💥 . . .ᐟ ÚNICO, MANTRA


SEBASTIAN VETTEL, DESDE QUE ASSINOU COM a Red Bull Racing, nunca se sentiu ameaçado. Não havia razões para se sentir daquela forma. Ele tinha um dos melhores carros do grid, a melhor equipe responsável por suas estratégias, e, naquele momento, era o melhor piloto ── além de Hamilton, claro. Ele era líder, referência, o ídolo de todos. Ninguém era capaz de quebrar o triunfo dele. Ninguém.

Então, de repente, ela surgiu.

Yuliya Pavlov apareceu como um incêndio no grid da Fórmula 1. Chocou uma legião de torcedores por se consagrar a primeira mulher a, de fato, ter um assento fixo. Seu rosto angelical impediu com que acreditassem que ela estava ali para ficar. Enganou a torcida nas quatro primeiras corridas, não chegando nem perto da zona de pontuação por problemas com seu carro. Porém, quando ela alcançou, Yuliya se consagrou a grande rival de Vettel. E ele odiou aquilo.

De noite para o dia, Yuliya se tornou a favorita do grid. Talvez a personalidade difícil de Sebastian tenha influenciado naquele feito, mas parecia não ter muito o que fazer. Ele não mudaria porque alguns babacas não suportavam ouvir verdades, e muito menos agora com uma intrometida que se achava a rainha do momento; achando que havia passe livre para receber o triunfo que ele demorou anos para conquistar.

Então, fazendo a coisa mais sábia que surgiu no momento, Sebastian não pensou muito quando apareceu na entrevista pós-corrida da Austrália ── quando Yuliya conquistou um merecido P1 ── e a chamou de inconsistente; segunda piloto e diversas outras atrocidades que não demoraram muito para cair na boca da mídia tal qual veneno. E caramba, ele disse aquelas palavras com o sorriso mais filho da puta que conseguiu. Chegou a sentir tesão quando "Yuliya é só mais uma cópia fajuta de qualquer outro piloto que acham a cada esquina. Não tem nada de especial, só uma arrogância que facilmente se arranca na cama" escapou de seus lábios.

Se a russa era tão consistente quanto se dizia ser, então ela não levaria a sério uma besteirinha daquela, ele pensou, frequentando o paddock com um sorriso orgulhoso e nariz empinado, buscando com certa urgência a cabeleira loira pela imensidão de funcionários.

Só que ela era realmente consistente. Yuliya pouco se fodeu para as falas do atual campeão mundial; ato que acabou o deixando mais perplexo do que quando ofendeu Fernando Alonso. Ela não ligou. Yuliya poderia despejar o discurso mais violento possível para por aquele babaca no lugar, mas não o fez.

Então Sebastian insistiu. Fez o inferno no media day em Singapura. Ele chegou a sentir o revirar de olhos de Lewis Hamilton quando, mais uma vez, trouxe a loira para um assunto que não tinha nada a ver. Parecia que falar mal dela, duvidar de sua capacidade, era como uma dose de serotonina. Uma dose que o deixava louco, arrepiado, vivo. Nem mesmo foder com a corrida de seu colega de equipe, Mark Webber, era tão divertido assim.

Ele torcia, todos os dias, para que colocassem Yuliya para o dia de entrevista junto dele. Ela tinha que reagir em algum momento. Não que ela tivesse culhão para isso, de acordo aos pensamentos sombrios e provocativos dele, mas seria divertido descascar a máscara inabalável que cobria o rosto dela.

E para sua sorte, ou não, o dia chegou. Grand Prix da Coreia do Sul. Yuliya caiu no sorteio de entrevistas.

Michael Schumacher, Lewis Hamilton, Jenson Button, Romain Grosjean, Yuliya Pavlov e Sebastian Vettel.

Quando ela adentrou na sala de conferência, um sorriso determinado e extremamente azedo surgiu no canto dos lábios do Alemão. Lá estava ela, com a jaqueta da Ferrari e o boné posicionado para trás, dando um certo contraste com sua cabeleira loira que estava solta. Os olhares se encontram assim que ela cumprimenta todos os pilotos presentes no lugar, exceto o filho da puta. Sebastian não deixou de soltar um riso debochado pela atitude extremamente infantil.

── Achei que você fosse educada ── as palavras escapam antes mesmo que Sebastian pudesse raciocinar sobre a formação delas. Yuliya, por outro lado, finalmente o encara. Coisa que ela se recusou a fazer desde o momento que o alemão mimado abriu a boca para proferir uma grande sentença de ofensas a ela ──, achei que éramos amigos, Pavlov.

── Vettel ── o sobrenome sai com certo desgosto dos lábios dela ── não te vi aí.

── Claro que não.

── Mas não é como você quisesse o meu 'olá', também.

── Você bateu na Itália ── ele mudou radicalmente o assunto, percebendo que os jornalistas já estavam atentos ao diálogo ── uma pena que tenha perdido pontos tão importantes para o campeonato.

── Me senti exatamente como você quando rodou igual a um novato, na semana passada ── ela rebate, com um sorrisinho no canto dos lábios ── a diferença é que o babaca do Fernando esbarrou em mim, já você girou sozinho... Acho que isso diz muito sobre você, não?

Sebastian não estava aguardando uma resposta tão ácida e pronta por parte de Yuliya. Na verdade, ele nunca trocará alguma palavra com a automobilista, desde o momento que ela chegou na categoria, na metade do ano de 2010. Ali, era a primeira vez que se 'bicavam' diretamente, e a sensação que sentiu foi mais estranha do que esperava.

Yuliya Pavlov era alta, tinha alguns músculos, olhos baixos e lábios bem vermelhos. Não que ele reparasse na porra da boca da fracassada, mas ela tinha lábios vermelhos, e ele achou a informação interessante de se guardar no fundo da mente, trancado a sete chaves. Ele coça a nuca, de repente se vendo incomodado com a ausência de agilidade para rebater o comentário cínico que ela acabará de fazer. Filha da puta.

O que o impede de xingá-la, mostrando o quão infantil era, é a voz do apresentador anunciando que a coletiva estava ao vivo internacionalmente. O show de horrores definitivamente poderia começar. Vettel piscou um tanto quanto animado quando as primeiras perguntas começaram a ser feitas.

"Quais suas expectativas para a corrida deste final de semana?"

"Quais seus objetivos para o restante da temporada?"

"Quais os planos para as férias de final de ano?"

"Vai continuar na Red Bull na próxima temporada?

Perguntas chatas, na visão de Sebastian. Ele se segura por quase dez longos e tortuosos minutos para não revirar os olhos ── embora não tenha conseguido se conter na maioria das vezes. Já estava pronto para simplesmente mandar o próximo jornalista para o quinto dos infernos, quando ele lança a pergunta que faz seus olhos brilharem.

── Sebastian, sabemos que atualmente você é o piloto que os fãs vêm apostando para ganhar mais um título. É um fato. Mas, se levarmos em consideração a tabela, notamos uma certa proximidade entre Yuliya e Fernando, de você ── ele ajeita a postura na hora, apoiando o queixo em suas mãos entrelaçadas ── Fernando é campeão, você também, mas... Yuliya está consideravelmente perto. Você acha que ela precisa aprender algo antes de se tornar uma ameaça?

── Eu gosto quando vocês citam a tabela ── ele morde os lábios por um momento, tentando segurar o sorriso maluco que estava prestes a se formar ── Bem, acho bastante interessante essa análise. Entendo que a tabela possa dar uma certa impressão sobre o rendimento... números às vezes podem enganar, não é? ── Alguns jornalistas no local riem de sua fala ── Acredito que a conversa não é nem mais sobre ter pontos, e sim sobre história, consistência, o que nos motiva a ir ao topo. Eu já sei o que esperar do Fernando, ele é um campeão. Mas Yuliya? Bem... ── ele faz uma pausa dramática, coça o queixo ── Yuliya tem entusiasmo, o que é... ótimo pra ela, sério!

Os olhos agitados de Sebastian se encontram com os de Yuliya por uma breve fração de segundos. Ela parecia indiferente.

── Só que antes de pensar em títulos, e até mesmo em ameaça, ela deveria pensar no básico: aprender a sustentar o título de campeão, que não é para qualquer um. Eu sei, é difícil, mas quem sabe com muito treino talvez algum dia ela chegue lá.

Uau.

U-A-U.

A fala de Sebastian se assemelhava a um chicote. Ele sempre mostrou uma postura rígida e ignorante quando recebia perguntas daquele tipo, mas nunca, nunca, em sua vida, deu uma resposta tão provocativa e direta. Yuliya estava na sala, especificamente, sentada atrás dele observando-o dar aquele show que renderia matérias interessantes para os jornalistas. Ela chegou a sentir alguns olhares preocupados de seus colegas, como Jenson e Lewis. Alias, eles pareciam mais apavorados do que ela. E ela sabia muito bem o porquê.

Sua entrada na Fórmula 1 foi uma das coisas mais apavorantes que teve de lidar. Desde o momento que a Ferrari a anunciou, em meados de 2009, até a primeira corrida em 2010, Yuliya recebeu todo o tipo de preconceito que alguém poderia receber. Inclusive ── ou pior, principalmente ── dos próprios pilotos do grid que não aceitaram muito bem a ideia de ter uma mulher no mesmo nível que eles. Foi horrível; os olhares, comentários, indiretas, movimentos perigosos na pista para assustá-la.

Tudo durou por longos meses, até que Yuliya finalmente venceu uma corrida ── na mesma temporada de estréia. E logo depois ganhou outra, outra, outra, e quando piscou, já acumulava quase quatro vitórias em 2010. É triste relatar que somente após isso ela ganhou o verdadeiro respeito que ela merecia desde o início. Passou a ser cumprimentada, os tifosi começaram a aceitá-la e desistiram de usar vaias durante as corridas.

Seria impossível esquecer tudo isso. Não se apaga uma situação tenebrosa como essas do nada. Yuliya usou cada uma delas para se reerguer, para provar somente a ela mesma que era capaz de estar ali. Era 2012, e Sebastian Vettel, embora negasse a acreditar muito, tinha sim, grandes chances da russa vencer o campeonato.

── Yuliya ── o mesmo jornalista a chama ── você concorda com a resposta?

Sebastian brincava com uma pequena garrafa de água à sua frente, esperando drama, drama, e muito drama.

── Bem, acho que Sebastian ainda tem o direito de achar que tem a última palavra de tudo ── ela comenta, com o tom extremamente baixo ── Entendo que ele sente essa necessidade de reafirmar a todo momento o que conquistou, acho que é natural. Respeito o que fez pelo esporte, tipo muito, mas... enquanto ele gasta a energia tentando "ensinar" alguma coisa, eu prefiro gastar ganhando posições. Afinal, é a tabela que fala mais alto, não?

O sorriso de Sebastian se fechou tão rápido que Jenson Button não se aguentou, soltou uma gargalhada absurdamente alta e exagerada.

── Ah! ── ela parece se lembrar de algo, puxando o microfone de novo para perto de si ── Alguns títulos são conquistados em pista... e outros, infelizmente, só nas entrevistas. Acho que Vettel precisa rever sobre qual ele está lutando no momento.

( . . . )

── A cara dele foi tipo... engraçada pra caralho! ── Jenson exclama assim que a roda de entrevista daquela quinta se encerra. Sebastian Vettel é o primeiro a sair, ignorando todos ao seu redor. Ele só queria sumir dali. ── Acho que você é a primeira a deixar ele sem palavras. Nem o Fernando consegue.

── Esse cara é sem noção pra caralho ── Lewis entra no assunto, coçando a nuca ao relembrar das perguntas estúpidas e respostas mais estúpidas ainda que Sebastian deu a todas elas ── Lia, espero que tenha ignorado tudo que ele disse, de verdade.

── Aquele babaca não me assusta ── ela dá de ombros ── Se ele faz isso, é porque deixam ele fazer. Vettel precisa aprender a levar uns tombos na vida. Se realmente se acha um campeão, tem que ver o nível de soberba no sangue. Daqui a pouco ele se afoga e não sabe o porquê.

Jenson estala os dedos, de repente ficando eufórico.

── Isso sim é fala de campeã!

── Eu sei que você tá doido para eu te levar pra jantar e pagar tudo, Jenson, você não me engana.

── Eu que vou pagar!

Os três param de andar. Sebastian Vettel sai de dentro do motorhome da Red Bull, se apoiando no pequeno corrimão que o separava dos outros três automobilistas.

── Assim como paguei nos últimos dois anos. Porque é isso que campeões fazem ao ganhar uma temporada. Eles pagam o jantar de campeão.

Quando a coletiva acabou, Sebastian Vettel se viu perdido no tsunami de pensamentos e questionamentos que tomava conta de toda sua mente. Ele nunca se sentiu daquela forma, tão envergonhado. Yuliya lhe deu uma resposta extremamente forte, a ponto de que não tivesse mais o que falar para livrar sua área.

Yuliya Pavlov entrou em sua cabeça num nível que ninguém antes nunca o fez.

E agora ela não saía de lá de jeito nenhum. Estava presa, como um fantasma que o assombrava.

Se lhe dissessem até algumas horas atrás que se sentiu ameaçado pela piloto da Scuderia Ferrari, Sebastian Vettel teria uma crise de riso tão grande, que provavelmente nunca mais iria parar de rir. Por meses Yuliya sequer reagiu às provocações dele. Sequer se importou ou tentou reverter os danos da fala.

Mas ali. Ali o cenário agora era outro, e Sebastian não gastou nem um pouco daquilo.

Yuliya Pavlov agora sabia que por trás daquela fama de marrento e homem insuportável, se escondia um medroso.

── Não se preocupe, Vettel. Eu tenho um black card também ── sua voz era divertida, e pareceu até mesmo desafiá-lo ao cruzar seus braços. Jenson já se virou para o lado para rir.

── Sabe, gostei da sua resposta lá na entrevista.

── Ah, é?

Sebastian desce os degraus de escadas, sendo silenciosamente assistido pelo pequeno trio de pilotos. O sorriso em seu rosto era um ar bastante conhecido por si, aquele que sabe que está recebendo todos os olhares.

Ele pára ao lado deles, de frente para Yuliya, ainda com um sorriso petulante fixo no rosto.

── Por incrível que pareça, sim ── o tom carregado de sarcasmo ── Acho muito interessante ver como os pilotos novatos lidam com as expectativas, sabe? ── encara Jenson que acompanhava a situação com um sorrisinho malicioso nos lábios ── Mas, não se preocupe, 'Lia'...quando você tiver alguns títulos para contar, talvez eu te deixe escolher o restaurante.

Ela ergue as sobrancelhas, sem abandonar o ar divertido.

── Eu já escolhi, Vettel. Se você não for fã de comida tailandesa, acho interessante começar a se preocupar com a tabela, sabe? ── ela começa a andar, com Lewis e Jenson a seguindo quase instantaneamente ── Talvez você ainda tenha consistência pra não perder para a novata aqui.

── Nunca fiquei tão animado para descobrir quem vai pagar o jantar esse ano ── Jenson murmura quando eles atingem uma certa distância de Sebastian, esse que ainda estava parado no lugar, quase explodindo de raiva.

( . . . )

── COMO ESSA MERDA FOI ACONTECER?

