Cap. 32 - Tudo coopera...

Então, Ferruginha, vai me contar ou vou ter que usar os meus dons de persuasão? falou isso enquanto batia os dedos longos sobre a mesa.

Dons de persuasão? — Quem perguntou foi a Celeste.

Sim, Celeste. A Raquel me conhece muito bem e conhece cada um deles ele respondeu a minha amiga sem desviar os olhos dos meus.

Você não seria capaz....antes que completasse a frase, ele arqueou o corpo para frente ficando mais perto de mim e levantando uma sobrancelha, mantendo o olhar firme no meu.

Sim, ele seria!

Não somos mais adolescentes, Ariel!

Não somos mesmo, verdade? seu tom de voz era firme, mas somente quem o conhecia tão bem quanto eu perceberia o toque divertido em sua fala.

Gente... estou aqui, estão lembrando, né? A Celeste falou, interrompendo nosso embate visual.

Ok, ok, você venceu...

De novo! diz retornando a sua posição e cruzando os braços, com um sorriso convencido no rosto.

Revirei os olhos e percebi seu olhar sobre meu ombro e fiz menção de olhar para trás. Ele fez um gesto para que eu não fizesse. Novamente se aproximou e disse:

Se certos olhares fossem adagas, eu já estaria morto! abriu um sorriso perfeito como se estivesse falando outra coisa Sempre quis dizer isso, sabia, Celeste? direcionou seu olhar para a minha amiga e deu uma piscada, incentivando-a a olhar para a direção que ele estivera olhando.

Assim que o fez, arregalou os olhos e deu uma risadinha.

É amiga, acho que se ele pudesse, acabava mesmo com o Ariel apenas com o olhar.

Vamos, me conte. Não vai demorar muito para ele vir aqui novamente — Miguel! Ele estava nos olhando? Quis virar o rosto na direção dele, mas o Ariel rapidamente pegou minha mão sobre a mesa e disse baixinho: Não!

Bem, ele não se interessa por mim. Acho que por nos encontrarmos sempre em situações estranhas, ele se sente meio protetor Falei com os olhos baixos e ao receber apenas o silêncio como resposta, levantei o olhar e deparei-me com dois rostos totalmente incrédulos à minha frente.

De repente, como se tivessem combinado, os dois começaram a rir.

Falei acaso alguma piada? falei enrubescendo nervosa.

Sim, e muito hilária! falou o Ariel com a mão na boca enquanto ria, para minha consternação.

Sim, nem você acredita no que disse, Raquel! completou a Celeste.

Pronto, era um complô! Todos contra mim.

Sem saída, contei tudo o que tinha acontecido desde o dia em que conheci o Miguel, tendo inclusive que contar ao Ariel sobre o Jonas. Nunca tinha visto meu amigo tão sério quando mencionei mesmo que superficialmente o que o Jonas havia feito. Ele trocou um olhar preocupado com a Celeste e me perguntei se ela havia falado algo com ele acerca disso.

Verificar isso!

Não contei a parte do beijo, mas sei que o Ariel imaginou que algo do tipo deve ter acontecido, considerando a minha reação à aparição do Miguel em nossa mesa mais cedo.

Eu não havia conseguido dizer nenhuma palavra! Se bem que não tive nem como, né?

Ele não fez nenhum comentário diante da Celeste, porém eu tinha certeza que não escaparia de uma inquisição mais aprofundada.

— Tem mais alguma coisa que eu precise saber, Raquel? — perguntou o Ariel de repente.

Tanto a Celeste quanto eu paramos de comer a maravilhosa banana flambada que pedimos de sobremesa, sem entender.

Mal tive tempo de menear um pouco a cabeça, negando, quando ele estendeu sua mão sobre a mesa tocando a minha.

— Então se prepara, Ferruginha — disse sorrindo e acariciando minha mão com o polegar. Fiquei sem entender, quando ouvi uma tossidela ao meu lado. Assustada, notei a figura do Miguel olhando para as nossas mãos unidas.

