Esse é o Jonas Gaia.

Corri ao banheiro e lavei rapidamente o rosto, tentando esconder os resquicios do meu recente choro na cozinha enquanto desabafava com a Celeste. Nao consegui mudar muita coisa, dei uma apertadinha nas bochechas afim de ficar mais corada, mas o resultado não foi muito promissor. Lembrei da minha necessaire e voltei correndo na sala pegando minha bolsa e corri novamente para o banheiro, no justo momento em que batiam na porta do apartamento da minha amiga.

Consegui disfarçar um pouco com base e um batom bem clarinho. O nariz continuou um pouco vermelho, mas não havia muito o que fazer no pouco tempo que eu tinha. Respirei fundo, dei a última verificada no espelho e contei até três antes de sair do banheiro. Antes de chegar na sala, ouvi as vozes e fiquei apreensiva. Será que ele ia gostar de mim? Será que eu ia gostar dele?

Assim que entrei na sala, percebi que ele estava de costas pra mim, com isso consegui reparar um pouco em seus cabelos castanhos, não muito curtos, com alguns fios dourados. Ele se concentrava em algo que a Celeste dizia e vi quando os olhos dela se dirigiram em minha direção e dois segundos depois ele virou a cabeça e olhou bem em meus olhos. Seus olhos eram divertidos e diretos, muito azuis,  com um brilho que não soube identificar. Ele imediatamente se pôs de pé e veio em minha direção, sem desviar o olhar dos meus e me senti presa neles. Nem me dei conta quando ele estendeu as mãos e me entregou um pequeno buquê de flores e automaticamente aceitei e levei ao nariz para aspirar seu perfume. Fechei momentaneamente os olhos e me arrepiei ao ouvir sua voz no meu ouvido:

_ Estou feliz de finalmente conhecê-la, tão linda quanto imaginei que fosse._ dizia num sussurro.

_ Bem, não há muito o que apresentar. Raquel esse é o Jonas, Jonas essa é a Raquel..._ tentou a Celeste, mas eu mal a ouvia. Ele se colocou a minha frente e pegando minha mão a levou aos lábios e disse:

_ É um grande prazer conhecê-la, Raquel._ o modo como dizia parecia normal a quem ouvisse de fora, mas o conjunto do ato, com suas palavras e seu olhar direto no meu diziam várias coisas que eu nem queria pensar naquele momento. Reuni o máximo de força e respondi que também era um prazer.

Nos sentamos, eu ao lado da Celeste e ele de frente a nós, porém a Celeste logo se levantou para verificar o almoço e colocar minhas flores num vaso com água.

_ Então Raquel, vai ficar muitos dias aqui na cidade?

_ Bem, vou embora amanhã mesmo.

_ Sério? Que pena, achei que teríamos mais tempo de nos conhecermos melhor._ disse galantemente.

Ele tinha uma barba curta e seu sorriso me deixava sem saber o que dizer a seguir.

_ É uma pena, mas eu sempre venho por aqui. Inclusive em alguns meses devo vir morar aqui para estudar.

_ Muito bem. O que você pretende estudar?

Antes que eu respondesse, a Celeste nos chamou para almoçar. Durante o almoço, ele continuou fazendo perguntas sobre mim, contando piadas, flertando abertamente. Rimos bastante.

Após lavarmos a louça, no que ele me ajudou, voltamos a conversar na sala, enquanto a Celeste estava no quarto numa ligação.

_ Quantos anos mesmo você disse ter?_ quis saber ele, enquanto pegava a minha mão e a acariciava lentamente. Eu me perdi naquele toque e tentei me concentrar no que ele tinha perguntado para que pudesse responder coerentemente.

_ Vou fazer 19 anos em breve._ fiquei feliz de não gaguejar enquanto respondia._ e você, quantos anos tem mesmo?

_ Bem, sou um velhinho comparado a você. É tão menininha num corpo de mulher!_ ao dizer isso senti seu olhar percorrendo todo o meu corpo e senti algo estranho.

_ Ah, você não é velho! Quantos tem, 24, 25?_ quis adivinhar.

_ Não, tenho mais que isso. Como disse, sou um velhinho. _ ao dizer isso fez um trejeito de tremores, como se tentasse se apoiar numa bengala. Ri muito disso, mas não me dei por vencida e insisti em sua resposta.

_ Já vi que você é bem insistente hein mocinha_ disse com um sorriso, que se eu reparasse bem veria que não alcançava os olhos._ Tenho 29 anos. Agora que conseguiu que eu revelasse meu segredo guardado a sete chaves, você está me devendo uma coisa.

_ Que coisa? Eu só quis saber da sua idade.

_ Quero que saia comigo essa noite. Vamos nos conhecer melhor, o que me diz?_perguntou sem tirar os olhos dos meus.

