Cap. 39 - Apaixonado!
Enquanto dirigia em direção à pizzaria, meus pensamentos ficavam cada vez mais confusos com todos os sentimentos que vinham a tona. Eu sentia a minha conexão com a Raquel, mas presenciei seu abraço íntimo que deu no Ariel. Um abraço cheio de cumplicidade, que apenas duas pessoas com uma história em comum. O ciúme fervilhou em meu peito e fiquei tentando entender por que eu estava ali com ela, se ela parecia ter tanta consideração por ele.
Sabia que o sentimento que me acometia naquele momento era egoísta, justo após ter sentido tanta coisa boa naquela reunião, mas não conseguia me controlar. Não consegui dizer nenhuma palavra durante o percurso e creio que a Raquel tenha percebido a mudança, mas não disse uma palavra enquanto não chegamos ao local.
Lá, percebi que seu semblante havia se entristecido, mas não conseguia ordenar meus pensamentos, estava um turbilhão, confuso, sem saber o que pensar sobre tudo. De repente, sinto sua mão sobre a minha e pego-me olhando e me perguntando se haveria alguma indicação ali de algo ou se seria apenas devaneios da minha mente. Forcei-me a entender que ela me perguntava se estava tudo bem e busquei no fundo de mim forças para não ser ríspido, como acontecia em todas as vezes que alguém me fazia aquela pergunta.
Retirei a minha mão, seu toque me mandava mensagens que eu poderia entender errado, e disse que estava tudo bem, só estava pensando em algumas coisas. Não sei exatamente quanto tempo se passou, até ouvir meu nome ser pronunciado pelo Ariel.
— Doutor Miguel, não somos homens de sorte? — dizia ele com um sorriso aberto.
Não entendi do que ele falava, o que eu havia perdido?
— Não entendi o que quer dizer....— comecei a dizer, confuso — desculpe...— amigo muito chegado da minha Rubi que me deixa inseguro — Ariel. Estava meio distraído.
Senti seu sorriso se ampliar ainda mais, deixando-me desconfortável.
— Tudo bem, não se preocupe. Mas eu dizia que somos homens de sorte, olha só, estamos acompanhados das mulheres mais bonitas, somos os invejados da noite.
Ao dizer isso, abriu os braços e eu olhei ao redor e em seguida olhei para nossas acompanhantes. A Celeste realmente era uma linda moça e ao olhar a Rubi, meu coração retumbou forte no meu peito, fitei bem seus olhos que me encantavam e vi ali....mágoa? Senti-me culpado imediatamente. O Ariel sutilmente chamou a minha atenção para que não fosse relapso com a minha companhia, que estava ali tão bela, com certeza a mais bela de todas, mas com um olhar magoado em minha direção.
Até quando não fazia nada eu a magoava! Comecei a achar que era um dom.
— Sim, realmente somos homens de sorte. Estamos acompanhados das mais lindas — concordei com o Ariel sem desviar os olhos da Rubi.
Enquanto tentava me desculpar com ela, apesar de não dizer nenhuma palavra, mal me dei conta do que o Ariel conversava com a Celeste, que subitamente se levantou indo ao banheiro, levando a Raquel consigo.
Nem reparei que a acompanhei com o olhar até ela sumir de meu campo de visão, mas minha distração foi quebrada pela risada nada discreta do Ariel ao meu lado.
Voltei-me impaciente em sua direção.
— Doutor Miguel....
— Acho que é desnecessário me chamar de doutor, Ariel. Já passamos dessa fase — falei impaciente, vendo-o concordar com a cabeça e continuar como se eu não tivesse dito nada.
Revirei os olhos e não pude deixar de compará-lo com meu irmão Rafael. O sorriso começou a despontar ao lembrar dele, mas logo o suprimi antes que ele percebesse.
— Então, Miguel. Eu não sei se você sabe, mas a Raquel e eu temos uma história — começou ele e eu já estava aborrecido — somos amigos há tanto tempo que nem sabemos mensurar quanto.
— Hmm — não entendi onde ele queria chegar com aquele papo, se queria apenas esfregar na minha cara que a Rubi era mais amiga dele que minha. Como se eu me importasse.
Claro que me importa, a quem queria enganar?
— E eu sempre sei o que se passa com ela, mesmo ela não me dizendo nada, sabia? Ela sente o mesmo por mim. Como no final do culto, ela me abraçou pra mostrar que estava ao meu lado se eu me sentisse....— baixou os olhos e parou de falar e aí eu percebi que ele estava com um sorriso triste — afetado pela garota que eu amei.
Eita, como assim?
— Não entendo...
— Aquela moça que cantou com o namorado, noivo, sei lá. Rebecca e Isaac, eu já devia ter imaginado que não tinha a menor chance. Deus me mostrou que ela não era pra mim, mas às vezes é difícil....