Sebastian berrou no rádio quando seu carro derrapou na pista nas últimas 4 voltas da corrida. Se a situação já estava uma merda, ficou mais ainda quando descobriu que logo atrás dele, vinha Yuliya Pavlov ultrapassando seu companheiro de equipe.

E por conta disso, Yuliya agora era a vencedora do Grand Prix da Coreia do Sul.

── Os pneus travaram ── seu engenheiro o respondeu, tentando averiguar o acidente ── Você perdeu o controle logo após escapar da zebra. Se não tivesse ido para a zebra, provavelmente teria bati...

── Que se foda essa merda.

Perder já era humilhação. Agora perder para a dito cuja, era mais humilhante ainda.

E claro, a mídia estava quente. Sabiam que na quinta Sebastian e Yuliya se provocaram até não querer mais. Por conta da entrevista, tinham em mente que Vettel ganharia com extrema vantagem, humilhando a piloto da Scuderia Ferrari. Mas, não foi isso o que aconteceu.

Ela que ganhou, ela que teve uma vitória bonita, ela que humilhou Sebastian Vettel.

E neste momento, enquanto ela estava no pódio, levando um belo banho de champanhe, o piloto da Red Bull estava já em seu quarto de hotel, encarando a televisão que exibia os últimos momentos da premiação. Yuliya estava ensopada de bebida, sorrindo de uma forma que o irritava absurdamente.

E quanto mais observava, mais raivoso ficava. Sua mente gritava diversas palavras que ele gostaria de dizer bem na cara da russa, para tentar descarregar ao menos um terço da raiva que sentia em relação à ela.

"Quem essa filha da mãe acha que é?" "Só porque ganhou a corrida de hoje, pensa que é capaz de ameaçar meu título?" "Mimada do caralho, mal conheço e já odeio".

Fogo estava prestes a sair de sua garganta.

O clipe seguinte que surgiu foi de Yuliya abrindo seu macacão, o amarrando à sua cintura logo em seguida. A mente de Sebastian se calou na mesma hora que teve vislumbre da camiseta antitérmica colada ao abdômen dela. Ele engole em seco.

Yuliya Pavlov de repente pareceu muito gostosa.

Se antes o quarto estava dominado por uma atmosfera pesada, agora parecia tudo muito diferente. Seus dedos buscaram com certa urgência todas as partes do corpo, coçando-as freneticamente, não sabendo ao certo o motivo de estar pinicando. Sua garganta secou. Calor. Muito calor. Sebastian Vettel estava sentindo um calor do caralho, semelhante a um virgem que nunca viu seios em toda sua vida.

── Puta merda. ── Arfa sozinho, desligando a televisão com urgência e jogando o controle do outro lado do quarto. ── Fiquei maluco.

Cerveja. Isso, ele precisava de uma cerveja!

Seus passos até o pequeno frigobar, localizado no interior do quarto, são rápidos. A cerveja logo está em suas mãos, e segundos depois o líquido amargo corre solto por sua garganta, saciando por um curto período de tempo aquela sensação perigosa que o cercou tão de repente.

Só que não foi o suficiente, e o desespero aos poucos o corrompeu, sugando qualquer resquício de sobriedade que ainda existia em si. Levantou-se aos tropeços, largou a garrafa de cerveja ao lado da cama e rodou por longos minutos antes de uma ideia maluca se acender acima da cabeça.

Ele encara a porta do banheiro por longos três minutos. Longos. Três. Minutos. Sebastian até tenta reprimir sua vontade ── ou desejo maluco, que seja ── mas quando vê por si, já está arrancando a camiseta com certa urgência, esbarrando uma mão no interruptor e a outra no registro do chuveiro, ajustando especificamente na água gelada.

Um gemido de paz escapa de seus lábios quando a água gélida colide contra sua pele extremamente quente. Parece que finalmente a cena de Yuliya com a porra daquela camiseta ameaça escapar de sua mente, mas quando pensa novamente, algo inacreditável acontece para completar o bingo de estranhas probabilidades do ano. O olhar caí para sua cueca. Seu pau está duro. Seu pau está duro para caralho.

Sebastian Vettel não é nenhum virgem, e sua vida sexual é bastante ativa, principalmente quando ele ganha alguma corrida ── coisa que não acontece faz umas duas rodadas. Só que ali, ele estava duvidando bastante sobre sua própria biologia. Parecia uma cena inacreditável. Todos os acontecimentos dos últimos quatro dias foram extremamente inacreditáveis.

Ser humilhado por uma rookie em entrevista, ser humilhado por ela em qualificação, ser humilhado por ela na porra da corrida.

E mesmo assim seu pau fica duro por ela? Só pode ser sacanagem.

── Não, não, não. ── ele balança a cabeça, sentindo o fluxo de água molhar seus fios castanhos por inteiro ── Por ela não.

O alemão apoia ambas as mãos na parede do box e fecha seus olhos, concentrando-se no som nada suave de sua respiração. Sua mente viaja por alguns segundos em palavras aleatórias que idealizava para ver se a ereção sumia, e por instantes até pensa que está fazendo efeito. Só que ao abrir os olhos, seus ombros murcham. Ainda está lá. Duro. Duro por pensar nela.

Duro por pensar em Yuliya Pavlov com a camiseta antitérmica colada no corpo e... não, não, de novo não! Porra, na dava mais. A coisa mais inusitada ── ou talvez não ── que ele faz, é deslizar a mão por toda a extensão rígida, que implorava urgentemente para gozar.

Sebastian revira os olhos, um filete de baba chega a escorrer no canto dos lábios.

E então, ele desliza de novo, de novo e de novo. A água gelada já não era mais tão cortante assim, ou seu corpo talvez estivesse entrando em combustão de tão quente que o sangue corria por suas veias. O formigamento que antes sentia por sua pele, agora se fazia presente dentro de si. O alemão sentia tudo pegar fogo, tudo queimar, tudo... tudo o deixar completamente maluco.

Seus olhos se fecham novamente, uma parte de si querendo fingir que não estava batendo a porra de uma punheta para Yuliya Pavlov, e caralho, a imagem da camiseta ainda estava presa em sua mente. Uma onda de prazer maior se intensifica, ele acelera os movimentos da mão ao jogar a cabeça para trás e geme arrastado.

Uma mão livre se firma na parede do box, obrigando-o a suportar o próprio peso, enquanto a outra se arrasta rapidamente pelo pau, esfregando a glande de forma demorada e prazerosa para caralho. Seus gemidos aos poucos se tornavam cada vez mais altos, ecoando por todo o banheiro e deixando bem explícito o que estava acontecendo por ali.

A região abaixo do abdômen começa a esquentar, Sebastian estava sentindo que gozaria em breve, muito em breve.

Então, ele finalmente chega ao limite, engasgando ao próprio gemido enquanto sente o líquido esbranquiçado esquentar sua mão. Ele gozou.

Ele gozou pensando em seu rival.

E foi uma das melhores gozadas da sua vida.

Ninguém poderia saber que aquela merda tinha acontecido, muito menos ela.

( . . . )

A Índia estava quente. Yuliya não era uma das maiores fãs de climas tropicais ── Catar era o pior de todos ── por ter de lidar frequentemente com altas ondas de calor em um esporte doloroso como a Fórmula 1. Neste exato momento, estava com a parte de cima de seu macacão amarrado à cintura, enquanto observava com extrema atenção os mecânicos realizarem os últimos ajustes em seu carro.

Felipe Massa, seu colega de equipe, estava na mesma posição.

── Então... ── ele puxa assunto, seu sotaque brasileiro bastante presente ── Você está bem depois do que aconteceu na última corrida?

Ela franziu o cenho.

── Por que eu não estaria?

── Sebastian vem sendo um babaca. ── Felipe dá de ombros ── Você raramente responde, então não sei se ele vem te afetando ou não.

Yuliya solta uma risadinha baixa.

── Sebastian não "vem sendo um babaca", ele é um babaca o tempo inteiro. Acho que só tirou esses últimos meses para encher meu saco porque viu que nosso carro está mais rápido essa temporada.

Felipe concorda ao balançar a cabeça, pensativo com a resposta dela. Era a primeira vez que, de fato, Sebastian se mostrava bastante desesperado com a possibilidade de perder o título.

── Yuliya, concorde comigo!

A dupla de pilotos da Ferrari seguem o barulho, dando de cara com Jenson, Lewis e Mark rindo de alguma coisa. Ela ergue uma sobrancelha, curiosa para o que seja lá estejam rindo.

── O que eu perdi?

── É quase certeza que o campeonato é seu, então estamos escolhendo o lugar para comemorar sua pré-vitória ── Jenson diz, com um sorriso enorme ── e vai ser em Austin.

── A temporada só acaba no Brasil.

── Por isso o nome "festa de pré-vitória". Provocar o concorrente acima de tudo.

A loira busca o olhar de Mark, como se ele realmente estivesse de acordo com a ideia de que ela ganharia o campeonato, e ainda por cima tirar a liderança da Red Bull. Ele dá de ombros.

── Eu sou fiel a minha equipe, mas falando de estatísticas, é mais fácil aceitar de uma vez que não tem mais o que fazer. Meu carro tá uma merda ultimamente ── se defende ── E o Sebastian tá um cu, merece mesmo um apavoro, mimado do caralho.

── Eita, que o clima tá bom na Red Bull Racing! ── Jenson zomba, apertando o ombro de Mark, recebendo um revirar de olhos como resposta ── Inclusive, nem vi ele ainda. Onde é que tá?

── Tá trancado no quarto dele. Só saí para ir pro carro, depois volta e se tranca ── O australiano murmura ── Bom que a gente não se bate. O clima realmente não tá bom.

── Foi o apavoro que a Lia deu nele ── Lewis diz, caindo na risada com os outros homens da rodinha ── Tá caladinho, tanto que na entrevista dessa semana nem disse nada.

── Que postura de campeão mundial ele tem, então... ── ela murmura, debochada ── Seja lá o que tenha acontecido para ele se esconder dessa forma, espero que ainda tenha culhão para sustentar toda a merda que ele falou de mim pelos últimos seis meses.

── Ele deve tá fazendo só drama pra gerar conteúdo para mídia. Daqui a pouco volta a ser um saco.

( . . . )

Sebastian sentia-se apavorado desde o momento que tomou a maluca decisão de bater uma para sua maior rival atual. O que de início foi uma ideia insultada, tomada pelos impulsos internos e sei lá, pensamentos malucos, se tornou um próprio pesadelo. Sua raiva por Yuliya Pavlov aumentou, mas diferentemente de antes, uma nova sensação foi desbloqueada.

O tesão acumulado.

Ao pensar na dito cuja, os xingamentos ainda estavam lá, o ódio por ela ainda o motivava a continuar provocando-a para as mídias. Só que ao lado do ódio, uma outra visão, bem mais quente, também estava fixada em sua mente. A visão que deixava Yuliya Pavlov uma tremenda gostosa do caralho. E caramba, ele estava amando aquela visão.

Olhar para ela agora era diferente. Ele tinha vergonha de encarar, porque sempre que ao fazer isso, a cena da maldita camiseta térmica e sua mão bombando seu pau, o fazia engasgar em momentos aleatórios. Perdeu as contas de quantas vezes se desconcentrou durante o briefing, perdendo informações de extrema importância porque estava ocupado demais viajando em suas fantasias perigosas.

Ele pensava nela 24 horas por dia. Pensava em ganhar o campeonato para esfregar na cara dela, pensava em chamá-la de rookie novamente, pensava em olhar para ela, pensava naquela porra de cena da camiseta térmica, pensava em go... Chega.

Precisava se concentrar, o campeonato não estava perdido. Era dele, sempre seria dele. Não vai ser por conta dela que iria perder tão fácil assim.

Os treinos livres, embora Sebastian tenha ido com muita garra, foram um fracasso se levar em consideração sua liderança dos últimos dois anos. Conseguiu no máximo um P5, e ainda foi passado pelo seu colega de equipe que mal o cumprimentou naquele dia.

Sua relação com Mark já não era lá muito boa, mas estava piorando. Ele percebeu ao ver o australiano se juntar ao pequeno grupo de insuportáveis: Lewis, Jenson e Yuliya. Andavam juntos, colados, lançando olhares os quais Sebastian não gostava nem um pouco. Parecia sentir perfeitamente que estavam o julgando.

No dia seguinte, na qualificação, foi com tudo. Estava focado até antes de entrar em seu carro ── porém perdeu o foco quando viu Yuliya passear livremente a frente de sua garagem, inerte em uma conversa que parecia séria, com Christian Horner. Eles permaneceram por alguns minutos trocando ideias, até ela desaparecer pela multidão de repórteres com um sorriso enorme exposto na face.

E foi nesse momento que o dia de Sebastian Vettel acabou. Só bastou entrar no carro e foi merda de início a fim, perdendo tempo, atrapalhando as voltas de outros pilotos e xingando os funcionários de sua equipe.

"Será que ela vai roubar minha vaga? Não, ela não pode roubar minha vaga. Eu sou o melhor piloto da Red Bull, eu tenho títulos mundiais".

Os pensamentos venceram, ele se deu mal. Yuliya Pavlov era pole position do Grand Prix da Índia. Se a filha da mãe vencesse, automaticamente assumiria a liderança do campeonato. Como caralhos ele deixou aquilo acontecer? Mas que porra!

── Vettel!

Ele estava caminhando pelo pitlane, numa falha tentativa de ir até a FIA para inventar uma falsa acusação sobre Yuliya. Só que para no lugar assim que escuta a voz da dita cuja. Ele respira fundo, e se vira com uma expressão de soberba, como se segundos atrás não estivesse puto ou totalmente afetado pela presença dela.

── Pavlov.

── Eu estava te procurando ── ele cruza os braços, arqueando uma sobrancelha ── queria te agradecer.

── Pelo que?

── Por ter rodado igual idiota na última corrida ── ela abre um sorriso ácido ── e, claro, por ter sido estupidamente lento hoje. Graças a você, vou ganhar o campeonato muito mais rápido do que imaginava.

── Ora, ora, alguém vem se mostrando um tanto quanto soberba.

── Aprendi com você, fofinho.

Graças a Deus estava com o macacão cobrindo sua pele, porque pelo menos, Yuliya não percebeu que se arrepiou dos pés à cabeça. Ele engole em seco.

── Você tem uma boca muito grande ── ele diz, e o sorriso de Yuliya parece aumentar mais ainda ao perceber que o piloto estava aos poucos encolhendo sua postura de arrogância ── Alguém deveria te ensinar usar ela pra alguma coisa que presta. Ficou quieta nos últimos meses, agora entendo o porquê.

── E por que você está falando da minha boca, Sebastian Vettel? ── arqueia uma sobrancelha, cruzando os braços ── Por acaso você pensa nela?

Por um instante, ele hesita, sentindo uma sensação inexplicável ao encarar o rostinho desgraçado da russa, mas logo recupera a falsa aparência de ganância, esboçando um sorriso desafiador.

── Penso ── é direto ── ultimamente tá falando tanta merda, que está dando a entender que claramente não sabe o que fazer com ela. Parece que está implorando para que alguém te coloque em seu devido lugar.

── Ah, é? E quem seria esse alguém? ── o desafia ── você?

── Porque não!?

