— Desde quando você passa roupa para ir trabalhar, pirralho?

— Ah, bom dia, Yoongi-hyung! — cumprimentei bem humorado o mais velho, que coçava os olhos inchados em uma tentativa de afugentar o sono. Já eu, torcida para não queimar meus dedos com o ferro quente enquanto tentava desamassar, em cima da tábua de madeira, a blusa que iria vestir.

— E esse sorrizinhoso bobo, aí? — perguntou bocejando ao mesmo tempo que arrastava os pés preguiçosamente até a cozinha, que também era no cômodo da sala de estar. Ainda sim, o apartamento minúsculo era grande o suficiente para dois solteirões. — Comprou pãozinho... e fez até café? Quem é você e o que fez com meu saeng?

— Engraçadinho. — tirei o aparelho da tomada, satisfeito com o resultado. — E de nada, seu chato!

— Não estou reclamando, por mim você pode fazer isso todos os dias. — deu de ombros pegando a caçarola e alguns ovos na geladeira. — Nunca mais tinha comido um pão quentinho... Lembra minha infância quando comia algo decente no café da manhã antes de ir para escola. — suspirou nostálgico me encarando quando eu vestia a blusa chadrez, dois tamanhos maior. Gostava de blusa folgada e de como ficava soltas por cima da calça jeans. Era uma boa combinação com as botas timberland. — Você está bonito.

— Valeu.

— Hey, Jungkook... — hesitou, antes de morder os lábios finos e falar. — Você poderia me dar umas dicas de como me vestir? — coçou a nuca. — Não sou muito bom com esse negócio de moda. Hum... queria impressionar uma pessoa.

— Não sabia que o hyung tinha uma namorada.

— Não é namorada! — corrigiu rapidamente, arregalando os olhos miúdos. — É uma amiga.

Entortei a cabeça, desconfiado.

— Se é apenas isso, qual o motivo de ficar preocupado com impressões?

— Sara é alguém especial... Vai ser a primeira vez que nos veremos pessoalmente. — abri a boca para perguntar, mas o compositor foi mais rápido, e se antecipou. — Fazem exatamente cinco longos anos que converso com uma garota que mora no Brasil. Nos conhecemos em um site de música. Eu deixei um comentário lá e ela respondeu em inglês. Quando vi, já estavamos trocando nossos números e usando o Google tradutor na maioria das vezes.

— Você está nervoso? — perguntei o óbvio, era nítida sua tensão.

— E como! — confessou, dando uma risada baixa, porém seus olhos brilhavam em expectativa ao falar da garota. — É meio louco... Sabemos praticamente tudo da vida um do outro, até a pasta dental preferida, e agora ela vem para o outro lado do mundo apenas para me ver? Claro que fico ansioso, 'tô soando até pela bunda! — gargalhei com o drama alheio. — Na verdade meu coração está acelerado desde o dia que ela comprou a passagem... Fico me perguntando se vai ser essa mesma química de quando passamos horas e horas por vídeo chamada conversando... Sim, hoje ela fala um pouco de coreano e eu de português. Meio à meio.

Era minha próxima pergunta, mas ele já respondeu.

— Aigoo,  tenho certeza que sua amiga vai te achar incrível. E se ficar sem assunto, canta um dos seus raps para ela, vai ser bem maneiro! — falei empolgado e o mais velho assentiu, agradecendo o conselho. — Você vai buscá-la no aeroporto?

— Sim, às oito da noite. Você vai voltar para casa antes disso, certo?

— Hunrum. — balancei a cabeça.— Aí te ajudo a ficar estiloso, mas gora tenho que ir, ou o senhor Cha arrancará minhas bolas! — anunciei, depois de olhar as horas no relógio da parede. — Até mais tarde, Yoongi-hyung!

— Até, saeng!

Saí de casa quase saltitando pelo corredor do prédio. Estava feliz pelo mais velho, desejava de todo coração que tudo ocorresse bem no encontro com a garota estrangeira. Aquela tinha sido a conversa mais longa e proveitosa que tive com o compositor. Fiquei extremamente comovido pelo mais velho pedir minha ajuda.

Se eu estivesse no seu lugar, também ficaria nervoso.

🎭

Achei tão fofinha essa interação...
E vocês?