Cap. 12 - Despedida da Família...

Minha mãe ficou super preocupada com o meu acidente, a todo o tempo tentando me monitorar, chegou inclusive a querer repensar a minha ida para morar sozinha na "cidade grande". Meu pai foi mais tranquilo, mesmo ele sendo nascido e criado no interior, tentou domar a "fera", dizendo que o que tinha acontecido foi um acidente, que poderia ter acontecido em qualquer lugar, uma vez que o homem tinha passado mal. Ouso dizer que ele conseguiu o feito com louvor, pois a minha mãe ficou mais mansa, apesar de dizer que não era para eu hesitar de ligar para eles em qualquer eventualidade.

Meus irmãozinhos, não tão inhos, mas por ser a mais velha os considerava assim ficaram um grude comigo, fazendo todas as minhas vontades porque estava com o braço machucado e em breve não moraria mais com eles.

O Josias, com seus quatorze anos já se sentia um homem e queria ir morar comigo, mas eu disse a ele que naquele momento seria complicado levar mais alguém, inclusive porque iria morar com uma amiga e no início não seria possível. Sem contar que ele não estava na idade de sair da presença dos meus pais, acho que minha mãe surtaria, ela é muito mais apegada nos meninos, os mima demais e meu pai acha graça. Ele já me entende como ninguém, acho que somos bem parecidos, deve ser por isso.

Meu pai é um homem de Deus, que seguiu os passos do pai, o saudoso Josias que a cidade inteira conhecia e admirava. Já estava inclusive marcada uma homenagem no dia do aniversário da vovó, com vídeos e mensagens relembrando a época em que o vovô era ministro na igreja e pessoa muito influente na cidade, como até hoje a vovó o é. São um exemplo de família cristã em toda a cidade. 

Meu pai herdou o temperamento simples e dedicado do meu avô, mas sei que ele tem umas histórias do tempo que morou na capital e esteve meio afastado dos caminhos do Senhor. Ele sempre menciona esse assunto para nos aconselhar a permanecermos na presença de Deus, em quaisquer circunstâncias, que o preço a se pagar por se afastar Dele é alto e mesmo se a gente se arrepender e voltar, as consequências são inevitáveis.

Eu sinceramente não sei quando foi que eu deixei se seguir o que me foi ensinado pelos meus pais, pela minha avó e pela tia Olga, que são pessoas visivelmente piedosas. Não sei onde foi que a curiosidade falou mais alto que a vontade de estar sempre na presença do Senhor, o burburinho do mundo em meu ouvido me chamando a conhecer coisas novas, coisas que até então eu nem sabia que existia.

 Apesar de não achar que seja inteiramente culpa dela, acho sim que a Jane foi de grande influência para que eu deixasse que o desejo virasse ação e aos poucos me embrenhando nesse caminho, fui cada vez mais me afastando dos princípios aprendidos em casa. Se me pedirem um exemplo de vida, com certeza eu vou citar o Marconi e Clara, meus pais, que nunca deixaram a peteca cair quaisquer que fossem as circunstâncias, sem contar que sempre deixaram visível o amor que um nutre pelo outro. Eu sempre quis um amor assim pra mim. Simples e descomplicado como o do meus pais. Mesmo me aventurando em águas turbulentas, não abria mão disso, eu ainda acreditava em achar alguém que fosse pra mim.

Enquanto ajeitava meu quarto, separando as coisas que pretendia levar e as que ia deixar, considerava a minha sorte de já ir para um apartamento mobiliado e com uma companhia tão interessante como a da Celeste. Sentia no meu coração que essa parceria tinha tudo para dar certo.

Ela iria em minha casa neste final de semana. Apesar de ser prima da Jane, ela raramente ia lá e meus pais não a conheciam. Seria bom um entrosamento entre eles e eu tinha certeza que a dona Clara iria enchê-la de admoestações e lembretes para que sua filha fosse bem instalada lá. Conheço bem a minha mãe, ela não ia deixar passar essa oportunidade.

Enquanto pensava nisso, o meu telefone notificou uma mensagem. Era o Jonas. Desde o dia que vim para casa, ele me mandava mensagem todo dia. Mensagens de vários tipos e tons, desde fofinhas que me deixavam apaixonada, a mensagens rudes perguntando porque não havia respondido. Ele parecia bipolar, mas eu me sentia querida com a insistência dele em me conquistar. Ele sempre dizia que eu era dele, que não adiantava correr desse destino, que acabaríamos juntos. Cheguei a mostrar algumas dessas mensagens para a Jane, mas ela não teve o mesmo pensamento que eu:

_ Credo, cara grudento! Eu dispenso caras assim._disse ela uma vez fazendo careta enquanto lia algumas mensagens do Jonas no meu celular.

_ Ah amiga, eu acho fofo deixar bem claro o interesse dele em mim. Me sinto desejada.- disse com olhar sonhador.

