Regra número 7 - Tome cuidado para não se perder
Estava perdido. Sentia-me no meio de uma comédia romântica e eu nem sequer desejava estar em uma. Minha vida tem que ser marcada por aventuras, não por sentimentalismo desenfreado. Elizabeth não deve se aproximar tanto de um garoto que não se interessa por ela. É estranho e quase antiético. De qualquer forma, ela não se afastou de jeito nenhum. Suspirei para tentar chamar sua atenção, mas tudo o que a garota fez foi morder o lábio inferior. O que ela estava tentando fazer? Estava tentando me seduzir? Bem, isso acontece bastante no colégio, mas não esperava que uma garota como ela fizesse isso.
- Seus olhos são mais azuis do que os de Bri. - Ela sorriu. Sua frase, apesar de desconecta com o que eu havia imaginado, me fez encarar seus olhos. Castanhos escuros, lembrando-me bastante da cor do chocolate. Parece que ela é uma referencia a comida ambulante. O que fazer com uma garota dessas? - Os olhos dela são mais acinzentados. Gosto mais dos olhos dela.
O que?
- Seus olhos também não são lá essas coisas. São muito comuns. - Retruquei, me afastando.
- Grande coisa! Prefiro olhos castanhos. - Elizabeth não parava de sorrir. Irritante demais.
- Por causa dos seus olhos?
- Por causa dos olhos do Liam. - Corrigiu. Tinha que ser.
Revirei os olhos e tentei me concentrar em qualquer outra coisa presente no local. A verdade é que eu tinha acabado de ver a imagem clara do Liam do One Direction, com os olhos estando em foco. Isso não é nada normal, mas sei que a culpa é inteiramente de Elizabeth. Poucas horas com ela, diversos pensamentos ridículos. Poucas horas com ela, várias discussões. Poucas horas com ela, um nariz quebrado. Poucas horas com ela, perda de controle. O que aconteceria se eu ficasse dois meses próximo de Elizabeth Fitzwilliam? Prefiro nem pensar!
Na hora seguinte já nos encontrávamos na casa dos meus tios. Estava entediado, até porque todos haviam achado algo para fazer. Meus pais e meus tios fofocavam sem parar, Connor estava ao telefone com os pais, ouvindo instruções que os pais sempre dão quando o filho está longe Bri... Adivinha só. Se você pensou que ela estava no quarto de hóspedes falando sobre os carinhas da McFly com a Elizabeth, acertou em cheio. Insuportavelmente previsível. Bri sempre foi previsível ao meu ver, mas tudo ficou pior agora, pois Elizabeth significa dose dupla. Se bem que Elizabeth não é nada previsível, mas ela piora os vícios e previsibilidades da minha irmãzinha. Elas bem que poderiam se separar por algum tempo, assim eu poderia conversar com Bri sobre minhas impressões em relação à Elizabeth... Não que eu pense muito nisso. Só quero que Bri perceba que sua amiguinha não é lá essas coisas. Aliás, não tenho nem ideia do motivo para Elizabeth estar na casa que pertence aos meus tios e não com seus avós. Mas esse é apenas um dos diversos detalhes que não entendo em relação à Elizabeth Fitzwilliam. Ri ao pensar no seu sobrenome. Isso nunca deixará de ter graça. Talvez essa seja a piada que levarei para toda a vida.
Bem, mudando um pouquinho de assunto... Depois de me acabar de rir decidi acabar com o tédio. Era hora de tratar de assuntos de macho, e nada é mais macho do que esporte. No meu caso há um esporte pelo qual sou realmente viciado: futebol. Jogo, assisto, torço e tenho base suficiente para reconhecer um bom time. E foi com minha base que escolhi torcer pelo Chelsea. Posso até ser de fora de Londres, mas poucos anos vivendo lá me fizeram amar o que todo londrino ama. Chelsea foi uma delas. Mas espera, não quis dizer que todo londrino ama o Chelsea, até porque não generalizo. Londrinos torcem por diversos times, alguns nem são da área. Okay, melhor voltar ao assunto principal.
Para acabar com o tédio, peguei meu celular e fui logo pesquisando o resultado de todos os jogos relacionados aos times britânicos. Em instantes eu soube que meu time não estava indo mal. Isso me alegrou, tanto que quase pulei do sofá.
