Cap. 37 - Enciumado??!
Eu estava impressionado como as coisas foram acontecendo rapidamente. Não conseguia explicar o motivo de ter feito um acordo daquele tipo com a Raquel, mas no momento havia feito sentido e agora sozinho com meus pensamentos me perguntava se realmente havia tomado um decisão precipitada.
Não conseguia acreditar que Deus poderia me amar, tendo me deixado sofrendo com a perda da minha família Não conseguia entender como poderia haver alguém que visse meu sofrimento e não fazia nada para me ajudar. Amor.... era difícil abrir meu coração para entender.
A forte atração que eu sentia por aquela garota me deixava sem saber como reagir, acho que isso explica tudo. Apenas sua presença me deixa envergonhado de meus pensamentos vitimistas, sua voz me transmite paz, sou enlevado por suas palavras como se elas fossem uma fonte de águas....
Passei as mãos nos cabelos, pensativo. Automaticamente vou em busca de uma tragada para acalmar a ansiedade. Meus esqueletos no armário! O que diria ela se soubesse dos meus segredos mais obscuros? Se soubesse que me é necessário recorrer a remédios e maconha para me manter são?
Imerso em meus questionamentos, nem reparei que fumei de modo automático e que o alívio que buscava não apareceu. Antes que pudesse meditar sobre isso, meu telefone tocou. Não quis atender para não dividir aquele momento com outra pessoa. Era meu momento de autocomiseração e não havia espaço para outra pessoa ali.
O telefone tocou novamente, deixando-me irritado. Tentei ignorar novamente, mas não consegui. Levantei-me de um salto da poltrona onde estava sentado por um tempo incerto e fui em busca do aparelho no criado mudo. Suspirei ao ver o nome do Rafael na tela, pois sabia que ele continuaria insistindo até que eu atendesse e, caso não o fizesse, era capaz de aparecer em minha casa de modo a verificar pessoalmente o que estaria acontecendo.
Revirei os olhos, impaciente.
Assim que atendi, meu irmão percebeu que eu estava num mal momento, mas como sempre, não tocou no assunto e me convidou para almoçar no dia seguinte. Quis e tentei de várias formas negar, mas ele foi irritantemente insistente e tive que aceitar.
Antes de dormir, praticamente dopado pelos remédios, vislumbrei por um breve segundo o rosto da Raquel enquanto cantava e o som de sua voz veio-me nitidamente, até que aos poucos foi ficando mais suave e eu adormeci.
O dia amanheceu e algo estava diferente, mas não sabia exatamente o porquê. Após chegar ao escritório e trabalhar algumas horas até o horário do almoço marcado com meu irmão, percebi que os pensamentos de morte e solidão não me vieram em nenhum momento naquele dia. Fiquei surpreso, porque há muito não sabia como era acordar um dia normal, sem que os maus pensamentos rodeassem a minha mente. Porém, não tive muito tempo para ponderar sobre isso, pois logo meu irmão irrompeu em meu escritório, indo pessoalmente garantir que eu não faltasse ao nosso encontro.
Conversamos banalidades enquanto íamos em direção ao restaurante, que mesmo não sendo longe, preferi ir de carro. Ríamos de algo que ele havia dito ao transpormos as portas do restaurante, mas meu sorriso logo morreu ao perceber a presença da Raquel ao lado de um rapaz, que a abraçava com intimidade. Dizer que tudo ao meu redor ficou invisível e só conseguia enxergar as mãos dele sobre ela, seria redundante.
Não percebi como meus pés me levaram diretamente à mesa deles e quando dei por mim, já havia cumprimentado a Rubi e perguntado entredentes se ela não iria apresentar o seu amigo. Não consegui tirar os olhos das mãos dele na cintura dela, mas percebi por um leve ofegar que ela havia ficado surpresa com a minha repentina aparição.
O que estava acontecendo comigo? Por que não conseguia controlar esse....ciúme?
Não, não havia o menor motivo para que eu tivesse ciúmes da Rubi. Ela não me pertencia. Uma vozinha sussurrou em minha mente:
Mas bem que você gostaria, né?
Com muito esforço afastei aqueles pensamentos da minha cabeça e notei que ela nada dizia, mas o rapaz se adiantou e se apresentou, atraindo-a ainda mais para perto de si.
