Aos poucos fui acordando, sentindo uma forte dor no rosto. Tentei abrir os olhos, mas a claridade veio forte, obrigando-me a fechá-los novamente. Minha cabeça latejava e reparei que alguém colocava algo gelado em minha face. Abri novamente os olhos, lentamente e vi os olhos preocupados da minha amiga Celeste.

— Kel, graças a Deus! Já estava preocupada, você ficou desacordada por um bom tempo — percebi o alívio em sua fala, apesar da preocupação.

— Aiii, meu rosto dói muito — tentei me levantar, mas a Celeste não deixou.

— Calma, vou pegar o analgésico para melhorar a dor. Fica quietinha aí e depois vamos conversar — disse já se levantando.

Como num flash, as memórias do ocorrido vieram subitamente em minha mente e quis saber mais o que havia acontecido após minha perda de consciência. Queria saber como havia chegado em casa e onde estaria o Jonas. A Celeste logo apareceu, entregando-me o analgésico e após tomá-lo, ela voltou a pressionar a compressa gelada em meu rosto. Após alguns minutos em silêncio, ela resolveu iniciar a inevitável conversa.

— Então... acha que já podemos conversar sobre o que aconteceu? — notei seu tom cauteloso.

— Bem, penso que sim. Mas onde está o Jonas? Quem me trouxe?— quis saber.

— Primeiro, quero ouvir de você o que se lembra. Como você se feriu?

— Eu não sei exatamente. Lembro-me de um homem segurando com força meu braço, em seguida o Jonas apareceu e começou a golpeá-lo... nossa, Celeste, foi tão difícil ver aquilo, ele já estava inconsciente e o Jonas não parava, parecia fora de si, meu Deus! Como fui me meter numa situação dessas? — senti uma enorme vontade de chorar.

Minha amiga percebeu que eu estava prestes a me descontrolar e me abraçou enquanto dizia baixinha para eu me acalmar.

— Eu revivo a cena em minha mente, mas não consigo lembrar nitidamente do que aconteceu...

— Shiiii, se não quiser falar sobre isso agora, tudo bem, eu entendo. Às vezes é complicado. O importante é você melhorar.

Senti-me segura no abraço da Celeste. Meu Deus, onde eu estava com a cabeça ao sair com o Jonas depois daquele episódio do vestido?

— Estou me sentindo tão tola, Cel. Sou uma idiota, não sou? — queria poder apagar tudo e reescrever de forma diferente. Mas será que faria tudo diferente mesmo?

— Claro que nao, meu bem. É normal se sentir assim depois do que passou. Tenha seu tempo, descanse e depois conversamos.

Ficou me abraçando ainda um tempo, mas depois se retirou por um momento, prometendo voltar logo, deixando-me sozinha com meus pensamentos e minha culpa.

Após algum tempo, chame a Celeste, que logo apareceu, preocupada. Tratei logo de esclarecer que estava bem, para que não se preocupasse, conversaríamos no outro dia, mas tinha apenas uma pergunta que não queria calar: Onde estava o Jonas? O que tinha acontecido com ele?

Ela me olhou e vi um misto de sentimentos em seus olhos, dentre os quais reconheci temor e pena.

— Bem, o Jonas trouxe você desacordada. Como ele não falava coisa com coisa, pedi que aguardasse você acordar. Ele foi embora há poucos minutos, quando disse que você queria ficar sozinha.

— Ele...ele está bem? Está ferido? — minha pergunta parece ter surpreendido a Celeste, que logo meneou a cabeça em negativa, mas percebi que ficou curiosa.

— Tudo bem? — quis saber ela.

— Sim, estou pronta pra falar sobre isso.

Passei os próximos minutos contando como tudo aconteceu, desde o momento em que saímos do apartamento, até a minha perda de sentidos.

— Então você não sabe o que a atingiu.... — falava ela, como se falasse consigo mesma.

— Não. O que o Jonas disse ao chegar aqui?

— Ele te trouxe desacordada, disse que um cara tentou te agarrar e ele te defendeu batendo no cara, mas que você tentou segurá-lo e que sem querer o cotovelo dele atingiu você. Isso é realmente possível, Raquel? — quis saber ela olhando bem dentro dos meus olhos.

Pensei bastante sobre isso antes de responder. Realmente eu havia tentado intervir e do jeito que ele estava parecendo cego de fúria, era muito provável que tivesse acontecido como ele falou.

— Sim, é bem possível sim. Como sempre eu me metendo em confusões e te deixando preocupada, hein amiga.

— Não se preocupe com isso, você é minha irmã. Irmãs servem para cuidar umas das outras.

No outro dia, o Jonas me mandou mensagem logo cedo, mas eu preferi que a gente não se visse, pois o hematoma em meu rosto não estava bonito. Ele pareceu entender, mas a Celeste disse que ele me procurou e ela não o deixou entrar.

À noite, fiquei com vergonha de ir ao culto com o rosto marcado. A Celeste ficou desapontada por eu não querer ir e disse que ia para avisar a todos que eu não estava bem e pedir oração por mim. Isso depois de perguntar umas duzentas mil vezes se eu ficaria bem sozinha.

Quando retornou disse que o culto foi maravilhoso, que uma das jovens conversou com ela ao fim do culto e combinaram dela montar uma coletânea de louvores para ela. Gostei de ver a minha amiga feliz. Pensando no que ela me falou sobre o culto, a culpa novamente me assolou e antes de dormir, abri a minha Bíblia (que já devia estar com saudades de mim, de tanto tempo que não a abria) e li o seguinte trecho:

"E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto.

Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus.

Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:1-3.

Arregalei os olhos e fechei rapidamente a Bíblia. Nossa! Aquilo ficou martelando em minha mente por um bom tempo, no qual eu repassava todos os meus atos até ali, quando finalmente peguei no sono com um pensamento: amanhã eu seria uma nova pessoa. Amanhã, amanhã eu resolvo minha vida.

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Olha eu de novo!

Então, o que acharam? O Jonas foi sincero? A Raquel vai mesmo mudar de atitude?

No próximo capítulo teremos um encontro muito esperado, não talvez da forma que imaginam, mas não ficarão desapontados, prometo.

bjs doces!