── E como você vai me colocar no "devido lugar", hum? Um homem de tantas palavras, mas que não sustenta o próprio discurso ── as palavras o atingem de uma forma que o arrepio se intensifica ── quando descobrir o que fazer, me avisa. Quem sabe eu te ouça.

E se afasta, quebrando aquela tensão que aos poucos abraçava Sebastian. Faltava apenas cafungar o pescocinho liso dela.

── Até a corrida, Vettel.

── Filha da mãe.

( . . . )

Nervous - The Neighbourhood

── ONDE ELE ESTÁ?

Caos. Era esse o cenário atual. De puro caos.

Domingo de corrida, Yuliya Pavlov era pole position, não tinha praticamente nada para dar errado. Claro, era esse o pensamento inocente que ela tinha até o momento de entrar em seu carro, e dar início à corrida que iria mudar os resultados da tabela da temporada.

Começou consideravelmente bem; largou de maneira espetacular, teve paradas rápidas no box, tinha o apoio constante de Felipe Massa que estava em P2, e seguiu assim pela grande por da corrida.

Sebastian Vettel, naquela manhã, já não havia acordado com um humor tão bom assim. Estava movido pela força do ódio, e aguardava apenas uma oportunidade de tomar o primeiro lugar de volta para si. Seu plano estava seguindo perfeitamente, principalmente após tomar o segundo lugar que antes era de Felipe Massa. Sua tarefa agora era de alcançar Yuliya. E ele conseguiu.

Só que, algo deu errado no carro. O volante de repente passou a apresentar uma falha estranha. Ele virava de um lado, o carro se movia para outro. Parecia que se não tomasse cuidado, um acidente facilmente aconteceria brevemente.

E, infelizmente, foi aquilo que aconteceu.

Sebastian Vettel nunca, em sã consciência, machucaria Yuliya Pavlov propositalmente. Nunca. Ele poderia odiá-la, suportá-la e outros quinhentos, mas ele nunca faria nada que colocaria a vida dela em risco.

Foi com esse pensamento apavorante que seu carro bateu com certa violência nas rodas traseiras do carro da Scuderia Ferrari, e segundos depois, tudo entrou em câmera lenta. Yuliya girou de forma brutal para fora da pista, invadindo a área das britas até que batesse fortemente contra o muro.

Seu carro também girou, mas não na porra da mesma intensidade. Ele tinha certeza que daquilo tudo, no máximo, teria dor de cabeça. Mas Yuliya? Caralho, ela girou forte. Ela bateu forte. Ela pode ter se machucado severamente por sua culpa.

── Yuliya? ── a voz dele saiu baixa. Suas mãos urgentemente tentavam a todo custo o tirar de dentro do carro. Ao menos nem viu para onde jogou o volante, e outras peças que estavam presas em si ── Y-yuliya?

Sebastian pula fora do carro, cambaleia para o lado ao sentir uma tontura repentina, mas aquilo não o impede de dar passos urgentes até o carro dela. Ele precisava saber se ela estava bem. Viva.

Os chamados do nome dela saem de forma dolorosa de sua garganta. Ele estava apavorado. Muito apavorado.

── Senhor! ── um marshall da pista o segura de repente ── nós precisamos te levar até a ambulância.

── Que se foda a ambulância! ── ele quase grita, tentando se soltar ── Eu preciso saber como ela está, caralho. Me larga, porra!

Fazer birra foi inútil, o levaram do mesmo jeito para a ambulância e arrancaram primeiro em direção à enfermaria do paddock. Ele não viu o resgate de Yuliya, não viu se ela estava bem.

Sebastian passou horas sentado no sofá do motorhome da Red Bull, após ganhar alta dos médicos que constataram não haver nenhum arranhão. Ele soube que sim, Yuliya estava viva, foi levada rapidamente para a enfermaria assim que realizaram o resgate com segurança. A essa hora, praticamente grande parte dos pilotos já haviam ido embora do paddock, mas ele ainda estava lá, esperando por notícias dela.

Antes que fosse se virar para seu empresário e perguntar mais uma vez se essas notícias de fato existiam, uma gritaria chamou sua atenção na entrada do motorhome da Red Bull. A voz... era ela.

── ONDE ESTÁ ESSE FILHO DE UMA PUTA?

Yuliya surgiu na porta segundos depois, acompanhada de vários funcionários da Ferrari que tentavam inutilmente segurá-la. Ela ainda estava com o macacão, só que havia filetes de sangue dele, e Sebastian sentiu ar faltar de seus pulmões.

O rosto dela não tinha machucados evidentes. Alguns arranhões, talvez. O braço direito dela estava enfaixado, e uma pequena mancha de sangue acumulava no ombro direito, que continha um rasgado no macacão, e um curativo realizado recentemente. Caralho. Ele causou aquilo. Ele machucou Yuliya Pavlov.

O choque que sentiu ao ter vislumbre dela, o imergiu segundos dentro de sua mente, impedindo que prestasse atenção quando ela praticamente marchou completamente raivosa até sua direção. Yuliya o pegou pelo colarinho da camiseta, e Sebastian nem se mexeu, apenas encarou os olhos delas. Eles eram azuis. Azuis, assim como os seus eram. Azuis lindos.

── Que porra foi aquela, Vettel? ── ela ainda o segurava pela camiseta, com uma força descomunal para um alguém que havia acabado de sair de um acidente. Ela tinha raiva em seus olhos. Os azuis, os azuis que Sebastian tanto pensou, agora parecia lavas de um vulcão.

Só que ele não conseguiu abrir a boca, pela primeira vez na vida. As palavras não vieram de jeito algum. Yuliya intensificou o aperto, o puxando para mais perto de si, perto de seu rosto, talvez numa falha tentativa de fazê-lo dizer alguma coisa, pelo menos uma palavrinha que seja. A respiração dela estava acelerada.

── Queria me tirar da porra da pista ou queria minha vida logo de uma vez? ── cuspiu as palavras que bateram de tudo no rosto dele ── Você quer ganhar esse campeonato tanto assim, caralho?

Ele engole em seco, ainda em choque.

── Eu não... eu não queria ── gaguejou, praticamente sussurrando ── Não foi minha intenção, eu... eu não sabia que... Caramba, Yuliya, eu pensei que...

── Pensou o que? Que eu fosse a porra do muro para você bater? ── ela o larga, dando um passo para trás ── Você se acha muito fodão, não é? O Deus deste lugar. Para mim você não passa de um babaca, um mimado do caralho. Um imbecil que precisa crescer!

Pela primeira vez em toda sua vida, Sebastian encolheu seus ombros, claramente envergonhado, amedrontado. Ele sentia culpa. Seu coração chegava a doer só de olhar para o rosto dela.

── Eu fiquei com muito medo... ── sua voz ainda baixa, um tanto quanto quebrada ── achei que eu realmente tinha te machucado, que... sei lá.

O olhar que ela deu, foi estranho. Sua expressão suavizou de maneira quase instantânea ao ouvir uma confissão que ela nunca achou que fosse escutar um dia. Parecia até mesmo que havia quebrado sua raiva. Mas não por muito tempo, sua expressão se fechou novamente.

── Parabéns, você conseguiu ── respondeu seca ── Mas pode ficar tranquilo, que se é desse jeito que você é jogar, então é desse jeito que vai ser.

Ela dá as costas, caminhando até a entrada do motorhome, mas de repente pára no lugar, virando-se para ele de novo. A raiva já não era tão visível, somente a dor.

── Eu esperava mais de você ── aquilo fez algo se quebrar dentro de Vettel, ele não sabia dizer o que exatamente ── Eu te respeitava, Sebastian. Muito. ── A vulnerabilidade presente no tom de voz dela, nunca fora ouvida por ninguém antes, talvez mesmo nem por ela ── Respeitava sua história, seu nome, seus títulos, você acima de tudo... Mas hoje, você me mostrou que tudo isso não passa de nada.

Aperto. Sebastian sentiu seu peito apertar, e seu principal ato foi tentar dar um passo à frente, em direção à ela, querendo se justificar, dizer que aquilo foi um acidente e que a última pessoa que ele machucaria em toda sua vida, seria ela. Mas, a expressão rigorosa que Yuliya tinha no rosto, o impediu de abrir a boca.

── E agora... ── ela continua, o tom de voz mudando drasticamente, ficando cada vez mais amargo ── eu finalmente compreendi. A única coisa que importa para você, é você mesmo. Você não liga para ninguém, Sebastian Vettel. Você é um filho da puta amargo por dentro e por fora, e por isso ninguém gosta de você.

E finalmente dá as costas, saindo do motorhome, deixando para trás um Sebastian Vettel completamente estático, escutando o peso daquelas palavras o assombrando sem parar. Talvez ali, pela primeira vez, ele tenha desbloqueado um pacote de sentimentos que o fariam humano. O mesmo humano que um dia ele foi antes de ser dominado pela ganância que o havia corrompido hoje em dia.

( . . . )

Hey Angel - One Direction

"I could be more like you".

Antes que a Red Bull conseguisse provar que o acidente se deu por um problema mecânico, e não pelo ego inalcançável de Sebastian Vettel, as consequências resolveram aparecer mais rápido do que imaginavam. A começar pelo básico: o piloto da Red Bull perdeu quase cinco pontos na superlicença, e a equipe teve de pagar uma multa de quinhentos mil euros pela penalidade de "direção perigosa".

Quando Abu Dhabi chegou, Sebastian Vettel sentiu como se estivesse pisando no paddock pela primeira vez; ele tremeu sob os olhares rígidos que recebeu de várias pessoas, incluindo funcionários de outras equipes, alguns fãs e até mesmo dos próprios pilotos. Mark Webber o evitou a semana toda, Jenson Button, que tinha aquela aura de engraçadão, recusou-se a abrir um mísero sorriso perto do alemão; e Lewis Hamilton, por pouco não o socou.

Jenson, Lewis e Yuliya eram muito próximos. Extremamente próximos. Competiram juntos no Kart, nas categorias de base, e chegaram na mesma época na Fórmula 1. Ter alguém mexendo com algum deles, era sinônimo para que todos comprassem a briga. E, naquele momento, todos compraram o desentendimento que até então, era somente entre ela e Vettel.

Yuliya ganhou a corrida daquele final de semana, e aquilo significava que, oficialmente, Sebastian Vettel não era mais o líder do Campeonato. Ainda tinha a última rodada decisiva, em Interlagos, mas naquela altura, já não sabia mais como reagir ao lado dela.

Yuliya Pavlov.

Sebastian Vettel ainda não tinha palavras para descrever a estranha sensação que foi tê-la em sua frente, jogando verdades extremamente dolorosas em sua cara. Mais do que isso, foi ter de acompanhar de longe o processo de cicatrização dos machucados, já que na altura do campeonato, Yuliya desistiu de ter qualquer tipo de troca de olhares com o alemão.

E caramba, ele queria não ligar, mas já era tarde demais para isso. Estava ligando e muito para tudo o que envolvesse a russa. E, honestamente, sentia muita falta de ter a relação estranha que tinham até antes do ápice. Sebastian adorava vê-la o desafiando, o encarando com o típico olhar de deboche.

Mas, depois do dia que presenciou apenas dor nos olhos azuis de Yuliya Pavlov, tudo mudou. Tudo mudou para pior. O fantasma dela ainda estava lá, só que agora o assombrando diariamente sobre o acidente. Seu maior desejo era voltar para o passado e impedir que tudo aquilo acontecesse, mas era tarde. A merda já estava feita. Yuliya o odiava.

Se era isso o que ele queria desde o começo, então por que agora estava doendo tanto?

( ☾ )

Antes, parecia bastante divertido ter uma festa de "pré-vitória". Yuliya, até pouco antes da corrida na Índia, mal podia imaginar o que faria naquela comemoração besta. Seus pensamentos iam desde convidar alguns fotógrafos para espalhar fotos, até provocar Vettel o máximo que conseguisse.

Mas, aquilo aconteceu. E agora, Yuliya não estava animada para merda nenhuma.

Sentada no fundo da balada, observando seus melhores amigos se divertindo com um touro mecânico localizado bem no centro da casa noturna, ela tinha apenas uma lata de refrigerante em mãos. Yuliya sentia-se deslocada. Seus ombros estavam encolhidos, e dentro de si, tudo parecia mais confuso do que já era.

Ela sentia um amargor na língua; todos os seus pensamentos, dores e incômodos, agora tinha uma raiz. Uma raiz que se chamava Sebastian Vettel.

Foi revelado recentemente que o acidente se deu por uma falha mecânica. Pela câmera on board, ela assistiu o piloto lutando por várias voltas para não voar para fora da pista. Quando isso foi constatado, sua mente voou para longe, especificamente para a discussão que tiveram, onde Sebastian tinha uma expressão absurda de dor no rosto. Ela conseguia, de longe, sentir o que ele estava sentindo. Culpa.

Vettel era doido, mas pelo visto não era tão doido assim. O culpava ainda, de alguma forma, como meio de tentar se estabelecer depois do acontecimento, mas no fundo ela sabia a verdade. Sabia que ele não seria maluco de machucá-la, exatamente como disse.

── Você não vai acreditar! ── Jenson chegou cambaleando até Yuliya de tão bêbado que estava. Esbarrou em várias pessoas no trajeto, pouco ligando pelos xingamentos ── Eu tava no touro!

── É, eu te vi caindo ── ela ri, tomando mais um gole da coca cola ── Se divertiu?

── Deveríamos fazer festa de pré-vitória todos os fins de semana ── ele parecia risonho até demais ── e por que você não tá dançando, hein?

── Tô cansada, vou voltar para o hotel, preciso trocar os curativos do ombro ── inventa uma mentirinha qualquer, como desculpa para sair de lá o mais rápido possível.

Os olhos de Jenson triplicam de tamanho.

── VOCÊTÁCOMDOR? ── grita no ouvido de Yuliya, ela estapeia o piloto e dá um passo para trás.

── Não grita, caramba! ── resmunga igual criança mimada ── Não, não tô com dor. Tô cansada! Preciso também trocar o curativo, ele tá me incomodando.

── Vou pedir pro Kimi te levar, ele tá doido pra ir embora e... ── ele se vira, procurando a presença do Raikkonen, mas de repente para e coça a nuca ── Vixe, ele se mandou já.

── Relaxa, não bebi e tô de carro ── Yuliya coloca a lata sob a mesinha ao lado do sofá, e aperta os ombros relaxados de Jenson ── Você consegue voltar para o hotel? Qualquer coisa me liga.

── Eu vou sair daqui só sete horas da manhã, eu ligo pro Lewis me buscar.

── Ele não vai vir.

── Ah, vai sim ── sorri malicioso ── Pode ir embora descansar. Se achar o Vettel, chuta!

( ☾ )

Austin já foi mais divertido, ou talvez Sebastian Vettel estivesse com um humor careta demais para acompanhar as mesmas atividades dos outros. Sabia que neste exato momento, quase três horas da madrugada, grande parte dos pilotos estavam em uma boate, e que sua presença não era bem vinda. Nem tentou retrucar.

Portanto, ficou trancado no quarto, tentando dormir, mas o que ganhou foi uma insônia desgraçada. Quando estava enjoado o suficiente de ficar suportando aquele silêncio insuportável de seu quarto do hotel, desceu para o bar, tomou uma taça de vinho, e agora estava esperando o elevador para ir, mais uma vez, para seu quarto dormir.

