Papo reto🎭

— Ele disse que mandou derreter o boneco? — arregalou os olhos. — Que filha da puta... — murmurou pensativo, os olhos maquiados perdidos por algum ponto que a câmara do seu celular não mostrava.

O estranho foi que por uma fração de segundos, o rosto bonito, e muitas vezes inexpressivo, tinha um leve repuxado na boca como se quisesse rir.

Franzi o cenho por ver coisas onde não deveria ver devido as noites mal dormidas — sete noites, para ser mais exato —, desde o dia que fui na fabrica de manequins. Taehyung não tinha motivos para rir da minha desgraça, já que foi ele mesmo quem me ajudou a encontrar Jimin... Aliás, os dois Jimin's! Se não fosse por ele nunca teria entendido esse história maluca sobre criador e criatura.

Entretanto essa teria foi por água abaixo quando ouvi o som de uma risada sua que se transtornou em gargalhada, sendo essa estrangulada por sua outra mão livre. Sua face ficou vermelha como tomate, as lágrimas desciam abundantes pelos olhos, borrando a base que usava, mesmo não precisando.

— Por que está rindo? — perguntei magoado. Será que eu estava enganado mais uma vez sobre o acastanhado?

— Nada, não... É que eu lembrei de uma piada idiota, depois te conto! — tentou se recompor, puxando o ar dos pulmões. — Meu mal é rir nas horas impróprias. — enxugou o canto dos olhos, mais controlado. — Mas e agora, o que vai fazer?

Dei de ombros, engolindo o que falou.

— Não sei, Tae-sshi... Acho que acabou mesmo. Esse nossa aproximação estava fadada a nunca dar certo, então só me resta superar a saudade... Uma hora vai passar, não é?

— Hum, compreendo... Mas mudando de assunto, quer mesmo que eu vá morar aí com você?

— De qualquer jeito, a vaga que Yoongi-hyung vai deixar precisa ser preenchida. Não vou conseguir pagar o aluguel sozinho, ainda mais desempregado, então se você quiser... — suspirei.

— Bem... — cutucou o queixo. — Pensando bem, pode dar certo. Levar bronca e ser monitorado pelos meus pais toda vez que chego tarde em casa é estressante para caralho, cansa minha beleza. — concluiu, debochado, penteando com os dedos os fios ondulados, recém pintados de azul. — E a Boutique? Não vai mesmo voltar? — balancei a cabeça, negando. — Ah, qualé... O velho sente sua falta, só é durão demais para admitir! E você não pode se dar esse luxo de dispensar um trampo!

— Eu sei, é só que... — suspirei pela quinquagésimo vez. — Vai doer mais ficar na loja sem o ruivinho. Não dá.

— Ah, Jk... — revirou os olhos, impaciente. Provavelmente cansado de tanto insistir. Não era a primeira vez naquela que tocava naquele assunto. — Certo. Vou fazer uma coisa aqui, preciso desligar. Te ligo depois, okay? Tchau!

— Tch... Nossa. — murmurei, olhando para meu celular. Mal deu tempo falar e a chamada de vídeo já havia sido encerrará.

🎭

— Pode ficar com meus fones e a cadeira de gamer. Não vai dar pra levar tudo no avião.

— Não tenho computador. — resmunguei.

— Mas um dia pode ter.

— Só se for no dia de "São Nunca"....

— Aish! — bagunçou os cabelos descoloridos, dando voltas pelo quarto. — Quer saber? Vai, levanta essa bunda magra daí e faz alguma coisa!

— Meu Deus, tem tanta louça assim para lavar?! — sentei atordoado.

Yoongi não respondeu de imediato, apenas trincou a mandíbula e fechou os punhos.

— Ou caga ou sai da moita, Jungkook!

Do que aquele maluco estava falando? Era uma parábola para eu admitir que era gay, ou ele queria usar o banheiro?

— Fumou espinafre pensando que era erva? Aiai... CHINELADA, NÃO, HYUNG! — berrei quando o objeto voou em minha direção.

— Pois me respeita que eu ainda sou o mais velho aqui, moleque atrevido! — rosnou o rapper, contrariado.

Abri a boca para protestar, sabe lá o quê, mas fechei de novo. Meu raciocínio continuava lento, quase parando. Ou seja, eu estava apanhando e nem sabia o motivo.

