Meu corpo tremia por causa da frustração e pelos soluços de Lizzie. Ninguém acabou com a música. Na verdade ninguém sequer se mexeu quando gritei. Todos estavam tão perplexos quanto eu. Não conseguia entender como havia sido tão burro. Que tipo de babaca dá um presente sem sequer abrir o embrulho? Aliás, que tipo de babaca precisa de alguém para comprar um presente? Ou ainda: Que tipo de babaca não sabe que está indo ao aniversário de uma garota sensível e doce? Eu. Com certeza apenas eu. Como posso concertar isso? Um abraço não é a resposta para tudo, muito menos quando você cometeu o maior erro da sua vida. Esse com toda certeza foi o maior erro da minha vida. Talvez eu só tivesse uma coisa a fazer: contar um dos meus segredos para Elizabeth... Ou pedir desculpas. Ou ambos.

- Lizzie. - Chamei, desejando que ela não me ignorasse. Demorou, mas Elizabeth permitiu-se dar uma olhadinha em meus olhos preocupados. Não parara de chorar ainda, por isso a primeira coisa que percebi foi uma lágrima escapando pelo seu queixo. Sabe quando você leva um soco no meio da cara? Então né, senti uma dor muito pior do que essa ao ver aquilo. Já tinha percebido que estava começando uma amizade importante com Lizzie, mas aquele erro poderia acabar com tudo. Com tudo mesmo... Menos com meu plano, mas isso não era relevante no momento. Precisava conseguir o perdão da garota mais surpreendente que já havia conhecido. - Eu... Pode parecer estranho, mas eu não sabia...

- Cadê a animação, minha gente? - A voz de Connor impregnou a sala de estar. Não sabia de onde tinha aparecido, nem estava feliz com isso. Ele estragou o momento ideal. E nem sequer percebeu isso. - Feliz aniversário, Lizzie. Eu trouxe... - Ele levantou um pacote, mas só então percebeu que Elizabeth não estava no clima de aniversário... Graças ao meu presente desastroso. - O que...? - Con parou ao ver o livro que ainda estava entre mim e Elizabeth. - Essa não! - Ele falou como se soubesse todo o contexto ali envolvido. Como ele sabe? - Qual a criatura que deu essa abominação de presente para a garota mais doce que já conheci?

Todos me encararam. Papai parecia se sentir culpado, mas qualquer um perceberia que a culpa não era realmente dele. Fui o único que não prestou atenção no que os outros diziam. Opa. Opa. Opa... Volta a fita. Ele disse "garota mais doce que já conheci"? Ele está mesmo cantando Elizabeth em um momento como esse? O que ele tem na cabeça? Deve ter o mesmo nível de babaquice que estava presente na minha cabeça quando resolvi não dar atenção à palavra "presente". Somos dois idiotas! Amizade perfeita.

- Ken, por que comprou isso para ela? - Perguntou.

- Era isso que eu estava tentando explicar antes...

- Ah, isso não importa. - Me interrompeu, pegando o exemplar de Romeu e Julieta que estava em minhas mãos e jogando do outro lado da sala. Mas o que? Eu poderia muito bem ter feito isso! Como se não bastasse, Connor ainda parecia emprenhado em salvar o dia. - Comprei uma coisa super interessante para você, mas te deixo abrir depois.

Elizabeth virou o rosto, parecendo um pouco intimidada, mas logo deu um sorriso. É isso. Eu não iria conseguir resolver as coisas. Connor seria o herói particular de Lizzie de agora em diante. Injusto mundo, mundo injusto. O que seria de mim sem o mundo injusto? Nada.

- Mesmo? - A voz de Elizabeth não passava de um sussurro de destroçar corações.

- Mas é claro. - Connor sorriu enquanto colocava seu presente em cima do sofá. - Com uma condição.

- Sempre há uma condição com Connor. - Murmurei para Elizabeth, mas ela me ignorou completamente. Interessante, ela continua agarrada a mim, mas só quer dar atenção para meu melhor amigo. O que devo fazer em uma situação dessas?

- Qual? - Ela estava levemente desconfiada.

- Deixo você abrir meu presente depois se... - Levantou um dedo, olhando para a caixa de som mais próxima. - Se dançar Show You comigo.

Eu poderia pegar a surpresa de Elizabeth e colocá-la em um vidrinho, exatamente como em meu sonho, a diferença era que eu não colecionava vaga-lumes de verdade. Ah, Show You é o nome da segunda música do EP do Shawn Mendes. Argh, estou decorando o nome dele também!

- Eu aceito! - Ela estava tão animada que teria saído rodopiando de meus braços se eu não a estivesse barrando.

- Lizzie, preciso explicar o que aconteceu...

- Ken, deixa ela dançar. - Connor disse, puxando Elizabeth para longe de mim. Logo os dois estavam dançando com enormes sorrisos em seus rostos britânicos. A garota nem apresentaria indícios de que havia chorado minutos antes se não fosse pelos olhos vermelhos. Aquela cena estava rídicula. Cena típica de um cínico profissional. Oh Deus, que coisa mais injusta. Magoei Lizzie sem intenção e ainda perdi toda sua atenção para meu amigo galinha. Poderia ser pior? Ah é, melhor nem pensar. Vai que piora...

Jesus Cristo! Connor canta mal pra caramba! Não cara! Não canta! Cala a boca! Não acredito que estou tendo que ver isso!

Era para eu estar animando Lizzie! Conheço ela melhor do que Connor... Ou será que não?

- Wow Lizzie, cuidado para não cair! - Ele disse enquanto fazia um daqueles passos estranhos em que o cara joga a garota no chão, mas também não joga... Se é que me entende. Esse passo tem nome?

- Con, só caio se você for um bobão e me deixar cair. - Lizzie respondeu. Os dois estavam rindo como bobocas. Não apenas como bobocas, mas como um casal boboca, o que é milhares de vezes pior.

Eu definitivamente não posso ver isso! Vai acabar com a minha masculinidade. Olhei ao redor tentando descobrir o que poderia fazer a seguir, mas todos prestavam atenção no casal bailarino. Até parece que eles são o centro do universo. Pff. Bem, já que ninguém está me olhando eu posso fazer minha saída discreta. Mas para onde? Carro? É, não vou invadir o espaço de ninguém, a não ser o da minha mãe... Mas ela não se importa com isso. Ia sair de fininho, mas nem foi preciso. Movimentando um pé de cada vez encaminhei-me para o lado de fora. Era hora de bolar um plano para fazer a atenção de Lizzie se voltar completamente para mim.