O corredor estava vazio, não tinha uma alma viva andando pelo lugar. O elevador chega, ele aperta o décimo oitavo andar, e encosta seu corpo no espelho atrás de si, fechando seus olhos por uma curta fração de segundos.

── Segura 'pra mim!

Nem raciocinou, só colocou o pé para impedir que a porta se fechasse. Ao abrir seus olhos, ele esperava qualquer figura feminina, qualquer pessoa. Menos Yuliya Pavlov, com um vestido preto completamente colado ao próprio corpo.

Ele engole em seco. Ela engole em seco.

A garganta dela se fecha, interrompe a respiração e causa uma sequência de sensações estranhas para se ter na madrugada de uma segunda-feira qualquer. Suas mãos, nervosas, soam; buscam pela bainha do vestido para tentar descontar aquela tensão estranha.

E Sebastian parecia inerte. Completamente hipnotizado. Nos primeiros minutos seus olhos estavam presos aos de Yuliya, sustentando seja lá o que for aquilo. Mas, o olhar desce, e quando desce, Sebastian engasga. Ele nunca havia visto Yuliya Pavlov com outras roupas a não ser com a de trabalho. Nunca tinha visto seu corpo, e não sabia que ela tinha dezenas de tatuagens espalhadas por ele.

Era lindo.

Os olhos da russa piscam rapidamente quando ela acorda daquele transe maluco, e busca por outros elevadores, o que para sua infelicidade, somente aquele estava funcionando. Ela respira fundo, sentindo seu corpo tremer, mas dá um passo à frente, criando coragem para entrar na caixa metálica. Sebastian se afasta para o lado, parecendo meio sem jeito, de repente.

Quando as portas se fecham, eles parecem sentir o ar se esvair pelos pulmões, como se estivessem sufocados pela tensão perigosa que aos poucos preenchia o local. Nenhum dos dois foram loucos o suficiente para tentar dizer algo, a tensão gritava mais alto; dizia mais do que o necessário.

Andar 03...

Andar 04...

Andar 05...

Yuliya limpa a garganta, tentando manter sua postura reta. Sebastian, atrás dela, repete o gesto.

Andar 06...

Andar 07...

Andar 08...

"Eu deveria dizer algo?" ela conversa sozinha com as vozes da própria cabeça. "Será que eu deveria fazer o que Jenson me indicou? Chutar?".

Andar 09...

Andar 10...

Andar 11...

Sebastian funga o ar, sentindo seus músculos se enrijecerem ao sentir o cheiro do perfume de Mark Webber impregnado em Yuliya. Ele ao menos percebe suas mãos estão se fechando, formando um punho muito bem rígido.

Andar 12...

Andar 13...

Andar 14...

Yuliya se arrisca a encara-lo por cima dos ombros, e quando percebe que ele faz o mesmo, desvia na hora, sentindo seu coração bater violentamente em seu peito. Mas que porra era aquela?

Andar 15....

Andar 16....

Andar 17...

Sebastian, num gesto estranhamente impulsivo, impede que o elevador continue a viagem; marcha com rapidez até a central e aperta no botão. Yuliya demora alguns segundos para raciocinar aquele ato, seu olhar distante, confuso, alterna entre a central de botões e o rosto inexpressivo de Sebastian Vettel.

── O que você...

── Eu perdi o controle de direção ── a corta, engolindo em seco ── tentei pisar no freio, mas antes que eu conseguisse, bati no seu carro... Yuliya, eu posso ser um idiota, mas eu não te machucaria de propósito. Eu não sou esse monstro que você diz quem sou.

── Por que está me dizendo isso?

── Porque se for para me odiar, eu quero que você odeie pelo que quiser, menos por isso. Eu não te machuquei de propósito, eu não acordei um dia e pensei que jogar meu carro para cima do seu seria a melhor forma de vencer a corrida ── ela parecia chocada com cada palavra que saía da boca dele ── Eu escolheria você em vez desde campeonato.

Algo queimou dentro de Yuliya. Sua expressão se fecha.

── Mas não escolheu ── ela responde, ríspida, antes que pudesse pensar para respondê-lo com calma ── Vem cá, o que você tem comigo? Eu nem digo da merda desse acidente, e sim do contexto geral. Por que você me incomoda muito mais do que os outros pilotos? É por que sou mulher? Você tem medo de perder para mulher?

── O que? Não! ── ele balança a cabeça, tentando se explicar ── Eu faço isso com qualquer pessoa. É competição, eu incômodo todo mun...

── Mentira! ── Sebastian se cala ── Lewis, Fernando, Jenson e Mark? Você não enche a porra do saco deles como enche o meu! ── sua voz tremia, mas não sabia dizer se era de raiva ou tristeza ── Você não vai a público dizer que eles são uns filhos da puta que não aguentam a pressão! E sabe por que? Porque você é um medroso. Tem medo que eles te respondam a altura.

Sebastian se cala quando as palavras carregadas de mágoa de Yuliya, o atingem de surpresa. Seu peito sobe e desce, parecia doer respirar, a sensação se assemelhava a um taquicardia, sendo a única diferença que seu peito doía por ver aquele rostinho angelical triste de novo.

Ambos os corpos, movidos pela combustão, estavam próximos. Sebastian arrisca dar mais um passo à frente, não perdendo o olhar da mulher por nada no mundo.

── Sabe por quê eu faço isso? ── diferentemente das falas anteriores, algo muda quando Sebastian abaixa o tom de sua voz que já estava levemente rouca. Era perigoso, Yuliya soube que estaria entrando num jogo perigoso e estranhamente sedutor.

Ela não se deixa abalar, erguendo a cabeça, consequentemente sentindo sua respiração se fundir com a do alemão.

── Por que?

Ele dá um sorriso incompleto, sem presença alguma de humor, com os olhos fixos no dela.

── Porque de todos esses idiotas, você é a única que pode me bater na pista, Yuliya Pavlov. ── Ele dá mais um passo à frente, como se estivesse contando um segredo a ela ── Você é a única que pode me derrubar, e eu faço toda essa merda porque eu tenho medo que tire a minha coroa.

O olhar de Sebastian lentamente caí para os lábios avermelhados da loira, desejando sentir o gosto que eles têm.

E é isso que ele faz ao puxá-la pelos cabelos para um beijo selvagem, colidindo os dentes no gesto bruto e estranhamente gostoso. Ambos soltam um gemido arrastado, como se estivessem esperando a tempos por aquilo, esperando a tempos para que um dos dois tomassem algum tipo de iniciativa.

A outra mão do alemão desce perigosamente pelo corpo esbelto dela, começando pelos ombros, trilhando um toque sensível ao escorregar lentamente pelos braços até chegar à cintura. Sebastian aperta com vontade, sentindo-a retribuir o gesto pelo beijo desajeitado, aderindo à língua porque queria mais... E ele desce mais ainda, esbarra na barra do vestido colado e aperta com vontade a bunda dela. Yuliya geme em sua boca.

── Aqui não... ── ele precisa de muita força para afastá-la, sentindo unhas afiadas arranharem sua barriga por debaixo da camiseta.

Ainda com seu corpo colado ao dela, compartilhando daquele calor atrativo, Sebastian aperta o botão do elevador. O andar 18 aparece no pequeno televisor localizado no interior da caixa metálica, e quando as portas se abrem, os dois quase caem no corredor. Ele é rápido em segurar a mão de Yuliya, puxando-a consigo numa corrida desengonçada até seu quarto.

A mente da russa stava emitindo alertas. Alertas que a cada passo dado em direção à suíte de Vettel, se tornavam cada vez mais inaudíveis. Ela tinha plena noção de que no momento que entrasse lá, o rumo de tudo poderia mudar. Sua relação com Sebastian Vettel nunca mais seria a mesma, e no fundo aquela informação era tentadora, perigosa. Yuliya Pavlov era amante de perigo.

No momento em que o alemão puxa o cartão magnético do bolso, seus olhares mais uma vez se encontram. Era como se, silenciosamente, ele perguntasse se era isso mesmo o que ela queria. E palavras novamente não são necessárias, Yuliya se esfrega descaradamente no corpo dele. Ela queria. Ela queria e muito.

Assim que ele entra, a puxa com rapidez, prendendo-a na porta assim que fecha. As bocas voltam a se encontrar, as línguas voltam a se enrolar e dessa vez não havia nada ou ninguém para impedir.

Num piscar de olhos, o vestido belíssimo de Yuliya estava no chão, acompanhado da camiseta da Red Bull que Vettel usava.

── Céus, você é gostosa pra caralho... ── murmurou contra a pele do pescoço convidativo dela, chupando a pele com vontade, armazenando cada partezinha deliciosa que a compunha.

Yuliya parecia sedenta, queria muito mais do que apenas chupões em seu pescoço. Sua mão para no peitoral de Vettel, e o empurra pelo quarto até que caísse sentado na cama. Suas pernas rapidamente o envolvem, e sua mente vai até as estrelas em questão de segundos quando suas intimidades se friccionam. Foi uma sensação inexplicável. Então ela fez de novo, de novo, e de novo. Até que o piloto a segurasse no lugar, impedindo que continuasse a brincadeira gostosa.

── Se eu for gozar, vai ser dentro de você ── ele segura firme o rostinho angelical, ditando aquelas palavras lentamente, olhando bem fundo nos olhos de oceano de Yuliya Pavlov.

Ela ri, entrelaçando seus dedos nos fios loiros de Vettel, puxando-os de surpresa.

── Já está implorando por mim, Vettel?

Ele morde o lábio inferior dela, emendando num beijo molhado e desajeitado.

── Quem está se esfregando no meu pau igual cadela é você.

Em outra ocasião, aquelas palavras iriam acarretar uma raiva inexplicável em Yuliya Pavlov, a ponto de que provavelmente devolveria o insulto de volta, mil vezes pior. Mas ali? Ali era pura verdade. Yuliya realmente parecia uma cadela, sentindo sua calcinha encharcar todas as vezes que Sebastian abria sua boca para falar mais uma dose de putaria.

E ele sentiu os efeitos; passou dois dedos por cima do tecido rendado, chegando a revirar seus olhos de tanto desejo ao sentir a boceta molhada de Yuliya respondendo ao seus toques. Mesmo respirando com dificuldade, sabendo que tinha uma tremenda gostosa em seu colo, ele se concentra em colocar o fino tecido para o lado, e sem aviso prévio, penetra dois dedos dentro da extremidade quente e pegajosa da piloto.

Yuliya geme alto para caralho. Quase grita manhosa. O que impede é a outra mão de Sebastian, tampando sua boca.

Os movimentos começaram lentos, mas em questão de segundos já estavam rápidos. Os dedos longos do alemão fodiam sem dó e piedade a boceta molhada de Yuliya, fazendo-a constantemente arquear as costas e murmurar palavras desconexas, tendo em vista que sua mente estava um breu completo. Ela só sabia gemer, e Sebastian só sabia observar aquela cena deliciosa, se segurando para não gozar somente ao assistir.

De repente, ele tira os dedos, Yuliya geme frustrada, esfregando-se na perna de Vettel em busca de contato. Já ele, como o bom filho da puta arrogante que era, leva os dedos encharcados até a própria boca e... céus. Ela sentia que poderia chegar ao limite com aquela cena perigosa de Sebastian lambendo os próprios dedos, como se estivesse chupando a coisa mais gostosa do mundo.

E ele a beija logo em seguida, querendo que ela sentisse o próprio gosto. Ele queria que ela sentisse que tinha um gosto delicioso. Ele queria que ela sentisse que aquela boceta era a coisa mais gostosa que já havia experimentado em toda sua vida miserável.

── Vai me comer ou vai ficar me olhando com essa cara de idiota? ── ela desafia, limpando um pequeno filete de baba que escorria no canto da própria boca.

Sentindo seu sangue esquentar pelo tom de provocação, Vettel não pensa muito quando rasga a calcinha fina que Yuliya usava. Ela abre um sorrisinho de canto ao observar a cena, mordendo seus lábios quando ele a tira de cima de si somente para se livrar da calça e da cueca de uma vez. Mais uma vez ele segura o rosto dela. Yuliya fica de joelhos.

── Eu não tenho camisinha. ── ele relata, meio tenso.

── Por acaso eu pedi? ── ela morde de leve seu polegar, chupando-o logo em seguida sem desviar seu olhar mais filha da puta possível ── Me fode, Vettel. Me põe no meu lugar.

As expectativas estavam altas, e se intensificam quando o alemão a empurra de leve para trás, fazendo-o cair na cama. Ele sobe logo depois em cima da mulher, mantendo seus rostos extremamente próximos.

Então a espera acaba quando ele a invade de uma vez, e Yuliya berra no pé do ouvido, quase chorando de felicidade ao finalmente sentir Sebastian Vettel por inteiro. E caramba, ela mentiria se dissesse que aquele momento não mexeu com a cabeça dela.

Yuliya estava doida. Seu coração batia loucamente, sua mente parou de emitir os alertas malucos, e agora ela estava toda aberta, sentindo seu maior rival a fodendo sem dó e piedade. A cabeceira da cama batia na parede, e o som se misturava com os arfares que Sebastian soltava, juntamente dos gemidos dengosos dela.

Para Vettel, aquela cena era como estar no céu. Abaixo de si, ele tinha a visão completa de sua maior rival gemendo igual uma cadeia necessitada, se contorcendo a cada estocada. Ela estava no auge da beleza dela. Seus cabelos loiros desgrenhados, os seios balançando de forma convidativa, e a boceta molhada que engolia toda a extensão de seu pau. Nunca antes ele sentiu tanto tesão como estava sentindo naquele momento ao foder Yuliya Pavlov.

Sua mão aperta a carne da coxa dela, tomando impulso para ir cada vez mais fundo. Ele queria deixá-la louca, maluca, completamente necessitada por ele.

── Vira ── ele interrompe os movimentos de repente, deixando um tapa na bunda dela ── dreh dich bald um/ se vire logo.

Ela ri do jeito autoritário que já conhecia muito bem, e pela primeira vez na vida, obedece uma ordem de Sebastian Vettel. Ela fica de quatro. Ele se posiciona logo atrás, e mais uma vez seu pau desliza pela boceta de Yuliya que já estava se familiarizando muito bem com a invasão. Seu sorriso convencido retorna ao rosto.

Com uma mão ele agarra a cintura dela, e com a outra se segura na cabeceira da cama, pegando o impulso necessário para voltar a foder a gostosa da sua rival. Ele se recusa a fechar seus olhos, a visão da bunda dela batendo contra sua pélvis era melhor que os sete pecados capitais. Como pode ter demorado tanto para transar com ela?

Chegou um momento em que Yuliya perdeu a estabilidade, e enterrou a cabeça no travesseiro, dessa forma se empinando mais ainda para o alemão que parecia se divertir muito com a boceta molhada dela.

── Du machst mich verrückt/você me deixa maluco! ── ele murmurava coisas desconexas, e mesmo não entendendo muito bem o idioma, Yuliya sorria atrevida ao saber que o sexo estava tão bom, que Vettel estava alucinando.

As palavras desconexas se tornaram frases longas e extensas. O aperto na cintura dela se intensifica. Sebastian estava perto do limite. Ela também.

As cenas seguintes são um borrão, quase tiradas de um vídeo pornográfico. Ele a puxa pelos cabelos, até que estivesse colada no seu peitoral suado, e continua a dar estocadas fundas, dessa vez conseguindo escutar bem de perto os sons que Yuliya soltava.