— Precisa se posicionar, sair de cima do murro, mas não vai conseguir se continuar abaixando a porra da cabeça diante das dificuldades! Não importa quantas rasteiras a vida te dá, levante e tente outra vez. Se ainda está desse jeito porque te deram, injustamente, um pé na bunda, você tem capacidade de encontrar alguém melhor. Já te falei isso mil vezes, mas quer saber? Não irá adiantar se não amar a si próprio antes! Caralho, Jungkook... Você permite todo mundo te pisar, te manipular como um fantoche e não reage!
— começou a enumerar nos dedos. — Seu patrão te explorava, esse tal Taehyung se aproveitava da sua boa vontade, até seu pai, que está a quilómetros de distância, te põe medo! Por que não se permite ser feliz? Por que não arrisca mais, porra...  — passou as mãos no cabelo, tentando se acalmar. — Olha para mim, olha o que eu estou fazendo. — apontou para seus peito, rindo soprado ao abrir os braços. — Vou arriscar tudo para correr atrás da garota que amo, mas quer saber? Se eu quebrar a cara depois, que se foda! Pelo menos tentei, eu me arrisquei!

Neguei.

— A noona te ama, isso não vai acontecer.

— Ninguém pode prevê o futuro, saeng. Nada é para sempre... Nem sei como nós passamos tanto tempo mantendo contato virtualmente. Cinco anos, não são cinco dias. — coçou a cabeça, o peito magro subindo e descendo. Yoongi nunca tinha se exaltado. Para ser sincero, nas últimas semanas se mostrou mais falante do que o normal. Aquele baixinho estava mudado... ou era eu que me tornava cada vez mais receptivo? — Não entendo como funcionava essa merda de sentimentalismo. É loucura sentir falta de alguém que nunca esteve com você, não é? — mastiguei meus lábios, ruidosamente, engolindo a resposta. Porque eu sabia, sim. — Contudo, depois de um tempo vi que para o amor não existem regras, Jungkook, nem barreiras. E tudo bem se errarmos, ninguém é perfeito. Então não se martirize tanto!

Assenti pensativo, meus olhos marejados pelas palavras de incentivo.

Min Yoongi tinha razão.

— Entendi. — assoei o nariz com a fronha do travesseiro. — Não estou chorando, é só alergia.

— Ei, pirralho, não fica assim... — sussurrou, compadecido e eu virei o rosto.

Não gostava de receber olhares de pena, nunca gostei. Lembrava minha mãe depois que levava uma surra do meu pai, como lição para me tornar "mais homem". Aquela compadecência dela doía na alma, machucava mais que as marcas de cinto pelo meu corpo.

Aquele olhar me fazia sentir pequeno, feio, quebrado...

— Sei que fui um péssimo companheiro de quarto, mas sempre soube que você era um moleque d'hora, um sobrevivente. Pode não ter dormido na rua, nem passado frio só tendo uma papelão duro como cama, mas superou muita coisa sozinho. Então acho que vai se virar bem sem mim, certo? — se esticou para bagunçar meu cabelo, bem no minuto que meu estômago roncou alto. Definitivamente o universo me odiava. — Uou... — riu anasalado, mostrando os dentes pequeninos. — Mas, pelo menos por hoje, moleque-idependente, vou cuidar de você, então aproveite! — foi atrás do chinelo que havia jogado em mim minutos antes e enfiou nos pés branquelos. — Na verdade eu também estou com fome. Vou lá na esquina, volto já com o espetinho de peixe para a janta.

— Yoongi, hyung, espera! — gritei quando a porta já estava sendo fechada. O mais velho enfiou a cabeça pela brecha, segurando a madeira pesada.

— Fala logo. — voltou a dizer com o tom entediado de sempre e eu sorri.

Meu peito transbordava um sentimento bom de cumplicidade quando encarei os olhos miúdos. Sorri largo até minhas bochechas doerem.

— Pode trazer uma latinha de Sprite? Não gosto de Coca-Cola.

Yoongi franziu o nariz e retrucou um "folgado" antes de sair batendo a porta.

— Espero que tenha entendido que esse é meu jeitinho de dizer que também o amo, hyung.

Estava mais que agradecido pela sinceridade do rapper. Suas palavras ficaram grudadas em minha mente, tanto que decide no dia seguinte fazer diferente, iria dar o primeiro passo para mudar meu destino, só não contava ele vir até mim antes.

🎭

Enganei vocês, né o último,
não! huashuashua
Mas o próximo sim. Quis dividir o capitulo para não ficar tão grande.

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