_ Bem, acho que preciso ver com a Celeste se ela tem algo planejado para minha estadia aqui._ disse meio insegura.

_ Ver comigo o que?_ naquele momento a Celeste entrava e eu me sentia culpada, como se tivesse fazendo algo errado.

_ É que chamei a Raquel pra sair hoje a noite e ela quer saber se você já tem algum plano._ o Jonas se adiantou.

A Celeste me olhou e eu movi a boca dizendo: igreja e ela logo entendeu que eu não podia faltar do culto, por ser domingo. Era uma regra que eu tinha me colocado para não me sentir tão culpada de frequentar lugares que talvez não devesse e esconder isso de meus pais.

_ Ah sim, nós já temos planos. Que pena Jonas, mas a Raquel quase não tem me visitado e eu preciso aproveitar minha amiga aqui.

_ Tudo bem._ele pareceu decepcionado. Mas logo se recompôs e perguntou_ que horas é o compromisso de vocês? É a noite toda?_ainda tentou ele.

_ Na verdade, vamos a igreja._entregou ela._ E não, não é a noite toda.

_ Igreja? Desde quando você é religiosa Celeste? Não conhecia esse seu lado não. _ele parecia bem surpreso.

Ela se ruborizou e ficou sem saber o que responder e tive que ir em seu socorro.

_Ela vai comigo. Eu sempre vou a igreja aos domingos.

_ Hum, entendi. Mas depois... da igreja.... o que pretendem fazer?

Trocamos olhares e vi quando ela deixou os ombros caírem, derrotada.

_ Vamos vir pra casa e ver um filme, comer pipoca. Você pode nos acompanhar.

Eu senti que devia chamá-lo pra ir a igreja também, mas não me sentia a vontade em levá-lo naquele ambiente em que eu cada vez me sentia estrangeira, não queria mostrar aquele meu lado a ele.

Vi quando o sorriso dele aumentou e ele concordou.

Mais tarde, fomos a igreja que tem próximo ao apartamento da Celeste e percebi que ela prestou atenção ao culto inteiro. Realmente foi um lindo culto, mas só conseguia pensar no depois, se o Jonas iria querer me beijar. Ao pensar nisso sentia um comichão na barriga.

O culto terminou e vários jovens se aproximaram de nós nos convidando a voltar novamente, no que eu respondi que estava só de passagem na cidade e a Celeste por educação respondeu que tinha gostado muito e pretendia voltar. Ela foi muito convincente, parecia mesmo ter gostado.

Assim que chegamos em frente ao prédio da minha amiga, o Jonas já nos esperava na portaria e subimos juntos. Enquanto estávamos no elevador, pude sentir seu olhar em mim e me preocupei com o que ele estaria pensando.

Chegando na Cel, ela foi providenciar a pipoca enquanto nós dois ficamos na sala escolhendo o filme. Escolhi uma comédia romântica esperando ele ir contra, mas ele disse que era uma das preferidas dele. Acho que me apaixonei mais um pouquinho.

A Cel chegou e começamos a ver o filme. Sentamos os três, a Cel e eu com uma manta e o Jonas com outra, estando eu no meio dos dois. No meio do filme percebi que a minha amiga tinha adormecido e puxado a manta só pra si. Eu fiquei com um pouco de frio, mas vi que o Jonas logo me cobriu com a dele, ficando nós dois debaixo do mesmo cobertor. Não muito tempo depois senti suas mãos em minha pele e comecei a me sentir insegura mas dei um sorrisinho nervoso. Ele se sentiu encorajado e deu um beijo em meu pescoço. Fechei os olhos, não consegui mais prestar atenção a filme nenhum. Virei a cabeça em sua direção e ele abriu novamente aquele sorriso que me desarmava e me disse baixinho:

_ Cara, você é muito gata! Não consigo resistir a você.

Sem saber o que responder, novamente dei um sorrisinho nervoso.

_ Você me deixa com uma vontade enorme de te beijar, sabia?_ disse já se aproximando e eu nervosa disse:

_ Isso é bom né?_ nem sei como ele ouviu, porque minha voz saiu muito baixa, quase como um sussurro.

_ Muito, muito bom._ e deixando as palavras, partiu para a ação, me dando um beijo de tirar o fôlego e vi que estava perdida.

Senti um vazio quando ele afastou a sua boca da minha e passando o nariz no meu, fez a pergunta que me deixou sem saber o que responder:

_ Seja minha namorada, Raquel. Estou apaixonado por você!

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Gente, pára tudo! Como assim apaixonado? O que vocês acharam do nosso Jonas gatinho Gaia? Contem-me tudo e não me escondam nada.

A Celeste parece ter gostado do culto, será que gostou mesmo ou disse por educação?

Acompanhemos. 

Beijim procêis!