O quarto cheirava a sexo, o barulho era alto, o sexo era bruto e parecia descontar uma pilha de sensações que ambos guardaram por meses. Talvez tenha sido com aquele pensamento que Sebastian Vettel sentiu seu pau latejar, e antes mesmo que pudesse avisar, um gemido extremamente alto escapa de seus lábios ao sentir todo seu sêmen preencher a boceta apertada de Yuliya.

Ele sai de dentro dela, mas antes que pudesse desabar de cansaço, passa longos segundos observando todo seu gozo lentamente escorrer pelas pernas da russa. Era uma das cenas mais bonitas do mundo. Se pudesse, tiraria uma foto para guardar somente para si.

Quando ambos caíram esparramados pela cama de casal, fecharam os olhos e puxaram o ar bem fundo, o ar que não tinham em seus pulmões desde o momento que se encontraram no elevador. Yuliya não queria pensar muito na situação a qual se encontrava no momento. Não queria raciocinar que estava nua ao lado de seu maior inimigo de pista.

O silêncio aos poucos se manifesta no quarto que marcava apenas o som de ambas as respirações ofegantes, e juntamente dele, a realidade parece despencar na cabeça dos dois pilotos orgulhosos. As bochechas de Yuliya, que até então estavam vermelhas pelo esforço do sexo bruto, agora estavam vermelhas de vergonha. Não que estivesse se sentindo exposta na frente de Sebastian, claro que não, bem longe disso. Mas, ainda estava nua na frente do cara que mais pegou no seu pé nos últimos meses.

Ela não aguentaria ficar ali por muito mais tempo, a situação estava ficando embaraçosa. Num ato rápido, se senta na cama e procura pelas peças de roupa. O vestido estava perto da porta, e sua calcinha já era. Não usava sutiã naquela noite.

Ela pega o tecido de renda completamente destruído.

── Minha calcinha ── murmura.

Sebastian, deitado na cama com seus braços atrás da cabeça, abre os olhos.

── O que?

── Você rasgou minha calcinha.

── Ah ── ele não liga ── te compro uma nova, relaxa.

Yuliya se levanta da cama, pega o vestido do chão e rapidamente o coloca. O alemão a encara confusamente, não entendendo a movimentação repentina.

── O que está fazendo?

── Me vestindo ── respondeu com tédio.

── Pra que?

── Eu vou para o meu quarto ── ela se vira, finalmente o encarando ── Eu dei para você, mas ainda somos rivais lá fora.

Um sorrisinho de puro escárnio se abriga no canto dos lábios dele, como forma de mascarar a sensação de desgosto que sentiu ao escutar o tom de voz corriqueiro da russa. Lá estava ela, a Yuliya Pavlov de sempre.

── Vai dizer que isso não deveria ter acontecido? Que eu te seduzi somente para te desestabilizar?

── Você não me seduziu ── rebate, caminhando até o banheiro da suíte em busca de algo para limpar qualquer evidência do ato perigoso que tiveram ── Eu te seduzi. Você me beijou. Você implorou primeiro.

── Pelo visto seu ego está intacto ── ele zomba, revirando os olhos.

── Você não é a melhor pessoa para falar sobre ego.

── Muito menos você.

Ela aparece no quarto de novo, finalmente limpa.

── Isso ── seu dedo indicador aponta tanto para ele, quanto para ela ── Não vai mais acontecer.

Sebastian dá de ombros.

── Se você diz.

De repente, Yuliya fica sem jeito. Encará-lo naquele momento era diferente de quando estavam na cama, balançando-a de maneira selvagem. Naquele momento eram duas pessoas descontando o estresse recente. Mas agora? Agora parecia estranho. Encarar Sebastian Vettel sem roupa alguma, a fazia ruborizar.

Ela limpa a garganta para retomar os sentidos, e sem despedida, caminha até a porta do quarto pronta para sair.

── Yuliya?

Seus passos travam no lugar. Ela sente vontade de xingar seu corpo por reagir tão rápido a voz do bicampeão.

── O que? ── a resposta sai rígida, e ela se nega a olhá-lo novamente.

── Eu não menti sobre o que disse no elevador.

As mãos dela chegam a tremer com o tom de voz sereno de Sebastian. Seu coração descobriu que era uma delícia festejar com aquilo.

── Ok.

── Eu não menti sobre nada.

── E-eu já disse que entendi ── engole em seco. Estava à beira de um colapso, não iria conseguir dizer mais nada. Não queria trazer à tona o elevador novamente. Não queria se recordar de que fora lá o ápice de toda essa situação.

Então, agindo como covarde, Yuliya Pavlov deixa o quarto do bicampeão sem olhar para trás, quebrando toda a intimidade que demoraram para construir. Eram estranhos de novo.

Estranhos como sempre foram.

( . . . )

HEARTBEAT - Childish Gambino

Tudo pode mudar no período de uma semana, e foi exatamente isso que aconteceu desde o momento que Yuliya Pavlov deixou o quarto de Sebastian Vettel às quatro e meia da manhã. Ambos, no fundo, já sabiam muito bem que os próximos passos não seriam normais, e sim estranhos.

O alemão só não pensou que seria muito mais estranho do que cogitava. Uma parte de sua mente, aquela maldita parte que já estava completamente apegada à presença da piloto russa, chorava de saudade; praticamente emitia alertas aos nervos principais, insistia que memórias surgissem a todo momento para que Sebastian não esquecesse do que aconteceu.

E mais uma vez o fantasma de Yuliya Pavlov passou a assombrá-lo. Ele a via em todos os lugares, sentia sussurros perigosos no pé do ouvido; mas tudo não passava de uma alucinação sua. Sua mente estava barulhenta, estava o confundindo cada vez mais, a ponto de precisar se desligar completamente de sua realidade para que não precisasse enfrentar a sensação de vazio que a russa deixou no peito quando decidiu deixar o quarto e nunca mais olhar para trás.

Desde que chegou em São Paulo, a primeira pessoa que buscou com certa urgência foi ela, mas, para sua infelicidade, não a encontra nos primeiros dois dias visitando o paddock. Yuliya Pavlov sumiu, ou melhor, evitou a presença do bicampeão mundial o máximo que conseguiu.

Só que na quinta foi impossível correr. Media Day, diversos pilotos num mesmo lugar. Não demorou até que os olhos curiosos e desesperados de Sebastian a encontrasse caminhando ao lado de Mark Webber. E caramba, ele odiou ver aquilo.

Quis se estapear, inicialmente, xingando a si mesmo por sentir ciúmes de Yuliya. Mas foi inevitável, não conseguiu se livrar daquele aperto que aos poucos comprometia o ar em seus pulmões. Sebastian estava à deriva, perto de se afogar no próprio ciúme.

Ele permaneceu encarando os dois descaradamente até que Yuliya se despedisse do australiano e seguisse caminhando despreocupadamente até a garagem de sua equipe. Foi só ela se afastar que logo já estava marchando até Webber, com os punhos cerrados e uma expressão de extremo ciúme lhe dominando dos pés à cabeça.

── Então agora você fica de conversinha com nossos rivais? ── Mark pisca surpreso ao notar a presença de Sebastian a sua frente. Ele olha para os lados, confuso.

── Tá falando comigo? ── aponta para si mesmo.

── Tem algum outro idiota australiano, aqui?

── Wow! ── o australiano levanta os braços, como quem não quisesse problemas ── Eu estava conversando com uma colega. Assim como faço com todo mundo...

── Conversando? Eu te vi secando ela dos pés a cabeça ── Sebastian cospe as palavras, cruzando seus braços ── Você tá a fim dela, porra.

Era a primeira vez que Sebastian enchia o saco de Webber com um assunto que não fosse sobre liderança, carro, etc. O australiano parecia chocado demais com a acusação.

── Tá maluco, Sebastian? Eu não tô a fim dela porra nenhuma! ── dá um passo para trás ── E se eu tivesse, isso não é problema seu. Vai pro inferno e cuida da sua vida.

O piloto alemão ri secamente.

── Tá vendo? Tá a fim dela.

── Se eu tivesse, você ia fazer o que? ── Mark desafia, aos poucos substituindo a carranca por um sorrisinho que irritava Sebastian de uma forma descomunal ── Me pedir para me afastar dela? Você não manda em mim, moleque.

Algo dentro de Vettel queimou, uma chama ardente do caos e extremamente ciumenta aos poucos incendiava seu coração de gelo. Ele não entendia o porquê estava agindo daquela forma tão... incisiva. Yuliya deveria ser uma ninguém, apenas uma rival. Só que ela não era mais, e ele sabia exatamente o porquê.

Só de pensar Mark ou qualquer outro piloto tocando-a da mesma forma que tocou dias atrás, fez seu peito implorar por mais oxigênio.

"Então eu não sou o suficiente, hum?" quase berrou aos sete ventos.

── Vá se foder. ── Bradou um tanto quanto irritado, esbarrando propositalmente no ombro do australiano.

Webber precisou piscar umas cinco vezes. Cinco longas vezes até finalmente entender que aquela ação de Vettel além de ser estranha, significava apenas uma coisa: ciúmes. Sebastian Vettel estava se mordendo de ciúmes, e Mark não conseguia entender o porquê. Tipo, o que aconteceu? De repente acordou e decidiu que se tornaria o dono de Yuliya Pavlov? Logo dela?

Ele precisava de respostas, e com esse pensamento saiu meio confuso para suas atividades do dia. Mandou uma mensagem para se encontrar com Yuliya no bar do hotel, e de quebra ainda convidou os outros dois integrantes daquele grupo polêmico de amigos. Algum deles precisavam saber responder o porquê de Sebastian Vettel estar mais insuportável que o normal.

Marcando quase oito e meia da noite no relógio, ele avista Yuliya e Lewis conversando enquanto andavam lado a lado. A loira gesticulava com as mãos um volante, parecendo explicar ao britânico uma manobra que havia feito na sessão de treinos daquele dia, e que claramente deu errado. Mark limpa a garganta.

── Uau, Mark... ── ela solta uma gargalhada ao ver três copos vazios à frente dele ── Começou sem nós.

── Pois é... ── coçou a nuca.

── O negócio é sério, pediu só whisky até agora ── Jenson murmura, brincando com o canudo de seu copo ── Até tentei arrancar a informação dele, mas esse australiano aqui é um chato.

── Nada demais, Vettel me irritou hoje.

Quando ele disse aquilo, na mesma hora prestou atenção na resposta corporal que Yuliya deu ao sobrenome polêmico. Antes, pelo menos até a semana anterior, ela teria feito uma careta como de costume ou soltado algum xingamento na língua materna. Mas ali, naquele momento, Yuliya enrijeceu seu corpo de uma forma estranhamente afetada. Não havia uma expressão em seu rosto além de uma linha reta marcada nos lábios, e caramba, ele nunca tinha a visto tão reclusa daquela maneira.

Jenson e Lewis não perceberam, pareciam ocupados demais em procurar alguma bebida forte no armário do bar, que acabaram perdendo todos aqueles detalhes.

E Yuliya percebe que Mark a olha diferente, tanto que ajeita a postura e arqueia uma sobrancelha, o enfrentando silenciosamente. Pareciam conversar perante olhares distantes e acusatórios, e ela não gostou muito daquilo. Parecia que, de alguma forma, Mark sabia de alguma coisa. Mas, o que ele sabia ao certo?

Se Sebastian tivesse aberto a boca, ela definitivamente o mataria. Ela coça o pescoço um pouco nervosa.

O momento perfeito para uma conversa surge quando Jenson alega ter perdido a chave do quarto e sai correndo pelos corredores; e Nicole Scherzinger chega no hotel para buscar a companhia de Lewis. Agora estavam Yuliya e Mark sozinhos, ainda se encarando estranhamente.

Ela quem toma a iniciativa, movida a ansiedade, se arrastando para mais perto dele. Sua garrafa de cerveja é movida pelo balcão de vidro juntamente, ecoando um barulho estranhamente insuportável, mas que não liga nem um pouco.

── O que você sabe? ── é direta, mal piscando de nervoso.

── O que?

── Tá me olhando estranho desde a hora que cheguei. O que sabe?

── Aconteceu algo que eu preciso saber? ── pergunta inocentemente, e Yuliya bufa, dando um gole na própria Heineken.

── Para de enrolar.

Mark olha para o copo de água ao seu lado, pensando se deveria realmente dizer sobre a cena de mais cedo ou apenas esquecer e fingir que não notou nada de diferente com os dois maiores rivais daquele grid. Mas, simplesmente não dava. Sua mente já estava corrompida pela ansiedade. É com esse pensamento que ele se aproxima ainda mais, debruçando seu corpo pelo balcão.

── Hoje mais cedo Vettel veio falar comigo, ou melhor, me ameaçar depois que viu que estávamos conversando ── Yuliya pisca surpresa, sentindo sua garganta secar tão de repente ── Ele estava com ciúmes. Eu nunca vi aquele idiota com ciúmes de alguém antes, Yuliya. Principalmente de você.

── O que? ── sua voz some.

── Ele achou que eu estava a fim de você e... honestamente, não estou mais entendendo nada do que seja lá o que tenha acontecido com vocês ── ele murmura, sentindo a cabeça doer só de tentar bolar um cenário para aquela situação um tanto quanto constrangedora ── Aconteceu algo? Eu só quero estar preparado para caso ele decida jogar meu carro no muro, da mesma forma que fez com vo...

── Foi um acidente! ── ela corta, mal raciocinando a fala ── ele perdeu o controle.

Mark se surpreende pela rapidez dela para defender seu companheiro de equipe.

── Como você sabe?

Ela dá de ombros, virando-se para frente para tomar mais um gole de sua cerveja.

── Ele me disse. ── A voz soa indiferente, não gostando muito do caminho que o assunto estava tomando.

O que chama a atenção dela de volta é a gargalhada estranha que Mark deu. Yuliya lentamente põe a garrafa no balcão, sentindo um nervosismo estranho em seu peito.

── O que foi?

── Desculpa, mas... ── ele ainda ria, mas a risada soava mais como um sinal de perplexidade ── em que momento vocês simplesmente conversaram para que você, logo você, fosse a primeira a defendê-lo?

Yuliya engole em seco pela milésima vez somente naquele dia.

── Não estou defendendo ninguém, só disse o que realmente aconteceu.

── Tá, mas o que mudou para você ouvir o que aquele chato fala?

O clima começava a ficar cada vez mais tenso. Yuliya precisou pedir outra cerveja. O gesto de nervosismo não deixou passar despercebido por Webber.

── Olha, eu sei que sou insuportável na maioria das vezes, mas reconheço quando tem alguma injustiça ── gesticula rapidamente ── e, naquele dia, ele bateu em mim sem querer. Eu fui na Red Bull pronta para quebrar meu capacete na cabeça dele, e eu descobri que foi um acidente. Foi só isso, tá? Relaxa.

── Agora onde entra essa informação, e hoje ele querendo me matar? ── arqueia a sobrancelha. ── Algo não tá fazendo sentido.

── Mark Webber. ── Cansada de joguinhos e do tom incisivo que o piloto usava, ela respira fundo antes de proferir a frase ── pergunte o que você quer perguntar. Para de contornar. Pergunta.