Quando percebeu que tinha ficado em silêncio, ele voltou os olhos para meu rosto, fazendo-me ficar vermelha, sem eu nem ter entendido o porquê.

Pigarreando, ele aproximou-se de mim e imediatamente senti um calor que não sabia explicar. Puxei a mão que o Ariel segurava.

— Oi de novo. Não quero atrapalhar o almoço de vocês, mas poderia falar um minuto com você em particular, Raquel?

Olhei rapidamente em direção ao Ariel e ele não me olhou nos olhos. Estava com a cabeça baixa e com a sombra de um sorriso.

Engraçadinho!

— Claro, sem problemas. Tudo bem, Celeste?

— Sim, mas eu vou ter que voltar logo ao escritório, meu horário já está quase estourando — disse minha amiga olhando no relógio.

— Eu te levo, Celeste. E não se preocupe, Quel, eu resolvo tudo aqui e levo a Celeste. Tomem o tempo que precisar.

Meu rosto deve ter ficado em outro tom de vermelho diante da piscada discreta que meu amigo me lançou.

Graças a Deus o Miguel não viu.

Ele levou-me próximo ao seu carro, encostou nele e olhou-me com atenção.

— Está tudo bem com você? — perguntou atento às minhas reações.

— Sim. E você? Está melhor?

— Melhor? Ah sim, estou. Estive pensando em nossa conversa.... Bem, seu amigo não se importa da gente conversar um pouco, não é? - quis saber olhando para as pontas dos pés.

Seu rosto estava cabisbaixo, mas jurei ter visto um pequeno esgar de seus lábios. Sorri imaginando o motivo.

— O Ariel? Oh, não. Por que ele se importaria? — não resisti e quis saber.

— Ele me pareceu bem íntimo seu para ser apenas um amigo. Vocês são namorados? Não que seja da minha conta, mas...

— Não, não somos namorados e nem pretendemos ser. Somos amigos há mais tempo do que conseguimos lembrar — sorri com a lembrança.

— Humm, é bom saber que poderemos continuar com nosso acordo sem que alguém fique aborrecido no caminho.

— Sim, claro. Mas quanto a isso posso pressupor que a senhora Miguel Bretas não vai ficar aborrecida então? — Por favor, que não tenha namorada, por favor...

Seu semblante naquele momento se fechou totalmente e aquele Miguel atormentado voltou com tudo. Tentei me aproximar, mas ele não permitiu.

— Não é da sua conta! — falou alto e algumas pessoas que passavam por perto começaram a olhar desconfiadas, deixando-me muito constrangida.

— Des..desculpe, Miguel. Não queria...eu....

Não consegui terminar a frase, envergonhada. Senti meus olhos marejarem, mas esforcei-me para não chorar.

Burra, burra! O Ariel falou sobre a perda da esposa, por que você tinha que fazê-lo lembrar?

Quis fugir, mas algo me fez ficar firme no lugar. Ele passou as mãos pelos cabelos várias vezes e começou a caminhar, afastando-se de mim.

Achei melhor permanecer em silêncio, mas não pude conter as lágrimas que começaram a rolar em rosto, devagar. Sem que pudesse evitar, um solução saiu da minha garganta e eu coloquei a mão na boca, tentando disfarçar.

Imediatamente o Miguel parou de andar, não se virou imediatamente, mas entre as lágrimas pude perceber como ficou tenso. Quando percebi que ele girou o corpo, para vir novamente em minha direção, procurei esconder as lágrimas e virei de costas, sentindo-o se aproximar cautelosamente.

