Cap. 14 - Quantas pessoas?
Eu sei o que você pretende fazer!
As palavras proferidas por meu pai não saíam da minha mente. Assim como a preocupação de que minhas intenções poderiam estar estampadas em minha face. Minhas pretensões secretas, meu escape até então seguro.
Como ele poderia saber dos meus planos? Por um momento pensei que ele poderia estar fazendo especulações, mas conhecia muito bem o senhor Valter Bretas para saber que ele nunca falava com leviandade. Será que deixei escapar algo ao Tiago e ele contactou meus pais? Achava isso difícil, porque meu amigo não é o mais observador dos homens. Seu perfil narcisista o deixava enxergar muito pouco sobre as pessoas ao seu redor. Não que ele fosse uma pessoa ruim, longe disso, mas digamos que seria meio disperso quanto aos problemas alheios. Se bem que não é como se eu fosse confidenciar meus sentimentos a ele. Ninguém deveria saber.
Senti novamente as pontadas na cabeça e tentei não pensar muito sobre isso, mas toda vez que fechava os olhos, até mesmo abertos, ouvia no fundo da minha mente a voz do meu pai sussurrando aquelas palavras.
Alguém falou com ele, pois foi a continuação do que me disse: Ele me contou tudo sobre seus planos. Ele quem? Nada do que eu pensava fazia sentido.
Saí um pouco no quintal da minha mãe para tentar me acalmar. Quando acreditei estar afastado o suficiente para que não me vissem, acendi meu calmante e entre uma tragada e outra fracamente percebi a dor de cabeça aos poucos diminuindo. Ela sempre diminuía, apesar de parecer voltar sempre mais forte quando o efeito passava. Não havia remédio que conseguisse acalmar minha mente e meu estômago revoltos, mas aquele pequeno alívio era o suficiente para tentar manter o máximo da normalidade. Talvez me deixasse um pouco impaciente, talvez não. Nada era isento de efeitos colaterais e não é como seu fosse uma pessoa grosseira o tempo todo. Pelo menos era o que eu pensava.
Enquanto estive na casa de meus pais, fiz de tudo para que não percebessem o quanto estava recorrendo às tragadas para me acalmar. Mas não deixei de perceber um olhar decepcionado de minha mãe um dia quando pensou que ninguém tivesse notado.
Voltando pra casa, resolvi que não adiantaria ficar àtoa, só iria piorar a minha situação. Voltei para o escritório e percebi o susto que a Celeste tomou ao me ver chegar. Passei por ela direto para a minha sala, mas não tive sossego por muito tempo. Tiago, claro.
— Quem é vivo, sempre aparece! Pensei que fosse ficar mais alguns dias de licença — falou sério enquanto se sentava à minha frente. — Você está bem? De verdade?
Revirei os olhos.
— Aqui estou eu. Estou ótimo, não está vendo? — disse com arrogância.
O Tiago levantou as mãos como quem se rende e em seguida fez um gesto com a boca como quem passa uma chave.
— Calma, nervosinho, calma. Não está mais aqui quem falou.
— Desculpe, Tiago, mas é que estou farto de todo mundo perguntar se estou bem. Na verdade, eu estou ótimo. Melhor impossível — frisei para que ele acreditasse, mas seu olhar descrente me disse que não adiantou muito.
— Tudo bem, se você diz, não vou discordar. Vou te deixar a par dos processos então.
Ficamos durante um bom tempo pela manhã falando de trabalho, até sermos interrompidos pela secretária, que veio anunciar um cliente.
Fiquei surpreso ao ver seu olhar temeroso lançado em minha direção e assim que ela saiu, olhei interrogativamente para o Tiago. Ele deu os ombros e não disse nada.
— Anda, Tiago, me diga porque a nossa secretária parece ter medo de mim. Não me lembro disso ter acontecido antes.
— Claro que não se lembra. Você nunca tinha desmaiado em cima da amiga dela antes — disse e deu uma risada debochada, como era seu costume.
— O que? Que brincadeira é essa, Doutor Tiago Guimarães? — só podia ser brincadeira, afinal, eu me lembraria né? Ou não?
Ele arregalou os olhos escuros e se afastou coçando a cabeça.
— Nossa, se me chamou pelo nome completo é porque está muito bravo! Mas eu não brincaria com algo assim — semicerrei os olhos em sua direção — Tá, mas não dessa vez. Estou falando sério. Você desmaiou mesmo em cima da amiga da Celeste.
Fiquei estupefato com a informação. Por que não haviam me contado isso antes? O que aconteceu com a moça? Comecei a me preocupar.
— Como ela está, ela se machucou? Você a conhece? — quis saber de uma vez.
— Calma, uma pergunta de cada vez. Ela machucou o braço, mas já está bem. Fiz questão de entrar em contato com ela através da Celeste. E eu a conheço de vista, sim.
— Se machucou! — mais uma pessoa ferida na minha conta. Até quando isso continuar? — Ela não deu queixa?
— Não, foi muita sorte a nossa ela não ter nos processado. Mas depois falamos disso, tenho que atender meu cliente.
Já foi dizendo isso e saindo para sua sala, me deixando com muitas dúvidas e uma insistente dor de cabeça começando a se manifestar.
Quantas pessoas ainda eu iria ferir?
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Gente, que babado é esse? Parece que tudo está convergindo para....ops, quase dei spoiler aqui. Hoje eu não vou adiantar nada, nem que em breve nossos queridos Miguel e Raquel vão estar face a face!
Eu não disse nada! Meus dedos estão muito fofoqueiros. Parei por aqui.
Beijos, logo logo eu volto.
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