Ele morde os lábios. Provavelmente era maluquice da sua cabeça. As cinco doses de Whisky mexeram com ele, certeza.

── Você e Sebastian transaram?

Mark esperava ouvir um não.

── Sim.

Então ele engasga.

── O que? ── quase grita, assistindo o olhar seríssimo que Yuliya tinha na face ── Porra, eu achei que, sei lá, era coisa da minha cabeça e que você ia dizer que eu eu era louco e... como assim?

── Eu não vou te dar informações sobre como eu dei para seu amiguinho ── responde arisca, o tom de voz mais seco que o deserto do saara ── mas aconteceu. Só isso que vou te dizer e você vai calar essa sua boca.

── Mas... por quê? ── a pergunta sai com descrença e Yuliya o olha estranho.

── Por que o que? Você quer saber como eu sentei nele, caralho? Vai arranjar alguma coisa pra fazer, eu hein.

── Não, você entendeu errado ── ele balança a cabeça, levemente apavorado ── Céus que visão dos infernos... Por que vocês transaram?

Yuliya já havia chutado o balde. Ela força a vista, fingindo pensar.

── Eu não sei, tá legal? Só aconteceu. Quando eu vi, já estava no quarto dele e a gente fodeu.

── Meu Deus, é por isso que ele tá com ciúmes.

── Nem tem motivo pra isso. Foi só sexo.

── Lamento dizer que ele não tá levando isso só como sexo ── a resposta de Mark sai irônica e Yuliya sente vontade de dar um tapão na cabeça dele. Ela respira bem fundo para se controlar.

── Eu sabia que esse imbecil não ia conseguir esquecer ── resmunga ── não somos nada. Quanto mais cedo ele entender, melhor.

── E pra você foi sexo?

A pergunta a pega de surpresa.

── Que pergunta é essa?

── Foi ou não foi?

── Claro que foi, Mark. A gente ter transado não muda na relação.

── Bem, muda sim. Hoje eu toquei no nome do Vettel três vezes, e nas três vezes você agiu estranha do mesmo jeito ── ela encolhe os ombros, pega no flagra. Achava que ninguém tinha percebido sua falha tentativa de se manter séria ── Seja lá o que vocês dois estão prestes a virar, mas... toma cuidado, Lia. Você é minha amiga e aquele babaca é meu companheiro de equipe. Eu me preocupo.

── Como eu te disse antes: relaxa. Eu sei me cuidar. Não vai ser o Vettel que vai me destruir.

( . . . )

Friends - Chase Atlantic

Sebastian havia acabado de acordar. Jogou só uma água no corpo, se vestiu com a camiseta da Red Bull e estava pronto para mais um dia de atividades no paddock. Bocejando, piscando um tanto quanto perdido, ele abre a porta do quarto, mas antes que pudesse sair, uma mão surge em seu peito o empurrando de volta para o ambiente com uma força que ele se assustou.

Não demorou nem dois segundos para o cheiro de lavanda chegar em suas narinas. Era ela.

Yuliya estava o encurralando na parede do quarto, ao lado da porta que ela resolveu fechar com o pé porque estava ocupada demais empurrando seu antebraço na direção do pescoço do alemão. Vettel pisca surpreso, analisando aquela cena antes que sua língua de chicote falasse por si.

── Uh... bom dia, schatz.

── Que merda você tem na cabeça?

O olhar que ele deu a irrita de uma forma já conhecida. Esbanjava deboche.

── Então agora você decidiu falar comigo de novo?

── E desde quando a gente se fala? ── arqueou a sobrancelha.

Sebastian sorri mais ainda.

── Desde quando você decidiu me deixar te foder três dias atrás, lembra? ── Yuliya sente o ar se esvair dos pulmões.

O aperto se intensifica.

── Nós não somos nada, Sebastian Vettel. Você não é absolutamente ninguém para ir até o Mark marcar território como se fosse um cachorro ── O sorrisinho vanglorioso que ele tinha, desaparece em questão de segundos. A medida que cada palavra cheia de ódio escapava dos lábios de Yuliya Pavlov, seu coração se apertava.

── Então ele já foi correndo te contar? Isso me parece coisa de gente que não sabe lidar sozinho com as próprias questões.

── Então é verdade? ── arqueia uma sobrancelha. Sebastian na mesma hora arregala os olhos, pego no flagra ── Percebeu que vai perder o título, então foi atrás de quem vai ter ele daqui alguns dias. Uau, essa é nova.

── Não é da sua conta, enxerida do caralho. ── responde mal-humorado, mentindo na cara dela ── Assuntos entre colegas de time não se fala com rival.

── Você nem gosta dele, Vettel.

── E também não gosto de você.

── Então está falando comigo por que se sou a rival, hum?

Droga, a noite realmente o afetou. Se fosse um dia qualquer, teria a resposta ácida na ponta da língua, pronta para expelir uma dose significativa de veneno. Só que ali sua mente travou. Yuliya, mais uma vez, estava perto de si. Parecia constrangedor sentir que mesmo sendo praticamente enforcado por ela, seu pau não exitou em subir. Estava duro. Duro para um caralho.

── O gato comeu sua língua?

Ah, que se foda. Já está tudo uma merda, não tem como piorar!

── Defina nada. ── ela se surpreende com a resposta, afrouxando sem nem perceber o aperto por ser pega de surpresa ── Não somos nada, Yuliya Pavlov?

── O que te fez achar que éramos? E o que te fez mudar de ideia? Há segundos disse que não gostava de mim, agora diz que queria ser algo. Se decide.

── Eu te vi alucinada de tesão embaixo de mim, naquele mesmo dia ── perdeu a linha das palavras ── Vai me dizer que nada mudou?

Ah, então é assim que ele quer conversar. Vamos conversar então. Yuliya Pavlov pensa.

── Isso acontece quando tem um cara me fodendo. Queria que eu fizesse o que?

── Eu literalmente disse na porra da sua cara que você é meu ponto fraco!

── Eu ouvi, não sou surda.

Ele precisa de alguns segundos em silêncio, piscando seus olhos de maneira desacreditada.

── E você não vai falar nada? ── Seu tom de voz aumenta.

── Você quer que eu fale o que? Que te desejo da mesma forma? ── arqueia a sobrancelha, aproximando-se novamente do piloto ── Eu não sou assim.

── Você pelo menos sentiu alguma coisa, caralho?

── Tesão, ué! ── debocha ── Estávamos transando, Vettel. Parece que tem alguém aqui confundindo as coisas.

Dois pilotos completamente diferentes, mas com algo em comum: corações confusos.

Sebastian Vettel não sabia o que sentia por Yuliya Pavlov. Antes era fácil resumir, respondendo rapidamente que o ódio movimentava suas interações. Porém, tudo começou a mudar não apenas por conta da noite em que exploraram os corpos um do outro, mas também no trágico acidente onde Vettel rezou para que não tivesse perdido Yuliya Pavlov para sempre.

Foi a primeira vez, em toda sua vida, que sentiu seu coração desacelerar as batidas. Foi a primeira vez que sentiu uma cachoeira de emoções pesadas o atingindo sem aviso prévio.

Ali tudo mudou.

Ali ele caiu na real.

E quando eles se deitaram, num impulso de ódio, estresse e muita tensão acumulada, no fundo ele desejou que aquela bolha deles nunca estourasse. Queria fingir que fora do maldito quarto de hotel, não eram rivais que se odiavam por qualquer coisa. Ele queria continuar ao lado dela, acompanhando suas batidas do coração, acariciando os machucados que ele, intencionalmente, causou. Ele queria curar todas as feridas que fez.

Ele queria que fossem algo, e queria mais ainda que Yuliya também tivesse o mesmo desejo.

E por isso estavam ali, numa batalha extremamente confusa e dolorosa onde tentavam arrancar informações e reações um do outro. Sebastian queria que Yuliya dissesse "sim, somos algo". Mas ela não diria tão cedo, ela não admitiria ainda que a palpitação em seu peito dizia que queria a presença de Vettel, e não a distância.

Vettel já estava na linha de frente, implorando por qualquer resquício de correspondência por parte de Yuliya, largando de lado tudo o que passou meses construindo.

Mas Yuliya ainda não estava nessa linha.

── O que você esperava que eu dissesse? ── ela sussurra, notando que os olhos do piloto da Red Bull tremiam, acumulavam resquícios de água. ── O que esperava que eu dissesse depois de tudo o que me causou?

Sebastian escuta um barulho dentro de si. Seu coração. Uma peça dele trincou.

── Eu achei que não me culpasse pelo acidente. ── Admite no mesmo tom, sentindo sua voz tremer pelo choro que segurava.

── E não culpo ── ela suspira, com o mesmo olhar firme de sempre ── e sim pelo antes. Talvez, pelo depois. ── O aperto de seu braço no pescoço dele, definitivamente se afrouxa ── Você não pode me olhar dessa forma depois de passar todos esses meses buscando uma reação minha. Depois de passar meses me reduzindo como piloto, como pessoa, como alguém. Não era uma reação que você queria? Aqui está a sua reação. Esse é meu mantra, Sebastian Vettel.

Ele queria abrir a boca para rebater, queria se humilhar por desculpas, queria que eles fossem algo.

Mas não o fez. Não disse. Não se moveu para assumir o peso das palavras, muito menos para se contrapor a elas.

Yuliya Pavlov pegou todos os resquícios de sua confissão. E ao invés de corresponder, correu para longe as levando consigo.

( . . . )

Heartburn - Wafia

Quando Yuliya Pavlov passou a linha de chegada da última corrida do ano, ela gritou com todas as forças que conseguiu. Gritou porque era oficialmente campeã mundial da Fórmula 1, gritou porque provou a si mesma que era capaz.

Aquele foi o dia mais feliz de sua vida. Estava tão inerte, com sua mente presa na informação de "você é campeã mundial" que esqueceu de todas as dificuldades que teve de enfrentar para chegar ali. Esqueceu de que essas dificuldades poderiam ser uma pessoa, e essa pessoa era vice no campeonato, estava ao seu lado no pódio.

Uma onda forte de adrenalina ── a mentira mais rasa que encontrou para mascarar suas ações ── fez com que a primeira coisa que Yuliya fizesse após abraçar Felipe Massa, fosse abraçar Sebastian Vettel. O pegou de surpresa, a ponto de que seu corpo travasse completamente com o corpo da russa enlaçado ao seu. Aquele abraço foi uma das melhores coisas que Sebastian Vettel sentiu na vida.

Porém, aquele abraço, para ele, era PR.

Tinha plena noção de que o agente de relações públicas de Yuliya Pavlov provavelmente teria pedido para que ela agisse da forma mais gentil e carinhosa que conseguisse ao ganhar o título. Sabia que ela estava cumprindo ordens, já que após a conversa estranha que tiveram no seu quarto, nunca agiria daquela forma a não ser se fosse obrigada.

E aquilo foi como um soco em seu estômago, porque era um choque de realidade. Um choque de realidade que seu medo se concretizou, e Yuliya Pavlov conseguiu tirar seu triunfo, conseguiu arrancar sua coroa.

Ela era a nova rainha. Ela era a nova promessa. Ela, agora, era tudo o que Sebastian Vettel era, e talvez muito mais.

Sebastian parecia maltratar a si mesmo a cada vez que seus olhos se encontravam com os dela. Afinal de contas, era doloroso. Uma dor extremamente aguda olhar para a pessoa que atualmente faz seu coração bater, e ter de jogar a esperança pelos ralos ao se dar conta que nunca a terá da forma que deseja.

Como pode doer tanto perder alguém que nunca foi seu?

( . . . )

── Imaginei que te encontraria aqui ── Sebastian não se move, mas tenta esconder a melancolia que banhava seu rosto ── Você parece péssimo.

── É.

Ele odiava muito a ideia de ser pego por alguém quando estava sozinho, pensando em alguma questão intensa o suficiente para precisar se isolar. Somente não agiu na defensiva naquele momento, porque o alguém era Michael Schumacher. Ele nunca agiria de forma birrenta com Michael.

── Você deveria estar lá dentro comemorando comigo, sabia? ── a voz do outro alemão ressoa com uma pitada de diversão ── É meu último dia oficial como piloto ativo. Ano que vem estarei lá fora, apenas te apoiando, não mais aqui dentro.

Pronto, outra razão para lamentação. Esqueceu-se completamente que Michael iria se aposentar. Focou tanto nas próprias decepções que esqueceu da outra parte mais importante de sua vida.

── Fui um idiota ── assume baixo, encarando a vista noturna da cidade de São Paulo ── com você, com Mark, com todo mundo, acho...

O mundo sendo Yuliya Pavlov.

── É importante cometer algumas coisas estúpidas. Só assim que a gente aprende a de fato evoluir. ── Da de ombro, sentando-se ao lado do piloto da Red Bull ── Temporada agitada, não? Como se sente ao perder?

Vettel solta uma risada sem humor.

── Sério? ── pergunta meio sarcástico. ── Quer saber como me sinto após perder a liderança?

── Não, porque esse tipo de pergunta eu já sei a resposta ── Michael tinha senso de humor, não deixando-se abalar nem um pouco pelo mau humor de Vettel ── Eu quero saber como você se sente ao perder a liderança para ela. A pessoa que mais entrou na sua cabeça nos últimos meses, suponho eu.

Um rubor chato toma conta das bochechas do alemão. Então estava tão óbvio assim?

── Sim, estava óbvio! ── Quase engasga quando Michael o corta, piscando algumas vezes nervoso antes de finalmente encara-lo. Encontrou um grande sorriso nos lábios dele. ── Eu te vi crescer, Sebastian Vettel. Te conheço de longe.

── Como?

── Você nunca foi um cara lá que se interessou em manter uma relação a longo prazo com alguém ── As mãos de Sebastian estavam nervosas, tremendo de ansiedade ou nervosismo ── Passei a desconfiar quando começou a bater na mesma tecla por meses seguidos. Nem com Mark você pega tanto no pé assim.

── Ela é uma chata do caramba, não era para... ── gesticula uma figura inexistente ── isso acontecer. Eu... eu não percebi quando simplesmente passei a pensar nela toda hora. Me sinto um idiota. Até perdi a porra do campeonato de tanto que me distrai.

── Isso é ótimo.

── Ótimo? ── Sebastian arqueia a sobrancelha, tombando a cabeça de lado ── Ótimo pra quem?

── Ótimo porque você passou por muitos processos que nunca passaria se não fosse por ela. Pedir desculpas ao bater? Foi a primeira vez que te vi em pânico ── Seb engole em seco ── Não digo isso como se você não fosse se importar se acontecesse com outro alguém. Estou dizendo que foi ela. Você mudou naquele dia.

Ele ainda tinha um pé atrás com aquela conversa. Seu olhar, mais uma vez, varre a imensidão da cidade de São Paulo, tentando fugir da realidade que estava bem à sua frente. Michael tinha razão. E seria inútil argumentar contra ele. Argumentar contra a verdade.

── Eu nunca me senti conectado com alguém, tipo... ── segura na sacada da cobertura do prédio de luxo ── Eu nunca fui bom o suficiente com alguém. Meu lema, meu mantra sempre foi correr, ganhar, ganhar e correr.

Michael o escutava atentamente. Ele se debruça sobre o parapeito da sacada.

