Cap. 35 - Uma Semente?
Enquanto o Miguel se desfazia num choro sentido em meus braços, não conseguia segurar as minhas próprias lágrimas. Deus confirmava tudo.
A Celeste ao meu lado também estava com lágrimas nos olhos. Miguel Bretas, advogado brilhante, alma perdida precisando urgentemente sentir o amor de Deus, estava ali, totalmente entregue.
Ver Deus agir tão intensamente ali com ele, me deixou com uma necessidade de estar completamente diante Dele. Mas será que Ele ainda estaria disposto a me abraçar?
Pensava nisso, quando o Isaac começou a cantar, acompanhado da Rebecca.
"Como pode me amar, Deus?
Conhecendo o meu pecado
Sabendo o que eu faço de errado
Como pode me amar assim?
...
Como pode me amar, Deus?
Sabendo que eu fugiria
Se a porta estivesse aberta
Como pode em mim confiar?"
https://youtu.be/80SJ8XHqKqM
Deus, era exatamente isso! Eu havia me afastado, agido em desacordo com a vontade de Deus, mas Ele é misericordioso! Me sentia tão pequena diante de seu Amor!
Novamente senti-me uma hipócrita, por ser o elo de encontro do Miguel com o Senhor e precisar fazer urgente um conserto com Ele.
Quando o Ariel fez uso da palavra, Ele pregou sobre I Jo. 3.16 e eu senti ali como eu deveria agir.
Com amor.
O Miguel já tinha se acalmado um pouco e prestava atenção a cada palavra que saía da boca do Ariel e eu queria poder saber o que se passava em sua mente. Ele se dizia quebrado e eu tinha certeza que algo o havia impactado naquele lugar, mas não perguntaria, esperaria ele me dizer quando estivesse pronto.
Imaginar o Miguel transformado, liberto e feliz causava uma emoção diferente em meu coração, mas não queria me aprofundar em entender meus sentimentos com relação a ele naquele momento. Não era hora e nem lugar.
Ao fim da mensagem, foi feito o apelo e eu perguntei ao Miguel se ele queria se entregar a Jesus naquele momento. Ele pensou sobre o que eu disse e por fim me respondeu:
— Eu quero pensar sobre tudo o que aconteceu aqui hoje. Estou muito confuso, sinto meu peito queimar de uma forma intensa, preciso pensar — disse com um suspiro.
Tentei imaginar o redemoinho de sentimentos que envolvia o Miguel e a vontade de pegar em sua mão e dizer que poderia se jogar nos braços de Jesus que Ele mudaria a sua vida, mas pelo que já o conhecia, sabia que não adiantaria pressionar. Na verdade, seria ainda pior. Mas a vontade de pegar a sua mão não passou e comecei a mexer os dedos, inquieta.
Ele estava pensativo, mas seu olhar se voltou em minha direção e aquelas íris azuis ainda brilhantes do recente choro me encararam, em seguida desceram em direção à minha mão inquieta e vi despontar um pequeno sorriso, um tanto tímido. Seus olhos voltaram aos meus e as ruguinhas ao redor deles entregavam seu divertimento. Em seguida, segurou as minhas mãos entre as suas:
— Rubi, eu entendo que esteja ansiosa com a minha resposta, mas mesmo pedindo um tempo para pensar, tenho que admitir uma coisa: você tinha razão. Só preciso lidar com tudo isso dentro de mim, queria que me entendesse. Faz parte do nosso acordo, não é mesmo?— deu um sorriso triste — Tem algumas coisas que preciso lidar.
— Sim, entendo. Ainda estamos no início de tudo e você já me dá razão — seu sorriso se alargou — mas te entendo de verdade. Só espero que tenha gostado do culto.
— Sim, gostei muito. Posso inclusive dizer que eu senti algo hoje aqui.
Fiquei muito feliz, porque o Miguel admitiu ter sentido algo no culto. Tudo começava de algum lugar, né? Mas temi me empolgar muito assim de cara e ele se assustar e recuar Já considerava uma grande vitória tê-lo ali.
Finalizando o culto, nos juntamos ao Ariel que cumprimentava o Isaac e a Rebecca. Sabendo que estaria difícil para meu amigo, dei-lhe um abraço super apertado e falei baixinho em seu ouvido:
— Estou aqui, viu?
Senti que ele estava tenso, mas relaxou um pouco com as minhas palavras. Deu um suspiro que não foi percebido pelos demais, bem... talvez por um par de olhos escuros que nos olhava apreensivos.
Minha prima e o Isaac declinaram do convite para irem numa pizzaria conosco, porque tinham um outro compromisso. Fiquei triste, mas um pouco aliviada, pois ainda estava fresco em minha mente a última vez que estive numa pizzaria na presença do Isaac. Não que isso tivesse algum peso hoje, mas ainda me sinto sem graça ao relembrar o episódio.
Na pizzaria, notei o Miguel um pouco distante. Por um momento pensei que ele não quisesse estar ali e fiquei apreensiva por forçar uma interação que talvez não fosse da sua vontade.
— Está tudo bem, Miguel? — falei colocando a minha mão sobre a dele na mesa.
Ele não respondeu nada de início, apenas olhou as nossas mãos juntas, deixando-me desconfortável. Por fim, retirando a sua mão delicadamente, resolveu responder.
— Sim, está tudo bem.
— Você parece distraído. Se você não estiver à vontade.... — ele não me deixou terminar.
— Está mesmo tudo bem. Não se preocupe, só estou pensando em algumas coisas.