- O que está fazendo?
Tá legal, agora sim eu quase havia pulado do sofá. Mas de susto. Ainda bem que consegui controlar minhas pernas. O problema foi controlar minhas mãos, e por causa da falta de controle eu joguei meu celular para o alto e ele pousou desastrosamente sobre o tapete branco da sala. Bufei e levantei meu olhar para Elizabeth. A primeira coisa que reparei foi sua roupa. Ela usava uma camiseta preta com uma caveira e a frase 'I Hate Idiot Boys' escrita em letras garrafais brancas. As mangas e a barra da blusa estavam rasgadas de forma proposital. Os jeans escuros também estavam rasgadas no joelho, e os bolsos eram visivelmente falsos. Seus pequenos pés estavam cobertos por um Chucks vermelho. E para finalizar ela usava um boné preto e amarelo de aba reta com o desenho de uma estrela e a frase I'm a Star; e uma camisa xadrez preto e branca se encontrava amarrada a sua cintura.
- Você gosta de fazer isso, hein? - Tentei não despejar meu veneno enquanto falava, mas foi quase impossível.
- Culpe a si mesmo pela sua capacidade absurda de se assustar facilmente. Não tenho nenhuma relação com seus sustos. - Ah, mas tem sim! E como! - Aliás, você sempre joga objetos retangulares para o alto?
Sua sobrancelha estava erguida e sua boca contorcida. Ela estava se controlando para não rir. Ótimo, me sinto um panaca! Senti minhas bochechas esquentarem, mas não consegui saber ao certo porque estava envergonhado. Não tinha feito nada de errado. Para provar, resolvi responder em tom de brincadeira:
- Só quando uma garota com cabelos castanhos escuros que ficam da cor do café ao sol me assusta.
Não havia nenhum resquício de pausa na minha frase, e assim que terminei de dizê-la me arrependi.
- Você é muito específico em suas brincadeiras, não é mesmo? - Elizabeth tinha um sorriso malicioso no rosto, por isso eu já esperava o que vinha a seguir. - E presta muita atenção no meu cabelo. É o primeiro garoto a notar que meu cabelo muda de cor conforme a luminosidade.
E lá estava eu, Kennedy Liam Murray, corando como uma adolescente que acaba de descobrir como é ser elogiada. Patético! Precisava pensar em algo muito astuto para dizer.
- Quando estou entediado e não tenho nada para prender minha atenção acabo fixando meus olhos a coisas insignificantes.
Visualizei o sorriso de Elizabeth murchar, em câmera lenta. Quase me senti mal... Quase. É claro que a garota logo se recuperou do soco na autoestima.
- Então você lê e fica encarando o cabelo das amigas de sua irmã quando está entediado. - Afirmou Elizabeth. Ponto pra ela. Não soube o que dizer. Eu acabara de dizer quase a mesma coisa. A britânica continuou a me encarar. Alternava seu olhar por pontos específicos do meu corpo, mas parecia apaixonada pelo meu rosto e por minhas mãos. O que será que passava por aquela cabecinha bipolar? Será que estava considerando me tolerar? Ou tentava entender porque eu não gostava dela? Não tinha como saber. Era melhor assim, mesmo porque eu não saberia como responder a ultima pergunta. Elizabeth entreabriu os lábios e eu pisquei, determinado a não divagar novamente. - Não precisa dos seus óculos para encarar a telinha do celular?
- Não. - Sim, mas não admitiria que sou orgulhoso demais para colocar aquele objeto de nerd no meio da minha cara.
- Interessante. - Ela sorriu e se aproximou. Alerta vermelho ativado! Afasta-se moça! Afasta! - Realmente interessante. - Cara, porque isso está acontecendo de novo? O que é dessa vez? Ela vai dizer que prefere meus olhos quando uso óculos? Ou que meu cabelo não é tão loiro quanto o de Bri? Sério, não consigo entendê-la. Mais alguns passos e... Elizabeth colocou as pequenas mãos no bolso do meu moletom. Mas o que? Já não entendia mais nada. Lutei para me afastar, entretanto, a morena foi mais rápida e logo retirou suas mãos de lá, esfregando na minha cara que havia roubado meus óculos. Ela gargalhou um pouco e ajeitou o objeto em seu pequeno rosto.