── Mas... Yuliya? Ela fez minha vida, esse ano, ser uma montanha russa. Ela me tirou da zona de conforto que eu já havia me acostumado. Ela parece ser a única que me desafia de uma jeito quase... insuportável.

Michael solta uma gargalhada suavemente gostosa com a fala do alemão mais novo, jogando a cabeça para trás.

── Esse é o lema, Seb. É assim que as pessoas costumam entrar em nossa vida. Já parou para pensar nisso? Que tudo tem um propósito. Ela pode ser essa chata que você diz que ela é, mas percebeu sua mudança graças a ela?

Sim, ele percebeu, e não gostou muito. Sebastian era difícil de aceitar novas mudanças.

Ele sempre teve tudo pronto em sua vida. Todos os objetivos traçados. Sabia o que fazer, quando fazer, e até quando deveria fazer.

Então, ela ganhou destaque. Ganhou corridas, ganhou reconhecimento. Ganhou um campeonato. Ganhou Sebastian Vettel.

E agora... agora tudo era diferente.

Ele respira bem fundo antes de falar.

── Nunca antes, ninguém me afetou dessa forma ── admite baixo, competindo com o som da música eletrônica que tocava na parte de dentro da cobertura ── Eu tinha um plano antes, você sabe disso. Eu tinha um plano perfeito para mim. Só que agora ele parece não fazer mais sentido. Parece que eu me perdi no objetivo.

Michael ergue a mão, interrompendo-o.

── Não é assim, Seb ── seu tom era sério, principalmente sua expressão ── Você só perde quando não se arrisca. Perder é normal, vai e volta, principalmente no automobilismo que depende não só dos pilotos, mas do carro também. ── Vettel engole em seco ── Mas... Sabe o que não volta? A chance de construir algo com alguém especial. Essa chance, definitivamente, muitas vezes não tem volta.

Sebastian adere ao silêncio com uma curta fração de tempo, sentindo seu coração bater desesperadamente ao centrar seus pensamentos no "alguém" que Michael diz. Centrar seus pensamentos em Yuliya Pavlov.

Era difícil admitir, claro. Foram rivais por meses, disseram coisas extremamente intensas um para o outro.

Se ele realmente desejava ter Yuliya Pavlov, se ele realmente desejava amar Yuliya Pavlov mais do que tudo no mundo, tinha plena noção de que deveria fazer algo. Fugir, ignorar, se machucar, não era opção.

A fala pode ser destruidora de relações, mas o ato de não falar também é.

E, naquele momento, Sebastian Vettel queria muito descobrir se o que ele demorou muito para aceitar, também era o que Yuliya sentia.

Ele não queria a perder.

Ele não queria cometer esse erro.

── Você acha que devo... ── a fala morre aos poucos em seus lábios, mas o olhar que Michael lhe deu foi mais que o suficiente naquele momento.

── Você sabe o que fazer. Te falta apenas coragem, e eu sei que você tem ela bem aí no fundo, por trás desse muro que construiu por segurança ── ele sorri, apontando para o peitoral do piloto da Red Bull ── quebre a barreira. Não deixe pra ser feliz depois, quando você pode fazer isso agora.

( . . . )

── Olhe quem está aqui, achei que era lenda urbana! ── Yuliya grita animada quando a figura masculina adentra na boate ── Dante Valentim!

── Fiquei três meses longe do paddock e você ganha? ── pergunta brincalhão quando a envolve nos braços ── Minha heroína, graças a você vão chutar o Mark e dar minha vaga de volta.

O australiano, que bebia sua cerveja quieto no canto, olha de cara feia para o espanhol.

── Vai pro quinto dos infernos. É tudo eu nesse caramba!

── Eu tenho uma filha pra criar, preciso de um emprego.

Lewis aponta para Dante.

── Ele tem um ponto.

── A filha dele nem gosta da Red Bull, tá querendo emprego lá por que? ── Mark continua revoltado ── E você cale a boca que ano que vem vai para a Mercedes e já tem emprego garantido.

── Como vai minha sobrinha, inclusive? ── Yuliya indaga divertida, oferecendo uma cerveja para o amigo.

Era 18 de dezembro, aniversário de Yuliya Pavlov. Naquela noite calorosa estava reunida juntamente de seus amigos e mais alguns outros pilotos numa boate em Mônaco. Praticamente chamou quase todos eles.

Quase todos.

Quando pensava naquilo, seu coração se fechava numa espécie de aperto que nunca sentira antes. Era um incômodo não totalmente desconhecido. Não totalmente desconhecido porque todas as vezes que seus pensamentos caiam para o nome do ex-campeão mundial Sebastian Vettel, aparecia com força, capaz de lhe arrancar arfares pesados.

No dia em que se consagrou campeã da temporada de 2012 da Fórmula 1, Yuliya sentiu muito a ausência de Sebastian Vettel em seus dias, e olha que não fazia tanto tempo que não o via. Apenas algumas semanas.

Lembrava-se ainda, do momento que passou pela linha de chegada. Embora grande parte daquela comemoração tenha se tornado apenas flashes tremidos graças a uma grande dose de adrenalina percorrendo seu sangue, ainda conseguia se lembrar de momentos importantes. Momentos como quando procurou Sebastian Vettel desesperadamente, ou de como correu até ele e se jogou em seus braços, sentindo-o abraçar sua cintura com força.

Tinha noção do gesto radical, mas... estar nos braços de Sebastian Vettel foi a coisa mais acolhedora do mundo naquela tarde de domingo.

Ela não pensou em absolutamente nada a não ser que o abraço do alemão era estranhamente reconfortante, e se dependesse de si, nunca mais sairia dele.

Foi uma linha de pensamentos estranha. Sentiu-se estranha. Pensar naquela cena poderia até ser maluquice no momento, mas era um estranho bom que não saberia explicar para ninguém, nem mesmo para seus melhores amigos.

Não saberia dizer o que sentia em relação a Sebastian Vettel. Era uma grande bola de neve. Algo que começou com uma chama ardente de fogo, mas que fora apagada pela tempestade de gelo que cercou ambos os pilotos após a noite que tiveram.

Era para ser diferente.

E foi.

Diferente para ele.

Diferente para ela.

Significativo para ele.

Confuso para ela.

Seu orgulho costumava falar mais alto que seus sentimentos na maioria dos dias, principalmente em relação a Sebastian Vettel. Por meses foi assim, recebendo-o primeiramente com três pedras na mão e depois com educação.

Mas, ela sabia que aquela bola de neve iria derreter. A temporada havia acabado, Sebastian provavelmente iria para Alemanha tirar longas férias até o início da próxima temporada, assim como Yuliya voltaria brevemente para a Rússia, a fim de comemorar sua conquista.

Não iriam se ver tão cedo. Era impossível se verem tão cedo.

Mas, se era impossível, por que ele insistia em assombrá-la? Por que ela o via em todos os lugares? Por que, de repente, ela se lembrou de seus toques percorrendo todo seu corpo? Por que, de repente, Sebastian Vettel decidiu se manter em sua mente 24 horas por dia?

Por que, de repente, Yuliya sentiu que fora injusta no dia que o confrontou no quarto, exigindo que ele esquecesse a ideia e sonho mirabolante de um dia serem algo?

Por que Yuliya queria ser algo de Sebastian Vettel?

( . . . )

Sebastian Vettel não tinha certeza do que estava prestes a fazer, mas de algo torcia: para que seu plano estúpido desse certo. Ele poderia ter pensado em várias coisas mais interessantes, talvez menos invasivas e estranhas, mas o que escolheu parecia combinar com a situação. Como? Não sabia, mas parecia combinar.

Era dezoito de dezembro, aniversário de vinte e seis anos de Yuliya Pavlov. Soube por meio de Mark e Dante, um grande amigo de grid que havia tirado dois anos sabáticos da Fórmula 1 para cuidar da filha, que a russa iria dar uma festa na boate mais famosa de Mônaco. Claro que ela daria uma grande festa. Yuliya amava a folia.

Quando chegou na porta do estabelecimento, já estava pensando em formas de como driblar os seguranças, mas surpreendentemente descobriu que seu nome estava na lista de convidados.

Então por que ela não o chamou?

Caminhando ansiosamente pelos corredores escuros, cercados de dançarinas vestindo lingeries finíssimas, seus olhos buscavam apenas pela figura que ele já conhecia perfeitamente. Demorou uns dez minutos no trajeto, parecendo um maluco que pela encarada estranha, mas não demorou até que a encontrasse juntamente de Lewis e Dante, gargalhando no canto enquanto segurava uma garrafa de cerveja. Ao lado deles, ou melhor, um pouco mais à frente, Jenson e Mark dançavam de forma estranha, parando uma hora ou outra para gargalhar dos movimentos ridículos que executavam no ritmo da música.

Estavam afastados, mas ainda perto um do outro. Sabia que fazer aquilo era arriscado. Só que sua mente parecia não pensar. Parecia não pensar desde que tomará a decisão de jogar as cartas na mesa de uma vez, e abrir o jogo para Yuliya Pavlov.

Ele segura com mais força a pequena caixa vermelha em suas mãos, e com um suspiro de coragem, começa a dar passos urgentes até ela. Yuliya gargalhava de alguma piada dos dois pilotos quando foi surpreendida com a presença de Sebastian Vettel.

Quando seus olhos se encontraram, foi como se tudo ao redor desaparecesse. A música de repente não existia; as pessoas sumiram como pólvora pelos ares. Era somente eles dois, lutando numa batalha estranha que fazia ambos os corações implorarem para serem ouvidos. O coração de Yuliya principalmente, que havia sido silenciado a tempos.

Depois de um longo momento estranho, onde Lewis e Dante pareciam não saber exatamente o que estava acontecendo, Yuliya finalmente reage.

── O que está fazendo aqui? ── quase grita, um tanto quanto nervosa, sentindo ar faltar em seus pulmões.

── Meu nome estava na lista de convidados ── o sarcasmo era presente na fala do alemão, o que, por instantes, desviou a ansiedade que Yuliya sentia. Ela revira os olhos, cruzando seus braços ── E, por incrível que pareça, não fui chamado.

── O que está fazendo aqui? ── agora, Yuliya parecia mal humorada. Sentia-se uma boa atriz naquele momento, porque no fundo, bem no fundo, queria se jogar nos braços do piloto.

── Vim te entregar isso ── os olhos dela finalmente percebem a caixa vermelha que ele segurava ── Feliz aniversário, Yuliya Pavlov.

Yuliya conhecia aquele tom de voz muito bem. Conviveu meses ao lado de Vettel lhe provocando dia e noite, usando aquele mesmo tom para mascarar metade das coisas ditas. Então quando seus olhos prestaram bastante atenção na caixa, uma pulga surgiu atrás da orelha, porque tinha noção que ele não lhe daria um presente qualquer.

Ou melhor, ele não iria invadir sua festa ── a qual ele provavelmente não sabia endereço e nada ── somente para entregar um presente.

── O que é isso? Uma bomba? ── Jenson Button fala pela russa, mostrando-se mais curioso que a própria aniversariante ── Ou um rato morto? Eu acho que é uma bomba.

── Tomara que seja mesmo ── Yuliya murmura sem humor, puxando o laço vermelho da caixa. Seus olhos continuam analisando Sebastian Vettel em sua frente, mas ela finalmente desvia a atenção quando retira a tampa.

Ela não vê o que é, apenas puxa para fora o que deveria ser um...

Seus olhos se arregalaram. Ela alterna o olhar entre o tecido e os olhos azuis do alemão.

── Eu te disse que iria comprar uma ── aponta para a calcinha vermelha que Yuliya segurava um tanto quanto trêmula ── Rasguei a antiga. Achei justo dar uma nova, como prometi.

O silêncio que ecoa na pequena roda é extremamente chocante. Jenson Button não conseguia reagir diante da cena, e Mark Webber, embora soubesse que Yuliya e Sebastian já haviam sim transado, aquilo era uma prova direta que era verdade e não apenas vozes de sua cabeça barulhenta.

Yuliya não sabia direito o que sentir. Não era vergonha, não era medo, não era raiva... ou melhor, era raiva? Ela tremia dos pés à cabeça, e a calcinha estava sendo esmagada por sua mão que, naquela altura, já estava fechada num punho bem forte.

Num ato estranhamente dominado pela sensação ainda desconhecida, ela não pensa muito quando pula em cima do alemão. Só que não de um jeito bom, e sim pronta para acabar com ele. O que deveria ser uma paz, agora era uma bagunça completa.

Dante e Lewis arrancam a russa de cima de Sebastian, que tinha agora uma expressão de medo. Sua ganância inicial desaparece num passe de mágica.

── TY S UMA SOSHOL, SUKIN SYN? / Você está louco, filho da puta? ── berra na cara dele ── QUEM VOCÊ PENSA QUE É?

E mais uma vez, não dando tempo para nenhum dos pilotos reagir, Yuliya o pega pelo colarinho da camiseta e o arrasta até as escadas que levava ao segundo andar. Sebastian pensa que ela o leva até lá para que pudesse jogá-lo de cima, mas se surpreende quando ela o joga dentro de uma sala qualquer.

Uma sala qualquer com uma barra de pole dance centrada bem ao meio, com um enorme sofá em volta dela. Vettel se segura na maldita barra para não cair no chão.

── Então é assim que você reage? Perdeu o título e vem até meu aniversário, que você não foi convidado, invadiu, e ainda me deu uma calcinha na frente dos meus amigos? ── o tom de voz dela era firme ── Perdeu o título, mas quis que eu ganhasse um de vagabunda, é?

Sebastian não sabia o que tinha na cabeça ao aderir aquele plano. Ele apenas queria fazer alguma coisa, alguma coisa para ter a atenção dela.

E deu certo, ele tinha a atenção dela. Não do jeito que queria, mas tinha.

Tentando se recuperar do tombo que deu, e da dor chata que estava sentindo nas costas por ter batido diretamente na barra de pole dance, ele se põe de pé. Yuliya ainda parecia arisca, do outro lado daquela sala, de braços cruzados e com uma expressão que evidenciava que fosse atacá-lo a qualquer momento, em qualquer oportunidade.

Ele limpa a garganta.

── Eu não sei como faria isso de um jeito normal.

Yuliya arqueia uma sobrancelha.

── Fazer o que?

── Eu precisava falar com você, mas não sabia como chamar toda sua atenção.

Ele só poderia estar brincando, ela pensa um tanto quanto amarga.

── Falar o que, Vettel? Se queria conversar, era só vir até mim igual uma pessoa normal.

── Você não iria me ouvir! ── se atropela nas palavras, e Yuliya dá um passo atrás, não entendendo o que estava acontecendo ali naquela sala fechada. Sebastian parecia afobado demais ── Você não iria me ouvir do jeito que eu queria que ouvisse.

── Caraca, então fala logo! ── ela perde a paciência, quase gritando de tanta raiva que sentia.

Primeiro ele invade sua festa, a envergonhando diante de várias pessoas, e agora quer conversar? Que sentido isso faz?

Droga, ele não sabia como fazer aquilo. Suas mãos tremiam de nervosismo, era a primeira vez que isso acontecia em muito tempo. Não lembrará da última vez que a ansiedade praticamente falou por si.

