Cap. 36 - Apaixonada
Graças a Deus a Celeste relaxou após a nossa conversa no banheiro, estava muito à vontade, principalmente com o Ariel. Diferente de mim, que estava tensa, olhando para todos os lados imaginando onde o Jonas poderia estar, já que sabia que estávamos na pizzaria. Ele não ousaria se aproximar de mim enquanto estivesse na presença do Ariel e Miguel, pelo menos eu queria pensar que ele não faria isso.
Percebi que o Miguel também estava interagindo melhor, principalmente com o Ariel. Parece que a nossa ausência os aproximou. Tentei evitar os olhares questionadores dos dois homens lindos na mesa. Dois pares de olhos azuis, de diferentes tons, inquisidores, mas com nuances divergentes.
No olhar do Ariel eu via preocupação e amor fraternal. No olhar do Miguel eu via um misto de preocupação e arrependimento, além de algo mais que não conseguia definir.
Não conseguiria responder a nenhum questionamento deles naquele momento. Não conseguia tirar da mente as palavras do Jonas sobre machucar o Miguel. A mera menção de que ele fosse atingido de alguma forma doía bem fundo no meu peito, não conseguia explicar. Eu estava muito envolvida por ele, mas não podia deixar que nosso envolvimento evoluísse, não poderia misturar as coisas. Apenas afastaria o Miguel ainda mais e isso eu não suportaria.
No momento em que fomos embora, a Celeste e o Ariel foram na frente, após uma disputa quase infantil dos dois machos-alfa sobre quem pagaria a conta. Por fim, depois de muita celeuma, dividiram a conta. A Celeste e eu nem entramos no mérito da discussão para não alongar ainda mais a competição masculina.
Assim que entrei no carro do Miguel, ainda meio aturdida, suspirei olhando ao redor à procura do Jonas. Ao ver que ele não ligava o carro, olhei em sua direção e vi que ele mexia as mãos com a cabeça baixa, parecendo nervoso.
Não sei exatamente por quanto tempo permanecemos num silêncio tenso, mas logo ele levantou o olhar em minha direção:
— Me perdoa. Minha cabeça está um turbilhão. Eu….eu não sei bem o que sinto, mas não devia tratar você assim, de qualquer jeito. Senti algo muito bom hoje e devo isso a você, que me fez o convite. Então, por favor, me perdoa! — disse ele e sentia sinceridade em suas palavras.
— Não se preocupe, Miguel. Você hoje esteve num lugar que não é seu habitual e lidou com emoções diferentes da que está acostumado. Eu entendo.
— Por que tenho a impressão que tem algo acontecendo e você não quer me falar? Não confia mais em mim?— perguntou e pude sentir mágoa em sua voz.
— Claro que confio em você, Miguel. Só não quero envolvê-lo em meus problemas — dei uma risada irônica — não quero mesmo envolvê-lo nisso.
Ele tocou meu queixo e virou meu rosto em direção ao seu, de modo que pudesse olhar nos meus olhos ao falar comigo:
— Não vamos deixar arrefecer isto que existe entre nós. Uma faísca, não sei, mas há algo entre nós. Você ja me viu em momentos cruciais, vulnerável, mas não desistiu de mim. Não suporto vê-la assim, parecendo angustiada. Me deixa te ajudar, me deixa te ouvir. Confie em mim, por favor.
Aquelas palavras entraram como flecha em meu coração e se eu estava sendo eficiente em tentar não me deixar envolver por aquele homem, naquele momento todas as minhas barreiras foram derrubadas. Não havia para onde correr, estava cada dia mais apaixonada pelo Miguel.
Diferente de tudo que senti antes por outros rapazes, junto a essa constatação veio o choque de não suportar que ele sofresse de qualquer forma por minha culpa. Meu envolvimento com o Jonas anteriormente poderia ferir o Miguel hoje e isso não conseguiria aguentar.