_ Você é muito ingênua isso sim Raquel, esse cara é pegajoso. No início pode até ser fofo, mas depois a gente cansa e pra sair fora é o ó.- ri do jeito que ela disse, mas sem considerar realmente as suas palavras.

_ Ah deixa. Estou louca para que vocês se conheçam. Tenho certeza que vai gostar dele.

_ Posso até gostar, mas se ele vier de gracinha pro meu lado eu deixo claro o que penso dele.

_ Pára com isso Jane. Desse jeito vou achar que você está com ciúmes de mim....-brinquei com ela, mas não esperava que ela fechasse a cara e me encarasse séria como fez.

_ Nem vou te falar nada viu.- parecia mesmo ofendida.

_ Desculpe, foi uma brincadeira, não falo mais nada.- nossa, não esperava essa reação dela.

Depois disso ficamos meio esquisitas uma com a outra e eu sentia que com a minha iminente mudança estava prestes a nos separar em definitivo. Nossa amizade não era mais a mesma. Talvez fosse porque eu estivesse falando muito do Jonas, não sei.

No dia do aniversário da vovó, a Celeste estava na cidade e meus pais ficaram realmente felizes com isso. Ela já havia ido antes para conhecer meus pais, que a convidaram para a homenagem que a igreja ia fazer para a vovó. Se isso não era sinal que gostaram dela, não sei mais o que seria. Infelizmente ela não ficou hospedada em minha casa, o tio dela, pai da Jane, fez questão que ela ficasse lá. Tudo bem, eles moravam perto de casa mesmo.

O culto foi lindo, toda a família se reuniu e qual não foi a minha surpresa ao saber que o Isaac, sim, aquele que eu me aventurei a namorar falsamente, é meu primo! Bem, era longe, mas de qualquer forma tínhamos parentesco. E observando os olhares que ele lançava em minha prima Rebecca, não me admiraria se ele fosse o tal Zac cantor que ele tinha uma paixão platônica. Bem, isso explicava muita coisa, inclusive a incursão da minha prima Sara na casa dos meus tios e aquele interesse todo no Zac.

Reviro os olhos.

Típico isso ter acontecido: o Zac e a Rebecca se gostarem, apesar dela estar praticamente namorando o Ariel, o cara mais gato da igreja e a Sara e o JM estarem mesmo namorando. Minhas primas sempre foram o que não sou, talvez por isso as coisas acontecessem para elas e não para mim. Estou com inveja, admito. Faço uma careta ao constatar isso e sorrio ao lembrar que tenho um gato que me ama e depois de alguns meses não se cansa de mandar mensagem pra mim.

Ultimamente suas mensagens são bem diretas, querendo me ver novamente, chegando inclusive a ameaçar aparecer na minha casa. Fiquei em pânico quando ele me disse isso um dia. Podia prever o desastre que seria o Jonas aparecer na minha casa dizendo ser meu namorado ou quase isso e meu pai sofrendo um infarto. A minha mãe ia me matar primeiro, depois ela teria uma síncope. O Jonas definitivamente não é o genro ideal que meus pais almejam. Ainda não. Com o tempo sei que posso moldá-lo de forma a ser como eles querem e aprovem. Até lá, cada um no seu canto. Não é a hora de se conhecerem.

Desde esse dia fico atenta ao celular, com medo de não responder alguma mensagem do Jonas e ele realmente aparecer lá em casa. Sei que ele seria capaz disso. Cheguei ao ponto de estar reunida com a família tomando café com a vovó e ter que usar o celular à mesa, coisa que ela detesta. Não sei se ela viu, mas não me chamou atenção por isso. Inclusive o ser resolveu que aquela seria uma boa hora para ligar. Fiquei em pânico quando vi seu nome na tela, com medo de meus pais verem, ou alguém, sei lá. Aproveitei que ninguém estava prestando atenção em mim e fui atender do lado de fora. Foi por pouco.

Infelizmente minha mãe viu quando saí com o telefone e me passou um sermão daqueles, que a mesmo que a vovó não tivesse visto, que não era certo, que não tinha ligação urgente para que fosse atendida à mesa, etc, etc. Fiquei em silencio ouvindo tudo, dizendo que nunca mais faria isso, lembrando a todo momento que em duas semanas estaria por minha conta, que seria dona do meu nariz.

Ansiosa para que essas duas semanas passem logo viu!

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Capítulo pequeno, mas para que conheçamos um pouco da Raquel, no seu meio, na sua família. 

Né por nada não, mas apesar da Jane ser uma péssima influência, ela teve um pouco de razão ao falar do Jonas com a Raquel, não que eu esteja adiantando alguma coisa.

O próximo capítulo será bem denso, a relação entre Raquel e Jonas será bem tensa, tensa até demais, eu diria. Mas se alguém perguntar, eu não disse nada. rsr

Bejim e até o próximo.




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