E à medida que essa sensação apavorante ameaçava viajar pelas suas veias, espalhando seu efeito paralisante por todas as partes de seu corpo, ele conseguia ver através daqueles olhos azuis que a paciência dela estava se esgotando. Ele não estava conseguindo saber como começar, nunca colocou seus sentimentos para fora antes.

Sebastian passou anos escondendo qualquer coisa que o deixasse vulnerável. Seus sentimentos eram uma dessas coisas, e agora estava pagando por isso, porque o alguém perfeito estava a sua frente, e ele não fazia a mínima ideia de como fazer esse alguém ficar. Ele precisava fazer Yuliya Pavlov ficar. Ele precisava fazer com que Yuliya Pavlov entendesse que ele a desejava e queria mais do que tudo no mundo.

Ele precisava fazer Yuliya Pavlov entender que entre um carro de alta velocidade e ela, ele a escolheria sem nem pensar duas vezes.

── Olha... ── ela espremeu os lábios, aderindo à uma pausa curta antes de voltar a falar ── Eu não sei o que você estava pensando quando veio aqui e fez tudo aquilo lá embaixo. Sendo sincera, não sei se gostaria de saber também. Mas, se você quisesse chamar a minha atenção de verdade, saberia o que de fato iria me prender. Então, acho melhor ir embora porque eu não quero que você desvie o foco do meu dia. Você não vai estragar meu dia, de novo.

E se virou, pronta para tocar na maçaneta da porta. Os olhos de Sebastian se arregalam, e ele não pensa muito quando diz:

── Eu te amo.

A confissão foi jogada sem aviso, fazendo com que o cenário ao redor desaparecesse num piscar de olhos. Yuliya passou a tremer, tremer muito, tremer de uma forma que nunca tremeu antes. E aquilo estava atrapalhando sua respiração, a ponto de que seus pulmões aos poucos implorassem por mais ar circulando lá dentro.

Vettel somente percebeu o que havia dito quando assistiu atento a russa se virar lentamente em sua direção, com um olhar que dizia muitas coisas. Ela tremia, e ele tremia também. Não sabiam muito bem como agir depois daquela bomba que foi acionada e causou uma enorme explosão entre eles.

── O que? ── pela primeira vez naquele dia, a voz de Yuliya Pavlov saiu extremamente baixa. Mal deu de escutar o que havia dito. ── O q-que você disse... ?

Sebastian sentiu que fosse vomitar a qualquer momento de tanto nervoso, mas àquela altura, não dava mais tempo de fugir ou mudar seu discurso. Havia posto as cartas na mesa. E, naquele exato momento, Yuliya estava analisando cada uma delas com atenção.

Não conseguiu negar que seu coração pulou com uma alegria que até então era desconhecida por ela. Ele já estava batendo antes, mais por Sebastian Vettel do que por ela mesma. Mas ali, ali era diferente. Ali ele estava assumindo completamente que queria pertencer ao alemão. Ele queria muito.

Ela queria muito.

Vettel jogou no lixo o discurso besta que havia passado dias escrevendo para se declarar, e tentou se concentrar no presente. Se concentrou nela, em Yuliya Pavlov, parecendo um tanto quanto surpresa com uma declaração que parecia tão impossível de ser feita alguns meses atrás. Ela o encarava sem desviar o olhar, realmente presa a ele. Ele conseguiu a atenção. Ele conseguiu completamente a atenção de Yuliya Pavlov.

── Eu te amo e... ── ele para de falar para soltar um riso de alívio, sentindo seu peito até se abrir para conseguir respirar com mais facilidade ── eu te amo. Eu passei dias tentando montar um discurso bonito, ou talvez que explicasse parte por parte sobre essa minha declaração, mas eu acho que você merecia ouvir primeiro o que mais importava. Você merecia escutar o que eu quero dizer, acima de tudo.

Ela estava chocada, não tinha palavras.

── Quando você começou a ganhar destaque, foi quando você surgiu na minha vida, de fato. Não consigo puxar alguma situação de dois anos atrás porque, para mim, você era uma piloto qualquer como os outros. Com um objetivo, um objetivo que eu carregava ── ele dizia tudo o que vinha na cabeça, rezando para que fizesse sentido no final ── então, a Ferrari te contratou, você ganhou corridas e estávamos perto. Daí, teve um dia que cheguei no paddock, e simplesmente você começou a existir. E por mais que eu negasse, você era tudo e mais um pouco do que dizem, e aquilo acendeu uma chama dentro de mim porque eu era o tudo e mais um pouco daquele lugar.

Era a primeira vez que desabafava sobre a relação controversa que mantinham. Era a primeira vez que falava, na verdade. Nunca ninguém soube o que se passava em seu coração. Sebastian era quieto.

── E sim, eu fiquei desesperado. Achei que falando sobre seu rendimento ou sobre as opiniões que eu tinha a seu respeito, iria fazer com que você me respondesse a altura ou pior, e dessa forma iam parar de gostar de você por desafiar um campeão ── ele desvia o olhar, sentindo dessa vez vergonha por admitir sobre esse período intenso que espalhou mentiras e mentiras sobre ela ── Só que você não disse nada. Eu queimei meu filme, eu te irritei e você nem ligou. Acho que foi a primeira vez que alguém pouco se fodeu para mim, e acabou me atiçando. Fiquei com vontade de falar mais e mais, até que você reagisse. Eu queria que você brigasse comigo, me xingasse, me batesse, sei lá. Chegou a um ponto que eu não entendia mais se eu queria acabar com sua reputação, ou só queria sua atenção.

Yuliya continuava petrificada no lugar, sendo golpeada por palavras que nunca esperou escutar na vida.

── Aquele acidente foi o ápice para eu perceber que você alugou um espaço na minha cabeça. Eu percebi que tudo o que fazia, na verdade não era uma tentativa de competição ou nada do tipo, mas sim de ter sua atenção para mim. Eu queria te ver irritada, eu queria te ver olhando para mim e falando meu nome, seja do jeito mais agressivo possível ou não ── ele umedece os lábios ── e quando eu acidentalmente perdi o controle e bati em seu carro, eu me senti péssimo. Foi um acidente que fugiu do meu controle, mas a ideia de te perder de repente me assombrou de uma forma estranhamente dolorosa. Quando você veio até mim, brava, irada, a única coisa que eu conseguia prestar atenção era nos seus machucados e no seu macacão cheio de sangue. Não doeu quando você disse todas aquelas coisas, mas doeu saber que eu perdi seu respeito e... eu te machuquei. Essas duas coisas eu me culpo. Culpo muito, a ponto de... eu não sei, comecei a ver o campeonato de forma diferente depois disso.

Faltava ar nos pulmões de Yuliya.

── Quando nós ficamos naquela noite, foi como se... tudo o que eu estivesse sentindo desde o começo, fizesse sentido. Eu entendi porque você era como fantasma, entendi porque sua voz me acompanhava até pela madrugada, ou sua silhueta me perseguindo por todos os lugares. Eu entendi que eu queria você, Yuliya Pavlov ── ela quase engasga ao escutar a última frase ── e a ideia de ter outros pilotos do seu lado foi terrível. Terrível saber que você poderia dar uma chance para qualquer um deles, menos para mim, porque eu sempre seria aquele cara que iria acabar com seu dia, e não melhorar ele.

Naquele momento era a primeira vez que ambos conheciam um Sebastian Vettel que nem ele mesmo conhecia. Era estranho.

── O campeonato deixou de fazer sentido pra mim faz tempo, mas saber que você o ganhou, ao invés de me trazer raiva, me trouxe felicidade. ── ele finalmente se aproxima, temendo a reação da mulher a sua frente ── E se você está feliz, então eu também estou feliz Yuliya, porque é isso que a gente sente em relação à alguém que amamos. Eu não sou o melhor cara do mundo para falar de sentimentos, mas eu estou sentindo tudo o que nunca senti antes, e eu definitivamente não quero perder a chance de ter a mulher mais incrível do mundo ao meu lado. Eu te amo, e vou fazer questão de falar isso todos os dias, até que você finalmente acredite em mim.

Quando ele termina sua fala, sente como se um peso enorme tivesse sido tirado de seus ombros. É um alívio estranho. Seus olhos buscam o da loira, que agora pareciam marejados, como se estivesse segurando para não chorar na frente de Sebastian.

Yuliya nunca esperou ouvir nada do que Sebastian Vettel havia dito. Seu coração amou, estava neste exato momento festejando que nem maluco de um lado para o outro. Mas, por outro lado, sua mente estava estupidamente confusa. Sebastian disse muitas coisas, coisas que ela desconfiava que ele pensava, mas que nunca falaria, provavelmente iria para o túmulo juntamente dele.

Só que ele disse, e o fato dele dizer a deixava daquela forma um tanto quanto desorientada, buscando um rumo para seguir. Não sabia se tentava digerir todo o desabafo, tudo o que ele pensava desde o início da rixa idiota que tinham, ou se pensava no "eu te amo" que fora a primeira coisa que ele disse.

Sebastian Vettel amava Yuliya Pavlov.

Sebastian Vettel amava Yuliya Pavlov.

Ela engole em seco, desviando o olhar para o chão, mas a sequência de palavras escapam antes que conseguisse impedir:

── Por que você... ── hesita, respirando bem fundo antes de finalmente encara-lo ── por que... porque isso agora?

── Porque eu finalmente aceitei lidar com o que eu sinto ── ele murmura, ainda monitorando as reações da mulher ── porque eu te amo, e eu quero você.

Yuliya cambaleou.

── Meu deus... ── caminha cegamente até o sofá, numa distância considerável de Sebastian, e praticamente se joga ── Se isso for uma brincadeira de mal gosto, eu juro que...

── O que? ── ele se aproxima, piscando aturdido ── Claro que não, Yuliya! Eu não abriria a porra do meu coração assim, dessa forma, só pra brincar com você.

── Você disse muitas coisas, eu... eu nunca esperava ouvir um terço dessas palavras, principalmente de você. Dá um desconto.

Ele obedece ao pedido de Yuliya, e não faz mais nada a não ser sentar-se próximo a ela, e acompanhar os movimentos nada suaves de seu corpo que subia e descia pela respiração pesada.

Ela tinha uma postura completamente diferente das últimas vezes de quando chegaram a se encontrar. Nem mesmo quando dormiram juntos, ela parecia tão... confusa ou vulnerável.

Mas, no fundo, tudo o que Yuliya sentia era medo. Medo porque compartilhava metade das palavras ditas por Vettel. Tinha sentimentos por ele, claro, talvez não a ponto de ainda ser um 'amor' profundo, mas estava terrivelmente perto de ser.

E ela agiu como se não ligasse para esses sentimentos, como se não ligasse para a forma que seu coração batia descontroladamente quando o via, ou como bateu igual maluco enquanto ele estava na sua frente dizendo todas aquelas coisas.

Ela fingiu.

Ela fingiu por meses.

Ou melhor, mascarou, porque não sabia exatamente o que era aquilo que a incomodava.

E ali, estava presa num dilema maluco. Um dilema que nunca achou que precisaria entrar.

Ela poderia falar.

Mas ela poderia também não falar.

E fazer, ou não fazer, geraria reações. Boas ou ruins.

Por segundos ela quis estar presa no espaço do tempo, um vazio profundo, para que não precisasse tomar nenhuma decisão. Mas, ela não estava. Sebastian estava ao seu lado, um tanto quanto apavorado com aquele silêncio que saiu de um minuto, para quase longos vinte minutos.

Ele torcia para que ela dissesse um "te amo". Sendo falso, ou não. Sebastian somente queria escutar alguma coisa de seus lábios. Ele queria terminar aquela noite ao lado dela, prometendo a si mesmo que nunca mais a desapontará.

Rezava para que ela não se virasse, e o dispensasse com um olhar tão afiado quanto uma lâmina. Ele não queria ter seu coração esfaqueado. Estava assustado demais.

── Não sei o que eu sinto, neste exato momento, por você ── ela corta o silêncio, com primeiras palavras que fazem o coração do alemão sentirem a dor da ponta da maldita lâmina ── Passei meses achando que você me odiava, então, de repente, você se declara e faz com que tudo aqui dentro de mim se agite de uma forma que me deixa desorientada. Eu sentia sim coisas, mas sempre achei que nunca daria certo, então para mim, não fazia sentido tentar acreditar numa possibilidade de ficarmos juntos, se ela nunca fosse acontecer.

Ela arfa ao admitir aquilo de uma vez.

── Você sabe que... tudo vai ser diferente a partir do momento que deixarmos essa sala, não sabe? ── pergunta, trêmula ── Tipo, seria mentira dizer que... eu não sinto nada. Eu sinto, sinto muitas coisas, e da mesma forma que você escondeu, eu escondi. Eu só... não sei. O que você espera disso?

── Eu só quero você.

Yuliya estava numa intensa batalha dentro de sua mente barulhenta, tentando dar ouvido para todas as probabilidades existentes, ou não, que existiam lá dentro. Ao mesmo tempo que tentava se agarrar a algumas suposições, não queria se distanciar da realidade. Estava tudo confuso, maluco, se machucava para saber quem estava certo, errado, ou quem sairia machucado, se iriam ficar juntos ou se iria jogar sua carreira no lixo e...

Ela chacoalha a cabeça, e num gesto que não pensa nem um pouco, se joga com urgência no colo de Sebastian e o beija de uma forma necessitada. Nem ele esperava aquele contato, mas não iria deixar que ela fugisse agora que estava em seus braços, de forma alguma deixaria.

E aquilo era o que precisavam. Palavras eram confusas e não necessárias no momento. Ela precisava dele, ele precisava dela.

Dá para perceber pela forma que Vettel aprende nos braços com certa possessão, beijando-a como se fosse a última vez. Ele não queria deixá-la ir, e dessa forma, Yuliya se sentia segura, se sentia como se fosse de Sebastian Vettel.

As mãos dele involuntariamente viajam pelas costas da russa, não perdendo tempo em capturar o zíper do vestido e descer até o fim. Yuliya se afasta do beijo somente para retirar a camiseta branca do alemão, mas segundos depois já estão novamente num beijo desesperado, ao mesmo tempo que se esfrega no corpo dele, buscando contato, fricção, qualquer coisa para encaixar seu corpo ao dele.

Tudo parece um borrão pelos próximos momentos. As roupas são jogadas no chão, e tudo o que é ouvido além do som abafado da música eletrônica, são os gemidos e arfadas que soltam a cada vez que Vettel a fode como se fosse sua. Yuliya delirava, mal podendo gemer porque ele logo capturava seus lábios, não querendo nunca mais manter ambas as bocas longe.

Foram longos minutos, quase uma longa hora que se prenderam dentro de uma bolha onde somente eles existiam. Ela somente foi estourada no momento em que chegaram ao limite juntos, e Yuliya cai sobre o corpo suado de Vettel que gozava dentro de si.

Ela puxa o máximo de ar que consegue para dentro dos pulmões, antes de finalmente retomar a consciência.

── Só pra deixar claro que foi você que se declarou primeiro ── ela murmura, sentindo o olhar dele cair sobre si ── Se a gente realmente tiver filhos, justo eles saberem a verdade.

Vettel gargalha, segurando a cintura dela.

── Então somos oficialmente algo?

Yuliya o encara, apoiando o queixo no peitoral dele.

── É, somos algo. ── da um sorrisinho de canto dos lábios ── Mais que algo.

TE AMO DUDOCA PARABÉNS UM BEIJO💥

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