Deveria falar com ele? Tirar a minha máscara e mostrar quem era de verdade?
A vergonha e a consternação falaram mais alto e não quis, não consegui me abrir com ele.
Quando percebeu que eu não falaria nada, ele baixou mãos frustrado e colocou o carro em movimento.
Assim que chegamos em frente ao meu prédio, ele desligou o carro sem dizer uma palavra. Eu remexia as mãos, tensa, tentando achar a melhor forma de lidar com tudo.
— Então…. —comecei insegura — obrigada por tudo. Por ter ido ao culto comigo….
— Não precisa agradecer por isso, Raquel. Eu quis ter essa experiência e creio ter sido muito válida. Terei muito o que pensar acerca disso.
— Que bom, fico feliz. Acho que estamos caminhando bem em nosso acordo. Hoje você conheceu um pouco sobre o Papai — ao vê-lo arquear as sobrancelhas, completei — o Pai Celestial.
Ele apenas fez um gesto com a cabeça e peguei a deixa para sair do carro. Antes porém, que o fizesse, ele tocou em meu braço e pediu que esperasse. Saiu do carro e galantemente abriu a porta para que eu pudesse sair. Um sorriso bobo teimava em fixar em meu rosto, não conseguia evitar.
— Nossa, me sinto importante. Você é muito galante, Miguel.
Ele me olhou intensamente, tocou meu rosto fazendo-me encosta-lo em sua mão e automaticamente fechar os olhos. Ouvi sua respiração acelerar e seu polegar passear suavemente em minha pele, seguindo em direção a minha boca.
Delicadamente ele passou o polegar sobre meus lábios, devagar, como se quisesse gravar seu formato e textura, deixando um rastro de choque onde passava. Suspirei e ele parou de me mover o dedo, sem deixar de me tocar.
— Você tem algo que me faz querer ser melhor para você, ser uma pessoa melhor. Eu não consigo ficar longe de você, não consigo me afastar como deveria… e que Deus me perdoe, não consigo resistir.
Dito isso, a outra mão foi em direção a minha cintura, trazendo-me para perto dele.
— Eu vou beijar você. Quero que esteja ciente disso e se por acaso…
Antes que ele completasse a frase, coloquei as mãos em sua cabeça e o trouxe para perto, colando minha boca a dele, que correspondeu imediatamente.
Foi um beijo diferente do primeiro, foi recheado de sentimentos que eu não queria nomear e ao afastar seus lábios dos meus e sentir que ele enxugava minhas lágrimas é que percebi que estava chorando.
Ele apenas me abraçou e ficamos assim por alguns minutos até que eu me acalmasse. Decidi falar com ele sobre tudo, o relacionamento conturbado com o Jonas, suas ameaças, mas tinha medo que romper aquele momento tão especial.
— Eu quero me abrir com você — as palavras saíram de minha boca como se tivessem vida própria.
— Não quero que se sinta obrigada a…
Coloquei a mão em seus lábios calando-o.
— Eu quero. Eu preciso, de verdade. Mas hoje não é conveniente. A gente marca nesse final de semana, pode ser?
Ele apenas confirmou com a cabeça, tomou minhas mãos entre as suas e as levou aos lábios depositando um beijo tão suave que enterneceu ainda mais meu coração apaixonado.
Fiquei ali parada, vendo-o entrar no carro e dar a partida, soltando um suspiro alto, mas ao voltar-me para entrar no prédio, esbarrei-me em alguém, que segurou meu braço com força, puxando-me em sua direção e falando ao meu ouvido:
— Surpresa, gata! Mudança nos planos, não consegui esperar até amanhã para ver você!
*****
Gente, o capítulo não tá muito bom. Não postei mais cedo porque estava no ensaio da Cantata de Natal e após chegar em casa, minha pequena passou mal. Mas agora está tudo sob controle, e vim aqui trazer esse capítulo.
Beijos
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