Tive ânsias de me jogar em cima dele para afastá-lo da Rubi e tomá-la em meus ombros e levá-la para bem longe daquele ser predador.
A quem eu queria enganar? Eu estava completamente enciumado!
O silêncio da Rubi em nada cooperava para que eu conseguisse manter o meu controle. Olhei para a mão que ele estendia em minha direção, contendo-me com muito custo e resolvi não bancar o troglodita em público, apertando a mão do tal Ariel. Olhando bem para seu rosto, percebi que ele não me era totalmente estranho, no que ele explicou que havia me conhecido quando ministrei uma palestra em sua faculdade.
Minha mente divagou um pouco, levando-me ao período em que minha agenda abrangia palestras e aulas especiais em universidades, onde os momentos em que partilhava com os outros o meu conhecimento, ampliando meus estudos e muitas vezes aprendendo mais que ensinava, me dava prazer.
Malmente lembrei-me do jovem tenaz que me surpreendeu com comentários inteligentes e perguntas pertinentes ao tema apresentado, mostrando interesse e demonstrando que havia prestado atenção à palestra. Antes que eu dissesse algo acerca disso, ele se adiantou e me convidou para juntar-se a eles para o almoço.
Seu convite foi como um despertar e eu tardiamente lembrei-me que estava ali com o meu irmão Rafael, que neste momento nem sabia onde estava. Olhando ao redor, não demorei para encontrá-lo devidamente assentado já com o cardápio na mão e um sorriso nos lábios. Declinei do convite e fui ao seu encontro, já pressentindo que ele não deixaria barato meu rompante.
- Até que enfim resolveu se lembrar de mim... já estava me sentindo abandonado - disse ele assim que puxei a cadeira para me assentar.
Revirei os olhos, mas não tive o que responder, porque minha atenção estava na mesa que havia acabado de deixar. Meu irmão não se fez de rogado e não deixou por menos.
- Imagino que a ruiva esguia que você foi cumprimentar naquela mesa seja a sua Rubi! - percebi pelo seu modo de dizer que estava segurando o riso - até porque a sua atitude explica muita coisa.
- Que atitude? - perguntei, mas já sabia onde ele queria chegar - sim, ela é a Rubi....Raquel. Está almoçando com uns amigos.
- Amigos, né? Eu achei aquele cara muito íntimo para ser apenas um amigo. Eu não costumo abraçar as minhas amigas desse jeito e ainda permanecer abraçado com elas por um tempo.
Eu sabia que ele estava me testando, mas não conseguia raciocínar corretamente.
- Você acha, Rafael? - perguntei sem desviar os olhos de seus cabelos, pois infelizmente ela estava de costas para mim.
- Ah, sim, com certeza. Presumo que aquele seja o namorado....
- Namorado? Quem te falou isso? - voltei os olhos para o meu irmão, curioso por saber onde ele havia obtido aquela informação.
- Ora, você mesmo me disse que ela tinha um namorado, mas.... você me disse que ele era agressivo e esse rapaz emana gentileza. Olha só a delicadeza com que toca a mão dela.
Naquele instante o meu almoço já tinha sido um fiasco, não conseguia prestar atenção à conversa, não conseguia comer nada. Assim que ele mencionou um toque na mão, não pude evitar de olhar para a mesa da Raquel, mas não conseguia ver muita coisa.
- Calma, Miguel. Você parece querer saltar daqui até aquela mesa lá....se eles forem namorados, você não tem nenhum direito.
- Eles não são namorados. Ela me apresentou ele como amigo e com certeza não é o namorado agressivo.
Fiquei pensativo, recordando da minha abordagem à Raquel e na verdade ela não mencionou que ele era amigo dela. Ela praticamente não abriu a boca, apenas o pretenso amigo conversou. Como eu era um idiota! Ele poderia sim, ser namorado dela! O fato da Celeste estar presente enquanto eles almoçavam não mudava em nada o quadro que se formava em minha mente.
Eu a havia beijado, desrespeitado uma garota comprometida! Que tipo de homem eu sou?
Qualquer raciocínio ou atenção ao meu companheiro de mesa desapareceu por completo. Nem vi quando levantei e fui prontamente em direção à mesa deles e meus olhos cegos pelo ciúme e vergonha registraram o sorriso do tal Ariel, mas o que me chamou mesmo a atenção foram as suas mãos entrelaçadas sobre a mesa.