Tentando enxugar as lágrimas rapidamente, senti seu corpo atrás do meu e suas mãos tocando meus cabelos. Devagar, ele tocou em meus ombros e me virou, encostando a testa na minha, respirando fundo. Eu devia estar horrível, com o rosto vermelho, mas ele acariciou delicadamente minha bochecha, secando as lágrimas com o polegar, tão mansinho que mal sentia seu toque. Fechou os olhos como se fizesse um grande esforço e sussurrou:

— Perdão, me perdoa.... você não tem culpa da minha tormenta... você é como um oásis no meio do meu deserto, me traz calmaria...não sei o que houve, você consegue me perdoar? — só conseguia ouvi-lo devido a nossa proximidade.

Não consegui dizer nada, mas acenei a cabeça concordando. Ele suspirou alto, como se aliviado e segurando meu rosto, olhou atentamente em meus olhos verificando se eu estava sendo sincera.

Aquelas íris azuis, com um toque de preocupação fitavam ardentemente os meus olhos e percebi o momento em que ele olhou minha boca e suas pupilas dilataram, escurecendo.

Antes que algo acontecesse, eu tirei as suas mãos e me afastei.

— Está tudo bem. Só me diga porque quis conversar comigo aqui, em particular — não sei se ele notou minha voz trêmula, mas fiz um tremendo esforço para que ela saísse firme.

Passando novamente as mãos pelo cabelo, frustrado, ele não respondeu de imediato.

— Eu queria te convidar para jantarmos hoje, para conversarmos mais e quem sabe, com um pouco de sorte ouvir você cantar, mas acho que estraguei tudo, né?

Quis rir diante de suas palavras. Eu que estraguei tudo! Sempre faço isso, com perfeição!

— Não diga isso..você não estragou nada. Tivemos apenas um chiado na linha de comunicação, mas nada que não possamos resolver, né?

Ele sorriu e eu quis congelar aquele momento. Deveria ser um crime sorrir daquele jeito. Por que eu estava tendo esses pensamentos só de vê-lo sorrir? Melhor deixar quieto.

— Então, posso tentar persuadi-la a aceitar? Como amigos, claro.

— Sim, claro....— de repente lembrei-me de algo — ah, não!

— O que houve? — ele se aproximou, preocupado.

— Lembrei que prometi ao Ariel de acompanhá-lo hoje a noite.... — antes que terminasse de falar, ele me cortou:

— Ah, claro. Seu amigo... não tem problema....

— Não! Não é isso! Ele me fez um convite, não pude recusá-lo...— ao ver seu semblante triste, tive uma ideia — mas você também pode vir conosco! Isso, venha conosco!

— Eu? Não, não quero atrapalhar o encontro de vocês...

— Pára com isso, Miguel! Já disse que o Ariel e eu somos apenas amigos! Ele me chamou para ir à uma igreja com ele esta noite, ele vai pregar.

A expressão do Miguel era impagável! Queria rir, mas tinha consciência que o momento não era oportuno.

— Culto? — perguntou por fim — bem, não acho que seja uma boa ideia.

— Pois eu acho que é uma ideia maravilhosa. Após o culto, a gente vai comer alguma coisa. Então, te passo o endereço e a gente se encontra lá, ou....— deixei a frase suspensa aguardando sua resposta, que não veio.

— Então, Miguel? - aproximei-me.

Ele me olhava fixamente e eu podia perceber que vários pensamentos passaram por sua mente. Por fim, sorriu e concordou.

— Eu te pego em casa! - nossa!

— Tudo bem. Meu endereço é...

Ele colocou a mão em minha boca, impedindo-me de continuar.

— Shiiu! Não me diga....aqui está meu cartão - enquanto falava, colocava um cartão em minha mão - atrás dele tem meu telefone particular. Envie seu endereço por mensagem.

Devagar, ele retirou a mão, sem desviar os olhos dos meus, em seguida olhou para minha boca, meneou a cabeça e se afastou sorrindo.

— Estarei esperando sua mensagem com o endereço e o horário, Rubi!

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Não aguentei a ansiedade e postei.... então não reparem se encontrarem algum erro, vou corrigindo aos poucos.

Algum comentário sobre o capítulo??? 

Bjs amores.

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