Não sei porque me magoei com o modo como ele falou comigo, mas me senti uma intrusa, sei lá. Parece que tudo o que tínhamos evoluído até então tinha caído por terra, com ele voltando a se fechar dentro de si.
Como não poderia deixar de ser, o Ariel logo percebeu que havia algo errado. Deu um jeito de chamar a minha atenção e quando olhei em seus olhos vi ali uma interrogação. Fiz um gesto com a cabeça para que ele não se preocupasse, mas sabia que depois ele iria querer saber exatamente o que estava acontecendo. Uma olhada no homem taciturno ao meu lado fizeram vincar sua testa e o vislumbre de um entendimento passou rapidamente por seus olhos.
— Doutor Miguel — ao ouvir seu nome, ele levantou os olhos em direção ao Ariel — não somos homens de sorte? — disse sorrindo.
Com uma expressão confusa, o Miguel quis saber do que se tratava.
— Desculpe.... Ariel. Eu estava meio distraído — lançou um sorriso amarelo em direção ao meu amigo — o que você me dizia?
— Tudo bem, não se preocupe. Mas eu dizia que somos homens de sorte, olha só, estamos acompanhados das mulheres mais bonitas, somos os invejados da noite — disse isso e abriu os braços para mostrar as pessoas ao seu redor.
Acompanhando o gesto do Ariel, o Miguel olhou ao redor e em seguida para a Celeste e eu, detendo-se ao olhar em meu rosto. Não consegui disfarçar a mágoa no meu olhar e notei um pouco de culpa em seus olhos.
— Sim, realmente, somos homens de sorte.... estamos acompanhados das mais lindas — disse isso sem desviar os olhos dos meus.
Ariel deu um sorriso e voltou-se em direção à Celeste, que parecia pensativa também.
— Eu realmente me sinto sortudo hoje.
A Celeste não ouviu o que foi dito pelo Ariel e quando ele tocou na mão dela, ela sobressaltou-se e deu um fraco sorriso. Então, levantou-se rapidamente e disse que ia ao banheiro, chamando-me para ir junto.
Assim que chegamos, enquanto verificava o meu cabelo, ela encostou-se no lavabo e começou a roer as unhas. Esperei um pouco, mas como ela não iniciava uma conversa, resolvi perguntar:
— Celeste, tem alguma coisa te incomodando, vamos me diga. Quer me perguntar alguma coisa? — ela olhou pra mim, assustada.
— Está visível assim?
— Sim, minha amiga. Sem contar que eu conheço você, vamos desembucha — coloquei as mãos na cintura.
Ela pensou um pouco, abriu a boca umas duas vezes e por fim conseguiu colocar em palavras o que a incomodava.
— Ele gosta dela, né?
— Ele quem? Aliás, ela quem? — fiquei confusa.
— Err.....o Ariel. Ele gosta da sua prima — antes que eu pudesse abrir a boca, ela prosseguiu — eu percebi isso hoje a noite.
— Bem, o que você quer que eu diga? Eles quase namoraram há quase um ano, mas não deu certo. Até porque ela já gostava do Isaac na época.
— Ah, ela gosta mesmo do Isaac, deu para perceber. Mas o Ariel ainda gosta dela...
— Não vou mentir para você. Ele ficou muito abalado na ocasião, mas ninguém soube disso. Talvez ela ainda mexa com ele, mas ele sabe que não há a menor chance.
— Mas isso não impede dele ainda nutrir algum sentimento por ela.
— Não, não impede. Mas o Ariel é um cara sensível, ele se envolve de verdade. Mas pode ficar tranquila, ele está deixando isso para trás — como ela me olhou espantada, abri o jogo — eu percebi que você está encantada pelo Ariel, mas não te culpo. Ele é um príncipe mesmo, eu é que gosto de sapos — ri sem graça.
— Sapos?
— Depois te explico. Vamos voltar ou nossos acompanhantes ficarão preocupados.
Mal terminei de pronunciar essas palavras, meu celular apitou a chegada de uma mensagem. Displicentemente, abri.
Precisamos conversar. J
Resolvi responder imediatamente.
Não tenho nada para falar com você. R
Ai é que você se engana, gata. É melhor arrumar um jeito de falar comigo HOJE, ou o seu querido advogadozinho pode sofrer as consequências. J
Do que está falando? R
Eu estou de olho em vocês na pizzaria. Amanhã, as 22 no meu apartamento, ou o doutorzinho sofrerá.
Fiquei sem saber o que dizer, nem consegui ouvir a Celeste me chamando para sair do banheiro. Seria prudente desafiar o Jonas? Devo falar isso com alguém?
Tudo bem, eu irei. R
Assim que eu gosto, gata. Espero você amanhã. J
Não percebi que as minhas mãos tremiam, até que a Celeste as segurou e olhou dentro dos meus olhos, aflita, perguntando se algo tinha acontecido, se havia recebido notícias ruins.
— Você nem imagina, minha amiga. Em casa te explico tudo, vamos aproveitar a noite com os rapazes, não quero que eles desconfiem.
Ela assentiu meio ressabiada, mas não insistiu mais. Colocando meu melhor sorriso, voltamos a nossa mesa, mas por dentro, algo me corroía completamente ao lembrar das ameaças do Jonas em relação ao Miguel e ficava em pânico.
O Miguel não!
******
Perdoem-me, o capítulo não ficou legal como eu queria...
Mas o Jonas hein, porque tinha que voltar? O que será que ele quer?
Quando tudo parece melhorar....
Bjs, volto no final de semana.
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