Sabia que estava fazendo papel de idiota, mas não podia evitar! Precisava tirar a história a limpo de qualquer jeito!
Seria complicado manter um acordo naqueles termos. Eu não sei se aceitaria numa boa.
A chamei para conversar em particular, torcendo intimamente para que seu...amigo não se importasse muito, era importante esclarecermos tudo. Ele foi bem compreensivo e ainda disse que ia levar a Celeste até o escritório, ou seja, não esperaria a Raquel. Não parecia atitude de namorado, a menos que ele fosse super compreensivo, o que duvidava muito.
Conversando com ela, tive a certeza que eles não eram namorados, mas antes que pudesse respirar aliviado, ela menciona a senhora Bretas e só a menção da Cecília me deixa fora de mim! Perco a cabeça e grito com ela, querendo a qualquer custo me esconder, fugir para qualquer lugar e a vontade de me perder na bebida falou mais alto que qualquer sentimento que pudesse nutrir pela Rubi e comecei a sair, deixando-a sozinha.
Mal dei alguns passos, ouvi seu soluço e isso me rasgou ao meio! Eu não conseguia conversar com ela sem que a ferisse, deveria mantê-la longe de mim, mas não era forte o suficiente.
Naquele instante, nada mais era tão importante quanto me redimir com a Rubi, enxugar suas lágrimas e implorar por perdão por tê-la feito sofrer mais uma vez. Logo que me voltei em sua direção, percebi que ela tentava esconder as lágrimas e desejei com cada fibra do meu ser não ter sido responsável por fazê-la chorar e me senti o mais miserável dos homens. Ela sempre tão doce e compreensiva e eu um bruto mal amado que não media as consequências de meus atos. Eu não merecia perdão, mas era impelido a pedi-lo.
Toquei em seu cabelo e trouxe seu rosto em direção ao meu, sentindo-me completamente indigno de tocá-la. Ela mais uma vez surpreende-me com sua ternura, perdoando-me, quase me levando a loucura com seus olhos brilhantes pelas lágrimas. De modo a me redimir completamente, convidei-a para jantarmos, em uma tentativa de mostrar que não sou apenas um bruto ou um ser mergulhado na escuridão, queria mostrar o melhor de mim.
Por que? Não tinha resposta para esta pergunta ou não queria pensar nas implicações dela.
Ela logo aceitou, o que me encheu de esperança, que foi imediatamente rechaçada quando mencionou um encontro com o..amigo. Senti minhas chances indo embora e não pude conter o ar de incredulidade quando ela me chamou para ir junto. Ser o terceiro elemento num encontro? Não, nunca, jamais!
Ela riu da minha veemência e explicou que o compromisso de ambos era na igreja. Isso me assombrou ainda mais e não sabia o que dizer, mas as primeiras palavras que saíram de minha boca foram:
- Culto? Acho que não seja uma boa ideia.
Na verdade, eu tinha certeza que era uma péssima ideia. Eu não tinha um bom relacionamento com Deus, se é que se podia chamar assim. Não estávamos em bons termos. Mas ela, com todo jeitinho, começou a insistir e eu tentava ver o que poderia sair de bom ali.
Bem, considerando que tínhamos um acordo, não me custava nada ir lá, até porque nada demais iria acontecer além das pessoas ficarem me enchendo para orarem por mim ou sei lá o que se fazem nesses lugares. Não tinha nada a temer, era apenas uma reunião religiosa, eu poderia sobreviver àquilo, certo?
Felizmente, ou infelizmente, não poderia estar mais enganado!
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Então gente, Feliz Natal!
Estou aqui finalizando este capítulo para entregar a vocês, fiquei horas com ele aqui pendente como rascunho sem poder finalizar, mas eis que consigo.
Parece meio repetitivo, porque já conhecemos essas cenas, mas agora estamos com o ponto de vista do Miguel. Ele admitiu que está com ciúmes da Raquel, quando será que vai admitir.....eita, não vou falar mais nada. Nos vemos no próximo capítulo.
Ah, falar nisso, como bônus de natal, esta semana postarei 3 capítulos. Este é o primeiro, o outro postarei na quinta e o próximo no sábado, combinado?
Beijos de luz!
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