A cantora, prima da Raquel, quem diria! Estupefato era pouco e mal pude controlar a minha boca quando disse:
— Então você e a Raquel....são apenas amigos mesmo?
Neste momento ele riu de verdade. Realmente, era muito parecido com o Rafael. Seria exatamente isso que ele faria.
— Sim, somos praticamente irmãos. Desculpe meu pequeno desabafo, mas eu precisava abrir seus olhos...— quando o olhei alarmado, ele apenas sorriu e continuou — então, eu vejo como você a olha, entendo como se sente. Está envolvido pela minha irmãzinha Ferruginha.
Eu não soube o que dizer, tentei dizer algo, mas nada saía coerente. Ele olhou bem em meus olhos e senti que não poderia esconder nada dele.
— Você está mais envolvido por esta moça do que admite, Miguel — disse com seu sorriso maroto.
Revirei os olhos, mas não neguei. Ao perceber o arquear de suas sobrancelha, achei graça e disse:
— Admito agora. Estou completamente envolvido por ela.
Acho que ele não esperava essa minha admissão tão sincera que ficou um momento sem nada dizer. Quando ia falar algo, as meninas chegaram e meus olhos foram direcionados para a Raquel, já sem o ciúme que me corroía antes e sem procurar fingir como ela me afetava e o que vi me deixou preocupado. Ela parecia atemorizada, o desconforto e medo substituíram a mágoa de antes e eu soube que algo havia acontecido.
O restante do tempo que permanecemos ali conversei mais com o Ariel, já sabendo que ele não representava nenhuma ameaça entre a Raquel e eu, mas não conseguia deixar de me preocupar, além de me sentir arrependido pela maneira que a havia tratado antes. Ela precisava de mim, podia sentir isso com toda clareza.
Depois de uma discussão machista, eu reconheço, o Ariel e eu dividimos a conta. Ao entrarmos no carro, percebi que a Raquel estava preocupada olhando para todos os lados e suspirou alto assim que fechou a porta.
Sentia-me péssimo pela forma displicente com que a havia tratado mais cedo e não sabia o que fazer para reconectar com ela e fazê-la confiar em mim. Depois de uns momentos em que ponderava sobre o que dizer, baixei a guarda e pedi perdão. Como sempre, ela foi compreensiva, disse que entendia o que eu tinha passado, situações fora de minha rotina e quando insisti que algo a incomodava e que devia confiar em mim, toquei em seu queixo e supliquei que não deixasse nossa conexão morrer, aquela faísca que havia entre nós.
Como ela nada respondeu, senti-me impotente e frustrado coloquei o carro em movimento. Não disse nenhuma palavra pensando em como fazer para que ela se sentisse segura comigo, que confiasse em mim para ajudá-la. Assim que o carro parou, ela começou a dizer algo, agradecendo por tudo, mas a cortei.
— Não precisa agradecer por isso, Raquel. Eu quis ter essa experiência e creio ter ser muito válida. Terei muito o que pensar acerca disso — já estava pensando muito, a propósito.
— Que bom, fico feliz — ela disse — acho que estamos caminhando bem em nosso acordo. Hoje você conheceu um pouco sobre o Papai — arqueei as sobrancelhas sem entender — o Pai Celestial.
Claro, ela o chamava de Pai. Eu queria de verdade entender isso e fui pensando nisso enquanto toquei em seu braço para esperar que lhe abrisse a porta. Assim que o fiz, percebi um sorriso em seu rosto que me deixou sem fôlego. Quando abriu a boca para dizer que se sentia importante comigo, não consegui me conter.
Toquei seu rosto e ela fechou os olhos e se entregou a carícia. Fiquei fora de mim, esforçando-me ao máximo para não beijá-la, apesar de estar num misto de sentimentos que me inebriavam naquele momento. Queria que ela soubesse o que eu estava sentindo, mas tinha medo de não conseguir colocar em palavras. Toquei seus lábios e ao ouvi-la suspirar, olhei bem em seus olhos e não me contive mais:
— Você tem algo que me faz querer ser melhor para você, ser uma pessoa melhor. Eu não consigo ficar longe de você, não consigo me afastar como deveria...e que Deus me perdoe, não consigo resistir — trouxe seu corpo junto ao meu — eu vou beijar você, quero que esteja ciente disso e se por acaso...
Não consegui terminar a frase, pois ela levou suas maos à minha nuca e aproximou nossos rostos ainda mais, beijando-me. Quis demonstrar naquele beijo tudo o que eu sentia, mas sabia que não tinha como. A intensidade dos meus sentimentos era tamanha, como uma explosão em meus sentidos e só voltei a mim quando percebi que ela chorava. Algo em meu peito se dilacerou, não suportava vê-la chorar, talvez eu tivesse sido muito intempestivo.