Eu travei.
Não por motivos banais, mas sim porque senti que já havia passado por algo assim antes. Sabia que estava à procura de algo praticamente impossível de achar. Uma memória, e não era uma memória qualquer. Era uma que estava trancafiada na minha obscura infância. Fiz uma careta, tentando me lembrar de qualquer fator que tenha me levado à sensação de déjà vu. Nada. Isso me frustrou e meu humor foi ficando cada vez pior.
- Ficou tão ruim assim? - Indagou Elizabeth, interpretando mal minha carranca. Não disse nada, até porque não queria admitir que o modelo lhe caia muito bem. Dava-lhe um ar de nerd e a deixava vagamente intrigante... Okay, okay. Vou dizer a verdade. Não era vagamente intrigante. Toda a imagem a minha frente me fazia pensar que a britânica se tornaria à garota mais intrigante que eu conheceria em toda a minha vida mortal. - Tudo bem... - Guinchou ela, encolhendo os ombros enquanto retirava os óculos e os colocava de volta no meu bolso.
- Hum, foi mal aí. Eu divaguei. - Expliquei enquanto ela dava longos passos para longe de mim.
- Sem problemas. - Sussurrou.
- E então, o que...
- Lizzie!
Por que alguém sempre me interrompe?
- O que? - Gritou ela em resposta ao meu pai.
- Vamos nos encontrar com seus avós em 5 minutos. Prepare suas coisas. - Ele gritou de volta.
- Essa não! - Resmungou a garota, olhando freneticamente para as coisas ao seu redor. Conseguir praticamente ver as engrenagens rodando no meio da sua testa. Eu conhecia essa cara, pois já a fiz diversas vezes. Elizabeth estava pensando em uma forma de fugir. - Droga! - Me encarou e virou o rosto de um lado para o outro com uma rapidez absurda. - Deseje-me sorte! - No momento seguinte ela estava escapulindo pela porta principal.
Passos, suspiros, sussurros.
- Não a deixe fugir! - Mamãe gritou em desespero.
E então a fixa caiu. Elizabeth estava fugindo dos avós e a culpa cairia toda sobre mim se eu não conseguisse pegá-la. Bufei pela enésima vez naquele dia e comecei a correr porta afora, procurando uma nanica no meio da imensa Paris. Está pra nascer um cara mais azarado que eu. Se não bastasse ter que aturar as doideiras da melhor amiga da minha irmã, ainda tenho que dar uma de babá. Tenha a santíssima paciência.
Não demorou muito para que eu a encontrasse correndo, mas para mim tinha parecido uma eternidade. Já planejava agarrá-la a arrastá-la de volta a casa, entretanto, a espertinha logo percebeu minha proximidade e virou uma rua qualquer.
- Elizabeth, espere! - Pra que eu fui gritar? Isso só a fez correr mais e mais. Cara, eu sou muito tapado às vezes. - Para! Precisamos conversar!
Quem visse aquela cena certamente pensaria que éramos namorados, e que eu estava tentando concertar uma burrada. Bem, a segunda parte era verdadeira. Muitos franceses me encararam com reprovação, outros riram. Isso mesmo! Riam ao invés de me ajudar!
Aos poucos as ruas ficavam desertas. Elizabeth já não corria mais como antes. Ótimo, está cansando! Sorri ao perceber que ela estava parando e a agarrei por trás, tomando todas as precações necessárias para que ela não fugisse novamente.
- Me solta! - Ela esperneou. - Não vou fugir!
- Não confio em você. - Murmurei em seu ouvido. Logo pareceu que eu segurava uma tábua já que Elizabeth havia paralisado. - Boa menina. - Sorri, tratando-a como se trata um cachorro. Elizabeth tentou me morder, mas consegui tapar sua boca antes que grandes estragos acontecessem. - Quietinha, Lizzie. - Provoquei, sorrindo com extrema satisfação. Finalmente eu conseguira imobilizar a energética Srta. Fitzwilliam. A infelicidade foi que meu sorriso não pode ser sustentado por muito tempo. Dei-me conta da situação e do local e logo indaguei: - Onde estamos?
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