesmo.
Lavei meu rosto e enquanto minhas mãos levavam a água até a mim, sentia a consciência me dizendo que devia sair dali. Um alarme interno gritando fortemente que a Raquel precisava de mim. Naquele momento.
Fechei os olhos e pensei em tudo que tínhamos vivido até ali e senti meu peito queimar com uma angústia ferrenha, como se algo errado estivesse acontecendo e eu não soubesse exatamente do que se tratava.
Meu, você é meu!
Essas palavras reverberaram no meu ouvido, na minha mente e eu me abri os olhos assustado. Senti como se algo me empurrasse em direção à saída e já não sabia mais o que pensar.
Assim que saí, não vi mais a garota e pensei tratar-se de uma ilusão da minha cabeça confusa, mas senti ainda no ar o cheiro dela. Seria mesmo a Raquel? Balancei a cabeça em dúvida e fui andando a esmo, meus pés pareciam me levar aonde queriam e eu não conseguia ou tinha forças para contrariá-los.
Saindo de uma porta lateral, tive uma visão que me paralisou num primeiro momento: o Joel pressionando uma mulher na parede, enquanto a esganava! Meus olhos se arregalaram e a vontade de matá-lo apenas se avolumou e eu cego, fui em sua direção e o puxei com toda força que possuía e fiz o que ansiava há tempos: acertei um murro com força no nariz daquele desgraçado.
Infelizmente, penso que a força não foi suficiente, pois ele logo se recuperou da surpresa e me atacou. Nos atracamos e mal sentia seus golpes pois a vontade de esmagá-lo como um inseto era imensa. Relanceei os olhos na direção da moça e ela ainda parecia a minha Rubi, indefesa, com as mãos no pescoço. Iria protegê-la, custasse o que custasse, inclusive se fosse preciso, daria a minha vida por ela. O Joel se aproveitou de minha pequena distração e se jogou em cima de mim enquanto apertava minha garganta.
Seus olhos estava injetados de ódio, mas nenhum sentimento dele sobrepujaria meu desejo de vingança. Sentia que perdia minhas forças, quando ele cuspindo em meu rosto disse as palavras que me fariam virar o jogo:
— Vou terminar o que devia ter feito há tempos.... te mato e em seguida mato de verdade a vadia da Raquel.
Meus olhos arregalaram-se à medida que fui tomando ciência da realidade: minha Rubi não estava morta, mas estava ali tão perto de mim! Pedindo a Deus forças para não sucumbir nas mãos do Joel e permitir que ele a ferisse novamente, não sei de onde tirei forças e me joguei pra cima dele, desestabilizando-o e jogando ao chão, indo imediatamente para cima dele e esmurrando-o com toda a força que possuía. Era inexplicável!
De repente, as forças já não pareciam a mesma e me senti meio letárgico, quando senti uma picada ardendo em meu braço. Olhei para o rosto do Joel e ele sorria diabolicamente olhando para meu braço e ao direcionar meu olhar para lá, vi o local da picada que ardiam.
Praticamente paralisado, fui sentindo as forças indo embora, queria continuar agredindo-o até a morte, mas não conseguia fazer meus membros me obedecerem. Com muito esforço levantei meus olhar em direção á Rubi e vi o desespero em seus olhos e tentei movimentar meus lábios para dizer que a amava, mas não sei se consegui, pois tudo foi ficando escuro diante de mim e já não tinha mais consciência.
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Ei, pessoas!
Esse é um capítulo pequeno, mas ainda hoje vem outro. Fiquem comigo!
Bjs
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