Abracei-a até que se acalmasse e me assustei quando ela disse querer se abrir comigo. Quando quis que ela tivesse certeza, ela tocou meus lábios, me calando dizendo que queria e precisava se abrir comigo. Ficamos de marcar uma conversa no final de semana, no que confirmei enquanto depositava um beijo em suas mãos. Antes que tomasse alguma atitude que me fizesse arrepender, fui embora.
Custei a dormir naquela noite, pensando em tudo que tinha me acontecido. Deus falara comigo? Eu não sei dizer, mas não podia negar que algo havia me tocado de forma especial. Apenas a mera lembrança da forma como eu me sentia naquele lugar queimava meu coração. Eu precisava de mais respostas. Se Deus ainda conseguia me amar, talvez eu tivesse alguma esperança.
Olhei no calendário ao lado da cama, enquanto ponderava sobre tudo e percebi que faltavam menos de dois meses para a data que havia estipulado para tirar a minha vida. Se algo não ocorresse até lá, no dia de aniversário da morte de minha esposa, eu iria ao encontro dela. De repente, minha mente foi tomada pelo rosto da Raquel preocupada, temerosa e me senti compelido a protegê-la antes de qualquer coisa, apesar de sentir que nossa interação deixava-me cada vez mais envolvido por ela. Eu poderia me apaixonar? Já estava apaixonado?
Ela não era como as outras mulheres que eu conhecia. Não era uma mulher para se aproveitar e deixar passar. Ela era especial, merecia alguém especial, não um homem quebrado como eu. Deveria me afastar dela. Como se eu conseguisse!
Não a vi nos próximos dias e percebi que ela respondia as minhas mensagens laconicamente, sempre arrumando desculpas para a gente não se ver. Comecei a ficar preocupado, pois o final de semana passou e não conversamos como havíamos combinado. Notei inclusive que ela não me mandava mensagens mais, apenas respondia as que eu mandava.
Tentei descobrir com a Celeste o que estava acontecendo e fiquei estarrecido com seu relato.
— Doutor, eu queria poder dizer o que tem acontecido com a Raquel, mas temo só de imaginar. Ela está me evitando novamente e sei que fazia isso quando estava envolvida com aquele mal caráter do Jonas. Quando chego da faculdade, ela raramente está lá. No final de semana, chorou muito mas tentou me enganar dizendo que estava com alergia. Tomou antialérgico e dormiu a maior parte do dia. A noite saiu e não consegui ver a hora que chegou. Estou muito preocupada, achei que essa fase já tinha passado.
— Isso é muito estranho. A gente tinha combinado de sair no final de semana e ela se esquivou. Ela está me evitando também.
— Para o senhor ter uma ideia, nem o Ariel conseguiu alguma coisa! Eles são como unha e carne, mas ela está o evitando também. Não sei mais o que fazer.
— Bem, eu vou dar um jeito de falar com ela, mas preciso que me ajude.
Ela concordou e me deu a chave do apartamento delas para que eu fosse lá enquanto a Celeste ia para a faculdade, para tentar falar com a Raquel. Dirigi preocupado e subi silenciosamente. Abri a porta com cuidado e mal reparei na decoração do ambiente, tentando descobrir onde ela estaria. Ouvi uma voz cantando suavemente e tive certeza que era ela, fui me guiando pela sua voz e cheguei diante da porta de um quarto.
Aproximei-me do batente e a vi, triste, sentada na cama com uma blusa que parecia maior que ela, com fones no ouvido e olhos fechados cantando. Enquanto a ouvia cantar, pensava em tudo o que tinha acontecido conosco até aquele momento e como aquela menina havia me conquistado.
Eu podia sentir seu sentimento, sua dor, seu derramar diante do seu Pai. Cada palavra pronunciada era como uma adaga em meu coração; com muito custo contive minhas próprias lágrimas quando vi quando as suas começaram a descer e me senti muito mal de não ter o poder de tirar tudo o que a fazia sofrer, de prometer que ninguém a faria mal e guardá-la junto comigo.
Por que eu queria tudo isso?
A constatação veio-me como um soco e tudo se fez claro diante de mim: eu estava completamente apaixonado pela Rubi!
******
Então, finalmente nosso Miguelito entendeu seus sentimentos em relação à Raquel. O que será que ela vai fazer?
O que houve que a Raquel sumiu? Sinto cheiro de confusão de alguém cujo nome começa com JO e termina com NAS. MISERICÓRDIA!
Me digam o que acham que aconteceu, vamos ver se alguém passa perto.
Desculpem a hora, beijos e até o próximo capítulo!
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