Cap. 3 - Vida Vazia

O dia prometia ser bem cansativo. Irei realizar entrevistas com candidatas para o cargo secretária e não estava com cabeça para aquilo.

A noite não havia sido nada boa pois fui novamente tomado por pesadelos e a cada dia que passa eles se tornavam piores. Vivo e revivo aquele dia fatídico em minha mente e não sei mais o que fazer para parar com esse quadro que a cada dia se agrava mais.

 Meu irmão, preocupado, me levou a um terapeuta, mas não adiantou muito, pois tristeza ainda tomava conta de mim. Me sentia desesperado e revoltado com Deus por Ele ter levado a minha esposa e meu filho de mim. Não aceitava aquilo. 

 Eu me considerava um homem de sorte, até perceber que, infelizmente, a minha sorte teve um prazo de validade muito curto. Não consegui sequer pegar meu filho nos meus braços ou dar um último abraço de adeus na minha esposa.

Nem sei como o meu sócio conseguiu lidar sozinho com o escritório, pois fiquei por muito tempo em tratamentos e sem condições para trabalhar. Fazia pouco tempo que tinha retornado as minhas rotinas corriqueiras e lotadas, mas sem estar, realmente, liberto do grande vazio deixado no meu coração, na minha casa e na minha vida.

Minha mãe ficou muito preocupada e logo no início veio morar comigo por um tempo, mas não pôde continuar pois precisava cuidar do meu pai. Garanti a ela que iria ficar bem, que ela não se preocupasse, pois era questão de tempo até eu ficar melhor. Mas no meu íntimo, eu sentia que nunca iria ficar melhor, nunca iria passar aquela dor, mas achei melhor não pronunciar isso em voz alta para ela.

Meu irmão Rafael costumava fazer visitas periódicas na minha casa, chegando inclusive a me visitar no escritório, preocupado com uma recaída no meu quadro depressivo. Mal sabe ele, meu sócio, meus pais e todos os meus amigos que eu vivo uma vida de aparências. Por fora sou um homem normal, um profissional responsável, mas por dentro sou oco, não sentia nada mais além de tristeza e um vazio que nunca tinha fim.

Cheguei no escritório mais cedo que de costume, queria colocar alguns papéis em ordem antes das candidatas ao cargo de secretária chegarem. A minha atual secretária vai se casar em poucos dias e irá se mudar. Sei que deveria estar feliz por ela, mas só consigo pensar no trabalho que terei que para contratar outra e a paciência que teria que tirar, sabe Deus onde, para poder aturar a criatura até que ela se familiarize com a rotina do escritório e comigo. 

Meu sócio e amigo Tiago me intimou para participar de uma festa naquela noite e eu não estava afim. Ele insistiu tanto que tive que ceder, senão ele não sairia do meu pé. 

— Qual é, Miguel? Você precisa sair mais cara! — Era o que ele sempre me dizia. Iria aceitar sair naquela noite e iria ficar na minha, quem sabe ele desistia de ficar me chamando.

Foi só pensar nele que o mesmo entrou na minha sala super empolgado.

— Então, está de pé a festa de hoje,  certo? — Pela minha contagem aquela já era a décima vez que ele me perguntava aquilo.

— Bem, acho que sim — Disse relutante sem querer me comprometer muito, o que logo não deu certo.

— Nada disso cara! A festa vai estar super animada e vai ter muitas gatas — Disse e estalou a língua. 

— Está certo, mas nada de ficar tentando arrumar garota para mim. Eu não preciso disso!

— Eu sei disso. Mas você está muito devagar. Precisa socializar mais — Revirei os olhos porque já sabia o discurso de cor e salteado. Tudo bem que ele era meu amigo e só queria me ajudar, mas eu só permitia até onde eu sei que não ultrapassaria meu limite.

— Tudo bem! — Assim que ele saiu da minha sala comecei a entrevistar as candidatas e o tempo passou muito rápido. Mal percebi o horário do almoço e logo chegou a hora de ir embora.

Sai do escritório mais cedo por causa da bendita festa, mas já tinha em mente que iria ficar um pouco para mostrar que tinha ido e logo iria embora.

Cheguei em casa sem conseguir conter um pequeno estremecimento que as vezes me acometia ao entrar e fui me arrumar.
Resolvi ir o mais informal possível,  jeans e camisa pólo. Peguei os chaves e sai.

 A festa estava muito cheia de jovens intensos que não mediam o quanto bebiam nem quantas bocas beijavam. Eu arranjei um lugar no canto e beberiquei uma bebida olhando as pessoas se divertirem. 

Estava tão distraído e nem percebi a aproximação do Tiago com um copo na mão.
 — Você veio mesmo! Nem posso acreditar! — Disse admirado sentando-se ao meu lado. — O que está achando da festa?

— Eu falei que viria. Até que não está muito ruim — Desconversei.

— Até que não está muito ruim? Olha ao seu redor, aqui está cheio de gatas — Ele disse e olhou para os lados. De repente parou num ponto — Cara, que ruiva linda é aquela?

Não pude evitar direcionar meu olhar na mesma direção e fiquei embasbacado com a moça ruiva que ele tinha mencionado. Era realmente linda! Dançava como se o mundo não existisse. Fiquei por um tempo admirando-a e nem ouvi o que o Tiago dizia. Só percebi que ele pretendia ia ao seu encontro quando o vi se levantando.

— Vou lá! Com uma moça dessas minha noite está ganha — Disse e foi em direção dela. Fiquei de longe observando a interação dos dois e pouco tempo depois eles já estavam se pegando.

Perdi o interesse, apesar de não conseguir tirar da cabeça aquela moça linda. Ela parecia tão jovem! 

 Algum tempo depois, resolvi que era hora de ir embora, imaginando que Tiago estaria com a ruiva. Porém, ao sair encontrei ele conversando com outra moça e não entendi.

— Estou indo, cara! Já deu pra mim.

— Beleza, já estou feliz de você ter vindo! Vou até a saída com você — Se despediu da moça e foi comigo.

— E a ruiva? — Não resisti e perguntei. — Vocês pareciam estar se entendendo.

— Ela é linda viu! Mas muito fresca! Faz charme e não vai até o fim. Não tenho paciência. Se eu quero, eu pego. Se fizer charme, não me interessa mais — Meu amigo é um solteiro inveterado e muito mulherengo. Além de ter um ego enorme. Não gostava de baixar sua bola.

— Que pena, né? Ela não sabe o que perdeu — Disse em tom de brincadeira, mas ele pareceu ter levado a sério.

— Não sabe mesmo. Ela não quer, tem quem queira. Loira, ruiva, morena, albina, gorda, magra. Não tenho nenhum preconceito — Ri de suas palavras e depois de conversar um pouco mais, fui embora.

É, até que não foi de todo ruim já que me diverti com o Tiago, não poderia negar. 

Deitei pensando naquela noite e logo peguei no sono, sendo a última imagem que passou em minha mente a tal ruiva dançando como se não houvesse amanhã.

||Capítulo revisado por    ||

***

Demorei, mas cheguei!
Esta complicado porque estou sem computador e não levo muito jeito pra escrever no celular, mas paciência. Devagar vamos lá.
Assim que meu note chegar, os capítulos serão maiores, prometo.
Espero que gostem. Beijos

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